Vivo numa zona entre o cá e o lá da Cimeira. Perto de residências de embaixadores e hoteis de muitas estrelas. Também perto, felizmente, da arraia miuda que persemeia a Lapa, S. Bento e Santos. Tudo boa gente como se vê. Uns envergonhados de terem muito, só saem de carro. Outros envergonhados por terem pouco, pouco saem. Tudo como na roda da vida.
Assim, vou contar-vos como passei estes dois dias que devem custar ao país uns largos euros. Mas, como agora o governo já se habituou a viver a crédito, mais Nato, menos Nato, pouco importa. Para nós é que foi e vai ser mais difícil. Vejamos então como decorreu a minha prisão dourada. Foram sete etapas.
1.Fechei televisão porque já tinha tonturas de ver tanta gente que só conhecia dos jornais. Melhorei da vista e dos ouvidos.
2. Eliminado esse perigo, tentei sair para comprar jornais e tomar a bica. Impossível. Uns individuos fardados obrigaram-me a andar como a pescadinha de rabo na boca, porque havia uns senhores, dos tais importantes que, sem a gente saber, tinham combinado falar com o Primeiro Ministro.
3.Voltei para casa e, mais tarde, voltei à carga. Nada. Estavam no hotel que, por razões de segurança, tinha o perímetro de desvio alargado.
4. A custo tornei, novamente, ao lar sem café nem jornais. A tensão arterial beneficiou com a medida.
5. Fui ao cinema com um filho. De tão intelectual que é, escolheu uma espécie de documentário sobre a génese da crise. Remunguei. Não valeu de nada. Qualquer deles sai... à mãe. Mas gostei!
6. A capital retomara um pouco da normalidade. Transportada pelo infante, ri-me das voltas que teve de dar para me depositar.
7. Felizmente, amanhã já posso retomar todos os meus vícios...
HSC