quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Reciprocidade

É costume afirmar-se que que existem amores que não exigem reciprocidade. E o exemplo mais utilizado é aquele que liga pais e filhos. Há mesmo quem afirme que dava a vida por um filho, mostrando com esta frase a incondicionalidade do seu amor.

Pois eu não concordo. Amor sem reciprocidade não é amor. É egoísmo e dificilmente se suporta por muito tempo. Quando se ama, a expetativa é que o outro sinta o mesmo por nós. Se tal não acontece, que sentimento é esse que liga duas pessoas num só sentido?

Pessoalmente, não me passaria pela cabeça manter qualquer tipo de relação com alguém que eu sentisse que me não amava. Entre isso e perder a pessoa para quem eu pouco representava, preferia prescindir dela. Sentimento semelhante, é aquele que diz que os pais amam os filhos igualmente. Não é verdade. As manifestações de amor podem ser semelhantes, mas a intensidade delas pode ser diferente. Eu não amo das mesma forma um filho que me maltrate e um filho que me encha de ternura. Nem seria justo dar o "mesmo" amor a pessoas que são diferentes. O que se pode pedir aos pais, é que tentem amar os filhos como eles precisam de ser amados, de modo a que possam sentir-se seguros desse amor que lhes é tão necessário.

Amei profundamente os meus pais, mas amei-os de forma diferente. Amei e amo profundamente os filhos que tive. Mas amei-os como entendi que eles precisavam de ser amados. E, creio não me ter enganado, porque o amor que recebi deles também tomou formas diferentes. O mesmo se passa com os netos. E aqui o sentimento de reciprocidade é, pelo menos para mim, muito importante, porque eles têm várias avós com comportamentos naturalmente diversos. E eu quero ser amada como os amo a eles. Seria tremendamente injusto, a meu ver, que tendo netos diferentes, lhes desse afeto idêntico.

A maioria das pessoa não pensa assim, porque este não é o pensamento politicamente correto. Mas sem terem consciência disso vivem com alguma amargura a sua vida, ao sentirem que não são correspondidas. Não deveriam faze-lo, porque amor com amor se paga e, quem não cultiva os seus amores, pouco pode esperar deles!

HSC


segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Memórias

Como reagir quando, passados trinta anos, uma pessoa que nos magoou muito, nos quer pedir perdão? Pedir perdão não é a mesma coisa do que pedir desculpa. De facto, pode perdoar-se algo, continuando a considerar que o gesto que se perdoa se mantém indesculpável.  

Aconteceu recentemente comigo e, a minha primeira reação, foi nem sequer admitir falar sobre o assunto. Mas perante a insistência, pensei com a cabeça e não com o coração. Este não desejava ser importunado, com algo que o tinha magoado.. A razão entendia que se alguém se queria redimir de alguma coisa, eu deveria permitir essa possibilidade e escutar o que importava que me fosse dito. Demorei meses a tomar a decisão racional, tentando não esquecer o que, na época dos acontecimentos, também tinham sido atitudes de grande estima.

Este domingo, por razões várias, veio-me à mente, a luta interna que tive de travar para aceder ao tal pedido de perdão e a sensação com que fiquei depois de o conceder. Por formação, o perdão é algo que faz parte dos valores em que acredito. Se assim não fosse, não poderia ser católica. Mas também é verdade que, não sendo santa, há traições que me custam a deglutir. Prefiro pensar que a pessoa não existe e não me deixar dominar por sentimentos negativos.

Pois bem, só ontem, domingo, é que tive a consciência plena do perdão que havia concedido há um ano. Mas senti-me tremendamente aliviada. O detonador continuava a existir, mas já não tinha qualquer força. Não retomei a relação no ponto em que a cortei. Não seria possível, nem eu o desejava. Mas deixou de me incomodar que tivesse acontecido e permitiu que eu pudesse relembrar os momentos de alegria que também então vivi!

HSC

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Helena Barradas


Conhecemo-nos no Liceu D. Felipa de Lencastre. Perdemo-nos uns anos, quando ela casou. Reencontramo-nos quando ela se divorciou e vivemos tempos inesquecíveis, sempre em bando com os nossos filhos. Perdemo-nos, de novo, quando ela foi trabalhar para o Brasil. Mas aqui eu fui lá matar as muitas saudades que tinha. 

No Brasil havia de encontrar o amor que, por tanto a amar, veio para Portugal viver e casar com ela. Era um casamento sereno e o marido era das pessoas mais afetuosas que conheci. Nesse retorno, lá nos encontrámos de novo e a sua casa em Cascais era como se fosse minha.

Ela teve três filhos, qualquer deles cheios de qualidades. Havia de perder um deles como eu perdi o Miguel. Anos mais tarde morreria o marido. Não nos víamos há bastante tempo, porque apesar de Cascais não ser longe, a escrita e as circunstâncias da minha vida nessa época, eram bastante complicadas.

Há dias, o correio trouxe-me uma encomenda. Abri. Era um livro da Helena Barradas com uma dedicatória que evocava a nossa perene amizade. O título GUIADA PELAS ESTRELAS, resume muito do que foi s vida desta mulher que venceu adversidades de monta, foi uma excelente mãe e também uma ótima filha.

Seria difícil apontar um defeito a esta lutadora que, no fim da sua vida e depois de se inscrever num Curso de Escrita Criativa, resolve editar um romance. Vou lê-lo, com a certeza de que lhe não faltará tudo o que fez da sua vida uma experiência única. Mas queria sobretudo apresentar-vos uma Mulher que a vida não vergou e que nunca baixou os braços.

Nem todos os seus sonhos se terão realizado. Mas nem a esses, ela, alguma vez, fugiu! 

Um abraço daqueles fortes que sempre demos, minha querida Helena

HSC

PS O livro encontra-se à venda na Livraria Ferin. 

domingo, 1 de agosto de 2021

A força da vontade

Já aqui contei que, no período da pandemia, sofri três intervenções cirúrgicas. Duas ao coração e uma á mão direita que, de tanto escrever, resolveu rebelar-se e deixar o canal cárpico em estilhaços. Só quem já passou por este problema pode avaliar as dores terríveis que provoca.

Esta situação, ligada ao risco Covid19, levou a que tudo o que antes me mantinha em ordem, fosse à vida e eu tivesse engordado cerca de 10Kg. O Natal fora o ponto de partida, com as malvadas doçarias de toda a espécie, que comi, e o resto era a compensação para tudo o que eu gostava e, não podia fazer.

Até que há três meses olhei para mim e não me reconheci. Não sou uma pessoa para pactuar com aquilo de que não gosto e, aquela visão, deu-me a noção de como, sem dar por isso, eu deixara de gostar de mim. Foi nesse preciso momento, há três meses, que decidi que "tinha mesmo" de voltar ao meu peso antigo. De voltar a ser eu.

Não se tratava , com esta idade, de um concurso de beleza. Mas, sempre fui uma pessoa que gostava de se arranjar, e as obrigações sociais da minha vida profissional, também muito contribuíram para isso. Cada idade tem a sua beleza, o seu interesse, o seu encanto e eu não estava disposta a abdicar do que tivesse. Penso que a minha cabeça valeu sempre mais do que a minha beleza, mas isso não era determinante de eu abandonar qualquer delas.

 Foi, confesso uma luta draconiana, mas hoje celebro o resultado dessa força de vontade com que Deus me dotou, oferecendo-Lhe os 10Kg que perdi. Voltei a ser a Helena que era e aprendi que, se quiser continuar a sê-lo, não poderei mais fazer, o que durante o ultimo ano fiz. E aprendi também a ser feliz com esta pequena limitação. Se um dia faço asneira, no outro compenso, com a frugalidade necessária.

É, de facto, verdade que querer é poder. Mas para querer, a força de vontade é a arma indispensável!

HSC