Ontém, com bastante sacrifício pessoal - ando estafada e não aprecio o chamado social - fui ao lançamento do livro da Rita Ferro. No agradecimento a minha amiga tocou num ponto que, de há uns anos para cá, tem sido matéria de muita meditação da minha parte. Trata-se, como diz o título deste post, do "sentimento de pertença" que eu tenho, mas que me parece andar em vias de extinção, face à velocidade com que se renovam as relações sentimentais.
Explico-me melhor. Esta sensação é algo que vai muito para além do amor. É como se na nossa carne e na nossa alma ficassem gravados os elos que nos ligam a certas pessoas. E que só porque esses elos existem é que sobrevivemos às perdas que, ao longo dos anos, vamos tendo. Não querendo pessoalizar demasiado a questão, estou a falar desse laço sui generis que me une aos meus pais. Que "só" podiam ser aqueles e mais nenhuns outros. Esse laço que também me liga aos meus filhos, que só podiam ser aqueles que tenho e nenhuns outros mais.
Esta espécie de magia vai muito para além do sangue. Pode, até, dar-se com alguém que amamos, a quem nos entregamos e a quem ficamos a pertencer. Isso não significa morte para outros amores. Significa que "aquele" tem ou teve e continuará a ter, um cunho especial. Uma marca de pertença que jamais se apaga. E que é boa, porque nos mantém unidos a um pedaço de vida que mesmo eventualmente perdido, continua a ser profundamente regenerador.
É isto que, para mim, significa pertencer a alguém!
H.S.C
14 comentários:
Gostei muito deste seu post - Eu, que só venho cá para contrariá-la, imagine :)
Sentimento de pertença é isso mesmo, para além da vida, para além da morte, não é muito explicável, mas tão parte integrante desta nossa andança.
Uma gripinha A impediu-me de estar presente (hoje sinto-me muito melhor, mas começou mal), com muita pena minha, pois a brilhante autora tinha-me prometido apresentar primo afastado, ou se calhar, nem tanto. Espero que tenha corrido tudo bem, embora adivinhe que sim, que tenha sido um êxito.
Sem abreijos, pelas razões supra referidas ;)
Senhora Doutora,
O que a Senhora diz, aqui, sobre o sentimento de pertença é muito bonito.
Gostei destas reflexões sobre os afectos, na pessoa dos que vivem e dos que existem como força regeneradora. Vi-a de relance na televisão.Não me demorei, porque embore goste de dança, acho aqueles espectáculos sempre deprimentes.De programa em programa,fui ter ao "Eixo do mal", onde se exibem vaidades,mas onde, apesar de tudo,são dissecados aspectos da actualidade que me interessam.A televisão, cada vez mais, é um passatempo enfadonho, quase insuportável, mas quando se está em casa de amigos, o remédio é ver e bocejar.
O seu texto acordou-me pela positiva, porque gosto de janelas que abrem para pátios de afectos e emoções genuínas.
Olá Dona Helena, àparte a grande admiração que tenho pelos seus filhos, que conheci muito bem enquanto estudantes no Liceu P. Manuel, onde eu também fui aluna, tenho uma enorme admiração por si.
Peço desculpas, mas só agora e que estou a descobrir este seu blog, porque a minha mãe já o lê diáriamente há algum tempo e passou-me o link dele.
Diz ela, que a escreve muitissimo bem e que é de uma grande delícia nos pormenores com que o faz.
Tenho muita pena de não conseguir contactá-la de outra maneira, mas sou sobrinha de uma grande amiga sua, cujo marido também é escritor, e dá pelo pseudónimo de Manuel de Portugal.
O nome da minha tia é A.M. de B.R.P.C. (deixo-lhe sómente as iniciais por uma questão de privacidade, mas penso que descobrirá de quem se trata certamente).
Eu gostaría, caso a tenha possibilidades, que me contactasse pelo email com que este meu comentário vai identificado, caso lhe seja possível.
Tudo de bom para si e todos os seus.
Obrigada e bem haja :D
Prosaico, ou não fosse eu um apaixonado pela prosa do Padre António Vieira, digo-lhe, Helena: agora conhece a minha cara, logo, conhece-me. Raúl.
Há quem rejeite a pertença como sendo uma limitação da "liberdade". Não concordo. Penso que a Helena tem razão, especialmente no ponto que refere "para além do sangue". A pertença é um sentimento necessário e que deverá, consequentemente, ser aproveitado. Raúl.
Não sermos de ninguém é horrivelmente trágico...
Sempre sintonizada contigo, Rita F.
Isabel
Para poder corresponder ao seu pedido tentei entrar no seu blog. Mas não tem perfil acessível, logo não consigo obter o email, a não ser que mo mande. Pode fazê-lo por esta via porque como tenho moderação de comentários não o vou publicar.
Aliás fiquei com algumas dúvidas sobre quem seria a sua mãe porque conheço duas pessoas a quem as iniciais se aplicam. :)
Raul é bem verdade. Não fora o lançamento do livro da Rita e eu só saberia quem você era pelo nome. Assim é melhor!
Helena Oneto, venho seguindo os seus comentários no blog do FSC.
Fico muito contente que tenha gostado do post!
Concordo inteiramente, Helena: o sentimento de pertença é uma importante e sólida âncora neste mundo de diluição acelerada em que vivemos. Os cais não nos servem só para partir, servem também para voltar. A nós, pelo menos...
Boa tarde Dona Helena e, mais uma vez, peço desculpas de a incomodar, mas venho, então, deixar o meu email de correspondência para entrar em contacto comigo, que é o seguinte:
golfinha.azul@gmail.com
Nem me lembrei que era preciso ter um perfil aqui para troca de mensagens, como acontece com outros tipos de blogues.
Peço desculpa.
Fico a aguardar o seu contacto, o que terei imenso prazer que aconteça e deixo-lhe um grande beijinho com muita amizade :D
Isabel Reis
SEMPRE ENCANTADORA.
Personalidade fascinante.
BEM HAJA.
Enriquece os meus dias, as minhas noites.
AC
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