Vivemos numa época em que o medíocre não apenas é tolerado,
mas celebrado. A mediocridade, outrora vista como um estado a ser superado,
tornou-se confortável, aceitável — e, pior, desejável. Ser “ok” é o novo ideal.
Destacar-se, ao contrário, pode ser visto como arrogância ou desnecessário
esforço.
A banalização do medíocre não ocorre de forma explícita. Ela
se insinua suavemente, mascarada de inclusão, de acessibilidade, de "cada
um no seu tempo". Mas há uma diferença entre acolher processos distintos
de crescimento e nivelar por baixo todo o campo de jogo. Quando o elogio se
distribui de maneira igual para o esforço mínimo e o trabalho genuinamente
notável, há um esvaziamento da excelência.
Na arte, a mediocridade veste-se de tendências. Na educação,
de pedagogias que confundem empatia com complacência. No trabalho, de
produtividade mínima mascarada por discursos sobre saúde mental importante,
sim, mas às vezes usada para justificar descompromisso. No quotidiano, a
mediocridade encontra terreno fértil no culto ao "tá bom assim",
quando o "melhor possível" seria mais justo.
A banalização do medíocre é uma forma sutil de desumanização.
Porque o ser humano é, por essência, um projeto em expansão, um impulso de
superação. Aceitar o medíocre como norma é trair a nossa vocação mais íntima: a
de crescer, aprender, aprimorar. Não se trata de elitismo, mas de respeito ao
potencial humano.
Talvez devêssemos resgatar o desconforto como uma bússola.
Nem todo incómodo é opressão — alguns são convites ao salto. Cultivar o incómodo
com o medíocre pode ser, portanto, um ato de resistência. Não contra o outro,
mas contra a anestesia do espírito.
A excelência não é evidentemente um pedestal. É uma direção.
3 comentários:
Basta estar atento aos actuais ídolos a nível global.
Verdadeiros monumentos de consagração da mediocridade e da banalidade.
👌🌻
O lado mais dramático é que a mediocridade cerra fileiras para afastar os mais sérios e competente do seu casulo de repasto.
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