segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A coragem dum discurso

Há muito tempo que queria publicar este texto. A época eleitoral que atravessamos e a forma como tem decorrido, acabou por ser, afinal, o terreno propício para o fazer. Vejamos então:

"Em meu nome pessoal, desejo dizer que nunca fui, não sou, nem serei um político, porque não tenho vocação e porque nunca me encontrei com qualidades para ocupar lugares políticos. Faço esta declaração para evitar mal entendidos e convites para me pronunciar por qualquer cor política.
O facto de ter atravessado o Atlântico pelo ar não prova que tenha qualidades administrativas da mesma forma que na minha opinião a circunstância de ser filho de nobre ou revolucionário civil, nunca representaram condições essenciais para ocupar lugares de destaque nos dois regimes que em Portugal temos tido.
Nunca fui senão uma coisa:Português - e é isso que pretendo continuar a ser e... que serei.
O meu maior desejo é que me deixem voltar à obscuridade de onde saí e que, tranquilamente, me seja permitido continuar a exercer a profissão a que me dediquei." ...

Este foi, apenas, o início do duro discurso que o Comandante Sacadura Cabral proferiu na ocasião em que ele e Gago Coutinho foram solenemente recebidos pelo Congresso da República.
Julgo que após a sua leitura se poderá perceber a visceral reacção que a política me provoca. Vem de família, como se vê...
Em tempo de eleições sucessivas, pareceu-me uma boa matéria de meditação. É que nem todos os heróis se deixam assenhoriar pelos governantes. O meu tio foi um deles. E eu orgulho-me muito disso!

H.S.C


8 comentários:

Anónimo disse...

O Comandante Sacadura Cabral foi um Português com "p" maiúsculo (P).
Deste seu cordial P...Rufino

Anónimo disse...

E tem motivos para sentir-se orgulhosa. Gostava era de ter acesso ao resto do discurso... poderá dizer-me como ao mesmo chegar?

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Anónimo, aqui o tem:

"A meu ver não são os convictos, mas sinceros e eleais, que mais prejudicam o regime. Esses estão sempre prontos a abater bandeiras desde que os convençam. Quem mais pode prejudicar qualquer regime são os extremistas, porque, em regra, esses extremistas são sempre cataventos políticos que viram para onde o estômago lhes indica e que procuram justificar as suas mudanças de opinião praticando excessos que não têm servido senão para provocarem irritações e revanches que, além de tudo, têm o inconveniente de chegarem lenha para uma fornalha onde todos um dia nos podemos queimar.
Senhores: Acreditai que sinceramente lamentamos mais não ter feito para merecer esta grande recompensa, mas como a vossa generosidade é grande, permiti que vos dirijamos uma súplica ardente onde pomos toda a nossa alma enternecida:
Tornai digna e grande essa Pátria que é de todos nós!"

Aqui tem caro leitor o discurso, proferido em 1922. Percebe agora o orgulho que tenho no nome que levo comigo.

Teresa Santos disse...

O orgulho que sente, cara Amiga, é mais que legítimo.

Peço-lhe desculpa por transcrever este pequeno excerto do discurso, mas é tão actual que não resisto:

"(...) Quem mais pode prejudicar qualquer regime são os extremistas, porque, em regra, esses extremistas são sempre cataventos políticos que viram para onde o estômago lhes indica e que procuram justificar as suas mudanças de opinião praticando excessos que não têm servido senão para provocarem irritações e revanches que, além de tudo, têm o inconveniente de chegarem lenha para uma fornalha onde todos um dia nos podemos queimar."

Ontem, como hoje.
Deve ser um problema genético!
Abraço.

Benjamina disse...

Cara Helena
Excelente discurso. Actual sempre.
Tem razão em ter orgulho, se já tinha orgulho por ter um tio herói, mais ainda por ele ter uma mente tão esclarecida. Agora sei donde lhe vem esse dom de ver a as coisas da vida com tanta clareza.
E eu também tenho razão quando digo que se aprende muito neste blogue.
Beijos

Anónimo disse...

Muito lhe agradeço ter disponibilizado a outra parte do discurso.

Já calculava que pudesse ser fonte de grande orgulho, a pertença a tal família. Agora, confirmo-o. E ancorada em factos que desconhecia e que só dignificam e engrandecem os seus motivos de orgulho.

De resto, penso que já é Senhora com motivos para muito orgulho não só por ser da família que é, mas, também, por ter sido capaz de de criar a que criou (falo, tendo por base qualquer coisa que é pública: os seus dois filhos, no que à política - ideologia - diz respeito, não podiam ter posições mais dispares. Quer maior prova de que só podem ter sido criados em clima de extraordinário respeito, liberdade e aceitação? É algo que olho com muita admiração e que para mim não é dissociável daquilo que a HSC foi e é enquanto mãe e, acredito, mulher).
Felicito-a.
Pronto, aqui fica uma parte daquilo que gostaria de ter-lhe dito por e-mail.
Obrigada.

estouparaaquivirada disse...

Tem todo o direito de estar orgulhosa!
Parabéns e se me permite também eu fico orgulhosa.
xx

Anónimo disse...

Querida Amiga Helena,

Esse sim, é o orgulho saudável. Quando andei na escola primária, aprendi a História dos feitos de seu tio e de Gago Coutinho. Além de nos encorajar a ser como eles, faz também com que nos orgulhemos da nossa Pátria! O que só nos fazia bem. Mas isso foi no fim do Estado Novo...
Porque é que deixaram de ensinar nas escolas, os exemplos que devemos preservar e seguir?
Arrumaram com a nossa História, para dar lugar a algo muito mau... o deus consumismo, a disputa pela força e o maldizer. Já não existe Tradição, aspecto fulcral da cultura de um povo!
Ainda bem que resolveu avivar-nos a memória, para algo de que nos podemos todos orgulhar. Obrigada.