segunda-feira, 7 de outubro de 2024

UM CONTO REAL

Imagine um casal que, após uns anos de casamento, decide divorciar-se. A separação foi dolorosa, mas inevitável devido a problemas que pareciam insuperáveis na época: discussões constantes, diferenças de personalidade, talvez até o desgaste natural do tempo, que deu origem ao aparecimento de uma nova mulher. No entanto, mesmo com o divórcio assinado e cada um seguindo a sua vida, algo profundo e inegável, permaneceu entre eles.

Encontravam-se esporadicamente, em encontros casuais que inicialmente pareciam inocentes. Talvez fosse um café rápido para falar sobre a profissão comum, um encontro por acaso num lugar que costumavam frequentar juntos, ou uma mensagem enviada sem pensar muito. Mas cada encontro reacendia uma chama, que nunca se apagou por completo.

Nos momentos em que estão juntos, há um silêncio que fala mais do que as palavras. O toque das suas mãos ainda é familiar, o cheiro um do outro traz memórias vívidas, e os olhares carregam uma mistura de saudade, carinho e tristeza. Eles são amantes que conhecem cada detalhe um do outro, que já dividiram uma vida e que, apesar de tudo, ainda se desejam de uma maneira que não conseguem explicar.

Esses encontros não são apenas físicos. Eles compartilham confidências, desabafam as frustrações da vida pós-divórcio, e se apoiam numa intimidade que só eles entendem. Há ali um conforto que é difícil encontrar noutro lugar, uma espécie de porto seguro que, embora instável e cheio de contradições, ainda oferece abrigo.

Por mais que tentem seguir em frente, algo os puxa de volta um para o outro. Não é apenas desejo, mas uma conexão profunda, que nunca foi realmente quebrada. Eles são divorciados, mas também são amantes – de um amor que, mesmo cheio de falhas e cicatrizes, se recusa a morrer.

Este relacionamento é um segredo, não apenas para os outros, mas até mesmo para eles próprios. Não há rótulos, promessas ou planos para o futuro – apenas momentos roubados, onde por alguns instantes, eles se permitem ser o que sempre foram, mesmo que isso não faça mais sentido para o mundo à sua volta.

1 comentário:

Pedro Coimbra disse...

O mundo à volta que fique lá fora.
Vou amanhã para Portugal.
Os meus pais e irmã precisam de mim.
Fique bem.