sexta-feira, 27 de junho de 2025

NEM TANTO AO MAR, NEM TANTO À TERRA!

Cada vez se fala mais se divulga que as boas notas não garantem o sucesso.  A mim preocupa-me este discurso, porque me parece que estamos a cair no risco de uma cultura de laxismo — aquela ideia de que "não preciso me esforçar", "tá tudo bem ser medíocre", ou "não importa o que eu faça". Isso pode ser extremamente prejudicial, ainda mais num momento delicado como o que Portugal (e muitos outros países) atravessam neste momento de crise económica, desemprego jovem, baixos salários, fuga de cérebros…

Mas o ponto central não é este. Quando se diz que “não é preciso ter boas notas para se vingar na vida”, não se está a defender o desleixo ou a preguiça. Está a defender-se algo novo que vale a pena pensar e que é a pluralidade de caminhos.

O nó górdio reside no facto do sistema muitas vezes transmitir uma mensagem: “Se não fores bom aluno, estás lixado.” E isto, simplesmente, não é verdade.

Mas o outro extremo - o do "não preciso estudar nada, a escola não serve pra nada" - também está errado. Talvez o que esteja a preocupar-me, seja o risco de que isto se transforme numa desculpa para não nos esforçarmos.

O equilíbrio, a meu ver, está aqui:

  • Valorizar o esforço, o trabalho, o aprender — seja na escola, num curso técnico, a trabalhar num café ou a montar um negócio.
  • Respeitar diferentes tipos de inteligência e talento, que muitas vezes a escola tradicional não reconhece.
  • Lutar contra a ideia de que só há um modelo de sucesso.

Em Portugal hoje…

Com tantos jovens desmotivados, salários baixos e um ensino que nem sempre conecta com a vida real, é fácil cair na apatia. Mas a solução não é exigir boas notas como única medida de valor, nem dizer que nada importa.

A solução, talvez, seja:

  • Criar uma cultura de esforço com propósito.
  • Mostrar que estudar pode valer a pena, sim — mas que há outras formas válidas de aprender.
  • E, acima de tudo, ensinar os jovens a acreditar que o seu valor não se mede só em números.

 

quinta-feira, 26 de junho de 2025

O Novo Jet Set

Durante boa parte do século XX, o termo "jet set" era usado para descrever uma elite internacional de ricos e famosos, que cruzavam o globo em jatos particulares, frequentando festas exclusivas, resorts de luxo e eventos badalados. Era um grupo reconhecido pelo glamour, pela ostentação e pelo estilo de vida inatingível, muitas vezes imortalizada por revistas e colunas sociais.

Hoje, o "novo jet set" é configurado de forma bastante diferente, mais digital, mais influente e, em certos aspetos, mais acessível (ou, aparentando ser). O novo jet set é composto por uma elite global que não se define apenas pelo dinheiro, mas pelo alcance, pela relevância e pela capacidade de moldar narrativas no mundo digital. Influenciadores, empreendedores de tecnologia, artistas de media, criadores de conteúdos, e até mesmo nómadas digitais com grandes audiências, formam esta nova constelação de poder. Podem não ter heranças milionárias, mas têm seguidores, influência cultural e visibilidade transnacional.

Enquanto o jet set clássico exibia status por meio de consumo e presença em espaços exclusivos, o novo jet set valoriza experiências, liberdade geográfica e capital simbólico. Estão menos nos salões de gala e mais nas conferências globais, em retiros de bem-estar em Bali, ou documentando as suas rotinas em Tóquio, Lisboa ou Dubai. Não é raro que sua vida pareça simultaneamente distante e íntima. As suas viagens são compartilhadas em tempo real, os seus pensamentos estão em podcasts, os seus negócios são discutidos no X (Twitter), e a sua estética molda tendências mundiais via Instagram ou TikTok.

Contudo, essa nova elite também enfrenta críticas. A aparente informalidade e autenticidade mascaram, muitas vezes, estruturas de privilégio e exclusão, similares às do antigo jet set. Além disso, o culto da produtividade, da performance e do "lifestyle" perfeito, podem gerar pressões psicológicas tanto para quem consome como para quem produz essa imagem. A desigualdade continua presente, apenas mais camuflada sob filtros e narrativas de meritocracia digital.

O novo jet set representa, assim, uma transformação no imaginário de sucesso e mobilidade global. É menos sobre luxo explícito e mais sobre acesso simbólico, influência cultural e presença digital. Ainda assim, agora, há uma elite que se mantém, não apenas nas primeiras classes dos aviões, mas nos algoritmos, nas tendências e no imaginário coletivo.

 

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Como a mãe sobrevive à injustiça que não passa

Viver a vida inteira sentindo-se a parte esquecida de uma história familiar — aquela que segurou as pontas, que chorou sozinha, que renunciou a si para proteger os filhos — pode ser devastador. Quando, além disso, os filhos demonstram mais carinho, lealdade ou compreensão ao pai que causou a rutura, o que resta à mãe?

Resta ser fiel a si.

Ser mãe, nesse caso, é um ato de resistência silenciosa. É escolher continuar a amar sem aplauso, cuidar sem reconhecimento, e manter-se íntegra mesmo quando a vida foi injusta. Isto não é passividade — é uma força quase sagrada. E essa força precisa ser cuidada, alimentada, honrada.

A dor não deve ser engolida sozinha. É essencial falar, buscar apoio, terapia, ou simplesmente ter com quem dividir essa ferida. Porque o que dói de verdade não é só o amor negado, mas o silêncio que o envolve.

Também é importante entender que os filhos, muitas vezes, não veem as coisas como os pais veem. Eles lidam com as suas próprias faltas, projeções e idealizações. Às vezes preferem o pai ausente ou irresponsável porque não os cobra, porque representa uma figura mais leve ou livre. Mas isso não significa que a mãe foi menos importante — significa apenas que eles ainda não compreenderam tudo.

O tempo pode não consertar tudo, mas amadurece os olhares. Muitos filhos só enxergam a dimensão do que a mãe fez, quando se tornam pais. Às vezes, nem aí. E mesmo assim, é possível encontrar paz. Não na expectativa do retorno, mas na dignidade do que foi feito.

A mãe que vive essa injustiça precisa, acima de tudo, resgatar a sua própria história além da maternidade. Voltar-se para si: seus desejos, seus projetos, sua identidade, além do cuidado. Porque, embora os filhos sejam parte fundamental da vida, eles não devem ser o único espelho da nossa realização.

Não é justo, não é leve, e talvez nunca seja retribuído. Mas o amor verdadeiro não depende de o outro entender. Ele basta-se por ser inteiro, mesmo quando o outro não enxerga.

 

domingo, 22 de junho de 2025

O Último Degrau


Embora o discurso da igualdade de género tenha avançado bastante nas últimas décadas, um fenómeno persiste ainda e desafia a verdadeira equidade. É a dificuldade em promover mulheres ao topo, mesmo quando elas já ocupam posições de liderança logo abaixo.

É comum encontrar mulheres altamente qualificadas, com histórico de resultados e competências reconhecidas, ocupando cargos de gestão sénior, direção ou vice-presidências. No entanto, quando se trata de dar o passo final - assumir a presidência -, o comando de uma área estratégica ou integrar o último nível, a hesitação aparece. Este último degrau transforma-se numa espécie de teto invisível, não mais baseado na falta de mérito, mas em perceções inconscientes e estruturas enrijecidas.

Esta barreira é diferente do conhecido “teto de vidro”, porque ela afeta mulheres, que já romperam muitas das resistências anteriores. Ela manifesta-se subtilmente- são dúvidas sobre o “perfil de liderança”, receios quanto à “exposição”, ou sobre a “capacidade de lidar com pressão”, ou argumentos velados sobre o “momento certo”, raramente usados com a mesma frequência, ou peso, em relação a homens nas mesmas condições.

A dificuldade em promover mulheres ao último degrau não é, na maioria das vezes, declarada. Ela disfarça-se em processos de decisão opacos, e preferências subjetivas pelos modelos tradicionais de liderança e na perpetuação de estereótipos que associam autoridade e poder a figuras masculinas. O resultado é a manutenção de um topo corporativo homogéneo, mesmo diante de um pipeline de talentos femininos prontos para liderar.

Enfrentar esse desafio exige mais do que políticas de diversidade. Requer coragem institucional para rever critérios de promoção, treinar lideranças conscientes e, sobretudo, vontade real de quebrar o ciclo. Porque quando uma mulher está no penúltimo degrau, o que falta não é competência — é decisão.

Acresce, que a política de bastidores que rege muitas promoções no topo das organizações é um obstáculo estrutural. Em ambientes onde decisões são tomadas com base em alianças informais, lealdades pessoais e trocas de favores, o mérito formal — ainda que essencial — não é o critério determinante.

Nesse jogo, acesso e influência importam tanto quanto competência. E é aí que muitas mulheres ficam em desvantagem: não por falta de habilidade política, mas porque esse sistema de favores frequentemente exclui mulheres dos círculos informais de poder — almoços exclusivos, reuniões fora da agenda, espaços onde as decisões são moldadas antes mesmo de qualquer processo oficial.

Além disso, muitas mulheres tendem a evitar (ou são desencorajadas a participar de) redes que operam com lógicas não explícitas, por questões éticas, culturais ou até por receio de serem mal interpretadas. O resultado? Quando chega a hora da escolha, o nome delas simplesmente não está "circulando" nas conversas certas — mesmo que estejam no degrau imediatamente anterior ao topo.

Portanto, não é só o mérito que está em jogo. É a forma como o poder circula. Se as estruturas decisórias continuam baseadas em relações de favor e conveniência, mulheres continuarão sendo preteridas não por falta de capacidade, mas por estarem fora da engrenagem informal que realmente define quem sobe.

sábado, 21 de junho de 2025

Quanto vale uma Vida?

"Quanto vale uma vida?" Esta pergunta ecoa nos corredores da ética, da justiça, da filosofia e da própria existência humana. Num mundo cada vez mais pautado por números, lucros e métricas de produtividade, essa questão convida-nos a parar e refletir: é possível atribuir um valor à vida humana?

Do ponto de vista biológico, todas as vidas são equivalentes. Porém, na prática, a sociedade muitas vezes atribui pesos diferentes a depender da origem, da classe social, da etnia ou da profissão de uma pessoa. Um executivo pode ser tratado como mais valioso que um morador de rua; um cidadão de um país desenvolvido pode receber mais atenção do que uma criança faminta num lugar esquecido pela mídia.

No entanto, o valor da vida não está na sua utilidade económica, nem na fama, no status ou na contribuição aparente para a sociedade. O valor de uma vida está na sua singularidade, na sua capacidade de sentir, de amar, de aprender, de transformar o mundo à sua volta — por menor que pareça esse impacto.

Durante tragédias, guerras ou pandemias, somos confrontados com esta questão de forma crua. Quantas mortes são necessárias para que a humanidade perceba que cada uma delas é uma perda irreparável? Números podem ser estatísticas, mas por trás de cada número há uma história, uma família, sonhos interrompidos.

Valorizar uma vida significa respeitar a dignidade do outro, defender direitos humanos, lutar por equidade, e reconhecer que nenhuma existência deve ser descartada ou negligenciada. É também uma chamada à empatia, à solidariedade e à construção de um mundo onde todas as vidas importam de fato, e não apenas no discurso.

Porque no fim das contas, o valor de uma vida, talvez não possa ser medido — apenas reconhecido, respeitado e protegido.

 

sexta-feira, 20 de junho de 2025

A IDADE É APENAS UM DETALHE!


Sem saber muito bem porquê, nos últimos tempos, tenho sido frequentemente associada ao conceito de envelhecimento ativo – um tema sem dúvida relevante, e pelo qual me sinto honrada por poder contribuir. No entanto, algo me leva a sentir, que essa faceta da minha vida, começou de repente, a ofuscar outras dimensões do meu percurso profissional, igualmente ricas e, espero, inspiradoras.

Se o interesse no meu percurso existe, talvez valha a pena voltarmos a olhar para a totalidade do que faço e do que sou — para além da idade. Porque continuo a trabalhar, a criar, a pensar, a escrever e a inovar. E é essa continuidade que, no fundo, é o verdadeiro exemplo do envelhecimento ativo: não o tema, mas a ação.

Ficarei muito contente por poder, também, conversar sobre projetos, ideias, experiências e visões que transcendem etiquetas geracionais — e que falam, antes de tudo, daquilo que nos move a todos: a curiosidade, a paixão e o compromisso com o que fazemos.

Por que está em alta o Quiet Quitting?

Nos últimos anos, especialmente após a pandemia de COVID-19, o termo "quiet quitting" (ou "demissão silenciosa", em tradução livre) ganhou destaque nas redes sociais e nos debates sobre saúde mental e cultura corporativa. Apesar do nome, o quiet quitting não significa que o profissional se está a demitir do trabalho. Pelo contrário, ele continua no seu cargo — mas deixa de fazer algo, além do que lhe está formalmente exigido.

Trata-se de uma postura em que o colaborador decide não ir além das suas responsabilidades contratuais, recusando-se a realizar horas extras não remuneradas, assumir tarefas fora da sua função ou comprometer sua saúde mental em nome da produtividade. Em outras palavras, ele faz o que é esperado, sem excessos nem engajamento extra.

Causas do Quiet Quitting

Esse comportamento pode ter várias causas, como:

  • Desgaste emocional e burnout;
  • Falta de reconhecimento ou perspetivas de crescimento;
  • Ambientes de trabalho tóxicos ou exploradores;
  • Busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Muitos trabalhadores, especialmente da geração Z e dos millennials, passaram a questionar a cultura da “super-entrega” e do “trabalhe como se a empresa fosse sua”, que por vezes valoriza o esforço excessivo sem garantir contrapartidas justas.

Consequências e Debates

O quiet quitting gerou debates acalorados entre líderes empresariais, RHs e estudiosos do trabalho. Para alguns gestores, é um sinal de desmotivação e perda de envolvimento. Para outros, é um ato legítimo de auto-preservação, que convida as empresas a repensarem sua cultura organizacional e o modo como tratam seus talentos. Também levanta uma pergunta importante: esperar que um funcionário "vista a camisa" é justo, ou é uma forma velada de exploração?

Reflexão Final

O quiet quitting não é preguiça. É, sim, um sintoma de algo maior: o desejo de trabalhar com equilíbrio, respeito e propósito. Para lidar com esse fenómeno de forma saudável, as empresas e os profissionais precisam dialogar com transparência, repensar expectativas e promover ambientes mais humanos e sustentáveis.

quarta-feira, 18 de junho de 2025

A saudade como ponte e não como prisão

Saudade é palavra que dói e afaga. Carrega no peito o eco de uma ausência, mas também o calor do que foi real. Durante muito tempo, acreditei que sentir saudade era estar presa, acorrentada a um tempo que não volta, a um rosto que não retorna, a um riso que o vento levou. Hoje, vejo diferente.

A saudade, quando bem acolhida, não nos prende. Ela constrói pontes. Ela é a travessia entre o que fomos e o que somos. Entre o que vivemos e o que ainda carregamos, no silêncio da memória. A saudade, quando escutada com o coração calmo, convida-nos a passar por ela, não a morar dentro dela. Ela leva-nos de volta a momentos bons, para que possamos reencontrar pedaços de nós, que até, talvez, tenhamos esquecido.

Não se trata de negar a dor da ausência. Ela existe, e às vezes lateja. Mas ao invés do muro, que nos separa e nos isola, ela pode ser ponte. A ponte que nos permita caminhar de volta ao que foi bonito, mesmo que, apenas  por instantes, e trazer algo que ainda nos seja útil: uma lição, um afeto, um abraço guardado em lembrança.

A saudade só aprisiona quando resistimos a ela, quando lutamos para não a sentir. Mas quando aceitamos a sua presença, como quem aceita a visita de um velho amigo, ela senta-se connosco, conta histórias, e depois vai embora, deixando o nosso coração um pouco mais inteiro.

 

terça-feira, 17 de junho de 2025

Depois do Primeiro

O primeiro amor chega como um vendaval — desordenado, urgente, cheio de promessas ditas com o peito inflado e a inocência intacta. É a descoberta, a explosão, a vertigem. Mas também, muitas vezes, é o amor que parte. E quando vai, deixa uma ideia: “nunca mais será assim”.

E não será mesmo. Porque o amor que vem depois, é diferente. Ele não precisa provar nada. Chega mais devagar, às vezes sem que nós percebamos. Não causa tempestades, prefere as brisas. Não grita, mas sabe fazer-se ouvir.

Esse segundo amor — ou terceiro, ou décimo — já encontra um coração com marcas. E, talvez por isso, ele seja mais delicado. Sabe onde pisar. Sabe que amor não é só sentir. É escolher, cuidar, estar. Não idealiza, compreende. Não promete eternidades, constrói presentes.

O amor que vem depois do primeiro, já conheceu o fim — e por isso valoriza mais cada recomeço. Ele sabe que paixão é fogo, mas que o amor real, é aquele que fica para ajudar a reconstruir, depois do incêndio.

Esse amor vem com mais silêncio, mais maturidade, mais verdade. E, às vezes, sem grandes gestos, faz mais a morada, que o primeiro jamais conseguiu.

 

domingo, 15 de junho de 2025

O SEGUNDO CASAMENTO

O segundo casamento não é um recomeço qualquer. Ele chega silencioso, depois da tempestade. Não tem a inocência do primeiro. Ao invés, tem a coragem de quem já se magoou e ainda assim, escolhe amar de novo.

Não é feito de promessas ingénuas, mas de escolhas conscientes. Vem com menos ilusão, mas com mais verdade. Traz o peso da memória e, ao mesmo tempo, a leveza de saber que o amor pode, sim, florescer em terreno já arado, mesmo que tenha sido mal arado antes.

O segundo casamento é um encontro entre duas histórias com cicatrizes. Há mais escuta. Menos urgência. Um cuidado mais atento com o que se diz — e principalmente com o que se cala. Não há mais a pressa de acertar tudo, logo. Há espaço para aprender em conjunto, mesmo que o medo também caminhe ao lado. É amor com olhos abertos.

Não idealizado, mas real. Amor que não exige perfeição, mas presença. Que entende que a vida é feita de camadas, de perdas e reconstruções, e que amar de novo é, antes de tudo, um ato de esperança.

Porque o segundo casamento não é sobre substituir o passado. É sobre escolher alguém, com quem vale a pena construir o “agora” — e quem sabe, o “sempre”.

 

sábado, 14 de junho de 2025

A Necessidade Permanente de Atualização

Vivemos numa era marcada pela velocidade das transformações. A tecnologia evolui de forma exponencial, o mercado de trabalho exige, a cada dia, novas competências e o conhecimento torna-se rapidamente obsoleto. Diante desse cenário, a atualização permanente deixou de ser uma escolha e passou a ser uma necessidade vital — tanto para profissionais, quanto para qualquer pessoa que deseje acompanhar as mudanças do mundo contemporâneo.

Atualizar-se vai muito além de aprender novas ferramentas ou técnicas. Trata-se de manter a mente aberta, ser curioso e estar disposto a rever conceitos, desaprender velhos hábitos e construir novos caminhos. É uma prática contínua de crescimento e adaptação.

No âmbito profissional, a capacitação constante é o que diferencia quem se mantém relevante de quem fica para trás. Os empregadores valorizam aqueles que demonstram iniciativa para aprender e se reinventar. E, com o avanço da inteligência artificial e da automação, as chamadas "soft skills" - como criatividade, pensamento crítico e inteligência emocional- ganham ainda mais importância, exigindo atualização não só técnica, mas também comportamental.

Na vida pessoal, a atualização também é essencial. Ela permite-nos compreender melhor o mundo à nossa volta, conviver com diferentes gerações, adaptar-se a novas formas de comunicação e manter relações saudáveis e construtivas numa sociedade plural e dinâmica.

Por isso, cultivar o hábito da aprendizagem contínua é investir em si mesmo. Ler, estudar, experimentar, ouvir diferentes perspetivas e refletir sobre a própria jornada, são formas eficazes de manter-se atualizado. Afinal, o verdadeiro crescimento não está em saber tudo, mas em nunca parar de aprender.

 

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Uma peregrinação interior

Não houve mapa.
Nem bússola.
Apenas um cansaço antigo,
desses que não se cura com sono.
Era um peso sem nome,
um vazio que morava atrás do riso.

E um dia, sem anúncio nem despedida,
comecei a caminhar para dentro.
Não sei dizer se fui por vontade, ou por falta de escolha.
Só sei que fui.
Fechei os olhos e fui.

Lá dentro, encontrei paisagens que ninguém vê,
ruínas de promessas, jardins de lembranças,
estradas feitas de perguntas que nunca fiz em voz alta.
Encontrei também vozes antigas — algumas minhas, outras herdadas
que diziam quem eu deveria ser,
mas que já não me serviam como antes.

Havia silêncio.
Mas era um silêncio que falava.
E eu escutei.
Escutei o que sempre esteve ali, abafado pelo barulho do mundo.
Escutei o meu medo com atenção de mãe,
minha raiva com o cuidado de um jardineiro,
meus sonhos com a ternura de quem reencontra um velho amigo.

Chorei. Sorri. Perdoei-me.
Caminhei por memórias que ainda doíam,
e outras que brilhavam feitas farol em noite escura.

Nessa peregrinação, descobri que não era preciso chegar a lugar nenhum. Era só uma questão de estar. De ser. De me encontrar nas partes que eu mesma havia deixado para trás.

E quando voltei,
ou talvez nem tenha voltado,
porque nunca mais fui a mesma,
trouxe comigo algo que não tem nome,
mas que cabe inteiro no peito.

Talvez paz.
Talvez inteireza.
Talvez só um leve entendimento de mim.

 

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Encontrar-se a si próprio aos 50 Anos


Chegar aos 50 anos é, para muitos, um marco. Não apenas um número redondo, mas um ponto de viragem silencioso, onde o passado se torna espelho e o futuro, mistério. É uma idade em que as certezas acumuladas podem começar a vacilar e, ao mesmo tempo, em que nasce uma nova liberdade: a de finalmente se perguntar “Quem sou eu agora?” – e procurar a resposta com honestidade.

Encontrar-se aos 50 não é um regresso ao início, mas uma viagem ao centro. Depois de décadas de compromissos, trabalho, família, pressões sociais e expectativas externas, há uma oportunidade única de olhar para dentro e reencontrar aquela essência que, por vezes, ficou soterrada pelas exigências da vida.

É quando percebemos que, talvez, nunca tenhamos, de facto, parado para nos escutar. Aos 50, o silêncio começa a falar mais alto. As prioridades mudam. A urgência de agradar aos outros diminui. E começa a nascer um desejo genuíno de viver com mais verdade, com mais sentido.

Encontrar-se não significa romper com tudo. Muitas vezes, é integrar: reconhecer as versões que fomos de nós mesmos e acolher a versão que agora quer emergir. É um processo que pode envolver mudanças — na carreira, nos relacionamentos, na maneira de viver — mas, acima de tudo, exige coragem para sermos fiéis à nossa essência.

Aos 50 anos, a busca já não é pela perfeição, mas pela autenticidade. Já não se trata de conquistar o mundo, mas de fazer as pazes com ele — e connosco. Descobrimo-nos, muitas vezes, mais leves, mais serenos, mais disponíveis para o presente. Descobrimos que há beleza em recomeçar, em redefinir o caminho, em dizer sim ao que nos faz bem e não ao que nos afasta de nós mesmos.

Encontrar-se aos 50 é um privilégio. É a oportunidade de viver, finalmente, por dentro e de construir, com maturidade e consciência, uma nova fase da vida onde cada escolha seja um reflexo do que somos, e não do que esperavam que nós fôssemos.

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE

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quarta-feira, 11 de junho de 2025

A Beleza do que é imperfeito


Há qualquer coisa de profundamente humano, naquilo que não está certo, nem simétrico, nem concluído. Talvez porque nós, também, não estamos.

A beleza do que é imperfeito está nos sorrisos sem jeito, nas palavras que faltaram dizer, nos silêncios que ficaram no meio de uma frase. Está nas cicatrizes - não as escondidas, mas as que já não nos envergonham. Está na chávena lascada que ainda usamos, porque era da avó, no casaco velho que já não aquece, mas ainda abraça.

A perfeição é fria. Não tem história. A imperfeição, essa, guarda tudo: as quedas, os risos nervosos, os erros de cálculo e os gestos impulsivos. É no improviso que nasce a ternura. É na falha que se vê quem fica.

O mundo tenta afiar-nos, polir-nos, tornar-nos impecáveis. Mas eu prefiro os que tropeçam, os que hesitam antes de falar, os que choram com vergonha e depois riem como se o mundo fosse novo. Prefiro as pessoas que admitem não saber, as que pedem desculpa devagar, as que amam mal, mas amam muito.

Há beleza num banco partido de jardim onde alguém escreveu "volto já". Há beleza num amor que não chegou a ser, mas ainda mora num olhar.

A beleza do que é imperfeito não se explica, sente-se. Como um piano desafinado que, mesmo assim, nos toca certo, o coração.

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terça-feira, 10 de junho de 2025

A Importância do Sexo: um encontro com a Intimidade Humana

Sexo é mais do que ato físico. É linguagem, é vínculo, é presença. Na sua forma mais autêntica, o sexo é um encontro – não apenas de corpos, mas de emoções, histórias e vulnerabilidades. É onde nos permitimos ser vistos de maneira crua, despidos de máscaras, entregues à experiência do outro e de nós mesmos.

Para além do prazer – que é legítimo, necessário e belo – o sexo tem uma função afetiva essencial. Ele pode reafirmar o amor, curar a solidão, renovar a autoestima e fortalecer laços. É uma forma de comunicação silenciosa que diz: "estou aqui, contigo, por inteiro". Quando vivido com respeito, consentimento, entrega, e uma certa dose de benigna loucura, torna-se uma das expressões mais profundas da intimidade humana.

Em relacionamentos duradouros, o sexo é um termómetro e também um alimento. Não resolve tudo, mas a sua ausência ou a sua mecanização pode denunciar distâncias emocionais. Falar sobre desejo, limites, fantasias e frustrações é também falar sobre o que se passa dentro de nós. Negligenciar este tipo de conversa é empobrecer o relacionamento, e a si mesmo.

Mas o sexo também é sobre presença consigo. Autoconhecimento sexual é parte do autocuidado. Reconhecer os seus desejos, os seus limites, o seu ritmo – tudo isso é saúde emocional. Não se trata apenas de ter ou não uma vida sexual ativa, mas de viver em consciência e verdade aquilo que se deseja ou se escolhe, sem culpa nem repressão.

Vivemos tempos em que o sexo é, muitas vezes, banalizado de um lado, ou reprimido do outro. Em ambos os extremos, perde-se a oportunidade de vivê-lo na sua dimensão mais rica, a do encontro genuíno. Não se trata de quantidade, de performance, de padrão. Trata-se de presença, de cuidado, de humanidade.

Falar sobre sexo com seriedade é também falar sobre liberdade, sobre saúde, sobre dignidade. É abrir espaço para o que é vital, natural e potente em nós. Porque no fim, o sexo é um gesto de confiança em si, no outro e na vida.

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segunda-feira, 9 de junho de 2025

O que vale mais: fidelidade ou liberdade?

Esta pergunta que um amigo me colocou deu origem a este texto. É uma questão que desperta dilemas profundos que atravessam tanto o campo das relações pessoais quanto o das escolhas existenciais. Fidelidade e liberdade, à primeira vista, podem parecer opostos. Um exige compromisso, o outro, autonomia. Mas será que um realmente anula o outro?

A fidelidade está ligada à constância, à lealdade, ao respeito a pactos feitos, sejam eles amorosos, familiares, ideológicos ou profissionais. Ser fiel é assumir uma responsabilidade com o outro, mas também consigo mesmo, pois exige coerência entre discurso e ação.

Por outro lado, a liberdade é a essência do ser autêntico. Representa a capacidade de fazer escolhas próprias, de seguir caminhos não impostos, de mudar de ideia, de recomeçar. A liberdade é, muitas vezes, associada ao direito de se ser quem se é, sem amarras.

O conflito surge quando a fidelidade começa a transformar-se em prisão, e a liberdade, em abandono. Ser livre não precisa significar irresponsabilidade, assim como ser fiel não deve significar sufocamento. O equilíbrio está em perceber que ambas as ideias podem coexistir. Uma fidelidade escolhida livremente tem muito mais valor do que uma imposta. Da mesma forma, uma liberdade que respeita vínculos e afetos é mais madura e duradoura.

No fim, talvez a pergunta não devesse ter sido “o que vale mais?”, mas sim “como fazer com que fidelidade e liberdade não sejam inimigas?”. Quando há diálogo, respeito e clareza de intenções, é possível ser fiel sem se aprisionar, e ser livre sem ferir.

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Inteligência artificial é o fim da autoria humana?

Às vezes dou comigo a olhar o ecrã do computador, à espera que as palavras venham. Como se escrever fosse um gesto mágico, íntimo, único. Algo que brota da alma e encontra forma. Mas hoje, ao lado da minha tentativa, há uma outra presença, silenciosa, veloz, eficiente. Uma inteligência artificial que sugere frases, corrige desvios, antecipa as minhas ideias. E eu pergunto-me de quem é, afinal, o que está a ser escrito?

Não é medo — ou talvez seja. Um receio subtil de dissolução. A sensação de que algo que antes era exclusivamente humano, agora está sendo dividido. A autoria, essa expressão de identidade, começa a escorrer pelos dedos. Como água. Como código.

Mas talvez não se trate de um fim. Talvez seja só uma mudança de forma. A IA não sonha, não sofre, não ama. Pelo menos, não ainda. Ela produz, mas não sente. E é aqui que ainda estamos. No sentir. No silêncio, antes da palavra. No gesto de quem hesita antes de escrever, porque tem algo mais do que linguagem, dentro de si.

A autoria humana, talvez não desapareça. Talvez se torne mais rara. Mais preciosa. Como cartas escritas à mão, num mundo de mensagens instantâneas. Como um suspiro que escapa, entre palavras geradas em massa.

A questão não é se a IA vai tomar nosso lugar. A questão é saber o que vamos fazer com o que ainda é só nosso?
A pausa. A dúvida. A memória.
O erro que se revela.
A dor que escreve.

Enquanto houver isto, talvez a autoria humana não acabe  e apenas mude de tom.

 

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sábado, 7 de junho de 2025

Dominar os Instintos

Dominar os próprios instintos é uma das tarefas mais desafiadoras e mais nobres da jornada humana. Somos, por natureza, impulsionados por desejos primitivos: fome, medo, raiva, prazer, defesa. Esses instintos foram essenciais para a sobrevivência de nossos ancestrais. No entanto, no mundo moderno, muitos desses impulsos podem arrastar-nos para decisões precipitadas, palavras impensadas e atitudes destrutivas.

Dominar os instintos não significa sufocá-los, mas sim compreendê-los e colocá-los sob o comando da consciência. É agir com propósito, e não apenas reagir. É sentir a raiva e escolher o diálogo. É reconhecer o medo e mesmo assim, seguir em frente. É ter um desejo e não ser escravizado por ele.

A verdadeira liberdade não está em fazer tudo o que se quer.  Está em ser capaz de dizer "não" ao que nos controla por dentro. O autocontrole é força, a disciplina um escudo, e a consciência, um guia.

Quem domina os próprios instintos conquista-se a si mesmo, e essa é a mais difícil e mais significativa das vitórias.

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sexta-feira, 6 de junho de 2025

O DESEJO

O desejo é uma centelha - silenciosa ou flamejante - que habita o fundo da alma. Não se contenta com o que é, mas projeta o que poderia ser. É ausência e promessa ao mesmo tempo. Desejar é viver em estado de inquietação: o olhar que atravessa o horizonte, o corpo que se move em direção ao que ainda não se tem.

Ele não pede licença; nasce súbito, inesperado. Às vezes com a suavidade de um sussurro, outras com a urgência de uma tempestade. Pode ser simples como o anseio por um abraço, ou profundo como a busca por sentido. Há desejos que libertam e outros que aprisionam. Desejar é, inevitavelmente, colocar-se em risco de sonhar, de sofrer, de crescer.

Na arte, no amor, na filosofia, o desejo é motor. É o que move o criador diante da tela em branco, o poeta diante da palavra muda, o amante diante da ausência. É ele que nos tira da inércia, que nos arrasta para o desconhecido, que nos transforma.

Mas o desejo também é ambíguo. Pode ser luz ou sombra. Quando não reconhecido, torna-se angústia. Quando reprimido, torna-se silêncio. Saber nomeá-lo é o primeiro passo para o compreender e, talvez, nunca o saciar por completo. Porque desejar é humano. E ser humano é, por natureza, ser incompleto.

Amanhã estarei na Feira do Livro

A partir das 16:30 no CAL e nos livros Horizonte

 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

A Irrelevância das Influencers na Era Digital

Nos últimos anos, as influencers digitais dominaram o cenário das redes sociais, moldando tendências de consumo, comportamento e até estética. No entanto, esse domínio começa a mostrar sinais de desgaste. A mesma velocidade com que ascenderam ao estrelato virtual parece estar agora a impulsionar a sua queda — não necessariamente em número de seguidores, mas em relevância e influência real.

Um dos principais fatores para essa mudança é a saturação do mercado. Com milhares de perfis promovendo produtos semelhantes, com discursos quase idênticos, o conteúdo tornou-se repetitivo e previsível. O público, cada vez mais crítico e consciente, passou a questionar a autenticidade por trás das postagens patrocinadas. A confiança, que era o pilar do sucesso dessas personalidades, começou a ruir diante da perceção de interesses comerciais excessivos.

Além disso, o surgimento de novas formas de consumo de conteúdos - como podcasts, inteligência artificial personalizada, comunidades privadas e criadores de nichos - tem desviado a atenção das massas. As pessoas passaram a buscar profundidade, representatividade e valor real, e não apenas uma vida idealizada filtrada pelo Instagram.

Outro ponto crucial é o cansaço digital. O público tem demonstrado uma tendência crescente a se libertar de conteúdos que parecem forçados ou excessivamente editados. Há uma valorização do espontâneo, do orgânico e do imperfeito, algo que muitas influencers tradicionais têm dificuldade em oferecer, presas a contratos e estratégias de imagem.

Isso não significa o seu fim, mas uma transformação do papel que desempenham. A influência migra de figuras idealizadas para vozes mais autênticas e diversificadas, muitas vezes fora do radar do mainstream. A era das influencers como a conhecíamos está a esgotar-se, e o futuro aponta para uma influência mais distribuída, honesta e conectada com realidades plurais.

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE

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quarta-feira, 4 de junho de 2025

A CULTURA DO CANSAÇO

Vivemos numa era em que o cansaço se tornou rotina e estar constantemente ocupado é quase um troféu. A cultura do cansaço, como a define o filósofo sul-coreano Byung-Chul-Han, é marcada pela exaustão silenciosa de indivíduos que, sob a lógica neoliberal, se transformam em empreendedores de si mesmos. O descanso, antes sinal de equilíbrio, hoje é, muitas vezes, visto como preguiça, improdutividade, ou até fracasso.

Ser ocupado, tornou-se símbolo de importância. Frases como “não tenho tempo para nada” ou “mal consigo dormir” ganharam status de medalhas honorárias. As redes sociais reforçam este fenómeno, onde o excesso de compromissos é exibido com orgulho. O tempo livre, por outro lado, é quase um tabu, algo que precisa ser “preenchido” com mais tarefas, projetos ou metas pessoais.

Esta constante aceleração gera não só fadiga física, mas um esgotamento mental profundo. Perdemos a capacidade de simplesmente não fazer nada, de contemplar, de pausar. O descanso tornou-se algo, que precisa ser justificado. E isso afasta-nos de nós próprios.

É urgente repensar este modelo. O valor de uma pessoa não deveria estar atrelado à sua produtividade. Precisamos resgatar o direito ao ócio, ao tédio criativo, ao descanso, como forma legítima de cuidado pessoal. Desacelerar não é fracassar, é resistir.

 

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terça-feira, 3 de junho de 2025

O Mito da Meritocracia em Tempos de Desigualdade Estrutural

A ideia de meritocracia, segundo a qual o sucesso de um indivíduo depende exclusivamente de seu esforço, talento e dedicação, tem sido amplamente difundida como um ideal justo e democrático. No entanto, em sociedades marcadas por profundas desigualdades estruturais, essa conceção revela-se mais um mito do que uma realidade.

Historicamente, fatores como classe social, cor da pele, género, origem geográfica e acesso à educação de qualidade, têm moldado as oportunidades disponíveis para diferentes grupos. Enquanto alguns indivíduos nascem em contextos que lhes oferecem suporte, estabilidade e redes de contato, outros enfrentam obstáculos sistémicos desde o início da vida. Dizer que todos partem do mesmo ponto é ignorar as barreiras invisíveis que limitam o progresso de milhões de pessoas.

No Brasil, por exemplo, a desigualdade social é notória e expressa-se em indicadores como acesso à saúde, saneamento, habitação e educação. Crianças de comunidades periféricas, muitas vezes frequentam escolas precárias, com falta de professores, material didático e infraestrutura básica. Ainda assim, são avaliadas com o mesmo critério de quem teve acesso ao ensino privado de qualidade. Isso não é meritocracia, é uma corrida desigual.

A meritocracia também desconsidera o peso do racismo estrutural e da desigualdade de género, que afetam diretamente as chances de ascensão social de mulheres, pessoas com cor de pele diferente ou vida sexual distinta. Quando esses fatores são ignorados, o discurso meritocrático acaba culpabilizando o indivíduo pela sua condição social, em vez de reconhecer as limitações impostas por um sistema excludente.

A solução não está em negar o valor do esforço pessoal, mas em compreender que o mérito só pode ser avaliado de forma justa, quando há igualdade de condições. Para isso, é necessário adotar políticas públicas que promovam equidade, como ações afirmativas, investimentos em educação e combate à pobreza. Só assim será possível transformar o ideal meritocrático numa prática realmente justa.

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segunda-feira, 2 de junho de 2025

Lamentável banalização do aborto na tv



Com pesar, assisti recentemente a um anúncio televisivo que promovia o aborto como uma decisão simples, desprovida de implicações éticas, humanas e jurídicas. É profundamente preocupante que um tema tão delicado e complexo, seja tratado com tamanha superficialidade  num meio de comunicação de massa, que forma opiniões e atinge milhões de lares.

O ordenamento jurídico de muitos países - mesmo onde o aborto é parcialmente legalizado - reconhece que a vida humana merece tutela desde a conceção. Esse reconhecimento não é apenas uma norma abstrata: ele traduz o valor intrínseco da vida, sobretudo da vida mais indefesa, a que ainda se encontra no ventre materno.

Lamento que pouco ou nada se tenha dito, naquele anúncio - isso sim, seria informar - sobre os múltiplos e variados meios de apoio, hoje disponíveis, para que tal não aconteça. De fato é esquecer, voluntariamente, os métodos anticoncepcionais acessíveis, apoio psicológico, apoio à gestante, redes de proteção social, e tantos programas — públicos e privados — que existem exatamente para que nenhuma mulher precise recorrer ao aborto por desespero, medo ou abandono.

Sim, devemos ouvir e amparar as mulheres em crise, mas é justamente por respeito à sua dignidade — e à do ser humano que carregam — que não podemos aceitar uma narrativa que normalize o aborto como simples solução.

Promover a vida, o direito, o diálogo e a compaixão, não é um retrocesso: é o verdadeiro avanço civilizacional. Que nunca percamos a capacidade de proteger os mais frágeis com justiça e humanidade.

domingo, 1 de junho de 2025

Os Sonhos Tributados

No ano de 2147, sonhar tornou-se um luxo — e, como todo luxo, passou a ser tributado. O governo, sempre vigilante, descobriu que os sonhos continham valor. Valor emocional, valor criativo, valor de fuga. E tudo que tem valor, cedo ou tarde, entra na malha fiscal.

Tudo começou com os “Captores de Sonhos”, dispositivos obrigatórios implantados nas têmporas dos cidadãos ao nascer. Eles gravam cada imagem onírica, cada símbolo bizarro, cada desejo inconsciente. Ao acordar, os dados são enviados automaticamente ao Ministério da Realidade, onde analistas avaliam o conteúdo com base em critérios como intensidade emocional, originalidade e risco subversivo.

Um sonho feliz com voos sobre florestas? Taxa moderada. Um pesadelo de rebelião contra autoridades? Taxa máxima. Sonhar com uma vida melhor do que a real? Multa adicional por “evasão da realidade”.

As pessoas começaram a se policiar até nos sonhos. Cursos de “Controle Onírico Consciente” surgiram para ajudar cidadãos a sonhar apenas com coisas simples e tributariamente leves: campos vazios, salas brancas, números. A elite, como sempre, driblava o sistema — pagando caros por “consultores de sonho” que manipulavam seus dispositivos para mascarar devaneios luxuosos como sonhos neutros.

Ainda assim, existiam os rebeldes. Chamavam-se Sonhadores Livres. Dormiam em áreas de sombra digital, longe do alcance dos satélites. Seus sonhos não eram gravados, nem taxados. Dizem que nesses sonhos clandestinos, o mundo era colorido, cheio de esperança e revolução.

Afinal, num mundo onde até os pensamentos noturnos têm preço, sonhar tornou-se o mais radical de todos os atos.

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sábado, 31 de maio de 2025

Carta para uma versão antiga de mim

Olá Helena!
Há bastante tempo que não nos falamos.
Talvez porque eu tenha passado os últimos anos, a tentar esquecer-te… ou, quem sabe, a tentar perdoar-te.

Sei que fizeste o que pudeste
Mesmo quando parecias não saber por onde ir, tu seguiste.
Tinhas medo, mas não paravas. Choravas escondida, e no dia seguinte sorrias como se estivesse tudo bem.
Eu lembro. Eu vi.

Às vezes, dou comigo a recordar coisas em que eu acreditava tanto.
Dos sonhos que hoje parecem ingénuos,
das pessoas que amei demais,
das vezes que me calei por medo de perder, ou de não ser suficiente.

Queria dizer-te que não falhaste.
Que o que parecia fraqueza era só cuidado demais, com o outro.
Que os erros que temes até hoje, foram, na verdade, tentativas sinceras de acertar.

Eu cresci.
Mudei tanto que, às vezes, nem sei mais quem sou.
Mas existem pedaços teus, aqui no meu jeito de sentir, na minha sensibilidade disfarçada, na minha força quieta.
Tu me ensinaste tudo isso, sem sequer perceber.

Se pudesse, hoje, eu te abraçaria.
Dir-te-ia que vai ficar tudo bem.

Não por magia, mas por esforço verdadeiro.
Vai doer. Vai cansar. Mas vai passar.
E tu vais ser alguém de quem te podes orgulhar.

Com carinho,
a Helena atual

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sexta-feira, 30 de maio de 2025

Quando Não Se Sabe Parar

Há momentos em que o maior ato de coragem é parar. Em uma sociedade que valoriza a produtividade constante, o movimento ininterrupto e o acúmulo de conquistas, parar pode parecer fraqueza. Mas não saber parar é, muitas vezes, o caminho mais direto para o esgotamento, para a perda de si mesmo e para decisões impensadas.

Não saber parar pode se manifestar de diversas formas: insistir em um relacionamento que já não tem afeto, manter-se em um trabalho que consome a saúde mental, continuar um projeto que já perdeu o sentido, ou simplesmente não dar a si mesmo o direito ao descanso. A linha entre persistência e teimosia é tênue, e atravessá-la sem perceber pode custar caro.

Parar não é desistir. Parar é reconhecer limites. É entender que o tempo não é inimigo e que recomeços também exigem pausas. Parar pode ser o início de um novo ciclo, mais saudável, mais consciente. É o momento de respirar, de se ouvir, de recalcular a rota.

Saber parar exige maturidade. Exige ouvir o corpo, as emoções, os sinais sutis da vida. Exige coragem para dizer "basta" mesmo quando tudo ao redor grita "continue". Porque o verdadeiro sucesso não está em nunca parar, mas em saber a hora certa de fazer isso.

Parar, às vezes, é o que salva.

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quinta-feira, 29 de maio de 2025

DADINHA e o reencontro com o caminho profissional


Conheço-a e sou sua amiga há muitos anos. Não me lembro de ter tido uma casa que não tivesse a sua marca. Às vezes ela chegava mudava  o lugar a três ou quatro móveis e tudo parecia diferente e mais acolhedor. A partir de certa altura, antes de fazer qualquer transformação, dava-lhe um telefonema de socorro e tudo parecia ter sido amplamente pensado e escolhido.

Durante os últimos anos, ela teve o privilégio de viver uma etapa profundamente transformadora e silenciosa da sua vida: dedicou-se integralmente à sua família. Foi um tempo de escolhas conscientes, de presença plena e de aprendizagens que, embora não constem em currículos formais, a enriqueceram de maneira inestimável.

Antes disso, teve uma trajetória profissional intensa e reconhecida, que lhe proporcionou grandes conquistas, parcerias valiosas e crescimento constante. Agora, com novos equilíbrios estabelecidos, todos – amigos e antigos clientes- sentimos que é o momento de ela voltar. De reencontrar o seu lugar no mundo do trabalho com o mesmo comprometimento, curiosidade e paixão que sempre a acompanharam.

Voltar com serenidade, com vontade de contribuir, aprender e, acima de tudo, de construir novas histórias – com o mesmo profissionalismo de antes, mas com uma bagagem humana ainda mais rica.

E, acredito, todos os que fizeram parte do seu caminho até aqui e os que, de alguma forma, se cruzaram com esta nova etapa, vão ficar felizes de a terem, de novo, a dar alma às suas casas. 

AS AGRURAS DA VIDA

Tenho tentado, dia após dia, vencer as agruras da minha via.
Não falo de feitos heroicos nem de grandes reviravoltas.
Falo de o simples acordar quando o sono é um refúgio,
de sair da cama, quando o corpo pesa mais do que parece justo.

É uma luta silenciosa — ninguém a vê, mas eu sinto-a.
Cada passo que dou custa mais do que mostro,
mas sigo, mesmo trémulo, mesmo incerto.

Vencer, às vezes, é apenas não ceder.
É responder a uma mensagem quando tudo em mim se quer calar.
É preparar o café, mesmo sem vontade de comer.
É sorrir para alguém, só para lembrar que ainda sou capaz de sentir algo leve.

Não tenho respostas definitivas,
só esse impulso teimoso que me faz continuar,
mesmo quando o mundo parece girar ao contrário.

E talvez, só talvez, isso já seja uma forma de vitória.

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terça-feira, 27 de maio de 2025

FILOSOFIA DE VIDA


A expressão "filosofia de vida" refere-se habitualmente a um conjunto de princípios, valores, crenças e atitudes que uma pessoa adota para orientar a sua existência. É uma espécie de bússola pessoal, que ajuda o indivíduo a dar sentido à vida, a tomar decisões, a enfrentar desafios e a relacionar-se com o mundo.

Diferente, contudo, da disciplina académica, a filosofia de vida é mais prática e subjetiva. Ela pode ser influenciada por diversas fontes: experiências pessoais, ensinamentos religiosos ou espirituais, correntes filosóficas, tradições culturais, entre outras. Algumas pessoas desenvolvem a sua filosofia de forma consciente e refletida, enquanto outras a constroem de maneira mais intuitiva e empírica, ao longo do tempo.

Uma filosofia de vida pode incluir ideias sobre o propósito da existência, a importância das relações humanas, o valor do trabalho, a maneira de lidar com o sofrimento, o papel da ética e da responsabilidade, entre outros temas fundamentais. Por exemplo, alguém pode adotar uma filosofia baseada no estoicismo, buscando manter o equilíbrio emocional diante das adversidades, ou no hedonismo, priorizando o prazer e a felicidade, como objetivos principais da vida.

Ter uma filosofia de vida não significa ter todas as respostas, mas sim cultivar uma atitude reflexiva diante da vida, buscando coerência entre pensamento e ação. Ela serve como uma orientação pessoal face à complexidade do mundo, ajudando o indivíduo a viver de maneira mais autêntica, consciente e alinhada com os seus próprios valores.

Em resumo, a filosofia de vida é a arte de viver com propósito, reflexão e sentido. É um exercício contínuo de autoconhecimento e crescimento pessoal, que acompanha o ser humano ao longo de toda a sua trajetória.

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segunda-feira, 26 de maio de 2025

SER O MELHOR OU SER MELHOR?

Desde pequenos somos incentivados a buscar o primeiro lugar — ser o melhor na escola, no desporto, no trabalho. Mas, com o tempo, percebi que há uma diferença enorme entre ser o melhor e ser melhor.

Ser o melhor é uma meta voltada para o exterior. É uma comparação constante com os outros. É olhar para o lado e medir o próprio valor pela performance alheia. É competição, muitas vezes alimentada por ego, vaidade ou necessidade de reconhecimento.

ser melhor é um caminho interno. É olhar para quem eu era ontem e decidir crescer. É sobre evolução pessoal, amadurecimento, empatia, superação. É uma jornada contínua, sem pódios, mas cheia de significado. Ser melhor é entender que posso errar, mas também posso aprender. É ter humildade para reconhecer limites e coragem para ir além deles.

Hoje, escolho ser melhor a cada dia. Melhor como pessoa, como amiga, como filha, como profissional. Não preciso provar nada ao mundo, só a mim mesmo. Porque, no fim de contas, a única competição saudável é comigo mesmo. E o verdadeiro sucesso está em progredir, não em vencer.

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domingo, 25 de maio de 2025

A MAIOR DÁDIVA

Há momentos em que a vida silencia. Quando o barulho do mundo se distancia e, por um instante, tudo parece caber dentro do peito. É nesses instantes raros, quase sagrados, que compreendo que a maior dádiva não é o que se pode tocar, nem o que se acumula. É aquilo que se sente profundamente e, ainda assim, não se consegue explicar em palavras.

A maior dádiva é o amor. Mas não aquele que se vende nas vitrines ou se proclama nas redes. É o amor que pulsa em silêncio. Que se revela no olhar demorado de quem fica. Na presença que não exige, mas ampara. No abraço que não cura, mas consola.

É a memória viva de um gesto simples. O cheiro do café que lembra alguém. O sorriso inesperado no meio de um dia difícil. A mão que segura a nossa quando tudo parece escuro.

A maior dádiva é saber que, mesmo quando tudo falha -os planos, os caminhos, a força- ainda existe alguém ou algo que nos devolve à nossa essência. Uma criança que confia. Um animal que espera. Um pôr do sol que nos faz sentir pequenos, mas inteiros.

Não é preciso possuir muito para reconhecer uma dádiva. Só é preciso estar atento. Respirar fundo. Ouvir com o coração.

E, então, perceber que estar vivo, com tudo o que isso carrega - dores, amores, partidas, reencontros - já é, em si, a mais generosa de todas as dádivas.

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