Fui ontem ver a Favorita do jovem e auspicioso
cineasta grego Yorgos Lanthimos, que começa a ser um dos autores mais
relevantes dos tempos atuais, devido à consistência dos seus quase dez anos de
trabalho, em que se destacam a obra grega Dente Canino, e os primeiros projetos
na língua inglesa, como O Lagosta, ou O Sacrifício do Cervo Sagrado, longa
metragem que adaptou a tragédia grega de Ifigénia em Áulide do dramaturgo
Eurípides.
Assim, era grande a minha expectativa deste
seu novo filme, estrelado pelo trio de atrizes Olivia
Colman, Emma Stone e Rachel Weisz.
Nesta película o realizador leva-nos para
a Inglaterra do século XVIII, onde Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough,
governa o país como confidente e conselheira da frágil Rainha Anne.
Mas em plena guerra com a França, vai chegar
à corte Abigail Masham, nova e ambiciosa serva que, aos poucos se irá aproximar
da monarca. Esta nova amizade entre ambas provoca a ira da duquesa. A partir
daí, começa uma batalha entre as duas pela posição de favorita da rainha.
São muitos os factores que impressionam na Favorita, em particular o elevado lobby desenvolvido para a grande temporada de prémios que se iniciou ainda no final
de 2018 e inclui a cerimónia da Academia, no começo deste ano. Não poderia,
aliás, ser diferente, porque quer os aspectos técnicos - desde a fotografia e edição, à produção de arte ostensiva, com vistosos figurinos e maquilagens exageradas,
típicas da época -, quer o enredo, o impunham, dado que se trata de uma história de espaço e sobretudo de poder que é transmitida através das suas actrizes.
A câmara de Ryan movimenta-se usando a curiosa e cirúrgica lente "fisheye", sobretudo quando precisa apresentar
a sumptuosidade do palácio real. Esta lente foi uma escolha curiosa já que, ao focar o caminhar das personagens pelos inúmeros corredores do palácio, cria uma
sensação ilusória de longitude destes espaços, dando a impressão que não
possuem fim, salientando deste modo a sua
grandiosidade.
A Favorita surge dividida em capítulos, cada um com título específico. Até ao terceiro capítulo, a narrativa parece um pouco desajeitada, sem impulso e movimento. Mas, quando se chega ao quarto episódio, o fio narrativo explode e
encontra o seu eixo, atingindo um patamar que os anteriores não tinham.
Por fim, vale a pena salientar o triângulo
- mais odioso do que amoroso - composto pelas três atrizes de Hollywood, que têm uma
notável interpretação, já que é na interação entre elas, que o filme se vai desenvolver, revelando as perversas personalidades de cada uma.
Rachel Weiss, logo no inicio, é quem causa impressão mais forte pelo seu cinismo e ironia. É também a personagem que oferece mais capacidade de algum riso neste trágico drama real.
Emma Stone, interpreta alguém que, vindo da servidão, passa por várias transformações e consegue, no final, posicionar-se numa
situação completamente oposta àquela em que havia chegado.
Olivia Colman – como, aliás, o roteiro -
irá crescer de forma surpreendente, à medida que os capítulos avançam. E, nos últimos, o seu brilho consegue, em alguns momentos, ofuscar o das suas colegas.
Foi, para
mim, confesso, difícil sair do cinema sem saber exactamente porque
tinha
gostado do filme. E mais difícil ainda, definir o que nele me havia desagradado.
Mas, trata-se, sem duvida, de uma obra a não perder!
HSC
4 comentários:
Para ver quando tiver oportunidade.
Estou curioso porque não sei exactamente o que esperar.
Boa semana.
PERCEBO PERFEITAMENTE O QUE DIZ. SAÍ DO FILME COM UMA SENSAÇÃO SEMELHANTE À SUA.
Eu saí do filme confusa e o final (não entendi).
Mas tem interpretações fantásticas e tudo aquilo
acontecia na monarquia?!!! Pois é.
Os meus cumprimentos.
Irene Alves
Que chachada de filme
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