Sim, o coração finge, ou ao menos.
a mente o faz. Esse é um tema fascinante abordado por poetas, filósofos e
psicólogos. Fernando Pessoa, no seu poema “Autopsicografia”, explora-o, ao
dizer que “O poeta é um fingidor / Finge tão completamente / Que chega a
fingir que é dor / A dor que deveras sente”. Ele sugere que o poeta (e, num
sentido mais amplo, todos nós) tende a fingir sentimentos, até ao ponto de nos
convencermos de emoções que talvez nem estejam lá.
No campo da psicologia, o
"fingimento" emocional é, muitas vezes, associado à capacidade de
adaptação. A mente cria defesas e ilusões, em parte para nos proteger. Em
certos momentos, esse fingimento não é uma mentira intencional, mas sim, uma
tentativa de lidar com realidades complexas, sejam elas dolorosas ou incertas.
Um bom exemplo é o autoengano, no qual criamos uma versão mais suportável de
nossas experiências ou sentimentos para evitar desconfortos maiores.
E há, também, o lado social desse
fingimento, quando demonstramos emoções que achamos ser esperadas de nós –
sorrindo quando estamos tristes, ou mostrando tranquilidade quando estamos
ansiosos. Muitas vezes, ao fingir emoções, acabamos “acreditando” nelas, o que
sugere que o fingimento emocional também molda a nossa perceção do que estamos
realmente sentindo.
O coração finge, mas talvez não por maldade. Esse fingimento pode ser uma maneira de sobreviver, de encontrar significados e de, paradoxalmente, ser fiel à própria natureza humana.
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