sexta-feira, 13 de junho de 2025

Uma peregrinação interior

Não houve mapa.
Nem bússola.
Apenas um cansaço antigo,
desses que não se cura com sono.
Era um peso sem nome,
um vazio que morava atrás do riso.

E um dia, sem anúncio nem despedida,
comecei a caminhar para dentro.
Não sei dizer se fui por vontade, ou por falta de escolha.
Só sei que fui.
Fechei os olhos e fui.

Lá dentro, encontrei paisagens que ninguém vê,
ruínas de promessas, jardins de lembranças,
estradas feitas de perguntas que nunca fiz em voz alta.
Encontrei também vozes antigas — algumas minhas, outras herdadas
que diziam quem eu deveria ser,
mas que já não me serviam como antes.

Havia silêncio.
Mas era um silêncio que falava.
E eu escutei.
Escutei o que sempre esteve ali, abafado pelo barulho do mundo.
Escutei o meu medo com atenção de mãe,
minha raiva com o cuidado de um jardineiro,
meus sonhos com a ternura de quem reencontra um velho amigo.

Chorei. Sorri. Perdoei-me.
Caminhei por memórias que ainda doíam,
e outras que brilhavam feitas farol em noite escura.

Nessa peregrinação, descobri que não era preciso chegar a lugar nenhum. Era só uma questão de estar. De ser. De me encontrar nas partes que eu mesma havia deixado para trás.

E quando voltei,
ou talvez nem tenha voltado,
porque nunca mais fui a mesma,
trouxe comigo algo que não tem nome,
mas que cabe inteiro no peito.

Talvez paz.
Talvez inteireza.
Talvez só um leve entendimento de mim.

 

2 comentários:

Anónimo disse...

🌻

Pedro Coimbra disse...

Uma viagem que para muitos pode ser um absoluto horror.