Um dia perguntaram-me de que é que eu tinha mais saudades.
Esperei um instante. Não pensei em pessoas, nem em lugares, nem em momentos
passados. A resposta veio-me com uma certa melancolia: "Daquilo que não
fiz."
Porque há uma dor estranha, silenciosa, que habita no que não
chegou a ser. No beijo que não se deu, na viagem que se adiou, na conversa que
não se teve coragem de começar. É como se a vida nos deixasse sempre à beira de
um caminho alternativo, feito de possibilidades que se apagaram, antes mesmo de
existirem.
É fácil lembrar o que vivemos. Há memórias, há fotografias,
há provas. Mas o que não fizemos... isso vive apenas dentro de nós, numa zona
onde o tempo não toca, mas onde a imaginação insiste em voltar. E nessas voltas
criamos versões do que podia ter sido: se tivéssemos dito sim, se tivéssemos
arriscado, se tivéssemos amado sem medo.
Talvez a saudade do que não fiz não seja só arrependimento.
Talvez seja também uma forma de aprender. De perceber que cada escolha é uma
renúncia, e que o tempo não perdoa indecisões eternas. Mas ainda assim, é uma
saudade que pesa — porque o que não fizemos, paradoxalmente, continua a fazer
parte de nós.
E por isso, hoje, se me voltarem a perguntar de que tenho
mais saudades, não hesito: daquilo que não fiz. Porque esse vazio é meu,
é único, e é nele que encontro a vontade de não deixar o futuro escapar pelos
mesmos silêncios.
Mãos pequenas, coração grande
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1 comentário:
Exacto.
Saudades do que não fizemos e do que ainda queremos fazer.
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