terça-feira, 3 de junho de 2025

O Mito da Meritocracia em Tempos de Desigualdade Estrutural

A ideia de meritocracia, segundo a qual o sucesso de um indivíduo depende exclusivamente de seu esforço, talento e dedicação, tem sido amplamente difundida como um ideal justo e democrático. No entanto, em sociedades marcadas por profundas desigualdades estruturais, essa conceção revela-se mais um mito do que uma realidade.

Historicamente, fatores como classe social, cor da pele, género, origem geográfica e acesso à educação de qualidade, têm moldado as oportunidades disponíveis para diferentes grupos. Enquanto alguns indivíduos nascem em contextos que lhes oferecem suporte, estabilidade e redes de contato, outros enfrentam obstáculos sistémicos desde o início da vida. Dizer que todos partem do mesmo ponto é ignorar as barreiras invisíveis que limitam o progresso de milhões de pessoas.

No Brasil, por exemplo, a desigualdade social é notória e expressa-se em indicadores como acesso à saúde, saneamento, habitação e educação. Crianças de comunidades periféricas, muitas vezes frequentam escolas precárias, com falta de professores, material didático e infraestrutura básica. Ainda assim, são avaliadas com o mesmo critério de quem teve acesso ao ensino privado de qualidade. Isso não é meritocracia, é uma corrida desigual.

A meritocracia também desconsidera o peso do racismo estrutural e da desigualdade de género, que afetam diretamente as chances de ascensão social de mulheres, pessoas com cor de pele diferente ou vida sexual distinta. Quando esses fatores são ignorados, o discurso meritocrático acaba culpabilizando o indivíduo pela sua condição social, em vez de reconhecer as limitações impostas por um sistema excludente.

A solução não está em negar o valor do esforço pessoal, mas em compreender que o mérito só pode ser avaliado de forma justa, quando há igualdade de condições. Para isso, é necessário adotar políticas públicas que promovam equidade, como ações afirmativas, investimentos em educação e combate à pobreza. Só assim será possível transformar o ideal meritocrático numa prática realmente justa.

MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE

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1 comentário:

Pedro Coimbra disse...

Um ideal, uma utopia.
Infelizmente é só isso.