quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Da memória

Por norma liga-se a memória ao passado. Eu costumo dizer que não sou passadista, mas nunca afirmei que não tinha memória. Porque a tenho é que me parece útil fazer certas distinções.
O passado interessa enquanto caminho percorrido num determinado sentido. Mas não dita nem limita o presente. Na maior parte dos casos traz-nos lições que podem ser úteis. Noutros, menos frequentes, condiciona-nos. Mas, quando isso acontece, é porque algo ficou, de facto, mal resolvido.
A memória é um meio pelo qual cada um de nós permite que o passado permaneça presente. Por isso ela pode ser, ou não, útil. Se colhemos através dela ensinamentos a sua utilidade está à vista. Se, ao contrário, nos espartilha, nos limita, nos atormenta, então, arriscaria dizer que o seu papel só pode ser nocivo.
Todos temos boas e más memórias. De quê? De um tempo que já passou. Ora, se à partida já estamos a classifica-las - em boas e más -, isso quer dizer que sabemos bem o que elas representam na nossa vida. E, se assim é, seria levada a dizer que as más só servem para as esquecermos.
Mas a situação é mais complexa, porque "a memória" não é o mesmo que "as memórias". E é aqui que está o cerne da questão. A memória está inscrita no nosso ADN. As memórias foram sendo escritas ao longo da nossa vida. 
O homem precisa de ter memória. Os povos também. Todos precisamos que ela não se apague para que a identidade de uns e de outros esteja garantida e ninguém possa reescreve-la. Já as memórias, sobretudo as más memórias, só servem para amargurar o presente e condicionar o futuro. Logo, o melhor é devolve-las ao local de onde nunca deviam ter saído...

HSC

5 comentários:

Anónimo disse...

Hand on hand
http://youtu.be/GVwJNg4Wgq4

A

Anónimo disse...

Acredito que as más memórias não podem ser devolvidas ao passado, nem apagadas. O nosso cérebro não é como um computador, que possamos apagar todos os programas que não interessam. No entanto, acho que podem ser reinventadas, de modo a não causarem estragos no presente e deixarem a vida fluir sem amarguras!

Um bom dia para si

Anónimo disse...


Bom dia Helena!
Bebi, cada palavra deste texto magnífico!!
Escrito com sabedoria, com a experiência de uma vida repleta de alto e baixos.
Vejo, que tem uma compreensão muito clara de tudo.
Infelizmente, ainda não cheguei a esse grau de espiritualidade, como gostava de já o ter...

...seria levada a dizer que as más só servem para as esquecermos.

O pior que há em mim, é que não as consigo esquecer, não as consigo limpar.
Já compreendi algumas e esqueci, outras pairam na minha memória, flutuam como ondas...
Ontem, li uma frase que faz todo o sentido, existem pessoas com uma sabedoria divina. As suas palavras tocam-nos, o mais difícil é conseguir interiorizá-las, levá-las a bom porto.

Numca arruines o teu presente, por um passado que não tem futuro.
Dalai Lama

Carla

Helena Sacadura Cabral disse...

Coisas que me tocam
Não falei em apagar. Apenas em remete-las para donde devem ficar, ou seja o que em análise chamamos de "arquivo morto".
As memórias estão lá, mas não passam para o "arquivo vivo" se as não formos buscar ou o inconsciente as trouxer. Neste caso, trata-se de as "devolver" - e há técnicas para o efeito - ao local de origem.

Anónimo disse...


Helena,
gostei da explicação!

Carla