sexta-feira, 9 de maio de 2025

Encontrar o "eu" em "nós"


Por muito tempo, julguei que amar era ceder. Que estar com alguém - amar de verdade - significava abrir mão de partes de mim, para manter o "nós" a funcionar. Pensava que compromisso era sinónimo de sacrifício, que crescer em conjunto era diminuir-se sozinho.

E então fui dizendo menos o que eu pensava, fui aceitando o que eu não queria, fui colocando as vontades do outro na frente das minhas. Não porque me obrigaram, mas porque eu pensava que era assim. Que esse, era o preço de não estar só.

Mas, aos poucos, fui-me perdendo. Como quando nos olhamos no espelho e sentimos que há algo fora do lugar, mas não sabemos exatamente o quê? Eu sentia isso. Uma espécie de ausência de mim, dentro da minha própria vida. Como se eu me tivesse transformado num personagem coadjuvante, numa história que devia ser minha também.

Levou tempo a ter consciência. Eu estava em "nós", mas não estava em mim. E é difícil admitir isso. Porque se tem medo do conflito, da rejeição, do rótulo de egoísta. Medo de que, se nós começarmos a escolhermo-nos, o outro vá embora.

Mas e se quem vai embora, no fundo, é só quem se acostumou a ver-nos ficar calados?

Encontrar o "eu" em "nós" foi um processo dolorido, mas libertador. Precisei reaprender a escutar-me. A entender o que era meu, e o que eu só repetia para agradar. Aprendi a dizer "não" sem culpa, a sustentar o desconforto de ser honesta. E, talvez o mais difícil, aprendi a aceitar que algumas relações não sobrevivem quando paramos de nos anular.

Hoje, entendo que o "nós" mais belo é aquele onde os dois podem ser inteiros. Onde o amor não pede silêncio, mas escuta. Onde a presença do outro soma, mas não substitui.

Não quis mais encaixar-me em moldes que não sejam meus. Quero conexões que respeitem o que sou, mesmo quando isso significa desencontros temporários, conversas difíceis, limites firmes. Porque o amor que agora me interessa é o que me permite existir por completo. Sem recortes. Encontrar o "eu" em "nós" foi, afinal, um reencontro comigo. E desse, sim, eu não abro mão.

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Uma companheira igual a mim?
Em que é que isso nos enriquece?

Anónimo disse...

VERDADE