É difícil manter alguma fé na política em Portugal quando, eleição após eleição, o cenário muda tão pouco — ou muda para pior. Para quem observa de fora do círculo da militância cega, a política partidária tornou-se um jogo viciado, mais preocupado em manter interesses instalados, do que em resolver os problemas reais do país. A cada quatro anos, os mesmos rostos com promessas recicladas ocupam os ecrãs e os palanques, falando do futuro com palavras gastas pelo uso e pela falta de resultados.
A política em Portugal parece não funcionar para o cidadão
comum, mas sim para os partidos, como se estes fossem fins em si mesmos. As
decisões não são tomadas com base em consensos ou em visões de longo prazo, mas
sim em cálculos eleitorais. A agenda nacional está frequentemente refém de
guerrilhas partidárias, onde o mais importante é marcar pontos contra o
adversário, mesmo que isso implique bloquear reformas urgentes ou perpetuar
ineficiências.
Não é surpresa, por isso, que os resultados eleitorais
revelem um país cada vez mais cético, polarizado e, acima de tudo, desiludido.
A abstenção cresce, os votos brancos e nulos aumentam, e as franjas radicais —
alimentadas pelo desespero e pela descrença — ganham força. Muitos já não votam
por convicção, mas por medo do "pior". Outros votam contra o sistema,
mesmo que esse voto traga mais instabilidade.
O problema não está apenas nos partidos em si, ou nas redes
sociais e as suas falsidades, mas na forma como a política partidária domina
tudo. Os deputados devem obediência cega às direções partidárias, em vez de
responderem aos eleitores que os elegeram. As juventudes partidárias funcionam
como escadas de carreira política, e não como laboratórios de ideias. O mérito
raramente conta tanto como a lealdade interna. E as redes com os seus falsos perfiz
só perturbam.
Enquanto a política for um palco onde os partidos lutam entre
si como se estivessem em guerra permanente, ao invés de colaborarem para o bem
comum, Portugal continuará a andar em círculos. O país precisa de reformas
profundas — políticas, sociais e institucionais — mas com este sistema viciado,
só resta aos descrentes esperar por uma mudança que dificilmente virá de
dentro.
2 comentários:
A classe política portuguesa vive numa bolha.
E tem um discurso que só funciona nessa bolha.
Comentava com amigos indignados com os resultados eleitorais, que chamavam burros aos votantes, que o discurso dos perigos do fascismo, da direita salazarenta e quejandos soam às novas gerações a aula de História.
25 de Abril? Primeiro de Maio? Fascismo?
Sai no teste ou só no exame??
Lei eleitoral, uma fraude indecorosa cativada pelos profissionais da politica imposta à martelada por quem não sabe fazer mais nada.
Quando o primeiro voto cai nas urnas já as direções partidárias selecionaram os seus deputados colando-os em lugares elegíveis preparados à nascença.
Em listas nominais nem querem ouvir falar porque esse modelo lhes retiraria a posse e mando dos votos de quem vai às urnas à boleia de descarado engodo.
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