quarta-feira, 23 de junho de 2010

Aprender custa!

"...Criou-se a ideia de que a aprendizagem não é dolorosa" queixava-se recentemente uma professora universitária. Nada mais errado. Nada mais indutor de uma certa forma de encarar a instrução. Nada mais responsável do estado a que o ensino chegou, sobretudo em disciplinas nucleares como são a Matemática ou o Português. Nada mais errado para o desenvolvimento das relações que devem existir entre professores e alunos.
O estado de ignorância dos discentes é tão surpreendente que, numa prova de aferição, realizada há algum tempo, numa turma de caloiros do Instituto Superior Técnico, destinada a testar o seu grau de dificuldades, à questão "quanto é um meio mais um meio", 27% errou a resposta...
Ora os alunos não se tornaram menos inteligentes. O que aconteceu e acontece, é que o grau de exigência hoje pedido - para atingir certos níveis estatísticos na educação -, veio tolerar uma degradação que anteriormente se não consentia.
E se a Matemática, por exemplo, parece não ser necessária para determinados cursos, ela é indispensável para treino do raciocínio. Tanto como o ensino da língua se justifica para quem vá para medicina ou engenharia e pretenda fazer-se entender.
Torna-se cada vez mais urgente que os alunos compreendam que estudar custa, pese embora o prazer que também possam tirar disso. A cultura da década de noventa instalou no espírito dos estudantes a ideia romântica de que a aprendizagem tem que dar prazer, o que, como se sabe tem pouco de verdade absoluta.
Mais, ensinar e aprender abrange comportamentos pessoais e colectivos, que vão muito para além do conteúdo das matérias. Trata-se, também, de atitudes. Um aluno não está numa aula a falar ao telemóvel, de pés em cima da carteira, ou mesmo de boné na cabeça. Poderá ser muito modernaço consenti-lo. Mas isso não é certamente instruir ou ensinar!
Educar é algo infinitamente mais importante. É preparar para a vida. Por isso envolve escola, pais e família. E por isso eles hoje são ouvidos. Não para "aliviarem" os filhos, mas para os fazerem cidadãos dignos e competentes!

HSC

9 comentários:

Anónimo disse...

Um excelente Post. A ler com atenção. Sobretudo pelos mais novos. Fica a sugestão.
P.Rufino

carolina disse...

um excelente post, sim até porque aborda uma das mais importantes e fascinante tarefas do Homem: a aprendizagem! claro que aprender doi: sabemos que o fogo queima depois de escaldados, que os joelhos esfarrapados doem depois de cairmos, aprender doi, o prazer e a recompensa está no Saber; SABER é poder, nada dá mais prazer que saciar-nos com o conhecimento, adquirido, na escola, na vida, que assimilamos, percepcionamos e convertemos em SABER útil para nós e para o mundo que nos rodeia, mas essencialmente para nós.
Lendo este post, verifico que efectivamente foi confundido o meio com o fim: aprender custa, saber é prazer.
Obrigado HSC, gosto mesmo de a ler

Maré alta disse...

Concordo em absoluto com o que acabou de escrever no seu post.
Sempre me ensinaram, que a "Educação", é a condução e a promoção, do homem enquanto homem, ao seu estado mais perfeito, chamado estado de virtude.
Abraço.

Raúl Mesquita disse...

Cara Helena:

Nada de mais certo. Dei aulas de Filosofia 33 anos e meio, bonito número! É claro que a Paideia é, sobretudo, uma arte, como os gregos bem sabiam. Os Professores têm de ter conhecimentos mas têm também de conhecer quem têm pela frente e o que devem, moralmente, fazer com essas pessoas. Tive, só por duas vezes, alunos com bonés na aula. É claro que não me pus aos berros. Fui calmamente ter com eles e com uma simples sinal indiquei que não. Tiraram imediatamente o boné.

Estudar não é um prazer, na maior parte dos casos, esse mito, como lhe chamou muito bem é uma americanice das piores. Estudar é, normalmente, uma maçada, excepto naquelas disciplinas de que mais gostamos. Até na faculdade há cadeiras "chatas" porque os Professores não têm Arte. O estudo só se torna verdadeiramente um prazer quando por nós mesmos pesquisamos o que nos interessa, mas antes temos de ter a ferramenta que nos é dada ao longo da vida escolar e universitária. Dizer a um jovem que a vida é cor-de-rosa é mentir-lhe e é um erro que pode marcá-lo para a vida inteira.

Um Abreijo do

Raúl.

Anónimo disse...

O papel do professor é também importante, pegando numa frase de Raul Mesquita. Recordo-me que em jovem, acabei por vir a gostar de Matemática e até vir a ser um bom aluno nessa disciplina, em virtude do professor (por sinal um padre), que, digamos, “humanizou” a “terrível” Matemática, tornando-a, acima de tudo, acessível, compreensível e inteligível. Falava-nos dela, abordava-o de uma forma simples, evitando hermetismos e fazia-nos testes todas as semanas, testes menos densos, em vez de mensais, mais densos e “difusos”, como tínhamos com o professor do ano anterior. E os resultados, no final do ano, daquela turma, foram espantosos. Ensinar é também uma arte. Naturalmente que, sendo os tempos outros, nós não só nutríamos uma enorme simpatia por aquele professor, como o respeitávamos muito. E depois, os níveis de exigência eram igualmente diferentes dos de hoje. Levantávamo-nos sempre que o professor entrava, não havia confusão nas aulas e havia, ciclicamente, “aferições” exigentes das nossas capacidades e aprendizagem, vulgo exames. Outros e melhores tempos, nesse aspecto, pelo menos. Quando é o próprio M.E a desautorizar os professores e quando muitos destes (as gerações mais novas) estão menos preparados do que os seus mais velhos colegas, então temos “receita” para o desastre. Mas, felizmente, há jovens que conseguem dar a volta à coisa e aplicam-se, tendo consciência que só têm a ganhar com isso. Ontem, tive ocasião de conhecer uma dessas jovens, rapariga dos seus 29 anos, num contexto diferente da minha vida profissional, que era uma belíssima cabeça, bem articulada, culta, preparada, que conciliava tudo isso com o gosto simples pela vida. Fico sempre satisfeito de ver excepções destas.
P.Rufino

Anónimo disse...

Aprender a aprender ...Se custa e dá trabalho...

Essencialmente a reciprocidade de emoções geradas...

Há um filme que em termos pedagógicos é ilustrativo dos comportamentos que geram comportamentos...
Se os olhares Matassem...

Que é também uma Boa reflexão sobre o papel da Pessoa em contextos diferentes como aprendente...

A educação não se faz de A para B,
mas de A com B mediatizados pelo Mundo, Paulo Freire

Isabel Seixas
Deixei-Lhe uma proposta de sorriso no sorriso do duas ou três coisas

Maré alta disse...

Se não estou em engano, Paulo Freire, protagonizador da "Escola Moderna". Uma corrente pedagógica, que conduziu em último extremo ao facilitismo que se vive dentro das escolas.
A tal questão, de que educação se faz de "A com B..." e preferencialmente ao ritmo de B. A aprendizagem, deve ser lúdica, etc...
Considero que a aprendizagem dá trabalho, exige esforço, designadamente nalgumas disciplinas, tais como a Matemática.
A Matemática, exige concentração do aluno, coisa que é dificil hoje de conseguir nos alunos, exige prática constante, não basta só estudar para o teste na véspera, nem à cábulas que lhos valha.
Daí, que os alunos tenham sempre alguma resistência a esta disciplina.A título de exemplo, resolver uma divisão, ou uma expressão numérica, não diverte ninguém, mas exige disciplina, concentração, conhecimento por parte do aluno.
Saudações

Anónimo disse...

Isabel Seixas fez bem em mencionar Paulo Freire.Li e tenho livros dele. Desde há muito. Aqui está alguém com quem aprender nesta área - e noutras.
P.Rufino

Anónimo disse...

Isabel Seixas fez bem em mencionar Paulo Freire.Li e tenho livros dele. Desde há muito. Aqui está alguém com quem aprender nesta área - e noutras.
P.Rufino