sábado, 5 de junho de 2010

Passear em Lisboa...

Confesso que, mesmo estando a tentar voltar à normalidade, a adaptação às novas circuntâncias da minha vida, não tem sido fácil. Mas, como dizia há dias, a uma amiga que me perguntava como eu estava, vou vivendo um dia de cada vez. Zangada com o meu Pai em muitas ocasiões, menos noutras. Mas as nossas relações andam tensas, confesso.
Viver uma fé, seja ela qual for, não é fácil. Viver sem ela também não. Assim, tento não me revoltar, pensando em todos aqueles que, nesta altura, passam momentos mais difíceis do que os meus... sem o privilégio que eu tenho, duma família - excelente - e duns amigos fora de série.
Por tudo isto, hoje resolvi caminhar. Dito de outro modo, passear. Olhando à minha volta uma cidade adormecida, quase deserta. Apesar da crise, os portugueses abalaram dos seus lares e fizeram esta ponte. Como irão fazer a outra, que se segue. E também os festejos dos santos populares. Com sardinhas e manjericos. Mais ou menos indiferentes a uma crise de que se fala, mas que até parece que não se sente.
Digo "parece". Porque esse é o milagre do cartão de crédito. E do endividamento. Não se sente na altura. E, quando se sente, na maioria dos casos... não se cumpre!
Penso no que foi o esforço do após guerra, que ainda conheci. No trabalho sem limite de horas. Nas férias que se não tinham. Na casa que se alugava. No carro que só os ricos possuíam. Nas crianças que nasciam. Nos benefícios sociais que não existiam.
Enfim, passeio e penso. Como é que vamos sair disto? Desta espiral infernal de endividamento desenfreado das famílias, que as está a estrangular sem que uma parte se aperceba disso. Será que passear é o que nos resta no futuro? A pé, claro!

HSC

3 comentários:

Gaivota Maria disse...

Passear no Porto
Hoje de manhã passeei no Porto. Milhares de turistas na Baixa de máquinas fotográficas assestadas sobre as casas que eu amo mas cuja maioria foi transformada em estabelecimentos essencialmente de origem espanhola. Poucos portugueses e as lojas vazias. Não fora o low-coast, ninguém andaria em S. Catarina. Esta ausência de clientes não é sinal de crise. É porque ainda ninguém a interiorizou e por isso aproveitando o feriado... foi tudo para fora.
Embora um pouquinho mais nova, sou material da guerra e lembro-me bem do racionamento. Um abraço de uma mãe como a Helena. Por isso ás vezes preciso de passear...

Maré alta disse...

De facto, apesar de todas as estatísticas anunciadas, de todos os economistas alertarem para o perigo em que Portugal se encontra, apesar de todos os alertas, nem que seja ver o euro a sair mais rapidamente das nossas carteiras, isto é, para quem o tem na carteira, é claro. Assiste-se a contradições.
Sou professora, estamos no funal do ano lectivo, onde os alunos ainda estão em período de avaliação e para alguns, um período de vida ou morte. No entanto, ainda ontem, tive alguns alunos que faltaram à ficha de avaliação. Qual a razão? Os papás, tinham feito umas mini férias e os meninos lá foram para as bendas do algarve, quem sabe a banhos.
Não obstante, ainda é o professor, que tem a fama de ter muitas férias.
Isto é que é uma crise!....
Bem-haja, Helena.

Blondewithaphd disse...

Não sei mesmo como se vai sair desta crise. Acho que nunca. Desde que aqui cheguei que só conheço deste país uma crise crónica. Depois li o que está para trás na memória portuguesa, os Eças, os ramalhos os Oliveiras Martins e confirmei que a crise talvez seja uma coisa endémica aqui. Agora, agora olho para o futuro, assisto de perto à crise educacional que aqui se vive e temo que não estejamos a preparar as gerações vindouras para combater a eterna crise. Acho que se perpetuará para que alguém, como eu, num futuro mais longínquo leia o que hoje escrevemos e veja que o Portugal do séc. XXI era o herdeiro genético do Portugal do séc. XX, do Portugal do séc. XIX e por aí fora.
Como se sai da crise? Acho mesmo que só com uma profunda revolução de valores, algo com mais impacto até do que a revolução de Abril. E sim, com educação, Educação com maiúscula.