No ano de 2147, sonhar tornou-se um luxo — e, como todo luxo,
passou a ser tributado. O governo, sempre vigilante, descobriu que os sonhos
continham valor. Valor emocional, valor criativo, valor de fuga. E tudo que tem
valor, cedo ou tarde, entra na malha fiscal.
Tudo começou com os “Captores de Sonhos”, dispositivos
obrigatórios implantados nas têmporas dos cidadãos ao nascer. Eles gravam cada
imagem onírica, cada símbolo bizarro, cada desejo inconsciente. Ao acordar, os
dados são enviados automaticamente ao Ministério da Realidade, onde analistas
avaliam o conteúdo com base em critérios como intensidade emocional,
originalidade e risco subversivo.
Um sonho feliz com voos sobre florestas? Taxa moderada. Um
pesadelo de rebelião contra autoridades? Taxa máxima. Sonhar com uma vida
melhor do que a real? Multa adicional por “evasão da realidade”.
As pessoas começaram a se policiar até nos sonhos. Cursos de
“Controle Onírico Consciente” surgiram para ajudar cidadãos a sonhar apenas com
coisas simples e tributariamente leves: campos vazios, salas brancas, números.
A elite, como sempre, driblava o sistema — pagando caros por “consultores de
sonho” que manipulavam seus dispositivos para mascarar devaneios luxuosos como
sonhos neutros.
Ainda assim, existiam os rebeldes. Chamavam-se Sonhadores
Livres. Dormiam em áreas de sombra digital, longe do alcance dos satélites.
Seus sonhos não eram gravados, nem taxados. Dizem que nesses sonhos
clandestinos, o mundo era colorido, cheio de esperança e revolução.
Afinal, num mundo onde até os pensamentos noturnos têm preço,
sonhar tornou-se o mais radical de todos os atos.
MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE
Já no top de vendas das livrarias.
1 comentário:
Por favor não dê ideias.
A ficção passa a realidade num ápice.
Tenha uma excelente semana
Enviar um comentário