sábado, 26 de outubro de 2024

O CORAÇÃO FINGE?

Sim, o coração finge, ou ao menos. a mente o faz. Esse é um tema fascinante abordado por poetas, filósofos e psicólogos. Fernando Pessoa, no seu poema “Autopsicografia”, explora-o, ao dizer que “O poeta é um fingidor / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente”. Ele sugere que o poeta (e, num sentido mais amplo, todos nós) tende a fingir sentimentos, até ao ponto de nos convencermos de emoções que talvez nem estejam lá.

No campo da psicologia, o "fingimento" emocional é, muitas vezes, associado à capacidade de adaptação. A mente cria defesas e ilusões, em parte para nos proteger. Em certos momentos, esse fingimento não é uma mentira intencional, mas sim, uma tentativa de lidar com realidades complexas, sejam elas dolorosas ou incertas. Um bom exemplo é o autoengano, no qual criamos uma versão mais suportável de nossas experiências ou sentimentos para evitar desconfortos maiores.

E há, também, o lado social desse fingimento, quando demonstramos emoções que achamos ser esperadas de nós – sorrindo quando estamos tristes, ou mostrando tranquilidade quando estamos ansiosos. Muitas vezes, ao fingir emoções, acabamos “acreditando” nelas, o que sugere que o fingimento emocional também molda a nossa perceção do que estamos realmente sentindo.

O coração finge, mas talvez não por maldade. Esse fingimento pode ser uma maneira de sobreviver, de encontrar significados e de, paradoxalmente, ser fiel à própria natureza humana.

Sem comentários: