segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Fazer contas à vida!

Com algum masoquismo, confesso, decidi neste fim de semana, ver o que posso cortar nas minhas despesas de modo a situar-me, sem defice, nas novas condições que o excelso grupo que nos governa me irá impor.
A primeira realidade vem do lado da receita. Antes, eu trabalhava cinco meses para o Estado e sete para mim. Mais coisa, menos coisa. Agora, com quatro livros publicados neste ano, o mesmo Estado vai arrecadar cerca de sete meses do meu esforço e eu... cinco.
Logo a solução para o próximo ano, será trabalhar menos, para manter a anterior paridade. Mas como tudo vai ficar mais caro só tenho dois caminhos. Um, a troca directa - o meu trabalho contra trabalho de outrem que me faça falta - ou o meu trabalho contra os bens de que necessito. O outro caminho será o trabalho marginal. Não, não é esse que estão a pensar. O decoro e a idade não mo permitem. Falo de explicações dadas aos alunos maus das famílias boas. Esse é dinheiro limpo e não paga qualquer indecoroso imposto.
Do lado da despesa aqui vão os cortes. Tinha empregada doméstica nove horas por semana. Vai passar a seis. Enchia o depósito do carro de dez em dez dias. Vai passar a quinze. Ia ao cabeleireiro uma vez por semana. Vai passar a uma vez de quinze em quinze dias. Almoçava fora três vezes por semana. Passarei para duas. Ia ao gourmet do Corte Inglês duas vezes no mês. Passo a uma. Mantenho os livros, as pessoas que ajudo e continuo a viajar em leilão ou por pontos. Se nada mais se alterar o meu nível de vida desce mas é, ainda, suportável.
Se conseguir vender a casa, como pretendo, mando tudo às ortigas e vou viver para a minha segunda cidade de eleição, Paris, que sempre fica mais perto do meu neto que está em Bruxelas. É que nem ginjas, como diria o nosso povo.
Tenho uma imensa tristeza só de pensar em deixar a terrinha. Mas a minha tensão arterial volta ao normal, o sono reequilibra-se, as tristezas desaparecem e eu sobrevivo sem estas telenovelas políticas de baixa classe B...

HSC

12 comentários:

Lura do Grilo disse...

"Se conseguir vender a casa, como pretendo, mando tudo às ortigas e vou viver para a minha segunda cidade de eleição, que fica mais perto do meu neto que está em Bruxelas."

Bem ... tb não precisa de ser radical, não é? Tanto mais que Bruxelas é uma cidade triste, cinzenta, macambúzia e isso deprime.

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Lura
Felizmente a minha segunda cidade de eleição é Paris. De cinzento já eu estou cheia...aqui, mesmo com este sol radioso!

Gaivota Maria disse...

Precisa de uma auxiliar que a acompanhe a troco de serviços domésticos e paz? Inscrevo-me na lista de candidatos ao lugar

zeliams disse...

Cara HSC, estou absolutamente solidária consigo.
Há três anos começava a não gostar de alguns maus sinais no meu local de trabalho e, contra tudo e contra todos, vendi a minha casa e tive de abdicar de muito, muito mesmo...E estava certa, pois estou no desemprego desde 2008 e as perspectivas estão longe de ser animadoras. E lamento não ter tomado certas decisões 10 anos antes, quando havia outras oportunidades, uma das quais no país onde nasci, a éones destas telenovelas povoadas de Steinbrokens e Gouvarinhos duvidosos . Hélas!
Por isso, se for em prol da sua saúde e bem-estar, abrace Paris e seja feliz!

ZMS

Helena Sacadura Cabral disse...

Minha cara Gaivota
Não brinque, que ainda chegamos a um acordo!

Raúl Mesquita disse...

"Ah, Paris, Paris! Ah, Marie, Marie!" Lembra-se? Charles Trenet. O nível de vida desce em todos os sentidos e não só no financeiro mas também naquele a que agora se chama "qualidade de vida" (expressão horrível!) Também ando a pensar muito a sério em deixar Lisboa. O único problema é: para onde? Sabe, depende das lecas... Pardon my French! Paris, sempre, mas se o dinheiro não der, talvez uma casa pequena com um quintal no meio do Alentejo, onde se possa plantar uns espargos verdes e umas ervas-de-cheiro, umas alfaces às cores, uns tomates muito encarnados, enfim o meu "gourmet"... à la portée de ma bourse, qu'en pensez-vous? Uma coisa é certa: não aturo mais as buzinas de Lisboa! Dixit. Raúl.

Gaivota Maria disse...

Estou pronta, Helena. Se decidir sair já tem quem a acompanhe. Se comprar um apartamento sempre posso assisti-la a si e fazer limpezas nos outros andares, se tiver tempos livres. De certeza que vou ter mais do que agora. Sou pensionista da função pública e de nada me valem agora as 2 licenciaturas e o mestrado. Como estas acumulações não contam para nada, até porque neste país parece ser pecado tudo o que ultrapasse o currículo académico do JS, talvez assim possa ajudar as minhas netas a terem uma vida agradável, já que a das filhas está tão complicada como a do resto do país. Tenho pois condições para chegarmos a um acordo. Parabéns pelos livros que "pariu" com tanto amor e que nós lemos com tanto prazer.

Gaivota Maria disse...
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Gaivota Maria disse...
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Alice Vieira disse...

TU NEM TE ATREVAS SEQUER A PENSAR EM SAIR DE CÁ!!!!

Apesar da crise e dos cortes--ainda dá para um café?
Tenho saudades tuas...

Bjs

ALICE

Helena Sacadura Cabral disse...

Gaivota, comprar casa, "jamais". Agora, até aqui, só alugar...
Felizmente, em França, tenho casa familiar!

Julia Macias-Valet disse...

Cara Helena ca a espero !
Quanto à Gaivota...nao sei se se daria por ca...longe do mar ;
E nao dê ouvidos à Alice...é que ela vive no Pais das Maravilhas : ))

Aproveite rapidamente que o crepusculo ainda esta cinzento-rosa ; )