Tomei, então, a decisão fatal. Cortar o cabelo curtíssimo e empermanentar-me. Se bem o pensei melhor o fiz. Indescritível o desbaste sofrido. Se não tivesse quem me amasse pelo que sou, estaria perdida, pelo menos... por um ano. E os infantes ainda nem me viram. Vão internar-me por insanidade mental. Mas a loucura continuou.
Quando me deitei, olhei-me no espelho com alguma atenção. Pensei, para comigo, que já tivera, de facto, melhores dias. Adormeci algo meditabunda.
Hoje, ao levantar-me, esperava-me uma epifânia. O frigorífico pifara. Estava tão quente como resto da casa. E o meu precioso património gastronómico lá guardado, em estado muito semelhante ao meu.
No meio da desgraça, deu-me um ataque de riso enorme e resolvi partir para o Media Market para comprar outro. Amorosa e simpática como sou, consegui enternecer verdeiramente um jovem moçoilo que, por acaso, era fã de um dos infantes e...vá lá, também me apreciava um poucochinho. Assim, com a sua ternura, resolveu-me, ainda hoje, o problema. Milagres da política...
Com uma imensa piedade de mim própria, cansada e desfeita, tomei outra decisão. Entreguei-me aos cuidados estéticos, que são sempre retemperadores. E, finalmente, ao fim de 20 anos de um total clacissismo e grande discreção nestas matérias, mandei as regras às urtigas e disparei para unhas vermelhas nas mão e nos pés. Foi um momento glorioso no salão de beleza.
Quando cheguei a casa, o vizinho do rés do chão, um pouco assarapantado com tanto vermelho, deixou escapar um "está diferente", que me provocou nova gargalhada.
"É o pé" disse-lhe eu. "Pois é..." respondeu. Insólito diálogo.
Enfim, no mínimo, ele há dias loucos que não deviam, jamais, acontecer. Felizmente que, por um mês, não tenho televisão!
HSC