domingo, 27 de outubro de 2024

Porque deixamos de amar

Deixar de amar é um processo íntimo e complexo onde, muitas vezes, o fim do amor não chega como uma rutura brusca, mas como um desgaste silencioso, uma coleção de pequenos esquecimentos e silêncios acumulados. É como se o sentimento, antes vivo e vibrante, se fosse retraindo para um canto mais profundo, um lugar que não alcançamos ou decidimos ignorar.

Amamos alguém, no começo, pela forma como nos vemos refletidos naquela relação – a maneira como aquela pessoa nos faz sentir vivos, únicos, compreendidos. Mas, à medida que o tempo passa, as mudanças internas, pessoais e muitas vezes invisíveis ao outro, começam a moldar o nosso sentimento dessa ligação. Passamos a olhar com mais atenção para as lacunas, para o que antes aceitávamos ou não enxergávamos. E assim, o amor pode começar a ceder espaço a uma frustração sutil, a uma quietude incómoda.

O amor alimenta-se de pequenas escolhas diárias, de vulnerabilidades que se renovam, de uma curiosidade pelo outro que não se esgota. Quando a rotina, o silêncio, ou as dores mal resolvidas se tornam maiores do que o espaço que damos à curiosidade e ao carinho, o amor se retrai. Não por uma decisão consciente, mas pelo cúmulo de desencontros, pela falta de cuidado na escuta, ou pela dificuldade de partilhar aquilo que nos inquieta.

Às vezes, deixamos de amar quando já não nos reconhecemos ao lado daquela pessoa ou quando as versões que construímos para nós mesmos já não encontram repouso naquele abraço. E, outras vezes, o amor acaba porque falta coragem para reinventá-lo, para fazer perguntas difíceis ou para ver no outro mais do que apenas a projeção dos nossos próprios desejos e medos.

O fim do amor é um luto silencioso. Porque mesmo sem brigas, sem grandes eventos que marquem o seu fim, ele deixa um vazio, uma saudade do que foi e do que poderia ter sido. Entender por que deixamos de amar é, na verdade, uma forma de entender por que deixamos de cuidar do vínculo, de priorizar o toque e a palavra, de alimentar o olhar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Quando o amor é vivido na simplicidade não morre.
Com os anos transforma se num amor paciente.

Fátima