Há qualquer coisa de profundamente humano, naquilo que não
está certo, nem simétrico, nem concluído. Talvez porque nós, também, não
estamos.
A beleza do que é imperfeito está nos sorrisos sem jeito, nas
palavras que faltaram dizer, nos silêncios que ficaram no meio de uma frase. Está
nas cicatrizes - não as escondidas, mas as que já não nos envergonham. Está na
chávena lascada que ainda usamos, porque era da avó, no casaco velho que já não
aquece, mas ainda abraça.
A perfeição é fria. Não tem história. A imperfeição, essa,
guarda tudo: as quedas, os risos nervosos, os erros de cálculo e os gestos
impulsivos. É no improviso que nasce a ternura. É na falha que se vê quem fica.
O mundo tenta afiar-nos, polir-nos, tornar-nos impecáveis. Mas
eu prefiro os que tropeçam, os que hesitam antes de falar, os que choram com
vergonha e depois riem como se o mundo fosse novo. Prefiro as pessoas que
admitem não saber, as que pedem desculpa devagar, as que amam mal, mas amam
muito.
Há beleza num banco partido de jardim onde alguém escreveu
"volto já". Há beleza num amor que não chegou a ser, mas ainda mora
num olhar.
A beleza do que é imperfeito não se explica, sente-se. Como
um piano desafinado que, mesmo assim, nos toca certo, o coração.
MÃOS PEQUENAS, CORAÇÃO GRANDE
Já no top de vendas das livrarias.
2 comentários:
Ia lendo e ia pensando nas bonecas humanas que vemos todos os dias.
Quem é que pode achar aquilo bonito??
Menina Leninha
Eureka!
Que perfeição de descrição da imperfeição!
Zé Zinho
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