terça-feira, 22 de setembro de 2009

Nostalgia

Digo, com frequência, que não sou passadista. Nem mulher de nostalgias.
Ensinou-mo a minha avó Joana, que sempre olhou em frente, apesar dos muitos filhos que teve e do muito de que abdicou, para ter a alegria de os criar. E depois deles, a fornada dos netos, a quem sempre transmitiu força.
Ensinou-mo, também, a minha mãe, essa mulher a quem, nem mesmo os dezoito anos de uma terrível doença, fizeram jamais baixar os braços.
Ensinou-mo, ainda, o meu pai, nessa sua permanente tolerância da diferença e na total confiança nas qualidades dos filhos.
Por isso, e para mim, passado é aquilo que se viveu e a alegria que dele se guarda. Para alimentar o presente e esperar o futuro. As dores, essas, não são passado. São esquecimento.
E, mesmo hoje, quando o tempo que vivi supera o que tenho para viver, a nostalgia tem pouco espaço para se instalar.
Tenho um presente que vivo como quero, porque sempre tentei adequar os sonhos às possibilidades. E não perdi nada com isso. Pelo contrário. Esta posição tornou-se uma filosofia de vida. Que me mantém "fresca" e permite gerir cada dia sem amarguras!
Mas não quereria eu, alguma vez, tornar ao passado? Não. Nem sequer aos muitos momentos de imensa felicidade que também tive. Porque essa felicidade só "existiu" naquele tempo, naquela mulher, naquelas circunstâncias. Dessas ocasiões ficaram os cheiros, os gostos, as gargalhadas, as ternuras, os amores. Repito "ficaram". E, se às vezes aparecem sem ser convidados, é porque no "presente" sinto algo semelhante. Não porque lamente o que tenha perdido.
Neste preciso instante oiço Aznavour. Gostosamente. Porque no presente, ele continua a satisfazer-me muito. Tanto ou mais do que antes.
Foi isto que aprendi com os meus. É isto que transmito aos meus! Felizmente, sem nostalgias do passado que ficou onde deve ficar. Lá!

H.S.C

5 comentários:

Miguel Gomes Coelho disse...

...e não é que fiquei parado e pensativo quando acabei de ler este seu magnífico texto ?
É que algo "de mim" também estava ali...
Obrigado.

Benjamina disse...

Óptima maneira de viver o presente!
Sem amarras ao passado nem ao futuro, é assim mesmo que se vive feliz.

Infelizmente, julgo que ser ou não ser feliz é mais uma questão genética do que a influência do meio: uns nascem para ser felizes com o pouco que tenham, outros serão infelizes mesmo que tenham quase tudo.

Um beijinho e obrigada por essa lição.

Anónimo disse...

Aqui há um par de anos, não muitos, estando no Caucaso (vi por lá coisas...), em trabalho, no bar do agradável hotel onde me encontrava hospedado, tive o imenso deleite de escutar, precisamente, Aznavour. Enquanto bebericava um bom “Malte”. Perguntou-me, a certa altura, a simpática empregada, talvez por me ter visto tamborilar os dedos no tampo de vidro da mesa: “conhece esta voz, sabe quem é?” Que sim, respondi-lhe. Era o “Charles A:” Sorriu-se e disse: “uma bela voz, muito romântica”. Sem dúvida, anui, devolvendo-lhe um sorriso. E conversámos um pouco. Recordo-me muito bem e aprecio a voz daquele franco-arménio. Mas, curiosamente, foi por influência paterno-maternal que o comecei a ouvir e, sobretudo, aprendi a gostar. Quando regressei daquele país, ex-República soviética em tempos - já idos – contei este pequeno episódio aos meus ascendentes. Que acharam imensa graça. E já tenho ouvido o Aznavour, baixinho, enquanto leio. Interessante HSC evocá-lo – gostosamente - como refere. Bonne nuit!
P.Rufino

Tété disse...

Continuo a dizer o que já afirmei aqui mais que uma vez: "Quando for grande quero ser como a Helena". Sim, porque o crescer não tem nada a ver com a idade desta avó.
Eu digo o crescer em maturidade emocional, que é essa que me vence algumas vezes.
Porque embora também eu não quisesse voltar ao passado e esteja de acordo que as coisas são temporais, por vezes não consigo ter o seu "savoir être" para poder gargalhar em determinadas ocasiões - e eu também gosto mesmo de rir - e em mim a nostalgia encontra por vezes espaço para se instalar. Não são as nostalgias do passado. Pode haver nostalgia do presente ?
Um abraço de admiração
Teresa

hfm disse...

Outra empatia - Aznavour.