domingo, 24 de janeiro de 2010

O amor e ainda a amizade

"...Se um dia as pessoas que nós amámos e que nos amaram se reunissem para falar de nós, de certo que nenhuma estaria a referir a mesma pessoa. Porque, de facto, não amamos toda a gente da mesma forma...".
Este é um extracto do comentário que eu fiz num post que a Rita Ferro colocou no seu blogue Acto Falhado e no qual faz um retrato exemplar da amizade que nos une. Não indo pela emoção que esse elo me provoca, o certo é que decidi repegar no tema que ontém tratei e alargá-lo agora também ao amor.
Quantas pessoas diferentes não teremos sido, ao longo da vida, relativamente àqueles de quem gostámos? Quantas mulheres se não terão corporizado numa só, de cada vez que esse sentimento chamado amor despontou no nosso coração?
Umas vezes, porque tentámos corrigir erros passados que não queríamos repetir. Outras, porque, sendo o amor biunívoco, recebemos muito mais do que esperávamos e tentámos retribuir. Outras, ainda, porque o pouco que nos davam terá secado a torrente que, no início, nos alimentava. Outras, também, porque o tempo e a idade vão emoldurando, burilando, singularizando, os nossos afectos.
Na amizade passa-se algo de semelhante. O "outro" apresenta-se aos nossos olhos de uma forma diferente daquela pela qual certos amigos o veêm. E é essa singularidade que, juntamente com a nossa própria, selará uma relação que será diversa daquela que se estabelece com uma pessoa com distintas características. E vice versa. Também a forma como somos olhados dependem do olhar do outro, da sua capacidade de nos "ver".
Não serão, afinal, estes condicionalismos que fazem com que certos amores ou certas amizades durem uma vida inteira, ao contrário de uns ou umas que não deixam qualquer rasto?

HSC

5 comentários:

Tété disse...

"Quantas pessoas diferentes não teremos sido, ao longo da vida, relativamente àqueles de quem gostámos?"

Olá Helena,
Faz tempo que, embora visitando-a, não comentava. O tempo por vezes não dá para tudo o que nós queremos. E a Helena sabe isso melhor que ninguém.

Mais uma vez não posso deixar de estar mais de acordo consigo.
Quantas vezes não "burilámos" a nossa maneira de ser para nos adaptarmos às situações que julgámos ser as mais correctas?
Não fizemos bem nem mal, acho eu, tentámos apenas viver os momentos da melhor maneira que nos foi possível. Resultou? Nunca saberemos se, fazendo de outro modo, as coisas se teriam passado de forma mais compensadora no aspecto afectivo.
Um beijinho
Teresa

Helena Oneto disse...

O que a Senhora aqui diz sobre o amor e a amizade é tão verdade!

Maria Cecília disse...

Estimada D.Helena, poucas vezes comento, apesar de ser uma sua assídua leitora, mas este comentário é demasiado verdadeiro e a Sra. consegue como poucos expor um pensamento que algumas de nós já tivemos. Por essa razão vou colocar este seu post no meu blog, devidamente identificado.
Um beijinho
Cecília

Helena Sacadura Cabral disse...

A todos e, neste caso particular, à Cecília. Não me tratem por Dra ou por D. Helena.
Obrigada pelo respeito que isso representa.
Mas aqui, como em qualquer outro sítio, eu sou apenas a Helena. E é isso que eu gosto de ser!

GONIO disse...

Citando o Pessoa: "Não sou eu/nem sou o outro/sou qualquer coisa de intermédio" :)
Todos diferentes, todos EU.
É este puzzle individual que confere a cada um o seu quê de mistério.

Só recentemente descobri o seu blog. E gosto!