Anos depois, olhamo-nos com uma mistura de estranheza e de
familiaridade. Enxergamos a versão de nós mesmos que existia num tempo
distante, quase como se fôssemos duas pessoas diferentes. Aquelas escolhas, os
medos e as certezas que pareciam tão inabaláveis, agora parecem quase ingénuos
ou desnecessários. O que, um dia, foi essencial, talvez tenha perdido peso, e o
que parecia insignificante, agora carregue um valor profundo.
Vemos os sonhos que tivemos — alguns realizados, outros
deixados pelo caminho — e perguntamo-nos como nos deixámos ser moldados pelas
circunstâncias, pelas mudanças, pelas surpresas da vida. Aquela nossa versão antiga,
cheia de vontades e esperanças, ainda vive em algum lugar dentro de nós, mesmo
que um pouco desgastada pelo tempo.
Com o passar dos anos, aprendemos a olhar para nós mesmos com
mais compaixão. O que antes era motivo de arrependimento ou crítica, agora pode
ser visto com uma certa dose de compreensão. A pessoa que éramos fez o melhor
que podia, com o que sabia e com o que tinha. E hoje, enquanto olhamos para
trás, entendemos que não chegámos aqui, apesar do que éramos, mas por causa
disso.
Há uma certa doçura em perceber que a jornada nos moldou de formas que nem imaginávamos. E, embora o reflexo de quem fomos, não seja mais o mesmo no espelho, ele ainda nos pertence. É uma lembrança viva de tudo o que vivemos, amámos, perdemos e aprendemos.
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