Análise séria e acutilante, humorada ou entristecida, do Portugal dos nossos dias, da cidadania nacional e do modo como somos governados e conduzidos. Mas também, um local onde se faz o retrato do mundo em que vivemos e que muitos bem gostariam que fosse melhor!
quinta-feira, 30 de junho de 2011
A nossa emigração
Já aqui escrevi, por diversas vezes, que é preocupante a saída de cerebros do país na altura em que este mais precisaria deles. O Estado investiu anos na sua educação e depois, como não oferece saídas profissionais nem aos melhores, estes vão rentabilizar a elite dos países que os acolhem. É grave, é urgente e precisa de ser, de algum modo, alterado.
O INE -Instituto Nacional de Estatística revelou recentemente que em 2010 mais de 30.000 pessoas teriam emigrado à procura de trabalho. Mas o Observatório para a Emigração admite que este número possa ser, realmente, de mais de 70.000.
Outro dado preocupante é o que se refere aos cerca de 2.500 alunos do ensino básico e secundário que não irão renovar as matrículas em Portugal, porque acompanharão os pais na sua saída. Ainda de acordo com aqueles elementos do INE, há mais de 11.000 alunos que pediram a sua transferência para escolas estrangeiras.
Se juntarmos todas estas informações não só estamos perante uma sangria dos melhores na vida activa, como estamos a perder a formação daqueles que, muito naturalmente, se fixarão nos países para onde vão estudar.
Ou seja, dentro de duas ou três gerações o nosso melhor capital humano está a "render" longe da pátria que nada fez para o agarrar...
HSC
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Meros avisos
A nova directora-geral do FMI - Fundo Monetário Internacional , Christine Lagarde, afirmou hoje que:
· Portugal “precisa de fazer reformas estruturais” e cumprir o compromisso de “unidade nacional”.
· na Grécia se torna necessária uma política de “reconciliação nacional”, pelo que pedia à oposição política do país que apoiasse o partido no poder, num espírito de unidade nacional.
· uma eventual saída da Grécia da Zona Euro seria, neste momento, “o pior cenário”, a ser “absolutamente evitado por todos os meios”.
· é necessário que todos os credores a olhem para a Grécia, mas também é preciso que a Grécia actue de forma responsável”
· a Grécia foi atingida por outros motivos, tais como “falsas estatísticas” e “dificuldades em controlar a situação”
· a Irlanda vive uma situação particular, em que mantém o seu sector bancário forte e um desenvolvimento enorme no ramo imobiliário”,
·“dizer que Espanha vai mal é errado”, porque, sublinhou, “há todos os esforços do governo espanhol para um saneamento do sector bancário”
· os casos nos países europeus “não devem ser generalizados”
Não serão novidades mas marcam o ponto de vista de quem vai mandar um pouco por toda esta Europa. A seguir com atenção!
HSC
terça-feira, 28 de junho de 2011
É o tempo...
Vamos ter uma mulher à frente do Fundo Monetário Internacional, instituição chave no mercado financeiro internacional. Trata-se de Christine Lagarde que sucede assim a um outro francês Dominique Strauss Kanhn, afastado do cargo por um processo que aguarda julgamento. Esta nomeação representa uma dupla vitória: a do género e a da França que, de algum modo saíra um pouco vexada com a forma como DSK havia sido afastado. E representa, ainda, o postergar da ambição de alguns países não europeus que se perfilavam para ocupar o lugar.
Após a queda de Dominique Strauss-Kahn, o presidente francês decidiu dar força a candidatura desta mulher elegante e de cabelos brancos, com 55 anos de idade, mas sobre a qual recaía um processo judicial que poderia manchar sua imagem no país.
Com efeito, a Justiça irá pronunciar-se no dia 8 de Julho sobre uma eventual investigação a Lagarde por abuso de autoridade num caso complexo que envolve Bernard Tapie e no qual ela sempre se confessou inocente.
Este caso ensombreceu, de algum modo, o final do seu mandato à frente do Ministério da Economia e das Finanças do governo de Sarkozy.
Olhada como favorita da imprensa económica inglesa teve, contudo, de realizar nas últimas semanas, um enorme esforço pessoal para ganhar a confiança dos países emergentes,aos quais, aliás, prometeu dar lugar de destaque no FMI.
Considerada por muitos como dura e arrogante, grande parte de sua carreira foi feita nos Estados Unidos, onde chegou a presidir ao célebre escritório de advocacia empresarial, Baker & Mckenzie.
Christine Lagarde é filha de pais professores e formada em Ciência Política, tendo concluido um mestrado em Inglês e um diploma de Direito Social e da Concorrência.
Hoje, o presidente francês e seus colegas europeus acreditam que sua presença em Washington poderá vir a ajudar a resolver a grave crise que ameaça a Grécia e toda a Zona do Euro.
HSC
Silêncio Quebrado
Mão amiga fez-me chegar o texto seguinte publicado e escrito por Manuel António Pina, o vencedor do Prémio Camões 2011. Não o tinha lido. Mas como aborda uma questão sobre a qual já postei e que considero grave, entendi que devia dá-lo a conhecer a quem por ventura dele não tivesse conhecimento. O seu título é o meu. Ei-lo:
"Ao contrário do que foi dito quando veio a público o escândalo do "copianço" no CEJ, o caso não é "pontual". Acompanhei de perto um curso anterior em que o "copianço" era frequente e a política seguida por certos (insisto: certos) dos então responsáveis do CEJ a de esconder esse lixo debaixo do tapete.
Alguns professores abandonavam as salas durante os testes confiando a vigilância à honestidade de cada formando. O problema era que a honestidade de alguns (hoje nos tribunais a acusar e julgar casos de fraude) nem sempre era a expectável em futuros magistrados.
Existem nos arquivos do CEJ documentos demonstrando o que aconteceu a uma formanda que quebrou a lei da "omertá" e se referiu ao assunto durante um encontro na presença do desembargador coordenador da sua formação. Na sequência disso (decerto por coincidência), passou a ser sujeita a humilhações e discriminações de toda a ordem e "avaliada", em relatórios escritos, por coisas como fumar, almoçar sozinha, ter "pré-juízos" em relação às leis de protecção animal (pois teria gatos) e a direitos de autor (pois publicara obras literárias), culminando tudo num relatório final do mesmo desembargador, feito com base em quatro (repito: quatro) trabalhos, escolhidos a dedo entre os mais de 500 que realizara, que a forçou à desistência.
Talvez a formação de futuros magistrados seja coisa séria de mais para estar entregue a certos actuais magistrados."
Dizer mais para quê?
HSC
"Ao contrário do que foi dito quando veio a público o escândalo do "copianço" no CEJ, o caso não é "pontual". Acompanhei de perto um curso anterior em que o "copianço" era frequente e a política seguida por certos (insisto: certos) dos então responsáveis do CEJ a de esconder esse lixo debaixo do tapete.
Alguns professores abandonavam as salas durante os testes confiando a vigilância à honestidade de cada formando. O problema era que a honestidade de alguns (hoje nos tribunais a acusar e julgar casos de fraude) nem sempre era a expectável em futuros magistrados.
Existem nos arquivos do CEJ documentos demonstrando o que aconteceu a uma formanda que quebrou a lei da "omertá" e se referiu ao assunto durante um encontro na presença do desembargador coordenador da sua formação. Na sequência disso (decerto por coincidência), passou a ser sujeita a humilhações e discriminações de toda a ordem e "avaliada", em relatórios escritos, por coisas como fumar, almoçar sozinha, ter "pré-juízos" em relação às leis de protecção animal (pois teria gatos) e a direitos de autor (pois publicara obras literárias), culminando tudo num relatório final do mesmo desembargador, feito com base em quatro (repito: quatro) trabalhos, escolhidos a dedo entre os mais de 500 que realizara, que a forçou à desistência.
Talvez a formação de futuros magistrados seja coisa séria de mais para estar entregue a certos actuais magistrados."
Dizer mais para quê?
HSC
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Afinal sei muito pouco...
Enquanto uns, ao Domingo, assistem a comentários políticos mais ou menos requentados, eu, que pouco ou nada me interesso por eles, vejo o programa da Paula Moura Pinheiro, no qual ou aprendo sempre qualquer coisa ou tenho surpresas que me conduzem ao mesmo.
Ontém cheguei já um pouco atrasada e dei de caras com um homem que sabia o que dizia e me prendeu de imediato a atenção. Olá, disse para comigo mesmo, quem é este "boneco" que não só sabe do que fala - no caso escritores, ensino, educação - como ainda tem um subtilíssimo sentido do humor?
De repente surge o nome: Miguel Tamen, ou antes, Prof. Miguel Tamen. Olhei melhor - porque ouvir melhor seria impossível, já que estava totalmente suspensa do que ele dizia - e, subitamente, fui tomada pela emoção. Estava ali a encantar-me o bébé que eu trouxera ao colo imensas vezes, o filho do meu querido e velho amigo Pedro Tamen.
Fiquei siderada de o não conhecer, já que o trabalho da mulher, Ana, conheço bastante.
Debrucei-me na net para saber coisas dele. Agora já sei um pouco mais.
Aconselho vivamente quem se interesse por coisas de literatura e educação, a ver o referido programa no seu computador, até porque o outro convidado também tinha muito interesse.
Hoje fico por aqui. Dentro de algum tempo voltarei à carga, até porque ele anunciou a criação na Universidade portuguesa de um curso de Estudos Gerais, no qual, para além de um tronco comum de cadeiras, o resto será em sistema americano, ou seja por escolha individual do currículo de interesses.
E eu que, às vezes, ainda julgo que sei alguma coisa...
HSC
domingo, 26 de junho de 2011
Este calor
Chego a Lisboa tarde. O calor, abrasador, lembra-me Africa. De onde vim também não estava fresco mas, pelo menos, o céu era de um límpido azul. Ao contrário deste cinza que mal se deixa atravessar pelos últimos raios solares.
Entro em casa. Aqui a sensação que tenho é a de que, se tentasse, poderia grelhar carne na tijoleira do meu belo terraço. A medo, começo a abrir as janelas todas. Mesmo assim nem uma aragem...
É nestas alturas que me irrito comigo mesma porque quero sempre últimos andares virados a sul e, depois, passo as estopinhas com os verões e os invernos. Ambos verdadeiros infernos para quem se recusa a ter ar condicionado.
Cai a noite. Desisto de desfazer o saco de viagem. Estou o que se chama um pastel. Arrasto-me até ao terraço e atiro-me para o cadeirão, onde fico imóvel por tempo indeterminado. Adormeço.
Quando abro os olhos, surgem os primeiros fios de luz.São seis horas da manhã.Estou, finalmente, bem.
HSC
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Ainda há quem case
Que diferença há entre casar e viver com? Para os católicos sei qual é a diferença. Mas, para os outros, francamente não sei. Vem este assunto a propósito de uma amiga minha que decidiu casar-se. Sempre a vi como uma mulher para quem a certidão de registo do acto não tinha qualquer importância nem pessoal nem profissional. De facto, ocupa um alto cargo numa multinacional e a sua vida sentimental nunca fora objecto de escrutínio.
Assim, quando ela me convidou para almoçar estava longe de pensar na razão principal desse convite. Já estavamos sentadas e com a ementa escolhida, quando ela me dispara "querida vou casar e queria que tu fosses a madrinha" .
O que me valeu foi o facto de não estar de pé. E, de imediato, saiu-me "tu não estás boa do juízo. Que foi que te deu? Porquê essa decisão, aos sessenta anos, quando tu sempre viveste como quiseste e o matrimónio nunca te atraíu? Madrinha eu, porquê?
A simplicidade da sua resposta deixou-me sem palavras. Sorrindo explicou-me que era justamente por nunca ter casado que agora pretendia fazê-lo!
Convenhamos que a alma humana e os seus anseios, são tão diversos quanto inesperados...E, acreditem, com ou sem razões, fiquei a matutar no caso!
HSC
Se for verdade...é um pedido original!
Um advogado de nome Barack Hussein Obama II, que em 1995,era
líder comunitário, membro fundador da mesa directora da organização
sem fins lucrativos Public Allies, membro da mesa directora da fundação
filantrópica Woods Fund of Chicago, advogado na defesa de direitos
civis e professor de Direito Constitucional na Escola de Direito da
Universidade de Chicago, Estado de Illinois (e atual presidente dos
Estados Unidos da América,)em certa ocasião pediu, em nome de um cliente -que perdera sua casa num furacão e a queria reconstruir - um empréstimo bancário.
Foi-lhe comunicado que o empréstimo seria concedido logo que ele
pudesse apresentar o título de propriedade original da parcela da
terreno que estava a ser oferecida como garantia.
O advogado Obama levou três meses para seguir a pista do título de
propriedade datado de 1803.
Depois de enviar as informações para o Banco, recebeu a seguinte
resposta:
"Após a análise do seu pedido de empréstimo, notamos que foi
apresentada uma certidão do registro predial.
Cumpre-nos elogiar a forma minuciosa do pedido, mas é preciso
salientar que o senhor tem apenas o título de propriedade desde 1803.
Para que a solicitação seja aprovada, será necessário apresentá-lo
com o registro anterior a essa data."
Irritado, o advogado Obama respondeu da seguinte forma:
"Recebemos a vossa carta respeitante ao processo nº.189156.
Verificamos que os senhores desejam que seja apresentado o título de
propriedade para além dos 194 anos abrangidos pelo presente registro.
De fato, desconhecíamos que qualquer pessoa que fez a escolaridade
neste país, particularmente aqueles que trabalham na área da
propriedade, não soubesse que a Luisiana foi comprada, pelos EUA à
França, em 1803.
Para esclarecimento dos desinformados burocratas desse Banco,
informamos que o título da terra da Luisiana, antes dos EUA terem a
sua propriedade, foi obtido a partir da França, que a tinha adquirido por
direito de conquista da Espanha.
A terra entrou na posse da Espanha por direito de descoberta feita no
ano 1492 por um navegador e explorador dos mares chamado
Cristóvão Colombo, casado com dona Filipa, filha de um navegador de
nome Perestrelo.
Este Colombo era pessoa respeitada por reis e papas e até ouso
aconselhar-vos a ler sua biografia para avaliar a seriedade de seus
feitos e intenções. Esse homem parece ter nascido em 1451 em
Gênova, uma cidade que naquela época era governada por
mercadores e banqueiros, conquistada por Napoleão Bonaparte em
1797 e atualmente parte da Região da Ligúria, República Italiana.
À ele, Colombo, havia sido concedido o privilégio de procurar uma nova
rota para a Índia pela rainha Isabel de Espanha.
A boa rainha Isabel, sendo uma mulher piedosa e quase tão cautelosa
com os títulos de propriedade como o vosso Banco, tomou a precaução
de garantir a bênção do Papa, ao mesmo tempo em que vendia as
suas jóias para financiar a expedição de Colombo.
Presentemente, o Papa – isso, temos a certeza de que os senhores
sabem - é o emissário de Jesus Cristo, o Filho de Deus, e Deus - é
comumente aceito - criou este mundo a partir do nada com as palavras
Divinas: Fiat lux que significa "Faça-se a luz", em língua latina.
Portanto, creio que é seguro presumir que Deus também foi possuidor
da região chamada Luisiana por que antes, nada havia.
Deus, portanto, seria o primitivo proprietário e as suas origens
remontam a antes do início dos tempos, tanto quanto sabemos e o
Banco também.
Esperamos que, para vossa inteira satisfação, os senhores consigam
encontrar o pedido de crédito original feito por Deus.
Senhores, se perdurar algumas dúvidas quanto a origem e feitos do
descobridor destas terras, posso adiantar-lhes que desta dúvida,
certeza mesmo, só Deus a terá por que Inúmeros historiadores e
investigadores, concluíram baseados em documentos que, Cristóvão
Colombo, nasceu em Cuba (Portugal) e, não em Gênova (Itália), como
está oficializado:
Segundo eles,
Em primeiro lugar, Christovam Colon, foi o nome que Salvador
Gonçalves Zarco, escolheu para persuadir os Reis Católicos de
Espanha, a financiar-lhe a viagem à Rota das Índias, pelo Ocidente,
escondendo assim a sua verdadeira identidade.
Segundo, este pseudônimo não aparece por acaso, porque Cristóvão
está associado a São Cristóvão, que é o protetor dos Viajantes (existe
inclusive uma ilha batizada de São Cristóvão).
Cristóvão, que também deriva de Cristo, que propaga a fé, por onde
anda, acresce que Cristo, está associado a Salvador (1º nome
verdadeiro do ilustre navegador).
Colon, porque é a abreviatura de colono e derivado do símbolo das
suas assinaturas"." ( Duas aspas, com dois pontos no meio).
Terceiro, Salvador Gonçalves Zarco, está devidamente comprovado,
nasceu em Cuba ( Portugal) e, é filho ilegítimo do Duque de Beja e de
Isabel Gonçalves Zarco.
Quarto, era prática usual na época, os navegadores darem às
primeiras terras descobertas, nomes religiosos, no caso dele, foi São
Salvador (Bahamas), por coincidência ou talvez não, deriva do seu
primeiro nome verdadeiro, a segunda batizou de Cuba (Terra Natal) e,
seguidamente Hispaniola (Haiti e República Dominicana), porque
estava ao serviço da Coroa Espanhola.
Quinto, a "paixão" pelos mares, estava no sangue da família Zarco,
nomeadamente em, João Gonçalves Zarco, descobridor de Porto
Santo (1418), com Tristão Vaz Teixeira e da Ilha da Madeira (1419),
com o sogro de "Christovam Colon", Bartolomeu Perestrelo.
Por fim, em sexto, existem ilhas nas Caraíbas, com referência a Cuba
(além da mencionada Cuba; São Vicente, na época existia a Capela de
São Vicente, da então aldeia de Cuba).
Posteriormente (Sec-XVI), foi edificada a atual Igreja Matriz de São
Vicente.
São coincidências (pseudônimo, nome das ilhas, família nobre e ligada
ao mar, habitou e casou em Porto Santo, ilha que fica na Rota das
Índias pelo Ocidente), mais do que suficientes, para estarmos em
presença de Salvador Gonçalves Zarco e, conseqüentemente do
português Christovam Colon.
Christovam Colon, morreu em Valladolid (Espanha) em 1506, tendo os
seus ossos sido transladados, para Sevilha em 1509, contudo em
1544, foram para a Catedral de São Domingos, na época colônia
espanhola, satisfazendo a pretensão testamental do prestigiado
navegador.
A odisséia das ossadas não ficaria por aqui, porque em 1795, os
espanhóis tiveram de deixar São Domingos, tendo os ossos sido
transferidos para Cuba (Havana), para em 1898, depois da
independência daquela ilha, sido depositados na Catedral de Sevilha.
Coincidência ou não, em 1877, os dominicanos, ao reconstruírem a
Catedral de São Domingos, encontraram um pequeno túmulo, com
ossos e intitulado “Almirante Christovam Colon".
Existem na Ilha da Madeira e nos Açores, pessoas da famílias Zarco,
descendentes diretos de João Gonçalves Zarco e, conseqüentemente
da mãe (Isabel Gonçalves Zarco) de Christovam Colon, disponíveis
para darem uma amostra do seu cabelo aos cientistas, para analisar o
seu DNA e, para comparar os seus resultados nas ossadas do
navegador, se, efetivamente forem as pretensões deste Banco para
certificar-se da origem do navegador.
Quanto a Deus, ainda não tenho sua biografia, somente sei que caso a
conseguisse, até o maior e mais potente computador do planeta não
seria suficiente para comportar um resumo do resumo da mesma, por
isso sugiro-vos educadamente e após muito pensar, que, por serem
banqueiros e, portanto poderosos, tentem por vossos meios.
Agora, que está tudo esclarecido, será que podemos ter o nosso
empréstimo? "
Barack Hussein Obama II
Advogado
Consta que o empréstimo, claro, foi concedido. Este texto foi-me enviado por mail e por pessoa séria, mas na net não se pode confiar... Porém, se ele não for verdadeiro, pelo menos, contem algumas verdades!
HSC
quarta-feira, 22 de junho de 2011
E vivam elas!
Neste momento rejubilo por ver Assunção Esteves como a primeira mulher Presidenta da nossa Assembleia da Republica. E rejubilo-me, também, por ver Maria de Belem como lider parlamentar do PS - mesmo que seja temporário, é-o - e ter duas mulheres ministras a quem ninguem nega competência.
Não se trata de feminismo. Trata-se de se estarem possivelmente a criar novas tendências na política nacional e na aptência das nova gerações pela res publica
A carreira de Assunção Esteves atesta a sua competência, imparcialidade e capacidade de diálogo. Tudo o que é necessário para dirigir a casa da democracia. Sobretudo, depois da meia duzia de anos decorridos sob a batuta de Gama, um dos socialistas que mais respeito e aprecio.
"Deus escreve direito por linhas tortas", diz o ditado. Antes, Nobre não passou. Não tinha de passar. Era a vez de Assunção Esteves!
HSC
terça-feira, 21 de junho de 2011
Às vezes, não consigo
Hoje como devem calcular, uma boa mãe, deveria estar agarrada à televisão a lobrigar a tomada de posse do seu infante mais novo. Sim, porque estar fisicamente presente em tal cerimónia não faz parte dos meus hábitos. Se não aprecio que os filhos estejam na política, ridículo seria que me lá fosse apresentar para a foto do abraço...
Também nunca puz pés na sede de um partido e creio poder dizer que jamais o farei. Não tenho vocação. Assim, para nos apanharem a todos, juntos, só à má fila, porque eu sou uma leoa e afasto tudo o que seja fotógrafo.
Mas, dizia eu, deveria, pelo menos ter conseguido ver tudo. Pois bem. Não vi nada. É que quando ouvi o meu apelido ser pronunciado naquela casa - ao contrário de todo o mundo, os meus filhos só usam o nome do pai, tendo-se felizmente evaporado o da mãe - senti uma tal surpresa que precisei de me refazer e fui tomar ar para o terraço. Quando voltei, ops ... já só vi a mulher do Primeiro Ministro. Finalizei bem, portanto.
Estou cheia de sentimentos de culpa, mas já me lembrei que o meu querido Pai, lá em cima, titular do meu apelido e advogado muito pouco dado a ideologias, esse, deve ter ficado a rir-se de mim como só ele sabia!
Ou seja, ainda não foi desta que me apanharam neste tipo de celebrações. Nem sequer através dos meios tecnológicos. É mesmo incapacidade minha, ou então, quem sabe, é porque começou hoje o Verão. Deve ter sido isso!
HSC
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Parabens querida Maggie
Para rir um pouco...
Como podem calcular ando com pouca vontade de dar entrevistas. Mas quem escreve livros e vive disso não pode dar-se a luxos. Há cerca de um mês dei à VIP uma, depois de andar a fugir, há imenso tempo, com o "rabete à seringa", como se diz lá na minha terra. Mas avisei a editora que controlasse bem a coisa, para que a dita não fosse sair no dia das eleições.
Não saíu e eu desliguei e não pensei mais no caso. Tenho tido o telemóvel desligado por razões óbvias e quando o ligo sai uma rajada de parabéns como se eu tivesse acabado de fazer anos ou me tivesse casado na véspera.
Mas ontém os parabens eram diferentes: "li a tua entrevista, gostei muito, estás muito gira". Foram seis, mais ou menos deste teor. Só reproduzo a mensagem para que se possam rir comigo. Muito gira, nesta idade, não será, certamente, senão e apenas, o elogio de uma só pessoa.
Mas a sétima mensagem era de uma amiga, algo irritada, porque "eu andava a aumentar a minha idade e não tinha esse direito, já que estava a aumentar também a dela".
Na altura não percebi rigorosamente nada, visto que neste último mês a minha boca não se abrira.
Finalmente, acabo de perceber e de dar uma sonora gargalhada. Então não é que na dita entrevista da VIP, que saiu hoje ou ontem, sei lá, no título diz-se que tenho 77anos?! Logo, ela também os teria. Não temos, de facto. Ainda bem. Mas o que é que isso importa? Na revista do Expresso, há dois anos, puseram-me com 78. Talvez daqui a uns tempos, quem sabe, me ponham com 67 bem conservados...
HSC
Nota Agora foi o infante que me telefonou a dizer que daqui a pouco davam-lhe 50 anos. Respondi-lhe que acontece... Ah!Ah!Ah! o que pode fazer um erro numa entrevista!
Não havia necessidade
Tive uma manhã e uma tarde difíceis a discutir contratos de edição. Não sou uma negociadora fácil - a vida assim mo ensinou - e o facto de ser mulher está longe de adocicar o que entendo ser a retribuição justa para quem pretenda o meu trabalho.
Depois, mal cheguei a casa, pus-me a ver a eleição para Presidente da Assembleia da República.
Já aqui disse que não considerava ter o Dr. Fernando Nobre perfil para exercer tal cargo que exige não só uma grande experiência parlamentar, como características pessoais e capacidade de diálogo muito específicas.
Fernando Nobre foi claro. Não queria ser deputado. Estava ali para desempenhar o cargo de segunda figura da Nação e se o não ganhasse não ficaria. Afinal não ganhou e agora diz que vai ficar como deputado. O que, diga-se, era aquilo a que se deveria ter limitado antes.
O erro partiu logo do convite que lhe foi feito, porque o Presidente da Assembleia só é eleito pelos seus pares.Nunca pelo partido que o propõe, a não ser que este tenha maioria absoluta, o que não era o caso. E mesmo em tal situação, com voto secreto, tudo pode acontecer. Deu-se o que já se esperava. À primeira volta não foi eleito.
E, quando todos esperavam que, de acordo com afirmações por si anteriormente feitas, retirasse a sua candidatura, facilitando o trabalho do futuro PM e dos seus pares, eis que o candidato se sujeita a uma segunda volta, que perde de novo e até com menos um voto.
Haveria necessidade disto? Não seria mais razoável seguir os conselhos de Charles Aznavour na sua bela canção "Savoir se retirer"? Ou esquecer agendas pessoais?!
HSC
domingo, 19 de junho de 2011
Aperto
Há algo que me espartilha. Sinto-o mas não sei onde ele me aperta. É um sentimento, mais do que uma realidade. Nem chego a perceber se me incomoda.
Quando estas coisas me acontecem preciso de estar só e de escrever. Ou de me meter no carro e parar num qualquer sítio, perto do mar.E ficar ali, parada, a olhar. Sem sequer pensar, porque é de ausência de pensamento que preciso.
Foi exactamente isto o meu Domingo. Um dia sem pensar. Quando retornei o espartilho tinha naturalmente deixado de me apertar. Há Domingos assim...
HSC
sábado, 18 de junho de 2011
Não sei o que dói mais...
Uma comentadora, a Mar (azaharealfarroba.blogspotcom), está na origem do post de hoje. Trata-se de alguém que, numa idade em que se costuma voltar ao país, decidiu sair dele. Porque tinha filhos e a terra onde nasceu lhe não permitiu viver com a dignidade que pretendia. Está sozinha no outro lado do mundo, a fazer não os trabalhos para que se encontra qualificada, mas aqueles que lhe permitem um maior bem estar aos que lhe são queridos. Define-se de uma forma admirável que me permito transcrever aqui:
"Nao sou pacifica mas sou pacificadora,nao sou quieta mas gosto da quietude do silencio da luz, das flores,dos meus dois filhos e de mim".
Depois de visitar o seu blogue fiquei a perguntar a mim própria o que é que lhe doerá mais: ter sido obrigada a sair ou viver exilada num país que não é o seu, mas lhe permite manter a família.
Ou seja, a quem doerá mais a vida: ao emigrante ou ao imigrante, já que são ambos as duas faces de uma mesma moeda?!
HSC
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Continuando...
Quando apareceu a ideia das Novas Oportunidades fiquei interessada. Muita gente interrompe os estudos para começar a trabalhar e talvez esta porta fosse um caminho.
Nessa senda inscrevi a minha última empregada - de minha casa já se licenciaram duas e isso, sim, enche-me de orgulho - nas ditas N.O.
Cedo nos apercebemos, ambas, de que a solução não servia. Felizmente a Isabel, era assim que se chamava, era uma mulher inteligente e séria. Tal como entrou, saíu. Indignada com o que por lá presenciou.
Fiquei triste, porque me parecia que, tendo-se liquidado o ensino técnico profissional, esta via, correctamente aplicada, podia vir a supri-lo.
No atrazo em que me encontro de leituras, só hoje deparei com a notícia de que o jovem retratado acima,teria desistido da escola sem ter concluído o secundário e que, graças ao programa N.O. teria obtido a equivalência ao 12º ano com a classificação de 20 valores, conseguida com um unico exame, de Inglês. Assim, é actualmente o aluno com mais alta média a candidatar-se ao ensino superior. E, vá lá, admite que beneficiou de uma injustiça.
O que acima refiro é retirado do que li na comunicação social. A ser verdade, constitui, de facto, uma afronta a tantos alunos, altamente classificados e que por uma décima, às vezes, não entram no curso para o qual se sentem vocacionados.
Não sei se algum dia a minha terra terá solução. Não sei se algum dia verei nela a excelência ser um valor. Não sei. Apenas sei que tudo o que tenho na vida foi obtido à custa de muito trabalho e sem injustiçar ninguém. E sei que Portugal não precisa só de doutores. Precisa de gente competente e séria. Sejam alfaiates ou canalizadores ou electricistas. E sei que eles valem, pelo menos, tanto quanto eu. Isso sei porque me ensinaram os meus Pais e eu jamais esqueci.
HSC
Copianços...
Portugal tornou-se um país original. Onde uns se regulam pela lei ordinária e outros por leis feitas à medida. Se não, vejamos.
O Centro de Estudos Judiciais - CEJ - instituição de ensino onde se formam os licenciados em Direito que pretendam seguir a Magistratura Judicil ou a do Ministério Público, resolveu tomar, através da sua direcção, uma decisão curiosa e única.
Uma das suas turmas de formandos, no teste de Investigação Criminal e Gestão de Inquérito, foi suspeita de ter cometido o chamado copianço geral.
Face às fundamentadas suspeitas, e seguindo o que se determina para casos idênticos no ensino secundário e superior, o que se esperava era que a prova fosse anulada. Pois bem, não foi esse o entendimento. Os futuros magistrados, ao contrário, foram beneficiados com um 10 de classificação. Porquê? Porque ...não houve flagrante delito e o pecadilho só foi detectado à posteriori.
Estaremos, portanto, nas mãos de juízes e procuradores para quem o copianço parece ser um comportamento normal. Que, por sua vez, irão julgar os nossos comportamentos. No mínimo edificante e aterrador.
E, já agora, alguem me esclarece o que iremos nós, professores, dizer aos adolescentes ou jovens a quem punirmos se copiarem?!
HSC
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Consumo consciente
O Instituto Akatu, no Brasil, definiu sob o lema "consuma sem consumir o mundo em que você vive", os doze Princípios do Consumo Consciente. A saber:
1. Planeie suas compras
Não seja impulsivo nas compras. A impulsividade é inimiga do consumo consciente. Planeie antecipadamente e, com isso, compre menos e melhor.
2. Avalie os impactos de seu consumo
Leve em consideração o meio ambiente e a sociedade em suas escolhas de consumo.
3. Consuma apenas o necessário
Reflicta sobre suas reais necessidades e procure viver com menos.
4.Reutilize produtos e embalagens
Não compre outra vez o que você pode consertar, transformar e reutilizar.
5.Separe seu lixo
Recicle e contribua para a economia de recursos naturais, a redução da degradação ambiental e a geração de empregos.
6.Use crédito conscientemente
Pense bem se o que você vai comprar a crédito não pode esperar e esteja certo de que poderá pagar as prestações.
7.Conheça e valorize as práticas de responsabilidade social das empresas
Em suas escolhas de consumo, não olhe apenas preço e qualidade do produto. Valorize as empresas em função de sua responsabilidade para com os funcionários, a sociedade e o meio ambiente.
8. Não compre produtos piratas ou contrabandeados
Compre sempre do comércio legalizado e, dessa forma, contribua para gerar empregos estáveis e para combater o crime organizado e a violência.
9. Contribua para a melhoria de produtos e serviçosAdopte uma postura activa. Envie às empresas sugestões e críticas construtivas sobre seus produtos e serviços.
10. Divulgue o consumo consciente
Seja um militante da causa: sensibilize outros consumidores e dissemine informações, valores e práticas do consumo consciente. Monte grupos para mobilizar seus familiares, amigos e pessoas mais próximas.
11. Cobre dos políticos
Exija de partidos, candidatos e governantes propostas e acções que viabilizem e aprofundem a prática de consumo consciente.
12. Reflicta sobre seus valores
Avalie constantemente os princípios que guiam suas escolhas e seus hábitos de consumo.
Numa época em que se torna necessário economizar vale a pena seguir estes princípios. Fazem bem a qualquer de nós e fazem bem ao país. Mesmo que nem sempre os cumpramos todos, a sua práctica habitual é já um começo. Resta dizer que foi no blogue Sustentabilidade é Acção, da Manuela Araújo, que os encontrei referenciados.
HSC
Vale a pena ouvir
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Os pepinos de Angela Merkl
Respeito bastante a capacidade de trabalho dos alemães. Mas penso que a actual chanceler está acometida de um ataque de amnésia histórica, que a faz esquecer o que deve à Europa dos pobres e pequenos países que, quando o seu precisou, estiveram do seu lado.
Esta lamentável "estória" da e.coli dos pepinos espanhois, acusados sem quaisquer provas, vai muito para além dos vegetais crus e das trágicas consequência que a bactéria - afinal, alemã -trouxe a uma lavoura que, desde a adopção da chamada política agrícola comum, em países como Portugal, já mal se aguentava. Este episódio só tornou mais nítida essa realidade.
Cada vez mais se acentua a diferença entre uma Europa rica e outra pobre. Cada vez mais parece ser real a vontade de excluir certos países da pertença à Zona Euro. Ou, dito de outro modo, cada vez se torna mais nítida a eventual criação dum euro para os ricos e de um outro euro para os pobres. E isto para mascarar temporalmente o possível retorno de cada um às suas antigas moedas.
Nunca fui muito europeísta, confesso. Chamavam-me até reaccionária, epíteto com o qual dormia tranquila, pensando nos revolucionários que, ao longo da vida, fui conhecendo. Mas quando me falam da "solidariedade europeia", ocorre-me perguntar aos que são profundos defensores da Europa, o que é que ela significará.
Não estivessem os bancos alemães tão encalacrados com a dívida grega e eu perguntaria o que é que a senhora Merkl já não teria feito...
HSC
Prémio Internacional da Catalunha
" 'Bona nit!' Se eu fosse o Mick Jagger ou a Lady Gaga diria 'Bona nit, Barcelona!'. Mas como não sou, digo só 'Bona nit!'.
A última vez que estive em Barcelona foi na Primavera de há dois anos. Num dos eventos públicos que realizei, surpreendi-me com a quantidade de leitores que vieram para verem ser assinados os seus livros. Formou-se uma longa fila, e passei mais de uma hora e meia a assinar. Só demorou todo esse tempo porque muitos leitores quiseram cumprimentar-me. Estive ali um bom bocado…
Já fiz sessões de autógrafos em muitas cidades de todo o mundo, mas a única em que os leitores quiseram beijar-me foi aqui em Barcelona. Esta foi apenas uma das muitas situações que me fizeram perceber que Barcelona é uma cidade verdadeiramente maravilhosa. Estou muito feliz por regressar a um tão belo local, com uma história e uma cultura tão avançada.
Infelizmente, não venho hoje falar-vos de beijos, e sim de algo um pouco mais sério. Como todos sabem, a 11 de Março, às 2 horas e 46 minutos, a região japonesa de Tohoku foi vítima de um grave terramoto. Teve uma tal magnitude que fez com que a velocidade de rotação da Terra acelerasse ligeiramente, e o dia prolongou-se por mais 1,8 mil enésimos de segundo.
O terramoto provocou muita destruição, mas o tsunami que se seguiu deixou uma marca ainda mais terrível. Em alguns locais, o tsunami alcançou os 39 metros de altura, o que significa que é impossível para uma pessoa salvar-se, ainda que esta se encontrasse no 9º andar de um edifício. Todos os que se encontravam perto da costa não conseguiram fugir, e calcula-se que aproximadamente 24.000 tenham morrido. Destes, cerca de 9.000 ainda estão desaparecidos. Estas pessoas foram arrastadas pelo tsunami e os seus corpos não foram, até agora, encontrados. A grande maioria deve estar enterrada no fundo do mar. A maior parte dos sobreviventes perdeu família e amigos, perdeu casa e os seus pertences, perdeu a restante comunidade, e perdeu tudo o que constituia a base das suas vidas.
Algumas cidades foram completamente varridas do mapa. Estou certo de que muita gente perdeu até a vontade de viver.
Aparentemente, os japoneses estão acostumados a enfrentar numerosas catástrofes naturais. Entre o final do Verão e o princípio do Outono, uma grande parte do território japonês torna-se alvo de furacões, que todos os anos causam muitos estragos e ceifam vidas. Em todas as zonas do país é registada uma actividade vulcânica significativa. E depois, é claro, há os terramotos. O arquipélago japonês é o extremo oriental do continente asiático, e está perigosamente situado sobre quatro placas tectónicas. Na verdade, é como se vivessemos num ninho de terramotos.
Com os furacões, podemos saber em que período do dia ele vai chegar e os locais onde é previsto passarem; pelo contrário, os sismos não nos dão qualquer previsão. A única coisa que sabemos é que, com certeza, o último terramoto que sentimos não será o último, isto num futuro imediato: talvez já amanhã haja outro. Muitos especialistas prevêem que nos próximos vinte a trinta anos vão haver, em grande número, terramotos de magnitude 8 na região de Tóquio. E ninguém sabe muito bem o grau de destruição que seria alcançado se o epicentro de um terramoto se localizasse perto de uma metrópole com tanta densidade populacional como Tóquio.
Apesar disso, neste momento, em Tóquio existem treze milhões de pessoas a continuarem a sua vida “normal”. Continuam a ir para o emprego em carruagens de metro sobrelotadas e a trabalharem em altos arranha-céus. Não tenho notícias de que a população de Tóquio tenha diminuído desde o último terramoto.
«Como pode isto ser possível?», devem-se estar a perguntar. Como podem viver tantas pessoas numa cidade onde sabem que podem acontecer coisas tão horríveis? Como justificar esta falta de medo?
Na língua japonesa temos uma palavra – “mujô” – que designa o facto de nada ser permanente, não existe nada que dure para sempre. Todas as coisas que existem no mundo se extinguem, tudo se transforma constantemente. Não há um equilíbrio eterno, nada é imutável porque não se pode confiar nelas para sempre. Esta é uma maneira de ver o mundo que provém do Budismo e, apesar de num contexto ligeiramente diferente do conceito religioso, “mujô” está presente na psicologia mental dos japoneses, que herdaram da antiguidade, de forma quase intacta, a mentalidade que têm como pessoas.
Poderíamos dizer que esta ideia do «tudo tem um fim» implica uma certa resignação com o mundo, isto é, nada do que o homem faça poderá opor-se ao curso da natureza. Contudo, os japoneses conseguiram encontrar uma forma bela de encarar esta resignação.
Se olharem com atenção para a natureza, por exemplo, na Primavera admiram as ‘sakura’, no verão os pirilampos, e no Outono as folhas amarelas dos bosques. Dia a dia, a cada momento, como uma rotina, quase como se fosse um axioma, observam tudo com paixão. Quando chega o tempo respectivo, os locais mais famosos para se verem as flores de ‘sakura’, ou os pirilampos, ou as folhas outonais, enchem-se de gente e torna-se quase impossível fazer uma reserva num hotel.
Porquê?
Porque a beleza das ‘sakura’, dos pirilampos e das folhas do Outono desaparece ao fim de um tempo. Os japoneses percorrem inúmeros quilómetros para poderem ver o esplendor da efemeridade destes fenómenos. Mas não se limitam apenas a observar essa beleza, pois também se aliviam ao descobrir como se espalham as flores das ‘sakura’, a luz ténue dos pirilampos, ou como se apagam as cores vivas das árvores. Na verdade, encontram a paz quando a beleza já atingiu o clímax e começa a desaparecer…
Não sei se as catástrofes naturais têm alguma influência nesta nossa maneira de pensar. Porém, o que é certo é que, ao longo da história, os japoneses têm conseguido superar todos os desastres de que têm sido vítimas, aceitando-os como factos de certa maneira inevitáveis, e, unidos uns com os outros, sobrepoem-se a eles. Portanto, é bem possível que estas experiências anteriores tenham marcado a nossa sensibilidade.
Perante este último grande sismo, todos os japoneses foram tremendamente afectados e ainda que estejamos acostumados a terramotos, estremecemos ante a enormidade dos danos causados. Sentimo-nos impotentes e sofremos pelo futuro do nosso país.
Contudo, acredito que recuperaremos a moral e nos levantaremos para começar a reconstrução. Neste sentido, estou muito preocupado. Somos um povo que recuperou muitas vezes ao longo da história. Não podemos ficar afectados para sempre. Temos de reconstruir as casas destruídas, reparar as estradas que se danificaram.
Bem vistas as coisas, estamos instalados neste planeta por nossa conta e risco. O planeta não nos pediu que vivessemos. Por isso não nos podemos queixar que ele tenha tremido um pouco. O facto de tremer de vez em quando é uma das propriedades da Terra, de forma que, quer gostemos quer não gostemos, não temos outro remédio que não conviver com esta natureza.
Mas hoje quero falar de coisas que, ao invés dos edifícios e das estradas, não se podem renovar facilmente. Por exemplo, da ética e do modelo. Nem uma coisa nem a outra são objectos que tenham uma forma definitiva. Uma vez danificadas, custa muito voltar a transformá-las no que eram. Isso é assim porque não são coisas que se possam fazer no imediato, mal se tenha reunido uma série de máquinas, mão-de-obra e as matérias-primas necessárias.
Refiro-me, concretamente, à central nuclear de Fukushima.
Como deverão saber, pelo menos três dos seis reactores afectados pelo terramoto e pelo tsunami na região de Fukushima ainda não conseguiram ser reparados e continuam a emitir radiação na zona. Ocorreu a fusão de um reactor, o que provocou a contaminação nas terras em redor, e, ao que parece, verteu para o mar de águas residuais uma alta concentração de radioactividade.
Cem mil pessoas viram-se obrigadas a deslocar-se da zona próxima da central nuclear. Os campos, os prados, as fábricas, as zonas comerciais, e os portos ficaram subitamente desertos e abandonados. É muito possível que as pessoas que tiveram de fugir da zona não consigam voltar a viver. E, custa-me imenso dizê-lo, parece que os danos não afectaram somente o Japão, mas também alguns países vizinhos.
A causa desta situação trágica é evidente. Esta desgraça só aconteceu porque as pessoas que construíram a central nuclear não tiveram em conta que poderia haver um tsunami grande. Alguns especialistas avisaram que, nesta região, já se tinha dado um tsunami desta magnitude, e pediram que se revissem os planos de segurança; mas a companhia que geria a central não os tomou a sério. A ideia de investir uma grande quantidade de dinheiro por um tsunami que pode passar, ou não, uma vez em vários séculos, não era muito atractiva para uma companhia que aspira a ser rentável.
Por outro lado, parece que o Governo, que deveria ter controlado estritamente as medidas de segurança da central, baixou a guarda para levar adiante a sua política nuclear.
É nosso dever averiguar o que se passou, e, no caso de se ter cometido algum erro, fazer dele público. Por culpa destes erros, mais de cem mil pessoas viram-se obrigadas a abandonar esta região e a mudar radicalmente o seu estilo de vida. Que aborrecimento. É natural.
Por algum motivo, nós japoneses somos um povo que não nos aborrecemos demasiado. Sabemos ter paciência, mas não expressamos muito esse sentimento. Neste sentido, somos muito diferentes dos nossos amigos barceloneses. Mas, neste caso, acho que mesmo os cidadãos japoneses se aborreceram, se cansaram.
Deveríamos deitar as culpas a nós mesmos, por termos permitido, ou tolerado, a existência deste sistema corrompido. Porque o que se passou é um problema que afecta profundamente a nossa ética e o nosso modelo.
Como sabem, os japoneses são o único povo que sofreram a experiência de uma bomba atómica. Em Agosto de 1945, as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram alvo de bombas atómicas lançadas pelos bombardeiros do exército norte-americano – o que provocou mais de duzentos mil mortos. A maioria das vítimas eram civis. Agora não vamos começar a discutir se foi uma acção justa ou não.
O que quero dizer é que, para além dos duzentos mil que morreram logo que se deram as explosões, muitos dos sobreviventes morreram ao fim de um certo tempo, depois de muitos sofrimentos provocados pela radiação. Através do sofrimento destas vítimas, nós japoneses conhecemos o poder de destruição de uma bomba atómica, assim como a gravidade das feridas que a radiação provoca ao mundo e ao corpo humano.
No caminho que o Japão tem percorrido desde a Segunda Guerra Mundial, existiram dois ideais centrais: o primeiro foi a recuperação económica, e o segundo a renúncia à guerra, isto é, o compromisso de que, aconteça o que acontecer, não recorreremos ao uso da força militar. Estes dois novos objectivos que acompanharam a nação ajudaram-na a converter-se num país rico na aspiração pela paz.
Na placa do monumento das vítimas de Hiroshima estão inscritas as seguintes palavras: «Descansem em paz, pois o erro não se repetirá».
São palavras maravilhosas. Somos, ao mesmo tempo, as vítimas e os culpados. Este é o significado que está implícito nestas palavras. Perante uma força tão abrasadora como a nuclear, somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Na medida em que todos estamos debaixo da ameaça dessa força, todos somos vítimas, mas também, na medida em que permitimos que acontecesse o que veio a desencadear a sua utilização, somos culpados.
Hoje, 66 anos depois do lançamento das bombas atómicas, o motor número um da central nuclear de Fukushima está há três meses a libertar radiação e a contaminar a terra, o mar, e o ar à sua volta. Contudo, não há ninguém que saiba como o parar. Esta é a segunda grande desgraça nuclear que nós japoneses sofremos na nossa história. Só que desta vez ninguém nos lançou nenhuma bomba atómica. Fomos nós próprios que a provocámos, cometemos um erro com as nossas mãos, fizemos mal ao nosso país, destruímos a nossa própria vida.
Porque é que isto aconteceu? Onde está o medo da energia nuclear que tínhamos mostrado desde o final da Segunda Guerra Mundial? O que é que danificou e corrompeu a sociedade rica e pacífica que tentámos construir ao longo de todos estes anos?
O motivo é bastante delicado. A ‘eficiência’.
As companhias eléctricas asseguram que os reactores nucleares são o sistema de produção de electricidade mais eficiente. Isto é, são o sistema que dá mais vantagens. Pela sua parte, sobretudo desde a primeira crise de petróleo, o Governo japonês abdicou da estabilidade de abastecimento de petróleo e adoptou a produção de energia nuclear como uma política nacional. As companhias eléctricas gastaram grandes quantidades de dinheiro em publicidade, compraram os meios de comunicação, e fizeram com que os cidadãos acreditassem que a produção de energia nuclear era absolutamente segura. Então, quando nos demos conta, aproximadamente 30% da produção eléctrica no Japão dependia da produção de energia nuclear. Sem que os cidadãos se apercebessem, o arquipélago japonês, pequeno e com abundantes terramotos, tinha-se convertido no terceiro país do mundo com mais centrais nucleares.
E, chegados a este ponto, não há volta a dar. É um acto consumado. Mesmo entre os cidadãos se prolonga a sensação de que não há outro remédio que não seja depender da energia nuclear. No Japão faz muito calor, e não pôr a trabalhar o ar condicionado no Verão é quase uma tortura. Às pessoas que põem em dúvida a energia nuclear cola-se a etiqueta de “sonhadores pouco realistas”.
E, agora, encontramo-nos como nos encontramos. Os reactores nucleares, que em teoria eram tão eficientes, provocaram uma situação dramática, como se alguém tivesse aberto a porta do inferno. Esta é a realidade.
A realidade dos que estão a favor da energia nuclear, e que pediram a quem está contra que tivesse em conta a realidade, não era a realidade que pediram, mas somente uma “conveniência” superficial. O que faziam era dizer “realidade” no lugar de “conveniência”, para mudar a lógica sem que ninguém se desse conta.
Isto levou consigo não só o derrube do mito do “poder tecnológico” do qual o Japão se orgulhou durante tantos anos, mas também representou a queda da ética e do modelo dos japoneses, que permitimos nos embrulhassem nesta farsa. Agora, criticamos a companhia eléctrica e o Governo. É justo, e necessário, que o façamos. Mas também devemos deitar as culpas a nós próprios. Somos vítimas e culpados ao mesmo tempo. É uma questão para reflectirmos seriamente. Senão, pode ser que o erro se repita qualquer dia.
«Descansem em paz, pois o erro não se repetirá». Temos que voltar a gravar estas palavras no coração. O físico Robert Oppenheimer foi uma das pessoas mais intervenientes na criação da bomba atómica durante a Segunda Guerra Mundial, e quando se apercebeu do desastre que a bomba tinha provocado em Hiroshima e Nagasaki ficou muito afectado. Pediu uma audiência com o presidente Truman e disse-lhe:
- Presidente, tenho as mãos manchadas de sangue.
O presidente Truman tirou do bolso um pano branco bem limpo e disse-lhe:
- Limpe-as com o meu lenço.
Nem é preciso dizer que, no mundo, não há lenço suficientemente limpo para limpar tanto sangue.
Nós, japoneses, deveríamos continuar a dizer não à energia nuclear. Esta é a minha opinião.
Deveríamos dedicar o poder tecnológico, o conhecimento e capital social que temos como país, na busca de uma forma de energia efectiva que pudesse substituir a nuclear. Ainda que todo o mundo se ria e diga que os japoneses são malucos por não usarem a energia nuclear, que é a mais eficiente, devíamos seguir firmes, nesta renúncia à energia nuclear, resultante do medo que adquirimos na experiência das bombas atómicas. A procura de uma forma de energia que não utilizasse a energia nuclear deveria ter sido o motivo principal do caminho que o Japão percorreu desde a guerra.
Esta teria sido a maneira de assumir uma responsabilidade colectiva perante as numerosas vítimas de Hiroshima e Nagasaki. No Japão havia uma ética, um modelo e uma mensagem social fortes como esta. Era uma grande oportunidade para os japoneses terem feito uma contribuição real para o mundo. Só que, entusiasmados com o rápido crescimento económico, deixamo-nos guiar pelo critério fácil da “eficiência”, e perdemos de vista este caminho tão importante.
Tal como disse antes, por mais graves e trágicos que sejam os danos causados pelas catástrofes naturais, nós japoneses, somos capazes de superá-los. Ainda que o acto de nos sobrepormos a eles exija que as pessoas tenham um espírito mais forte e mais profundo. De uma maneira ou de outra, vamos prosseguir.
A reconstrução dos edifícios e das estradas é um trabalho da responsabilidade dos especialistas. Mas a regeneração da ética e do modelo é uma tarefa que recai sobre nós todos. O sentimento natural de chorar os mortos, de apoiar as pessoas que sofrem pelo desastre e de não esquecer a dor e as feridas que sofremos, vão ajudar-nos a empreender esta tarefa. Será uma tarefa modesta e silenciosa, que irá requerer muita perseverança. Uma tarefa que temos que fazer reunindo todas as forças, como as pessoas de uma aldeia se reúnem de manhã cedo, na Primavera, para irem para o campo lavrar a terra e plantar as sementes. Cada um da maneira que possa, mas com um único coração.
Nesta grande tarefa colectiva, há uma parte que recai sobre os especialistas das palavras, isto é, sobre os que ganham a vida a escrever. Nós temos que ligar a nova ética e o novo modelo a novas palavras. E temos que fazer com que nasçam e cresçam histórias cheias de vida. Devem ser histórias que possamos partilhar. Devem ser histórias que, como canções nas plantações, tenham ritmo e animem as pessoas. Durante muitos anos reconstruímos um Japão assolado pela guerra. Agora temos que voltar a este ponto de partida.
Tal como disse no princípio, vivemos num mundo de mudança e transição, marcado pelo conceito de “mujô”, que nos diz que qualquer estilo de vida muda e acaba por desaparecer. Que o Homem é impotente perante a força enorme da natureza. A consciência desta transitoriedade é uma das ideias básicas da cultura japonesa. Ao mesmo tempo, e apesar de respeitarmos as coisas que desapareceram e estarmos conscientes de que vivemos num mundo frágil em que tudo pode desaparecer a qualquer instante, nós japoneses também temos uma mentalidade positiva que nos impulsiona a viver com alegria.
As minhas obras são muito bem recebidas na Catalunha, e estou orgulhoso por me ter sido atribuído um prémio tão importante como este. Vivemos em lugares que estão muito distantes, e falamos línguas diferentes. A cultura em que nos baseamos também é diferente. Contudo, todos somos cidadãos do mundo, e temos os mesmos problemas, as mesmas tristezas e alegrias. Justamente por isso é possível que umas quantas histórias escritas por um escritor japonês tenham sido traduzidas para o catalão e lidas pelas pessoas daqui. Fico muito contente por partilhar uma mesma história com vocês. O trabalho dos escritores é sonhar. Mas ainda temos um trabalho mais importante: partilhar os nossos sonhos com os outros. É impossível ser-se escritor sem ter esta sensação de querer partilhar o que se escreve.
Sei que, ao longo da história, os catalães superaram muitas dificuldades e que, em certas épocas, sofreram alguma crueldade. Mas, apesar disso, sobreviveram firmemente e conservaram uma cultura muito rica. Estou certo que há muitas coisas que podemos partilhar. Penso que seria fantástico se tanto vocês como nós, tanto na Catalunha como no Japão, pudéssemos ser uns “sonhadores pouco realistas” e pudéssemos formar uma “comunidade espiritual” aberta que superasse fronteiras e culturas. Penso que poderia ser um bom ponto de partida para a regeneração, depois dos vários desastres e dos ataques terroristas terrivelmente trágicos que temos vivido estes últimos anos.
Não devemos ter medo de sonhar. Não podemos deixar-nos engatar pelas causas dos desastres, que se apresentam com o nome de “eficácia” e “conveniência”. Devemos ser “sonhadores pouco realistas”, avançando em passo firme. Os humanos morrem e desaparecem. Mas a humanidade perdura. É algo que se prolonga indefinidamente. Acima de tudo, temos de crer na força da humanidade.
Por último, queria oferecer a quantia monetária deste prémio às vítimas do terramoto e do acidente na central nuclear de Fukushima. Estou profundamente agradecido ao povo catalão e à Generalitat de Catalunya que me ofereceram esta oportunidade. Gostaria ainda de expressar a minha mais profunda solidariedade para com as vítimas do terramoto de Lorca".
Este foi o texto de Discurso de Haruki Murakami na cerimónia de entrega do Prémio Internacional da Catalunha, em 9 de Junho de 2011, que me permiti "roubar", na íntegra, do blogue murakami-pt.blogspot.com.
De tão importante julguei mais justo não me limitar a transcrever o que eu pudesse considerar mais importante. Limitei-me a fazer pequenas correções gramaticais. Assim, será cada um dos meus leitores a fazer essa avaliação.
No tempo que atravessamos, "pensar" é preciso. Este discurso é para isso mesmo...
HSC
A última vez que estive em Barcelona foi na Primavera de há dois anos. Num dos eventos públicos que realizei, surpreendi-me com a quantidade de leitores que vieram para verem ser assinados os seus livros. Formou-se uma longa fila, e passei mais de uma hora e meia a assinar. Só demorou todo esse tempo porque muitos leitores quiseram cumprimentar-me. Estive ali um bom bocado…
Já fiz sessões de autógrafos em muitas cidades de todo o mundo, mas a única em que os leitores quiseram beijar-me foi aqui em Barcelona. Esta foi apenas uma das muitas situações que me fizeram perceber que Barcelona é uma cidade verdadeiramente maravilhosa. Estou muito feliz por regressar a um tão belo local, com uma história e uma cultura tão avançada.
Infelizmente, não venho hoje falar-vos de beijos, e sim de algo um pouco mais sério. Como todos sabem, a 11 de Março, às 2 horas e 46 minutos, a região japonesa de Tohoku foi vítima de um grave terramoto. Teve uma tal magnitude que fez com que a velocidade de rotação da Terra acelerasse ligeiramente, e o dia prolongou-se por mais 1,8 mil enésimos de segundo.
O terramoto provocou muita destruição, mas o tsunami que se seguiu deixou uma marca ainda mais terrível. Em alguns locais, o tsunami alcançou os 39 metros de altura, o que significa que é impossível para uma pessoa salvar-se, ainda que esta se encontrasse no 9º andar de um edifício. Todos os que se encontravam perto da costa não conseguiram fugir, e calcula-se que aproximadamente 24.000 tenham morrido. Destes, cerca de 9.000 ainda estão desaparecidos. Estas pessoas foram arrastadas pelo tsunami e os seus corpos não foram, até agora, encontrados. A grande maioria deve estar enterrada no fundo do mar. A maior parte dos sobreviventes perdeu família e amigos, perdeu casa e os seus pertences, perdeu a restante comunidade, e perdeu tudo o que constituia a base das suas vidas.
Algumas cidades foram completamente varridas do mapa. Estou certo de que muita gente perdeu até a vontade de viver.
Aparentemente, os japoneses estão acostumados a enfrentar numerosas catástrofes naturais. Entre o final do Verão e o princípio do Outono, uma grande parte do território japonês torna-se alvo de furacões, que todos os anos causam muitos estragos e ceifam vidas. Em todas as zonas do país é registada uma actividade vulcânica significativa. E depois, é claro, há os terramotos. O arquipélago japonês é o extremo oriental do continente asiático, e está perigosamente situado sobre quatro placas tectónicas. Na verdade, é como se vivessemos num ninho de terramotos.
Com os furacões, podemos saber em que período do dia ele vai chegar e os locais onde é previsto passarem; pelo contrário, os sismos não nos dão qualquer previsão. A única coisa que sabemos é que, com certeza, o último terramoto que sentimos não será o último, isto num futuro imediato: talvez já amanhã haja outro. Muitos especialistas prevêem que nos próximos vinte a trinta anos vão haver, em grande número, terramotos de magnitude 8 na região de Tóquio. E ninguém sabe muito bem o grau de destruição que seria alcançado se o epicentro de um terramoto se localizasse perto de uma metrópole com tanta densidade populacional como Tóquio.
Apesar disso, neste momento, em Tóquio existem treze milhões de pessoas a continuarem a sua vida “normal”. Continuam a ir para o emprego em carruagens de metro sobrelotadas e a trabalharem em altos arranha-céus. Não tenho notícias de que a população de Tóquio tenha diminuído desde o último terramoto.
«Como pode isto ser possível?», devem-se estar a perguntar. Como podem viver tantas pessoas numa cidade onde sabem que podem acontecer coisas tão horríveis? Como justificar esta falta de medo?
Na língua japonesa temos uma palavra – “mujô” – que designa o facto de nada ser permanente, não existe nada que dure para sempre. Todas as coisas que existem no mundo se extinguem, tudo se transforma constantemente. Não há um equilíbrio eterno, nada é imutável porque não se pode confiar nelas para sempre. Esta é uma maneira de ver o mundo que provém do Budismo e, apesar de num contexto ligeiramente diferente do conceito religioso, “mujô” está presente na psicologia mental dos japoneses, que herdaram da antiguidade, de forma quase intacta, a mentalidade que têm como pessoas.
Poderíamos dizer que esta ideia do «tudo tem um fim» implica uma certa resignação com o mundo, isto é, nada do que o homem faça poderá opor-se ao curso da natureza. Contudo, os japoneses conseguiram encontrar uma forma bela de encarar esta resignação.
Se olharem com atenção para a natureza, por exemplo, na Primavera admiram as ‘sakura’, no verão os pirilampos, e no Outono as folhas amarelas dos bosques. Dia a dia, a cada momento, como uma rotina, quase como se fosse um axioma, observam tudo com paixão. Quando chega o tempo respectivo, os locais mais famosos para se verem as flores de ‘sakura’, ou os pirilampos, ou as folhas outonais, enchem-se de gente e torna-se quase impossível fazer uma reserva num hotel.
Porquê?
Porque a beleza das ‘sakura’, dos pirilampos e das folhas do Outono desaparece ao fim de um tempo. Os japoneses percorrem inúmeros quilómetros para poderem ver o esplendor da efemeridade destes fenómenos. Mas não se limitam apenas a observar essa beleza, pois também se aliviam ao descobrir como se espalham as flores das ‘sakura’, a luz ténue dos pirilampos, ou como se apagam as cores vivas das árvores. Na verdade, encontram a paz quando a beleza já atingiu o clímax e começa a desaparecer…
Não sei se as catástrofes naturais têm alguma influência nesta nossa maneira de pensar. Porém, o que é certo é que, ao longo da história, os japoneses têm conseguido superar todos os desastres de que têm sido vítimas, aceitando-os como factos de certa maneira inevitáveis, e, unidos uns com os outros, sobrepoem-se a eles. Portanto, é bem possível que estas experiências anteriores tenham marcado a nossa sensibilidade.
Perante este último grande sismo, todos os japoneses foram tremendamente afectados e ainda que estejamos acostumados a terramotos, estremecemos ante a enormidade dos danos causados. Sentimo-nos impotentes e sofremos pelo futuro do nosso país.
Contudo, acredito que recuperaremos a moral e nos levantaremos para começar a reconstrução. Neste sentido, estou muito preocupado. Somos um povo que recuperou muitas vezes ao longo da história. Não podemos ficar afectados para sempre. Temos de reconstruir as casas destruídas, reparar as estradas que se danificaram.
Bem vistas as coisas, estamos instalados neste planeta por nossa conta e risco. O planeta não nos pediu que vivessemos. Por isso não nos podemos queixar que ele tenha tremido um pouco. O facto de tremer de vez em quando é uma das propriedades da Terra, de forma que, quer gostemos quer não gostemos, não temos outro remédio que não conviver com esta natureza.
Mas hoje quero falar de coisas que, ao invés dos edifícios e das estradas, não se podem renovar facilmente. Por exemplo, da ética e do modelo. Nem uma coisa nem a outra são objectos que tenham uma forma definitiva. Uma vez danificadas, custa muito voltar a transformá-las no que eram. Isso é assim porque não são coisas que se possam fazer no imediato, mal se tenha reunido uma série de máquinas, mão-de-obra e as matérias-primas necessárias.
Refiro-me, concretamente, à central nuclear de Fukushima.
Como deverão saber, pelo menos três dos seis reactores afectados pelo terramoto e pelo tsunami na região de Fukushima ainda não conseguiram ser reparados e continuam a emitir radiação na zona. Ocorreu a fusão de um reactor, o que provocou a contaminação nas terras em redor, e, ao que parece, verteu para o mar de águas residuais uma alta concentração de radioactividade.
Cem mil pessoas viram-se obrigadas a deslocar-se da zona próxima da central nuclear. Os campos, os prados, as fábricas, as zonas comerciais, e os portos ficaram subitamente desertos e abandonados. É muito possível que as pessoas que tiveram de fugir da zona não consigam voltar a viver. E, custa-me imenso dizê-lo, parece que os danos não afectaram somente o Japão, mas também alguns países vizinhos.
A causa desta situação trágica é evidente. Esta desgraça só aconteceu porque as pessoas que construíram a central nuclear não tiveram em conta que poderia haver um tsunami grande. Alguns especialistas avisaram que, nesta região, já se tinha dado um tsunami desta magnitude, e pediram que se revissem os planos de segurança; mas a companhia que geria a central não os tomou a sério. A ideia de investir uma grande quantidade de dinheiro por um tsunami que pode passar, ou não, uma vez em vários séculos, não era muito atractiva para uma companhia que aspira a ser rentável.
Por outro lado, parece que o Governo, que deveria ter controlado estritamente as medidas de segurança da central, baixou a guarda para levar adiante a sua política nuclear.
É nosso dever averiguar o que se passou, e, no caso de se ter cometido algum erro, fazer dele público. Por culpa destes erros, mais de cem mil pessoas viram-se obrigadas a abandonar esta região e a mudar radicalmente o seu estilo de vida. Que aborrecimento. É natural.
Por algum motivo, nós japoneses somos um povo que não nos aborrecemos demasiado. Sabemos ter paciência, mas não expressamos muito esse sentimento. Neste sentido, somos muito diferentes dos nossos amigos barceloneses. Mas, neste caso, acho que mesmo os cidadãos japoneses se aborreceram, se cansaram.
Deveríamos deitar as culpas a nós mesmos, por termos permitido, ou tolerado, a existência deste sistema corrompido. Porque o que se passou é um problema que afecta profundamente a nossa ética e o nosso modelo.
Como sabem, os japoneses são o único povo que sofreram a experiência de uma bomba atómica. Em Agosto de 1945, as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram alvo de bombas atómicas lançadas pelos bombardeiros do exército norte-americano – o que provocou mais de duzentos mil mortos. A maioria das vítimas eram civis. Agora não vamos começar a discutir se foi uma acção justa ou não.
O que quero dizer é que, para além dos duzentos mil que morreram logo que se deram as explosões, muitos dos sobreviventes morreram ao fim de um certo tempo, depois de muitos sofrimentos provocados pela radiação. Através do sofrimento destas vítimas, nós japoneses conhecemos o poder de destruição de uma bomba atómica, assim como a gravidade das feridas que a radiação provoca ao mundo e ao corpo humano.
No caminho que o Japão tem percorrido desde a Segunda Guerra Mundial, existiram dois ideais centrais: o primeiro foi a recuperação económica, e o segundo a renúncia à guerra, isto é, o compromisso de que, aconteça o que acontecer, não recorreremos ao uso da força militar. Estes dois novos objectivos que acompanharam a nação ajudaram-na a converter-se num país rico na aspiração pela paz.
Na placa do monumento das vítimas de Hiroshima estão inscritas as seguintes palavras: «Descansem em paz, pois o erro não se repetirá».
São palavras maravilhosas. Somos, ao mesmo tempo, as vítimas e os culpados. Este é o significado que está implícito nestas palavras. Perante uma força tão abrasadora como a nuclear, somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Na medida em que todos estamos debaixo da ameaça dessa força, todos somos vítimas, mas também, na medida em que permitimos que acontecesse o que veio a desencadear a sua utilização, somos culpados.
Hoje, 66 anos depois do lançamento das bombas atómicas, o motor número um da central nuclear de Fukushima está há três meses a libertar radiação e a contaminar a terra, o mar, e o ar à sua volta. Contudo, não há ninguém que saiba como o parar. Esta é a segunda grande desgraça nuclear que nós japoneses sofremos na nossa história. Só que desta vez ninguém nos lançou nenhuma bomba atómica. Fomos nós próprios que a provocámos, cometemos um erro com as nossas mãos, fizemos mal ao nosso país, destruímos a nossa própria vida.
Porque é que isto aconteceu? Onde está o medo da energia nuclear que tínhamos mostrado desde o final da Segunda Guerra Mundial? O que é que danificou e corrompeu a sociedade rica e pacífica que tentámos construir ao longo de todos estes anos?
O motivo é bastante delicado. A ‘eficiência’.
As companhias eléctricas asseguram que os reactores nucleares são o sistema de produção de electricidade mais eficiente. Isto é, são o sistema que dá mais vantagens. Pela sua parte, sobretudo desde a primeira crise de petróleo, o Governo japonês abdicou da estabilidade de abastecimento de petróleo e adoptou a produção de energia nuclear como uma política nacional. As companhias eléctricas gastaram grandes quantidades de dinheiro em publicidade, compraram os meios de comunicação, e fizeram com que os cidadãos acreditassem que a produção de energia nuclear era absolutamente segura. Então, quando nos demos conta, aproximadamente 30% da produção eléctrica no Japão dependia da produção de energia nuclear. Sem que os cidadãos se apercebessem, o arquipélago japonês, pequeno e com abundantes terramotos, tinha-se convertido no terceiro país do mundo com mais centrais nucleares.
E, chegados a este ponto, não há volta a dar. É um acto consumado. Mesmo entre os cidadãos se prolonga a sensação de que não há outro remédio que não seja depender da energia nuclear. No Japão faz muito calor, e não pôr a trabalhar o ar condicionado no Verão é quase uma tortura. Às pessoas que põem em dúvida a energia nuclear cola-se a etiqueta de “sonhadores pouco realistas”.
E, agora, encontramo-nos como nos encontramos. Os reactores nucleares, que em teoria eram tão eficientes, provocaram uma situação dramática, como se alguém tivesse aberto a porta do inferno. Esta é a realidade.
A realidade dos que estão a favor da energia nuclear, e que pediram a quem está contra que tivesse em conta a realidade, não era a realidade que pediram, mas somente uma “conveniência” superficial. O que faziam era dizer “realidade” no lugar de “conveniência”, para mudar a lógica sem que ninguém se desse conta.
Isto levou consigo não só o derrube do mito do “poder tecnológico” do qual o Japão se orgulhou durante tantos anos, mas também representou a queda da ética e do modelo dos japoneses, que permitimos nos embrulhassem nesta farsa. Agora, criticamos a companhia eléctrica e o Governo. É justo, e necessário, que o façamos. Mas também devemos deitar as culpas a nós próprios. Somos vítimas e culpados ao mesmo tempo. É uma questão para reflectirmos seriamente. Senão, pode ser que o erro se repita qualquer dia.
«Descansem em paz, pois o erro não se repetirá». Temos que voltar a gravar estas palavras no coração. O físico Robert Oppenheimer foi uma das pessoas mais intervenientes na criação da bomba atómica durante a Segunda Guerra Mundial, e quando se apercebeu do desastre que a bomba tinha provocado em Hiroshima e Nagasaki ficou muito afectado. Pediu uma audiência com o presidente Truman e disse-lhe:
- Presidente, tenho as mãos manchadas de sangue.
O presidente Truman tirou do bolso um pano branco bem limpo e disse-lhe:
- Limpe-as com o meu lenço.
Nem é preciso dizer que, no mundo, não há lenço suficientemente limpo para limpar tanto sangue.
Nós, japoneses, deveríamos continuar a dizer não à energia nuclear. Esta é a minha opinião.
Deveríamos dedicar o poder tecnológico, o conhecimento e capital social que temos como país, na busca de uma forma de energia efectiva que pudesse substituir a nuclear. Ainda que todo o mundo se ria e diga que os japoneses são malucos por não usarem a energia nuclear, que é a mais eficiente, devíamos seguir firmes, nesta renúncia à energia nuclear, resultante do medo que adquirimos na experiência das bombas atómicas. A procura de uma forma de energia que não utilizasse a energia nuclear deveria ter sido o motivo principal do caminho que o Japão percorreu desde a guerra.
Esta teria sido a maneira de assumir uma responsabilidade colectiva perante as numerosas vítimas de Hiroshima e Nagasaki. No Japão havia uma ética, um modelo e uma mensagem social fortes como esta. Era uma grande oportunidade para os japoneses terem feito uma contribuição real para o mundo. Só que, entusiasmados com o rápido crescimento económico, deixamo-nos guiar pelo critério fácil da “eficiência”, e perdemos de vista este caminho tão importante.
Tal como disse antes, por mais graves e trágicos que sejam os danos causados pelas catástrofes naturais, nós japoneses, somos capazes de superá-los. Ainda que o acto de nos sobrepormos a eles exija que as pessoas tenham um espírito mais forte e mais profundo. De uma maneira ou de outra, vamos prosseguir.
A reconstrução dos edifícios e das estradas é um trabalho da responsabilidade dos especialistas. Mas a regeneração da ética e do modelo é uma tarefa que recai sobre nós todos. O sentimento natural de chorar os mortos, de apoiar as pessoas que sofrem pelo desastre e de não esquecer a dor e as feridas que sofremos, vão ajudar-nos a empreender esta tarefa. Será uma tarefa modesta e silenciosa, que irá requerer muita perseverança. Uma tarefa que temos que fazer reunindo todas as forças, como as pessoas de uma aldeia se reúnem de manhã cedo, na Primavera, para irem para o campo lavrar a terra e plantar as sementes. Cada um da maneira que possa, mas com um único coração.
Nesta grande tarefa colectiva, há uma parte que recai sobre os especialistas das palavras, isto é, sobre os que ganham a vida a escrever. Nós temos que ligar a nova ética e o novo modelo a novas palavras. E temos que fazer com que nasçam e cresçam histórias cheias de vida. Devem ser histórias que possamos partilhar. Devem ser histórias que, como canções nas plantações, tenham ritmo e animem as pessoas. Durante muitos anos reconstruímos um Japão assolado pela guerra. Agora temos que voltar a este ponto de partida.
Tal como disse no princípio, vivemos num mundo de mudança e transição, marcado pelo conceito de “mujô”, que nos diz que qualquer estilo de vida muda e acaba por desaparecer. Que o Homem é impotente perante a força enorme da natureza. A consciência desta transitoriedade é uma das ideias básicas da cultura japonesa. Ao mesmo tempo, e apesar de respeitarmos as coisas que desapareceram e estarmos conscientes de que vivemos num mundo frágil em que tudo pode desaparecer a qualquer instante, nós japoneses também temos uma mentalidade positiva que nos impulsiona a viver com alegria.
As minhas obras são muito bem recebidas na Catalunha, e estou orgulhoso por me ter sido atribuído um prémio tão importante como este. Vivemos em lugares que estão muito distantes, e falamos línguas diferentes. A cultura em que nos baseamos também é diferente. Contudo, todos somos cidadãos do mundo, e temos os mesmos problemas, as mesmas tristezas e alegrias. Justamente por isso é possível que umas quantas histórias escritas por um escritor japonês tenham sido traduzidas para o catalão e lidas pelas pessoas daqui. Fico muito contente por partilhar uma mesma história com vocês. O trabalho dos escritores é sonhar. Mas ainda temos um trabalho mais importante: partilhar os nossos sonhos com os outros. É impossível ser-se escritor sem ter esta sensação de querer partilhar o que se escreve.
Sei que, ao longo da história, os catalães superaram muitas dificuldades e que, em certas épocas, sofreram alguma crueldade. Mas, apesar disso, sobreviveram firmemente e conservaram uma cultura muito rica. Estou certo que há muitas coisas que podemos partilhar. Penso que seria fantástico se tanto vocês como nós, tanto na Catalunha como no Japão, pudéssemos ser uns “sonhadores pouco realistas” e pudéssemos formar uma “comunidade espiritual” aberta que superasse fronteiras e culturas. Penso que poderia ser um bom ponto de partida para a regeneração, depois dos vários desastres e dos ataques terroristas terrivelmente trágicos que temos vivido estes últimos anos.
Não devemos ter medo de sonhar. Não podemos deixar-nos engatar pelas causas dos desastres, que se apresentam com o nome de “eficácia” e “conveniência”. Devemos ser “sonhadores pouco realistas”, avançando em passo firme. Os humanos morrem e desaparecem. Mas a humanidade perdura. É algo que se prolonga indefinidamente. Acima de tudo, temos de crer na força da humanidade.
Por último, queria oferecer a quantia monetária deste prémio às vítimas do terramoto e do acidente na central nuclear de Fukushima. Estou profundamente agradecido ao povo catalão e à Generalitat de Catalunya que me ofereceram esta oportunidade. Gostaria ainda de expressar a minha mais profunda solidariedade para com as vítimas do terramoto de Lorca".
Este foi o texto de Discurso de Haruki Murakami na cerimónia de entrega do Prémio Internacional da Catalunha, em 9 de Junho de 2011, que me permiti "roubar", na íntegra, do blogue murakami-pt.blogspot.com.
De tão importante julguei mais justo não me limitar a transcrever o que eu pudesse considerar mais importante. Limitei-me a fazer pequenas correções gramaticais. Assim, será cada um dos meus leitores a fazer essa avaliação.
No tempo que atravessamos, "pensar" é preciso. Este discurso é para isso mesmo...
HSC
Para sorrir
Mão próxima fez chegar às minhas o desenho supra. Não pude deixar de sorrir face à verdade que ele humoristicamente transmite.
Com efeito, o século XXI pôs ao nosso alcance uma série de ferramentas que deveriam proporcionar-nos uma muito maior rentabilidade laboral e pessoal e libertar o nosso espírito para as tarefas que são verdadeiramente interessantes. Aquelas que jamais as máquinas substituirão porque têm a ver com a humanização de cada um de nós.
Infelizmente não é isso que acontece. As ferramentas transformaram-se em simbolos de nível social e de estatuto pessoal em que o "parecer" importa mais que o ser ou o saber.
Um dia, os nossos netos irão é perguntar-nos o que fizemos da cabeça?!
HSC
Com efeito, o século XXI pôs ao nosso alcance uma série de ferramentas que deveriam proporcionar-nos uma muito maior rentabilidade laboral e pessoal e libertar o nosso espírito para as tarefas que são verdadeiramente interessantes. Aquelas que jamais as máquinas substituirão porque têm a ver com a humanização de cada um de nós.
Infelizmente não é isso que acontece. As ferramentas transformaram-se em simbolos de nível social e de estatuto pessoal em que o "parecer" importa mais que o ser ou o saber.
Um dia, os nossos netos irão é perguntar-nos o que fizemos da cabeça?!
HSC
terça-feira, 14 de junho de 2011
Preço e valor...
Retomei os meus hábitos. Já vejo alguma televisão. Por enquanto, apenas o noticiário das 20horas e prazeirosamente saltando de canal em canal, para ficar com uma ideia mais global, como agora se diz.
Hoje tive um prémio porque cheguei tarde e só apanhei o noticiário do Mario Crespo. Sorte a minha porque assisti a uma conversa muito curiosa com o Prof. Adriano Moreira na qual me detive, porque ele tocou num ponto que há já algum tempo me vem preocupando.
De que se trata? Pura e simplesmente da diferença entre preço e valor. Para a maioria das pessoas são conceitos idênticos. Mas, de facto, não são. E o que está a acontecer é justamente a substituição de um pelo outro, quando afinal eles não representam o mesmo.
A sociedade actual está a dar mais importância aos preços do que aos valores. E o que precisamos é justamente do contrário. O país e os portugueses precisam de reencontrar valores. São eles que definem a nossa identidade. Os preços a pagar só podem vir depois. Até para que saibamos se eles são, ou não são, justos...
HSC
Portugal visto de fora
Na revista francesa L' EXPRESS da semana que findou, vem um longo artigo sobre a "génération fauchée" de Portugal. Vale a pena ler. Não traz nada que não saibamos, mas tem a vantagem de ser um olhar de fora para dentro de nós. Aliás, esta publicação tem sempre manifestado grande interesse pelo que se passa neste rectângulo à beira mar plantado, sobretudo a partir da Revolução dos cravos.
Está lá tudo o que é importante: os 12,1% de desempregados, em que cerca de 30% tem entre os 18 e os 24 anos, os 93% do PIB que a dívida pública já representa, o deficite público de 9,1%, o recuo de 0,9% do dito PIB, o caso do banco BPN salvo com o dinheiro dos contribuintes e, finalmente, o resultado eleitoral. Nenhuma novidade, portanto. Já sabíamos de tudo isto.
Mas quando se lê esta análise feita por outros, em que as palavras têm, ocasionalmente, a entoação que menos desejaríamos, parece que dói mais, que o retrato fica mais preto.
Se aconselho a leitura não é por masoquismo, mas apenas porque se detectam, no artigo, algumas subtilezas a que convém estar atento.
HSC
segunda-feira, 13 de junho de 2011
As agências de rating
Já aqui disse, algumas vezes, que as agências de rating apesar de estarem muito desacreditadas, sobretudo desde que foi sob a sua égide que se desenvolveram casos como o de Madoff, continuam a ser ouvidas como oráculos.
Também já se falou da necessidade de criar uma entidade supra nacional que fiscalize as existentes. Ou até da criação de uma agência oficial de reconhecida competência. Tudo, afinal, para evitar as nefastas consequências da errática actuação das que existem.
Na semana passada, sete bancos nacionais - Caixa Geral de Depósitos (CGD), Banco Comercial Português (BCP), Banco Espírito Santo (BES), Banco Santander Totta, Banco BPI, Caixa Económica Montepio Geral e Banco Internacional do Funchal (Banif)- foram colocados sob vigilância negativa por parte da agência Moody's.
As razões que levaram a esta situação ficarão a dever-se "ao cada vez mais desafiante ambiente operacional em que actuam os bancos portugueses", o que pressionará não só a sua rentabilidade e qualidade de activos, como poderá agravar as restrições do acesso ao mercado de financiamento.
Por outro lado, explica a Moody's, aquela vigilância negativa fica igualmente a dever-se à pressão sobre o perfil de crédito da República Portuguesa, cujo rating actual também se encontra em observação para uma possível revisão em baixa.
Ou seja, mesmo quando os países se esforçam por tomar medidas de racionalidade financeira, basta que aquelas empresas de notificação não "acreditem" na sua eficácia, para que o grau de credibilidade nacional seja afectado.
E o pior é que quando erram, ninguém parece assacar-lhes as devidas responsabilidades. Então, para quando, as medidas urgentes que se impõem?!
HSC
sábado, 11 de junho de 2011
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
Castelo Branco, 10 de Junho de 2011
Senhor Presidente da República,
Distintas Autoridades,
Senhoras e Senhores,
Nada é novo. Nunca! Já lá estivemos, já o vivemos e já conhecemos. Uma crise financeira, a falência das contas públicas, a despesa pública e privada, ambas excessivas, o desequilíbrio da balança comercial, o descontrolo da actividade do Estado, o pedido de ajuda externa, a intervenção estrangeira, a crise política e a crispação estéril dos dirigentes partidários. Portugal já passou por isso tudo. E recuperou. O nosso país pode ultrapassar, mais uma vez, as dificuldades actuais. Não é seguro que o faça. Mas é possível.
Tudo é novo. Sempre! Uma crise internacional inédita, um mundo globalizado, uma moeda comum a várias nações, um assustador défice da produção nacional, um insuportável grau de endividamento e a mais elevada taxa de desemprego da história. São factos novos que, em simultâneo, tornam tudo mais difícil, mas também podem contribuir para novas soluções. Não é certo que o novo enquadramento internacional ajude a resolver as nossas insuficiências. Mas é possível.
Novo é também o facto de alguns políticos não terem dado o exemplo do sacrifício que impõem aos cidadãos. A indisponibilidade para falarem uns com os outros, para dialogar, para encontrar denominadores comuns e chegar a compromissos contrasta com a facilidade e o oportunismo com que pedem aos cidadãos esforços excepcionais e renúncias a que muitos se recusam. A crispação política é tal que se fica com a impressão de que há partidos intrusos, ideias subversivas e opiniões condenáveis. O nosso Estado democrático, tão pesado, mas ao mesmo tempo tão frágil, refém de interesses particulares, nomeadamente partidários, parece conviver mal com a liberdade. Ora, é bom recordar que, em geral, as democracias, não são derrotadas, destroem-se a si próprias!
Há momentos, na história de um país, em que se exige uma especial relação política e afectiva entre o povo e os seus dirigentes. Em que é indispensável uma particular sintonia entre os cidadãos e os seus governantes. Em que é fundamental que haja um entendimento de princípio entre trabalhadores e patrões. Sem esta comunidade de cooperação e sem esta consciência do interesse comum nada é possível, nem sequer a liberdade.
Vivemos um desses momentos. Tudo deve ser feito para que estas condições de sobrevivência, porque é disso que se trata, estejam ao nosso alcance. Sem encenação medíocre e vazia, os políticos têm de falar uns com os outros, como alguns já não o fazem há muito. Os políticos devem respeitar os empresários e os trabalhadores, o que muitos parecem ter esquecido há algum tempo. Os políticos devem exprimir-se com verdade, princípio moral fundador da liberdade, o que infelizmente tem sido pouco habitual. Os políticos devem dar provas de honestidade e de cordialidade, condições para uma sociedade decente.
Vivemos os resultados de uma grave crise internacional. Sem dúvida. O nosso povo sofre o que outros povos, quase todos, sofrem. Com a agravante de uma crise política e institucional europeia que fere mais os países mais frágeis, como o nosso. Sentimos também, indiscutivelmente, os efeitos de longos anos de vida despreocupada e ilusória. Pagamos a factura que a miragem da abundância nos legou. Amargamos as sequelas de erros antigos que tornaram a economia portuguesa pouco competitiva e escassamente inovadora. Mas também sofremos as consequências da imprevidência das autoridades. Eis por que o apuramento de responsabilidades é indispensável, a fim de evitar novos erros.
Ao longo dos últimos meses, vivemos acontecimentos extraordinários que deixaram na população marcas de ansiedade. Uma sucessão de factos e decisões criou uma vaga de perplexidade. Há poucos dias, o povo falou. Fez a sua parte. Aos políticos cabe agora fazer a sua. Compete-lhes interpretar, não aproveitar. Exige-se-lhes que interpretem não só a expressão eleitoral do nosso povo, mas também e sobretudo os seus sentimentos e as suas aspirações. Pede-se-lhes que sejam capazes, como não o foram até agora, de dialogar e discutir entre si e de informar a população com verdade. Compete-lhes estabelecer objectivos, firmar um pacto com a sociedade, estimular o reconhecimento dos cidadãos nos seus dirigentes e orientar as energias necessárias à recuperação económica e à saúde financeira. Espera-se deles que saibam traduzir em razões públicas e conhecidas os objectivos das suas políticas. Deseja-se que percebam que vivemos um desses raros momentos históricos de aflição e de ansiedade colectiva em que é preciso estabelecer uma relação especial entre cidadãos e governantes. Os Portugueses, idosos e jovens, homens e mulheres, ricos e pobres, merecem ser tratados como cidadãos livres. Não apenas como contribuintes inesgotáveis ou eleitores resignados.
É muito difícil, ao mesmo tempo, sanear as contas públicas, investir na economia e salvaguardar o Estado de protecção social. É quase impossível. Mas é possível. É muito difícil, em momentos de penúria, acudir à prioridade nacional, a reorganização da Justiça, e fazer com que os Juízes julguem prontamente, com independência, mas em obediência ao povo soberano e no respeito pelos cidadãos. É difícil. Mas é possível.
O esforço que é hoje pedido aos Portugueses é talvez ímpar na nossa história, pelo menos no último século. Por isso são necessários meios excepcionais que permitam que os cidadãos, em liberdade, saibam para quê e para quem trabalham. Sem respeito pelos empresários e pelos trabalhadores, não há saída nem solução. E sem participação dos cidadãos, nomeadamente das gerações mais novas, o esforço da comunidade nacional será inútil.
É muito difícil atrair os jovens à participação cívica e à vida política. É quase impossível. Mas é possível. Se os mais velhos perceberem que de nada serve intoxicar a juventude com as cartilhas habituais, nem acreditar que a escola a mudará, nem ainda pensar que uma imaginária “reforma de mentalidades” se encarregará disso. Se os dirigentes nacionais perceberem que são eles que estão errados, não as jovens gerações, às quais faltam oportunidades e horizontes. Se entenderem que o seu sistema político é obsoleto, que o seu sistema eleitoral é absurdo e que os seus métodos de representação estão caducos.
Como disse um grande jurista, “cada geração tem o direito de rever a Constituição”. As jovens gerações têm esse direito. Não é verdade que tudo dependa da Constituição. Nem que a sua revisão seja solução para a maior parte das nossas dificuldades. Mas a adequação, à sociedade presente, desta Constituição anacrónica, barroca e excessivamente programática afigura-se indispensável. Se tantos a invocam, se tantos a ela se referem, se tantos dela se queixam, é porque realmente está desajustada e corre o risco de ser factor de afastamento e de divisão. Ou então é letra morta, triste consolação. Uma nova Constituição, ou uma Constituição renovada, implica um novo sistema eleitoral, com o qual se estabeleçam condições de confiança, de lealdade e de responsabilidade, hoje pouco frequentes na nossa vida política. Uma nova Constituição implica um reexame das relações entre os grandes órgãos de soberania, actualmente de muito confusa configuração. Uma Constituição renovada permitirá pôr termo à permanente ameaça de governos minoritários e de Parlamentos instáveis. Uma Constituição renovada será ainda, finalmente, o ponto de partida para uma profunda reforma da Justiça portuguesa, que é actualmente uma das fontes de perigos maiores para a democracia. A liberdade necessita de Justiça, tanto quanto de eleições.
Pobre país moreno e emigrante, poderás sair desta crise se souberes exigir dos teus dirigentes que falem verdade ao povo, não escondam os factos e a realidade, cumpram a sua palavra e não se percam em demagogia!
País europeu e antiquíssimo, serás capaz de te organizar para o futuro se trabalhares e fizeres sacrifícios, mas só se exigires que os teus dirigentes políticos, sociais e económicos façam o mesmo, trabalhem para o bem comum, falem uns com os outros, se entendam sobre o essencial e não tenham sempre à cabeça das prioridades os seus grupos e os seus adeptos.
País perene e errante, que viveste na Europa e fora dela, mas que à Europa regressaste, tens de te preparar para viver com metas difíceis de alcançar, apesar de assinadas pelo Estado e por três partidos, mas tens de evitar que a isso te obrigue um governo de fora.
País do sol e do Sul, tens de aprender a trabalhar melhor e a pensar mais nos teus filhos.
País desigual e contraditório, tens diante de ti a mais difícil das tarefas, a de conciliar a eficiência com a equidade, sem o que perderás a tua humanidade. Tarefa difícil. Mas possível.
Este foi o discurso proferido pelo sociólogo António Barreto no dia em que todos nós celebramos quem somos. Aqui fica para os que não tenham tido oportunidade de o ouvir. Irei, decerto, falar dele algumas vezes a propósito de futuro!
HSC
quarta-feira, 8 de junho de 2011
O caminho do PS
O país precisa de um PS forte. Já o aqui o disse e repito-o. Neste momento existem dois candidatos. Tenho por Francisco Assis um grande respeito, mesmo sabendo que sendo o chefe do grupo parlamentar tinha de ser uma correia de transmissão do ainda Secretário Geral e Primeiro Ministro.
Mas a coragem demonstrada em Felgueiras e a visibilidade que lhe deu a Assembleia, permitiu aos mais atentos descortinarem a "pessoa" para além do deputado.
Conheço menos bem Seguro. Mas uma boa parte da sua vida passou-a a fazer política, o que não deixa de ser importante.
De ambos tenho a ideia de serem gente séria. Mas, como não tenho filiação partidária, estou à vontade para dizer que talvez Assis seja um osso mais duro de roer na oposição. E a oposição quer-se dura. E eficaz. Por isso se fosse filiada saberia a quem meste momento daria o voto. Mas nada garante que não apareçam mais candidatos...
HSC
Mas a coragem demonstrada em Felgueiras e a visibilidade que lhe deu a Assembleia, permitiu aos mais atentos descortinarem a "pessoa" para além do deputado.
Conheço menos bem Seguro. Mas uma boa parte da sua vida passou-a a fazer política, o que não deixa de ser importante.
De ambos tenho a ideia de serem gente séria. Mas, como não tenho filiação partidária, estou à vontade para dizer que talvez Assis seja um osso mais duro de roer na oposição. E a oposição quer-se dura. E eficaz. Por isso se fosse filiada saberia a quem meste momento daria o voto. Mas nada garante que não apareçam mais candidatos...
HSC
Semprun
Durante anos a figura de Semprun acompanhou a minha vida. Como escritor e como político. Não pensando, quando jovem, como ele, a idade e a maturidade que ela nos traz, acabaria por me aproximar desta figura, cuja vida dava um belo filme.
Espanhol oriundo de uma família da classe alta com tradições políticas - era neto do político conservador, Antonio Maura, que foi cinco vezes chefe de governo - viria a estudar filosofia na Sorbonne, em Paris.
Em 1942 ingressa no PC de Espanha, tendo sido preso e torturado. Quando foi libertado decidiu voltar para Paris onde desenvolveu intensa actividade política.
Em 1988 o socialista Felipe Gonzalez convida-o para Ministro da Cultura, cargo que desempenha até 1991.
Mas a sua vida foi muito mais além do que o exercício da política. Semprun deixa uma vastíssima obra literária e filmica que atestam a sua alta qualidade de intelectual. Morreu aos 87 anos e, de algum modo, deixa orfã uma certa geração.
HSC
terça-feira, 7 de junho de 2011
A baixa política
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Domingo, dia 5 de Junho.
Domingo almocei em família com ambos os meus filhos e neto, em casa do meu irmão mais novo, que tudo fez para nos tornar a vida, nesse dia, o mais agradável possível.
Mas eu não estava bem. Por razões múltiplas. Que vêm, sobretudo, desta minha insustentável incapacidade de tolerar tudo o que é político. Por isso, a verdade é que o que apetecia, era estar a qilómetros dali, onde a vaga de fundo, não fosse, de facto, aquilo de que não se falava.
Os infantes saíram a meio da tarde para os seus respectivos quarteis generais e eu respirei...
Como me sinto hoje? Livre de um peso. Como disse José Gil, há três dias, finalmente livre de alguém que, considero, ajudou a enterrar Portugal.
Não sei o que virá. Sei o que acabou. Que saíu quem eu considerava que era preciso que saísse. O PS necessitava, há muito, de se libertar de Socrates, para voltar a existir. Neste momento, desejo sinceramente que encontrem a pessoa certa, porque o país precisa de um PS à altura das responsabilidades que vamos encontrar e também de quem faça esquecer estes seis anos de reinado do filósofo nacional. Portugal carece disso. Tanto, como de um bom governo...
HSC
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Uma reflexão
A partir de agora e até segunda feira, este blogue não postará nem comentará nada que refira política.
Mas hoje ainda quero fazer uma última reflexão. Nunca escondi que não fui nem sou uma entusiasta da Europa unida, ou União Europeia, se preferirem. De certo, por razões que se prendem com a já minha longa experiência profissional, que começou antes da EFTA.
Continuo a pensar o mesmo. E a ser, antes de tudo, portuguesa.
Pois bem, a Comissão Europeia teve ontem o desplante, a desvergonha, de pedir um aumento de 4,9% no seu orçamento, quando nela estão países à beira da falência e as condições da sua ajuda são draconianas.
E isto, claro, depois de terem sido publicitados gastos inadmissíveis por parte dos seus deputados em viagens, hoteis, festas, férias e ofertas a quem muito bem entendem.
Se tudo for verdadeiro, inclusivé as despesas sumptuárias do português seu Presidente, eu tenho imensa vergonha de fazer parte desta agremiação. Reflictam no excelente exemplo dado por um dos nossos!
HSC
Mas hoje ainda quero fazer uma última reflexão. Nunca escondi que não fui nem sou uma entusiasta da Europa unida, ou União Europeia, se preferirem. De certo, por razões que se prendem com a já minha longa experiência profissional, que começou antes da EFTA.
Continuo a pensar o mesmo. E a ser, antes de tudo, portuguesa.
Pois bem, a Comissão Europeia teve ontem o desplante, a desvergonha, de pedir um aumento de 4,9% no seu orçamento, quando nela estão países à beira da falência e as condições da sua ajuda são draconianas.
E isto, claro, depois de terem sido publicitados gastos inadmissíveis por parte dos seus deputados em viagens, hoteis, festas, férias e ofertas a quem muito bem entendem.
Se tudo for verdadeiro, inclusivé as despesas sumptuárias do português seu Presidente, eu tenho imensa vergonha de fazer parte desta agremiação. Reflictam no excelente exemplo dado por um dos nossos!
HSC
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Lendas da Índia
Não é segredo que gosto muito de poesia. Mais do que a prosa - é uma pessoalíssima opinião - este género literário é aquele onde a qualidade ou a falta dela, mais se faz sentir.
Há já algum tempo que sigo a obra poética de Luis Castro Mendes que, até hoje, nunca me desiludiu. Poeta, ficcionista e diplomata, a sua vivência transborda naquilo que escreve.
Não sou crítica literária, mas nem por isso deixei, alguma vez, de aqui referir o que me toca, me impressiona ou me faz sentir feliz por ter nascido portuguesa.
Na próxima terça feira vai ser lançado o seu último livro intitulado LENDAS DA ÍNDIA, que terá apresentação de outro grande mestre que é Nuno Júdice.
Só posso aconselhar vivamente a sua leitura, com a certeza de que quem aprecie uma certa forma de literatura, ficará surpreendido com a qualidade desta obra.
HSC
Há já algum tempo que sigo a obra poética de Luis Castro Mendes que, até hoje, nunca me desiludiu. Poeta, ficcionista e diplomata, a sua vivência transborda naquilo que escreve.
Não sou crítica literária, mas nem por isso deixei, alguma vez, de aqui referir o que me toca, me impressiona ou me faz sentir feliz por ter nascido portuguesa.
Na próxima terça feira vai ser lançado o seu último livro intitulado LENDAS DA ÍNDIA, que terá apresentação de outro grande mestre que é Nuno Júdice.
Só posso aconselhar vivamente a sua leitura, com a certeza de que quem aprecie uma certa forma de literatura, ficará surpreendido com a qualidade desta obra.
HSC
quarta-feira, 1 de junho de 2011
The second love...
Ontem, como é hábito, recebi da SIC o tema para o comentário de hoje. Nada mais nada menos que as novas tecnologias ao serviço da infidelidade. Riam-se porque eu também me ri. Mas isso não altera o facto. E de que se trata então? Passo a explicar.
Contrariando o que é socialmente aceite, existe um site que promove a entrada no mundo da infidelidade. Isso mesmo: um site para relacionamentos entre homens e mulheres que procurem um caso ou uma aventura emocionante.
Assumindo-se como uma forma de escapar à rotina, o Second Love foi lançado em Portugal, e no último mês já recebeu mais de 7500 inscrições. E isto quando ele só admite pessoas casadas ou com relacionamentos sérios.
A inscrição, que é gratuita, dá acesso a uma aventura extraconjugal sem sair de casa. A maioria dos utilizadores tem entre 35 e 50 anos.
Independentemente das razões, a porta-voz portuguesa do Second Love, Anabela Santos, afirma que “uma em cada três pessoas comete adultério pelo menos uma vez na vida”.
O conceito começou na Holanda, em 2008, e rapidamente se estendeu à Bélgica, Espanha e, em breve, chegará ao Brasil. Três anos depois do lançamento, já são mais de 200 mil os utilizadores que procuram um affair secreto.
O arranque oficial do site - em que os inscritos terão acesso aos perfis dos restantes utilizadores - aconteceu ontem, dia 1 de Junho.
Dos primeiros perfis, já é possível retirar algumas conclusões sobre a forma como os portugueses vêem a (in)fidelidade: são sobretudo homens, porque as mulheres "ainda têm algum receio de se expor no mundo virtual e continuam a privilegiar o contacto físico"; 70% tem formação superior; 46% são da Grande Lisboa e 21% do Porto.
"Quase todos dizem que amam a pessoa com quem estão casados e até deixam claro que não pretendem sair da relação, mas que procuram algo mais na vida", descreve a porta-voz nacional.
"O maior problema é que a esfera de relações pessoais é muito limitada, restringe-se a colegas de trabalho e amigos comuns, com quem é difícil manter um flirt", diz Anabela Santos.
Ter um affair com gente conhecida raramente dá bom resultado e é a sausa de "35% do fim dos casamentos". Mas a inscrição no site não significa passaporte garantido para o adultério: há quem se fique apenas pelo flirt online.
Tenho de confessar que sempre admiti que o coup de foudre pode acontecer a qualquer um. Mas, neste caso, não se anda à procura de nada. Quando muito é-se surpreendido pelos acontecimentos. Mas no second love não. Aqui, primeiro há a vontade de trair, e só depois é que se vai à procura de quem encaixa nessa traição. É diferente e eu tenho alguma dificuldade em compreender tal tipo de comportamento...
HSC
O estado do Estado
A abertura, ontem, da televisão, por uma escassa hora, ao jantar, fez-me corar de vergonha. Hoje um amigo que veio aqui a casa almoçar comigo e com quem pacificamente estive à conversa, sabendo que até sábado eu não iria abrir mais a maléfica caixinha, resolveu mandar-me o link abaixo, em forma de reconhecimento pelo que eu havia dito. Aqui o têm:
http://www.youtube.com/watch?v=XcpSBulFFEg&feature=player_embedded
Vão lá espreitar. É uma espécie de resumo do que, ao longo destes dois últimos anos, tenho vindo aqui a dizer. Mas o documentário tem mais animação. Claro que são os botabaixistas. Mas também é verdade que entre os portugueses, apenas os socialistas parecem obrigados a não serem!
HSC
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