“...Viuvez de homem
parece mais difícil de suportar que a de mulher. Não que a mulher não sofra
igualmente; a diferença é que elas
"se adaptam" melhor, digamos assim. A mulher tem intimidade mais
visceral com a vida e com a morte. Elas não só dão
a vida; estarão sempre mais próximas dos doentes, darão a mão aos moribundos e,
nos velórios, estarão mais junto ao
morto. Os homens são mais desajeitados numa trajectória que vai do ato de
carregar um bebé ao de aproximar-se do
caixão de um defunto. Acresce que, até pela evidência estatística de que é mais
frequente os maridos morrerem
primeiro, as mulheres como que estão mais "preparadas" para a nova
situação. "
"...O almoço solitário, em
casa, o travesseiro vazio ao lado, ao despertar, a falta da companheira no
sofá, diante da televisão, compõem um
cenário que não parece real, não pode ser verdade...”
Roberto de Pompeu Toledo
O brilho do bronze in Revista Veja de 10/12/14
Pompeu Toledo escreve um belíssimo texto na sua coluna na revista brasileira Veja, a propósito de um livro recentemente saído que aborda o tema. O excerto que reproduzo acima, retrata uma realidade sobre a qual nunca me tinha debruçado com particular atenção, mas que me parece bastante autêntica. De facto, o viúvo está, por norma, menos bem preparado para o desaparecimento da companheira do que esta para a perda do marido.
Acredito que os solteirões empedernidos olhem para estas linhas e não as compreendam já que sempre viveram sozinhos. Mas para todos aqueles que partilharam a sua vida, durante anos, com alguém, elas soam com uma terrível ameaça.
HSC
HSC
18 comentários:
Se encararmos os novos modelos de casamento, que em nada se parecem com os antigos, temos de chegar à conclusão de que há poucos viúvos....bastante divorciados. Concordo que é mais fácil para uma mulher viver e envelhecer sozinha. Um homem procurará mais naturalmente uma companhia, nem que seja só para não estar só.
Mas os tempos mudaram e há cada vez mais divorciados que são auto-suficientes e vivem como solteiros, tratam das suas coisas e não sofrem tanto a ausência de uma companheira de vida.
Os filhos e netos também podem preencher o vazio se forem solidários com os pais.
Se estivermos atentos ao que nos rodeia, raros, muito raros são os homens viúvos que não refaçam as suas vidas pelo tudo que é aqui espelhado, por ser tão real e jamais as considero palavras criticas e ou ameaçadoras.
Não tenho essa experiência, Helena. Já me debrucei muitas vezes sobre o assunto, e cada vez mais considero que há imensos factores implicados. Já encontrei viúvas terrivelmente debilitadas, e viúvos também. Já assisti a mortes por amor, logo após a do companheiro, de ambos os lados do género. Já encontrei viúvos que "vivem" no trajecto do cemitério e viúvas que rezam dia e noite pela alma do falecido. Em termos práticos, de sobrevivência, a mulher estará, eventualmente, mais bem preparada. Talvez daí advenha alguma pequena facilidade para o quotidiano. Mas temo que seja pequena, mesmo...
No caso de um actual viúvo idoso, a minha inclinação é para concordar com a Helena. Em geral, as mulheres tendem a ser emocionalmente mais fortes, são por norma os pilares da família; contornam as situações com uma força interior que lhes vem da necessidade de sobrevivência e da responsabilidade que a natureza materna lhes confere.
O meu pai, viúvo há um ano, inconsolável, depois de 57 anos de vida em comum, assume a doce missão de ajudar a minha irmã e dois netos de pai ausente. A melhor forma que arranja de perpetuar o amor e a memória da minha mãe. Confesso que me surpreende todos os dias...
A vida é mesmo uma aprendizagem constante.
Beijinho :)
Bom dia Helena!
A morte é certa, mas não ainda interiorizada por muitos, morrer alguém que amamos muito deixa-nos, sem chão. Vazios, o tempo é aliado nesse papel, ajuda-nos a suportar, viver com a dor.
Os viúvos, podem sentir a falta da mulher, mas depressa fazem o seu luto, passados 2/3 meses encontram outra companheira,já a viúva faz o seu luto mais longo.
Por uma questão de cultural não sei...
Penso que ambos deviam procurar o seu caminho para ser felizes, viver fiel a um amor perdido, é insano.
Carla
Deve ser. Mas garanto que conheço um viúvo que faz a diferença:) e deve haver mais.
Como diz um amigo meu nos brindes, "Às nossas mulheres, para que nunca fiquem viúvas".
Virgínia
A natureza da perda é diversa. A dos divorciados não é muito semelhante à de alguém de quem gostamos e a quem a vida ou um deus ou o que seja, interrompe o ciclo. A perda irreversível, que não é perda de um estado ou situação mas o desaparecimento físico definitivo, é única.
Mas está certa, há muita maneira de viver sózinho sem ser em solidão.
Olá, bom dia!
Tenho este tema como tabu, acho que todos aqueles que amo e eu, nunca vamos morrer. Tenho pânico desse assunto...Não sei como vou mudar isto... Tenho perdido algumas pessoas, mas não são "aquelas". Tenho muita sorte, ao mesmo tempo que o penso como azar: "tenho TUDO a perder, ainda", o que me dá uma enorme angústia. (talvez os 29 anos não ajudem, mas vejo, ou sinto, pessoas muito mais capazes do que eu, a encarar este tema). Um beijinho, Helena. Rita
fui divorciado e solitário empedernido durante algum tempo , o meu grande medo era morrer sózinho .
já não tenho medo , tenho mulher e filho que adoro
Diogo
As suas palavras dizem tudo. Sente-se amado e é isso que todos procuramos!
Uma perda destas é dolorosa e deixa um vazio muito grande. Mas uma das principais razões por que as mulheres encaram depois melhor a viuvez é porque mantêm as suas rotinas do quotidiano: lavar,cozinhar, arrumar, compras, etc, etc.
Um homem, não. Além da maioria não saber fazer muitas destas coisas, a falta delas aumenta a angústia, a dor e a solidão...
Dizia uma senhora minha amiga, quase analfabeta, que na aldeia dela os viúvos morriam rapidamente e as viúvas não. A explicação dela era muito engraçada «Eles aborrecem-se». E perguntava eu pelas mulheres e ela dizia «Filha, a gente tem sempre que fazer e, quando não temos, vamos limpar o que está limpo e coisas assim, estamos sempre entretidas»
Existe uma fase da nossa vida é que parece que tudo é perfeito!
Casamos, nascem os filhos os nossos pais estão felizes com os netos e nós no auge da construção da nossa vida com os filhos a crescer, etc.
Depois começam as perdas dos avós, dos pais dos sogros isto se tivermos a sorte de ser por esta ordem e a vida não nos pregar partidas.
Entretanto fica alguém viúvo, neste caso a minha mãe inconsolável, a fazer visitas quase diárias ao cemitério, a falar do meu pai em todas as conversas e lamentando quase que minuto a minuto a sua ausência, impondo a sua memória para que ninguém tenha a ousadia de o esquecer.
Do outro lado ficou o sogro sozinho que se afasta, procura apoio do lado da sua família (irmãos, cunhados) e passeia, porque a vida tem que continuar e não há nada mais a fazer.
Deste lado, ficamos nós os filhos de ambos, a tentar pacientemente dividir atenções e a fazer com que a nossa vida prossiga contornado as perdas.
É difícil muito difícil, acredito que para ambos os lados mas concordo que para a viúva é muito mais complicado!
Beijinhos
FL
Maria Isabel
O seu comentário aqueceu o meu coração e o abraço que me ofereceu soube-me muito bem!
E sim dou graças a deus pela bonita idade que tenho. Já não dá para grandes contratos, mas ainda dá para trabalhar e muito!
Senhora,que o seu "ciumento" nunca fique viúvo.
Ambrósio
FL
É de facto muito difícil. Tem toda a razão.
Ambrósio
Por mim e por ele!
Mas um dia irá acontecer a um de nós. E egoistamente espero bem ser eu a partir primeiro!
Querida Helena,
Partilho da sua opinião. Muitas das minhas amigas são viúvas e a maioria é realmente aguerrida. Abraçam projetos vários, ajudam a criar os netos, fazem bolos e salgados para fora, fazem voluntariado e praticam desporto. Falo também por mim que me incluo neste grupo. Sentimos muito a ausência da nossa cara-metade, cujo vazio não pode ser preenchido nem pela família mais adorável que tenhamos a sorte de ter. Mas sabemos dar a volta à questão, mantendo-nos ativas e conscientes do nosso papel.
Um beijinho muito grande para si
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