quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Ser e estar

A propósito do post " Aprender a ser só" convém clarificar um ponto. Na língua portuguesa é habitual ouvir-se "ser ou estar" como tendo significados idênticos. Nem sempre isso é verdadeiro.
Neste caso "ser só" é diferente de "estar só". O primeiro é estrutural e o segundo pode ser conjuntural. Explico-me.
A aprendizagem de ser só, a que referi no meu post, é uma questão que envolve toda a nossa existência, mesmo que estejamos acompanhados. A aprendizagem de estar só pode ser uma necessidade pontual - e também é útil - mas não diz respeito ao nosso ser, ao nosso complexo anímico. Refere-se, por norma, a uma situação exterior a nós e para a qual convém estar preparado. A outra, a de ser só, é uma busca para toda a vida, é uma forma de enriquecimento pessoal, um meio diria, até, de ascese pessoal.

HSC


5 comentários:

Isabel Mouzinho disse...

Não podia ser mais clara e acertada esta explicação, Helena!
Estamos sempre a aprender consigo, ou pelo menos põe-nos a pensar, o que é mais importante ainda - o verdadeiro sentido da pedagogia. :)

Beijinho

Anónimo disse...

Li o post anterior mas por desleixe acabei por não comentar.
De qualquer forma, identifico-me e revejo-me nas suas sábias palavras. Há uns meses atrás, quando decidi aventurar-me a uns milhares quilómetros de casa, tive de [re]aprender a "ser só", coisa que já não fazia desde os tempos de faculdade.
O "ser só" vs "estar só" tem muito, mas mesmo muito que se lhe diga. Já por diversas vezes fui acusado de ser egoísta por procurar "ser só". Descobri, mais tarde e na neblina dos dias que, as pessoas que me criticavam por procurar "ser só", tinha receio de "estar só", ou melhor, de "terminar só".

Virginia disse...

Vivi numa família de oito filhos ( fora os amigos e primos) e em que ser só implicava lutar pela minha opinião, liberdade, self-freedom e até ser irreverente, por vezes.
Estar só era impossível, só comecei a descobrir como era maravilhoso isolar-me na minha adolescência, numas férias em Sintra, onde percorri kms sozinha por aqueles penhascos e montes.

Consigo e amo estar só, sem conjuge. Mais: preciso de estar só para não me tornar uma daquelas mulheres sociais, que adoram os grupos, os almoços e jantares. Gosto de solidão, encho-me de música e de leitura e de pensamentos positivos.

A família habituou-se à minha maneira de ser bizarra!! Que remédio!!

TERESA PERALTA disse...

Esta é a verdadeira Pedagogia Emocional, que ajuda a construir, cientificamente, os nossos sentimentos.
Na verdade, aquilo que desejo é aprender a “ser só”....

Muito obrigada Helena, com um enorme abraço.

patricio branco disse...

interessantes problemas, ser só ou estar só, qual a diferença?
sendo ser um verbo existencial, ser só poderia significar uma condição, p ex não ter familia, ou amigos, ou estar isolado em algo.
estar é um verbo circunstancial, logo preferivel a meu ver para situações provisórias passageiras.

portanto, ele é um homem só versus ele é um homem que está só.

mas tudo isto é tambem tambem subjectivo e valido para o seu contrario e ser só pode ser circunstancial e estar só pode ser existencial.
um tema para pensar...