terça-feira, 6 de outubro de 2009

Amália

É das raras mulheres que não carece de apelido para ser conhecida. Símbolo de um tipo de música e de uma nação, foi perseguida e só depois de morta rehabilitada.
Há vários anos fiz-lhe uma entrevista. Já não no período áureo. Talvez por eu ser mulher, falou sem rodeios, deixando ao meu critério o que devesse ser tornado público. A impressão com que fiquei é que Amália não tinha sido uma pessoa feliz. Como, aliás, todos nós. E era essa semelhança com o povo a que pertencia, essa estranha forma de vida tão sua e tão nossa, que fazia dela, em simultâneo, o mito e a realidade.
Amália marcou uma série de gerações divulgando poetas até então considerados tabú para letra de canção. Fez bem! E se esses poetas apenas são lidos por alguns, hoje, são ouvidos por todos através da voz que teve a ousadia de os cantar.

H.S.C

5 comentários:

Blondewithaphd disse...

Só a descobri no final do ano passado: os preconceitos em relação ao fado, a tristeza que me invoca nada consonante à minha natureza, as origens alemãs que pouco percebem destas lusas nostalgias, qualquer coisa que não sei.
Descobri ao vivo o que é o eriçado de todos os poros, o poder da voz que canta saudade, desencanto e prantos de esperança no paradoxo que isso seja. Descobri tarde mas bem. E foi tão-somente isso: descobri.
Triste, a Amália. Não serão todas as divas? Figuras trágicas de vidas intensas curtidas numa dor crónica. Chego a pensar que a felicidade é menos produtiva que a dor arrastada da Vida. Não sei. Sei tão pouco.

Helena Sacadura Cabral disse...

Pelo contrário, minha bela loira. Quando se descobre, tarde, qualquer coisa, "descobre-se melhor" porque o fazemos com todas as arestas polidas, com a razão e com o coração.
Por vezes quando se é novo, "sorver" a vida é tão importante que não permite "olhá-la de dentro e para dentro".
Também eu tenho um lado germânico muito gozado na família. Mas é a esse lado organizado e pragmático que a dita se agarra quando precisa que alguém se antecipe a ela...
E, depois, eu gosto de ser assim, tipo formiguinha que tem tudo em ordem! Porque quando o não sou, o prazer é imenso e surpreende quase todos...

Anónimo disse...

Para mim Amália assusta...é a personificação dos ideais humanos, nunca conseguidos... a felicidade; não é algo que se atinja, é apenas algo que passa por nós de vez em quando... Por Amália dá a sensação que nunca passou, qual Maria Callas.
Isso assusta...

Sandro disse...

Olá Helena!

Há quase um ano que tenho vindo a conhecer a carreira da Amália e estou a correr na onda da publicidade dos 10 anos da sua morte...

O que queria pedir era se ainda tinha a entrevista que fez com a Amália e se a poderia disponibilizar no blog.

Sandro disse...

Olá Helena... só queria deixar aqui um link para uma votação que estará a decorrer durante um ano para eleger as 50 melhores vozes de todos os tempos.

http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=114013402&sc=nl&cc=mn-20091103

Estes finalistas são o fruto de uma pré-selecção feita pelos ouvintes e visitantes do site da NPR (National Public Radio)... é um orgulho ver a (nossa) Amália entre a Ella Fitzgerald, o Elvis, Sinatra, Bob Dylan, etc.