A ideia de meritocracia, segundo a
qual o sucesso de um indivíduo depende exclusivamente de seu esforço, talento e
dedicação, tem sido amplamente difundida como um ideal justo e democrático. No
entanto, em sociedades marcadas por profundas desigualdades estruturais, essa
conceção revela-se mais um mito do que uma realidade.
Historicamente, fatores como classe
social, cor da pele, género, origem geográfica e acesso à educação de qualidade,
têm moldado as oportunidades disponíveis para diferentes grupos. Enquanto
alguns indivíduos nascem em contextos que lhes oferecem suporte, estabilidade e
redes de contato, outros enfrentam obstáculos sistémicos desde o início da
vida. Dizer que todos partem do mesmo ponto é ignorar as barreiras invisíveis
que limitam o progresso de milhões de pessoas.
No Brasil, por exemplo, a
desigualdade social é notória e expressa-se em indicadores como acesso à saúde,
saneamento, habitação e educação. Crianças de comunidades periféricas, muitas
vezes frequentam escolas precárias, com falta de professores, material didático
e infraestrutura básica. Ainda assim, são avaliadas com o mesmo critério de
quem teve acesso ao ensino privado de qualidade. Isso não é meritocracia, é uma
corrida desigual.
A meritocracia também desconsidera o
peso do racismo estrutural e da desigualdade de género, que afetam diretamente
as chances de ascensão social de mulheres, pessoas com cor de pele diferente ou
vida sexual distinta. Quando esses fatores são ignorados, o discurso
meritocrático acaba culpabilizando o indivíduo pela sua condição social, em vez
de reconhecer as limitações impostas por um sistema excludente.
A solução não está em negar o valor
do esforço pessoal, mas em compreender que o mérito só pode ser avaliado de
forma justa, quando há igualdade de condições. Para isso, é necessário adotar
políticas públicas que promovam equidade, como ações afirmativas, investimentos
em educação e combate à pobreza. Só assim será possível transformar o ideal
meritocrático numa prática realmente justa.
MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE
Já no top de vendas das
livrarias.
Um ideal, uma utopia.
ResponderEliminarInfelizmente é só isso.