domingo, 8 de março de 2015

O nosso "dia"


Gosto de ser mulher. Não invejo os homens e quanto mais velha sou, mais tenho consciência dos seus (in)justificados receios.
Mas não gosto de quotas ou comemorações de género porque elas representam que os "outros" ainda as consideram necessárias. 
O que eu quero é que não haja violência sobre elas, que o seu salário não seja inferior ao do seu semelhante, que as suas oportunidades sejam iguais, que a maternidade seja encarada como uma opção séria  e não um obrigatório modo de vida, que os filhos sejam uma escolha de dois e não apenas de um.
Ou seja, quero poder ser diferente do homem sem por isso ser discriminada ou menos respeitada. Quero, enfim, ter direito a ser mulher e fazer parte do meu género sem que sejam os homens a concederem-me uma parte desse direito.

HSC

11 comentários:

  1. É um dia de cariz político que simboliza e põe a nu todas as desigualdades que descreveu!!Gosto muito do seu blog XD

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  2. Até que enfim que encontro um texto lúcido sobre este dia e com o qual concordo.
    De resto,tenho muito pouca paciência para estes "dias de...

    Beijinhos

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  3. Querida Helena
    Escrevi isto há uns anos neste dia e
    na altura foi publicado na nossa Jeitinho Manso

    Encontrei-o há poucos dias e mando-lhe esperando conseguir um sorriso malicioso, aquele que tão bem lhe fica...
    ------------------------------
    DESAMOR

    Ela esperou o dia inteiro
    as mãos frias e suadas
    (quem sabe hoje ele vai ligar)
    afinal há tanto tempo que ameaça
    como se faltasse um pouco mais de nós
    apenas um quase nada
    pra voltar

    Oito de MARÇO
    é sempre nome de mulher
    ele há-de ouvir na Rádio
    Então ele vai saber
    e não
    não pode ter esquecido
    cada momento divertido
    ardente
    cada vez que a gente se abraçou a ver o mar

    e o dia foi andando devagar...

    Seis da tarde
    parece haver festa em cada florista
    eles, formais, alguns muito aprumados
    outros impacientes
    (enjoados)
    outros sem jeito arriscam uma graça

    Rosas vermelhas é o que sai mais
    mas há narcisos lírios do campo e tantas outras
    balbucia fatigada a rapariga
    enquanto amarra mais um laço
    e limpa as mãos ao avental

    e ELA espera pacientemente
    em silêncio chega a sua vez
    E a senhora? O que vai ser?
    (até que enfim)
    é só dizer

    Quero aquela orquídea branca provocadora transparente
    linda de morrer

    E é só?
    Sim
    É para oferta?
    CLARO, É PARA MIM

    E esta Mulher de novo vencedora, destemida, ousada, florida
    desfilou finalmente pelas praças e ruas da cidade
    como se fosse muito muito amada...


    DESAMOR/ O CONTRADITÓRIO

    Ele correu
    tropeçou
    passou sinais
    ultrapassou
    ensaiou desculpas promessas coisas mais

    Não está?
    Já saiu?
    E AGORA?
    Sei lá
    O Senhor é que sabe
    (há cada um...)

    Então olhou a rua sofredor desapontado
    escondeu a flor rapidamente entre os jornais
    quase envergonhado
    gente muita gente
    gente a mais
    e de repente
    entre passeios
    a dois passos mal contados
    passa ELA radiante ostentando uma flor branca e transparente


    já não se lembra da gente
    como pode ter acontecido?
    Então e cada momento ardente e divertido
    quando o nosso abraço ia ver o mar?

    Pois é(pensou)
    demasiado tarde
    que aquele seu ar destemido ousado e florido
    é sinal de que tudo está esquecido
    e um tal requebrado na calçada
    é de MULHER (de novo) muito muito amada...



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  4. ERA UMA VEZ
    Delicioso.
    A mesma história é sempre vivida de modo diferente pelos diversos protagonistas...

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  5. Para si e todas as suas leitoras com todo o respeito pelo dia de hoje.
    http://youtu.be/_ChoOH3RAUA

    :-)

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  6. Bom Dia Helena!
    Também, gosto de ser mulher, só um simples fato de existir o dia da mulher já nos discrimina.
    E o dia do homem?
    O dia do homem, que pode, manda, que tem força, e mais atributos terá, como os de menos positivos é todos os dias.
    Ainda conheço, tanta mulher que olha para o homem com submissão, que acha que deve ser assim.
    Não, não deve ser assim, todos temos as nossas vontades, os nossos gostos, haja liberdade para todos!

    Carla

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  7. Olá Helena,gosto de ser mulher,mas não gosto da ser como a maioria das mulheres,(peruas e frágeis de vaidosas)gosto de mulheres inteligentes trabalhadoras e independentes,o meu marido esqueceu-se do dia da mulher e como se não chega-se, acordou mal humorado.Mas entendi que merecia melhor e fui almoçar fora,ele ficou em casa,não foi um dia feliz,mas fiquei contente por ser a mulher que sou.Beijinhos adoro a sua personalidade.

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  8. Envio-lhe um poema de Jenny Joseph ( só poderia ser escrito por uma mulher) que sempre adorei. Li-o pela primeira vez há mais de 20 anos num curso de inglês em Nottingham. Desculpe não o traduzir.


    WHEN I AM AN OLD WOMAN I SHALL WEAR PURPLE
    With a red hat which doesn't go, and doesn't suit me.
    And I shall spend my pension on brandy and summer gloves
    And satin sandals, and say we've no MONEY for butter.
    I shall sit down on the pavement when I'm tired
    And gobble up samples in shops and press alarm bells
    And run my stick along the public railings
    And make up for the sobriety of my youth.
    I shall go out in my slippers in the rain
    And pick the flowers in other people's gardens
    And learn to spit

    You can wear terrible shirts and grow more fat
    And eat three pounds of sausages at a go
    Or only bread and pickle for a week
    And hoard pens and pencils and beermats and things in boxes

    But now we must have clothes that keep us dry
    And pay our rent and not swear in the street
    And set a good example for the children.
    We must have friends to dinner and read the papers.

    But maybe I ought to practice a little now?
    So people who know me are not too shocked and surprised
    When suddenly I am old, and start to wear purple.

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