quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Vai continuando...


Na família desconfia-se que algum membro terá saltado a cerca com um alemão ou uma alemã, porque a minha obsessão pela organização denota isso. Sobretudo, o meu filho Miguel - o grande abusador destes meus predicados - gozava imenso com os meus dossiers, que por mais de uma vez lhe foram, aliás, muito úteis. 
Isto era sempre para me "denegrir" face à alma de artista do Pai que tinha pilhas de papeis onde era democraticamente proibido mexer, ou mesmo limpar pó. Vantagens de se ter casado com um pequeno génio que, sabe-se lá porquê, um dia pousou os olhos nesta vulgaríssima criatura que eu sou. Claro que a culpa também foi minha que fui sensível à genialidade...
Pois bem, aproximando-se esta casa da libertação final da política, descobri uma alma nova dentro de mim e, desde ontem, tenho andado num verdadeiro frenesim de arrumações, ou mais correctamente, de eliminação de papeis e objectos que há muito deveriam ter seguido o caminho do lixo. O luxo foi tê-los mantido!
A minha empregada, está tão inquieta que revista tudo, num justo receio que alguma coisa se tenha passado comigo. Hoje e de uma assentada foram as carta de amor que o meu ex marido me escreveu, não fossem ainda dar um filme como as do Lobo Antunes à mulher. Livra! 
Se amores mortos já são terror, que dizer de amores mortos aos quais se dá nova vida?! Parece--me dantesco!

HSC

17 comentários:

Anónimo disse...

Era uma boa ideia para mais um livro. ;)
Mas fez bem! Tudo, lixo! "Águas passadas não movem moinhos."

Dalma disse...

O que me admira é que tenha conservado essas ditas cartas de amor por tantos anos! Eu tê-las-ia incinerado no dia seguinte ao divórcio!
Maneiras de ver, dirá!

Helena Sacadura Cabral disse...

Dalma
Não, não. Apenas maneiras de sentir. Aquelas cartas lembravam-me um tempo da minha vida e um homem no qual acreditei, mas que possivelmente nunca foi a pessoa que escreveu aquelas missivas. Mas que eu quis conservar no meu coração como sendo real.
Levei muitos anos com essa fantasia... Foi preciso perder um filho, para perceber o equívoco!

Silenciosamente ouvindo... disse...

Amiga como já lhe disse tenho aprendido consigo a despegar-me de muita
coisa. Cartas de amor também tive muitas e já há muito as rasguei.
Um dia destes pensei: e as fotos? Tantas e tantas. Muitas com pessoas
que não dizem nada à m/família, deverei também destruí-las?
Tenho vários albuns. A amiga destruiu as fotos?
Os meus cumprimentos
Irene Alves

Helena Sacadura Cabral disse...

Irene
As fotos já tinham ido. Guardei apenas uma do casamento na Capela de Fátima e uma do noivo quando ele tinha muita graça.
É impressionante a parecença física do Paulo com o Pai. Se não a tivesse guardado, ele não acreditaria.
Vou queima-las amanhã juntamente com mais uns papeis inúteis. Parece que estou a fazer uma purificação!

Anónimo disse...

Não queime.... Dê ao Paulo que ele certamente gostara da recordação.

Anónimo disse...

Ainda fala muito nesse amor. Pode destruir e queimar tudo... mas esse amor morrerá consigo. Nao tenha duvidas. Com todo o respeito,
Pedro

Silenciosamente ouvindo... disse...

Muito obrigada pela resposta.
Cumprimentos.
Irene Alves

Ivaz disse...

Oh! Estarei errada por pensar que cartas de amor devem ficar para a eternidade?
Adoro " destralhar" a minha casa e a minha vida... Mas cartas de amor guardo-as todas, todas... Fazem-me sempre "borboletas na barriga" ...

Anónimo disse...


Helena
Quero crer, que o homem que lhe escreveu as cartas, na época em que as fez, o sentimento era verdadeiro. O casamento é diferente do namoro, as personalidades mudam ao longo dos anos, as rotinas diárias, as ausências, levam a um desgaste. Aos 20 somos uma pessoa, aos 30 outra, nos 40 dá-se o grito do ipiranga. A Helena aos 30 fez o que achou melhor, o melhor para ambos, não quer dizer que tenha acabado o amor, logo após o divórcio. O amor que nutriam um pelo outro pode ter levado algum tempo a desaparecer. A Helena desejava outra vida, o ex. outra, talvez mais empenho na profissão, descuidando a familiar. Não vejo as coisas nessa vertente, pensar que alguém escreveu algo que não era sentido é muito forte, avassalador. Faz bem em queimar coisas que já não lhe dizem nada, mas creio que em tempos lhe disseram muito aos 2. Existem dores, perdas, que abrem horizontes, descoberta de novos amores, mais completos em todos os sentidos.

( Nota )
Desconheço o motivo do vosso divórcio, só sei do que li nos seus livros.

Carla

Teresa Diniz disse...

É tão difícil destruir cartas de amor! Gostaria de conservar as minhas, sempre, e depois desaparecerem comigo!

Gosto muito de a ler e da sua postura perante a vida. Acho-a inspiradora.

Anónimo disse...

Eclesiastes 3:20
Tudo e todos se dirigem para o mesmo fim: tudo vem do pó e tudo retorna ao pó.

Maria

Helena Sacadura Cabral disse...

Carla
O amor pode muitas vezes ser uma sucessão de enganos involuntários. Quem escreveu aquelas carta escreveu-as a alguém que nunca fui, mas que posso ter dado sinais de ser. Admito.
Por outro lado, o homem que as escreveu também não era quem eu julgava que fosse. E muito possivelmente porque interpretei mal os sinais que ele me deu.

bea disse...

A mim não me parece dantesco. Há amores lindos e cujas cartas são pecado não revelar. Se a publicação se faz em vida os próprios têm que a autorizar. Como aconteceu com as de Lobo Antunes. Que também achei lindas.

Mauzinho é haver pedido dos próprios para que não haja divulgação e ela existir.

De resto, cada um faz o que queira às todas "ridículas" cartas de amor

Anónimo disse...


Helena
Hoje é dia do pecado, vou comer pelo menos 2 quadradinhos de M.unicos.
Estou de dieta, muito desporto, os entas trazem coisas boas, outras menos.
Conheci um casal muito próximo, tinham centenas de cartas. Ele escrevia muito, estava no ultramar, ela respondia encantada ao seu principe. Ela começou a namorar com 15 ,ele tinha 20 foi cumprir serviço militar para a guerra. A jovem foi privada de se divertir, passava os dias num curso de costura, e quando havia bailes na aldeia não ia.Se fosse era criticada por ter o namorado na guerra. Chegou são e salvo de uma guerra dura, onde muitos que partiram com ele da aldeia,já não voltaram. Aos 18 casa, tudo o que tinham escrito nas cartas deixou de fazer sentido com o tempo, não foram feitos um para o outro. Foi um casamento infeliz, fizeram os filhos infelizes. Viveram 41 anos, só a morte os separou, ela viúva agora estava só. Só sempre esteve, mas perdera o único homem da sua vida.
Ambos teriam sido felizes, se tivessem decidido pelo divórcio e principalmente os filhos que ficaram com sequelas desse passado. Existem pessoas com menos 20 anos que a Helena, que ficaram paradas no tempo, conformadas com a vida. A Helena não se conformou, foi corajosa.
Há pessoas que numca se esquecessem, ficam arrumadas mas permanecem sempre no coração, mesmo que não queíramos.
Penso igual ao comentador Pedro.Peço desculpa, pelo atrevimento.

Abraço
Carla

Anónimo disse...

🌷

Helena Sacadura Cabral disse...

Pedro
Claro que sim. Esse amor manteve-se no meu coração 50 anos. Felizmente não me impediu de viver outros. E de encontrar, finalmente, o homem da minha vida, que me deu os mais felizes anos que vivi!