segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Tempo

Não se assustem. Não é de desgraças climáticas ou da indefinição sazonal que vou falar. A baralhada entre o que, antes, se considerava serem as quatro estações do ano e o que elas são actualmente, já é de si, matéria reveladora das mutações por que o mundo está a passar.
Não. O meu post de hoje teve origem no comentário de uma jovem leitora deste blogue que, como estudante, referia as dificuldaes que tinha para gerir o tempo. Eu respondi ao comentário.
Mas considerei que valia a pena abordar o tema. Com efeito, se pararmos para pensar quais são os bens escassos mais importantes, diria que "ter tempo" é um deles, apesar de se considerar que a partir de certa idade "tempo é o que se tem mais...".
São expressões falaciosas como esta, que ditam o desprezo que se vota ao tempo e o apreço que, ao contrário, se dedica ao dinheiro.
A gestão do tempo é uma tarefa delicadíssima porque ela pressupõe vontade, definição de prioridades, destrinça entre privado e público e, sobretudo, capacidade de hierarquizar entre valores afectivos e valores materiais.
Na actualidade vive-se para trabalhar e não se trabalha para viver. O processo está todo inquinado porque, quando se trabalha, o que se procura é o dinheiro, a posição, os sinais exteriores de classe social. Logo, a pirâmede hierárquica fica invertida. Mais importante que tudo na vida, é ser-se feliz. Ou, pelo menos, procurar sê-lo. E isso implica disponibilidade temporal.
A voragem de uma vida dedicada totalmente ao trabalho, que anula ou retira importância ao lado afectivo, é humanamente estéril. Muito em particular quando o trabalho significa emprego e não a satisfação de uma vocação. Que é, infelizmente, o caso da maioria de nós!

HSC

11 comentários:

Presépio no Canal disse...

"A voragem de uma vida dedicada totalmente ao trabalho, que anula ou retira importância ao lado afectivo, é humanamente estéril. "

Nem mais!

Boa Semana!

Luís Alves de Fraga disse...

Helena,
A Senhora começou o seu blog em 2007, estranhando que houvesse um outro «Fio de Prumo» e eu fiquei espantado quando, há pouco, no Facebook, descobri que a Helena tinha um blog com o nome do meu (que iniciei em Agosto de 2005).
Não é estranho, nem dá motivo para espanto; é uma questão de postura perante a Vida e os problemas que ela nos vai apresentando.
Felicidades para o seu «Fio de Prumo», porque o meu vai continuando, verticalmente, a marcar uma vontade.
Luís Alves de Fraga
http://luisalvesdefraga.blogs.sapo.pt/

Raúl Mesquita disse...

Helena: totalmente de acordo consigo. Não, realmente, o tempo não é o que se tem mais, eu digo mesmo que o Tempo é o meu maior inimigo! Deo Gratias trabalhei sempre naquilo que gosto e continuo a fazê-lo, agora de outro modo, é verdade, posso " mandar" no meu tempo. Escrevo e colaboro regularmente para a Antena 2 com programas sobre música vocal, incluindo óperas, claro, dos séculos XVII e XVIII, a minha paixão musical! Pois mesmo assim, sendo eu o " gestor" do meu tempo, não tenho tempo para tudo... Bem, por volta das oito da noite, fecho e decico-me a jantar com amigos, esse tempo é sagrado, dele não abdico. Raúl.

Helena Sacadura Cabral disse...

Luis,
Eu comecei "realmente" a escrever no blogue em 2008. Mas reservei o nome "Fio de Prumo" no meu servidor,em 2007, porque durante cinco anos - de 2002 a 2006 - esse foi o título de uma uma coluna semanal que mantive no Diário de Notícias.
Quando fiz essa observação de estranheza, não sabia nada de blogosfera e ignorava que se podia ter nomes iguais, desde o domínio fosse diferente. Ainda sei muito pouco, mas isto já aprendi.
Aproveito para lhe desejar, igualmente, a continuação de um bom trabalho no seu Fio de Prumo!

Anónimo disse...

Num jantar de um colóquio nacional, de saúde mental, que decorreu num hotel do luso o sr. que ficou ao meu lado era licenciado em gestão do tempo nas reuniões de trabalho.

Fiquei curiosa sobre o conteúdo funcional da profissão de gestor especifico do Tempo, e no decurso da troca de impressões o sr. ensinou-me que se deve limitar o tempo das considerações sobre o passado principalmente se forem encetadas por Mulheres... Claro perde-se a pertinência, e a economia de tempo útil...Que novidade...E o encanto?...

subverti logo esse ensinamento á minha tenra idade de 48 anos... já só aprendo o que me interessa... Embora nalgumas situações até acho que o Sr. tem razão... exactamente na mesma proporção em que devem ser utilizados todos os estilos de liderança, até o directivo, mas até prova em contrário como na democracia o assertivo é o que é mais "Afeiçoado".
Só para dizer que me identifico com esta Sua perspectiva de falar do tempo...
Isabel Seixas

PS Nem Lhe passe pela cabeça que me esqueci do Tempo de pensar nas eleições... Continuo a idealizá-la como candidata...

Anónimo disse...

Um excelente Post este. A reflectir. Sobretudo no que HSC refere nos dois últimos parágrafos.
P.Rufino
PS: quanto ao tempo, é tudo uma questão de método e...prioridades da, e na, nossa vida privada, pessoal, com a profissional. Mas ás vezes derrapa-se. Such is life!

Anónimo disse...

Minha Senhora
É um prazer, particularmente a esta hora da manhã, ler os seus post. Obrigada.
Cpts.

Vera disse...

É tudo tão tristemente verdadeiro Helena. E quando se toma uma opção como a que eu tomei e se passa um dia inteiro sozinha em casa, deserta pela chegada de quem divide a vida conosco e há pouco para falar...porque há muito cansaço...porque a vida é dura...porque se vai perdendo...sei lá o quê!
Beijos

margarida disse...

Ainda ontem, ao resgatar o saco de revistas e jornais que fazem o favor de me guardar quando a preguiça (sim, pre-gui-ça) do fim-de-semana me impede de sair do casulo e ao desembolsar (acresciam uns dvd) mais de vinte euros (cá está o 'vil metal' às voltas...) pelo todo, dei por mim a remoer que agora era só 'comprar' tempo, porque aos sacos que pela casa se vão amontoando, ia juntar mais aquele...
Hoje vim a ler o 'i' do primeiro fim-de-semana do ano.
E só ontem adquiri a 'Sábado', que há tempos lia fervorosamente às primeiras horas da manhã de cada religiosa quinta-feira.
Dou por mim já é noite e, de repente, já é manhã.
Vivo entre relógios alucinados, entre 'vapts-vupts' assustadores, entre sanduíches amanhecidas e cafés sucessivos.
Entre 'preciso-urgentemente-de-fazer-isto' e 'esqueci-me-outra-vez-de-fazer-aquilo'.
'Vivo'?!
'Viverei'?
Para actualizar o blogue cedo pausas de almoço ou horas de sono; para dormir não leio, não vejo, não ouço.
Para assistir a filmes, séries ou ouvir músicas (como elas devem ser ouvidas) sustenho-me a cafeína.
'Vivo'?
Duvido.
Que é feito do tempo em que tínhamos algum tempo?
Para parar, deveras. Olhar para dentro.
Não fazer NADA.
Ser vaga e inconscientemente 'felizes'?
Agora é um sobressalto constante (e deixei o sufôco do trânsito lisboeta há uns anos!), agora é...
Nem sei.
O que é, agora?

diogo disse...

o tempo que me falta é o tempo para o ócio .
tempo para trabalhar tenho de sobra . façam favor de ser felizes com o tempo que vos resta

Filoxera disse...

O tempo é importantíssimo.
Tanto que, por vezes, já tenho pensado que, na vida profissional, os prémios atribuídos quando se cumprem/ultrapassam objectivos podiam, muito bem, ser sob a forma de...
... tempo! Tempo livre.