domingo, 30 de novembro de 2014

OPINIÃO
A realidade nunca é a preto e branco
TERESA DE SOUSA 30/11/2014 - 01:15


1. As abstracções são fundamentais numa democracia, exprimem-se através de princípios fundamentais e, mesmo que a realidade as desminta algumas vezes, não se pode funcionar sem elas. Uma delas é precisamente a igualdade dos cidadãos perante a lei. É por isso que me arrepiam algumas frases que são frequentes no debate em torno da prisão de José Sócrates, como já me incomodavam na detenção de Ricardo Salgado: “Finalmente a justiça chega aos poderosos”. Para gáudio do povo, obviamente, e para acabar com a impunidade dos que mandam ou dos que são ricos. Percebe-se este lado do debate, quando o país descobre em dois ou três meses que o Grupo Espírito Santo estava falido, que a PT, florão nacional, afinal era gerida de tal forma que foi arrastada pelo turbilhão do GES, que o mais alto funcionalismo do Estado estava envolvido num esquema para ganhar dinheiro com os vistos gold e que um ex-primeiro-ministro poderia ser preso ao aterrar em Lisboa e declarado em prisão preventiva por acusações muito graves.
Claro que há outra maneira mais aceitável de traduzir esta ideia e que é “finalmente, chegou o fim da impunidade”, mas que só terá valor se os princípios fundamentais da Justiça funcionarem devidamente. O debate mais fácil sobre esta sucessão de coisas tremendas que nos estão a acontecer é o que opõe na praça pública aqueles que se dedicaram com uma persistência invulgar a acusar Sócrates de abuso de poder e os que o consideravam um alvo demasiado explícito da Justiça (que também tem agendas políticas) e um primeiro-ministro com qualidades, apesar dos seus enormes defeitos. Agora, os primeiros sentem-se vingados. Os segundos revoltam-se contra mais um processo em que a violação do segredo de justiça é de novo utilizada para criar um quadro desfavorável ao antigo primeiro-ministro, condenando-o na praça pública antes mesmo de qualquer acusação. São duas posições respeitáveis mas que não esgotam a questão.
De resto, o debate já extravasou a questão da Justiça para entrar na política e chegar a uma conclusão estranhamente “unânime” segundo a qual António Costa está condenado a apenas dois destinos possíveis: a desgraça ou a genialidade (como disse Marcelo e toda a gente se pôs a repetir). A forma como a comunicação social funciona também ajuda a fazer passar a mensagem. Primeiro, dizemos que o Congresso do PS será apenas sobre Sócrates, um velório em torno de um fantasma que ensombra a consagração do novo líder. Depois, chegamos à FIL e só queremos saber o que pensa cada um sobre Sócrates ou se Costa deu o justo número de linhas ao caso no seu discurso de abertura. Ou seja, transformamos uma profecia numa realidade, aliás muito mais fácil de reportar do que o que se passa em termos políticos neste Congresso. Estou a escrever estas linhas a meio da manhã e pode ser que me engane, o que seria óptimo.
Não creio que Costa fique sem margem de manobra com este fantasma que lhe caiu em cima. Toda a gente sabe que, tendo sido ministro de Sócrates, nunca aceitou pertencer a qualquer “ismo”, que sempre se colocou no PS com uma assinalável autonomia, mesmo quando era ainda um jovem secretário de Estado de Guterres. Quando se viu confrontado com uma desautorização do ministro com quem trabalhava, disse ao então ao primeiro-ministro: ou ele ou eu. E foi ele. Saiu do Governo precisamente quando achou que tinha de se afastar do primeiro-ministro, se queria preservar a sua autonomia e acabar com a situação de “número dois”. Quando foi agora confrontado com a prisão de Sócrates, teve a capacidade de colocar as coisas no seu devido lugar. Tem de adaptar-se às novas circunstâncias, mas tem capacidade para o fazer.
O PS tem a sorte de dispor neste momento de um líder forte que é uma espécie de “dois em um”. Explico-me. Como os líderes socialistas da geração anterior à sua, tem vida própria, pessoal e profissional, bebeu muito cedo algumas fortes convicções sobre aquilo que é justo e o que não é, bem como a importância fundamental da liberdade em todas as suas declinações. Tem mundo, como se costuma dizer, e tem cultura. É mais jovem, como Passos Coelho, mas a sua vida é diferente da de Sócrates ou do primeiro-ministro, que foram quase sempre dependentes da política. O escândalo que hoje envolve Sócrates esbarra contra essa autonomia.
2. Não gosto nem desgosto de Sócrates. Não pertence à minha geração que, em grande parte, se formou na política no combate contra o fascismo. Simboliza um tipo de lideranças pragmáticas que hoje dominam a maioria dos partidos de centro-esquerda da Europa, que ficou sem pé com a Queda do Muro e com a globalização económica. Comecei por achá-lo um líder de plástico, quando ganhou a liderança do PS, que Vitorino não quis. Percebi rapidamente, sobretudo nos Conselhos Europeus e em inúmeros fóruns internacionais, que não era só isso. Dominava os assuntos mais complexos da política europeia com uma enorme facilidade e competência. O seu estilo demasiado violento não gerava qualquer empatia. Cometeu um erro político enorme quando, em 2009, para voltar a vencer as eleições, aproveitou a crise financeira para transformar-se de líder “pragmático” num ideólogo da esquerda, defensor do papel do Estado na economia e opositor feroz do neoliberalismo. Esta mudança levou-o ao desastre político. A sua interpretação do poder, que exerceu muitas vezes forçando os seus limites, aproxima-o de uma geração de líderes europeus que tem proliferado à direita ou à esquerda.
Estou, naturalmente, a pensar em Sarkozy e no seu estilo quase brutal de fazer política, igualmente sem limites, também ele alvo de vários processos na Justiça francesa, também ele com uma convicção fundamental: fazer aquilo que resulta independentemente de ideologias, de credos, das convicções. O outro mais conhecido mas, de certa maneira, diferente é Berlusconi, que financiou e construiu um partido de cima a baixo (deu uma ajuda o facto de ser um dos homens mais ricos da Europa e dominar vários órgãos de comunicação social) e que, contra todas as previsões, ganhou várias eleições mesmo estando envolvido em processos de resto bastante mais condenáveis. O populismo e o pragmatismo (que, quando misturados, são perigosos) são hoje o vírus que afecta as democracias europeias, não deixando incólumes os partidos do sistema. Também poderíamos falar de Gerhard Schroeder, que reformou a Alemanha e saiu directamente para presidente de uma grande empresa de capitais russos e alemães (a North Stream, para ligar o fornecimento de gás directamente entre a Rússia e a Alemanha que ele próprio patrocinou) sem qualquer período de nojo. O dinheiro entra demasiadas vezes na equação. Blair, que foi um líder extraordinário, utilizou o seu prestígio para acumular uma enorme riqueza. Lula, que merece tudo, não se coíbe de alugar a maior suite do Palace de Copacabana para depois nem sequer a utilizar porque decidiu ir mais cedo para S. Paulo. Não é tudo a mesma coisa mas é um sinal desagradável.
É verdade o que José Manuel Fernandes, director do Observador e inimigo figadal do ex-primeiro-ministro, disse sobre a questão do carácter dos políticos, que é uma questão fundamental. Também acho. Mas acho ainda outra coisa: a facilidade com que hoje acusamos os políticos de falta de carácter, disto e de mais aquilo, do alto da nossa sapiência, é tão grande, que acaba por matar por excesso a exigência dessa qualidade. Vemos o mundo a preto e branco, condenamos sem pensar duas vezes (é sempre mais fácil e mais seguro) e contribuímos deste modo para o empobrecimento do debate político e do escrutínio político, ao apagar as diferenças. Quanto à Justiça, esperamos que tenha melhorado com a nova legislação nacional e europeia. Mas temos ainda na memória o caso Casa Pia, que foi um verdadeiro nojo. Precisamos de ver para acreditar.

Aqui fica o excelente artigo que Teresa de Sousa hoje publica no jornal Publico e que me permiti reproduzir na íntegra, porque considero que nele se faz uma séria análise de um problema que, entre nós, tem sido debatido com excesso de paixão.

HSC             

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O apóstrofo

E esta explicação dada por uma criancinha?!

HSC

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Uma boa solução!

Ora aqui está uma boa alternativa às cirurgias plásticas, aos tratamentos por botox e outros produtos idênticos. Haja imaginação!

HSC

A 2 de Dezembro


Aqui fica o convite público para o lançamento do meu último livro que felizmente já caminha para a 3ª edição. Vai ter lugar no Corte Inglês, no dia 2 de Dezembro, pelas 19 horas. A apresentadora será a minha querida amiga Cristina Esteves, para mim o rosto da RTP e uma das jornalistas que mais aprecio no panorama televisivo nacional.
Apareçam porque isso me dará muito prazer e será uma forma de estarmos juntos antes do começo do  Novo Ano!

HSC

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O 25 de Novembro


Quem se lembra, hoje, do 25 de Novembro? Poucos, muito poucos. No entanto, passaram 39 anos sobre o golpe militar que naquela data, pôs fim à influência da esquerda mais radical iniciada em Portugal com o 25 de Abril de 1974. Golpe que terá permitido ao pais o estabelecimento da democracia de que actualmente gozamos. E que substituiu o PREC – Processo Revolucionário em Curso – pelo Processo Constitucional em Curso, no qual o General Ramalho Eanes teve um importante papel.

HSC

Erros meus, má fortuna, amor ardente!

Como decerto já terão reparado tenho como leitores deste blogue pessoas cujo conhecimento da ortografia da língua portuguesa ultrapassa em muito o meu. Também é verdade que escrevo de jacto e raramente - neste espaço - releio o que escrevo, porque estou mais virada para o conteúdo do que para a forma. 
Assim, volta não volta, lá salta um erro ortográfico que, pacientemente, o meu comentador cujo nick name é "Gralhas" vai anotando e eu, com igual diligência, vou corrigindo. Para lhe evitar tal trabalho irei passar a escrever os post's em word - que assinala de imediato qualquer dissonância em relação ao antigo acordo pelo qual me rejo - e espero assim que aqui não voltem a acontecer tais desaires. Mas não queria que os meus erros e má fortuna acabassem sem eu agradecer o amor ardente pela língua portuguesa que tais correcções ortográficas sempre representaram.

HSC

José Sócrates

Não comentei, até hoje, a detenção do antigo Primeiro Ministro. Nem me pronunciarei, neste momento, sobre a medida de coacção que lhe foi aplicada. Porque, até agora, ignoro se os fundamentos dessa medida respeitam ao cidadão ou especificamente ao período em que esse cidadão ocupou cargos públicos. No caso vertente, só estes me interessam. 

HSC

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Passageiro Clandestino


Há Mulheres que conhecemos de toda a vida. Há amigas que o foram desde sempre. Não consigo lembrar-me do dia preciso em que conheci a Leonor Xavier. 
Lembro, sim, que vivemos ambas vidas bastante diferentes daquilo que, à época, era considerado como normal. Qualquer de nós tem essa sensação e há bem poucos dias, à mesa de um café, falávamos disso.
A Leonor bebeu a goles a sua vida. Goles saboreados. Do bom e do fel que  pode, a todos, estar destinado. Isso traduziu-se em muito do que escreveu. Sobre ela, sobre nós mulheres, sobre o mundo que a rodeia.
O cancro visitou-a recentemente. Bateu à porta de forma intrusa. Ela deu-lhe luta e venceu-o na medida das suas forças. Luta que foi também um percurso de descobertas. De si e do seu corpo. Mas, em simultâneo, da doença, dos médicos que a assistiram, das salas de espera e daqueles que nelas esperavam, do hospital, dos doentes e da forma como, apesar de tudo, o Serviço Nacional de Saúde nos acompanha. Tudo isto ela transformou em páginas de um livro que, afinal, é um hino à vida.
Esse livro foi hoje lançado numa sala apinhada de gente. De amigos de toda a vida, da família, da elite intelectual que a estima. Do Brasil e de Portugal, deste e do outro lado do Atlântico. De pessoas tão diversas que foi possivel ver Maria Barroso, Maria Cavaco Silva ou Maria Antónia Palla.
A apresentação, de enorme qualidade, esteve a cargo de José Tolentino de Mendonça, seu amigo. A que se seguiram as suas simples mas tocantes palavras de agradecimento a todos os que ali estavam. E onde também houve espaços musicais que alguns amigos lhe quiseram oferecer.
Foi uma bela e merecida festa aquela a que assisti no Jardim de Inverno do S. Luis. Parabéns Leonor!

HSC

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Da simplicidade


Sempre gostei de ser mulher e não me lembro de, alguma vez, ter desejado ser homem. Embora nunca tivesse sido uma feminista ferranha não deixo de agradecer às que o foram, as liberdades, os direitos e as garantias que hoje tenho e, sem dúvida, lhes devo. 
Não desdenho o lado fútil da vida - se nele incluirmos umas fatiotas, um perfume ou um creme - mas jamais lhe dei primado sobre muitas outras coisas que considero vitais na minha existência.
Trabalho há anos em televisão sem passar pelas maquilhagens ou arranjos capilares. As poucas vezes que, no princípio dos princípios, tal consenti, ao ver-me no ecrã, senti logo que estava ali outra que não eu.
Assim, um dia decidi que ninguém mais me punha a mão em cima - no sentido metafórico do termo, claro - e, a partir daí, a "bela Helena" passou a entrar directamente em estúdio, indiferente às aflições de todos aqueles que, muito justamente, preferiam que fosse não quem sou, mas sim quem deveria ser para ficar bem no ecrã. É evidente que a "bela Helena" terá, muitas vezes, surgido bem pouco bela mas, pelo menos. era real.
Talvez por tudo isto nunca fui muito de pinturas. E, confesso, "pelo-me" por enfiar uns jeans com uma camisa de homem, calçar uns sapatos rasos e meter-me a passear pela borda do rio, de cara lavada.
Porque falo nisto? Porque recentemente me fizeram um convite que me iria impor o retorno a um cuidado pessoal muito particular, uma vez que seria o rosto de algo em que esse aspecto, distintivo, era essencial. No primeiro instante vacilei. Pedi para pensar. Porque isto de casamentos indissoluveis fazem-se apenas uma vez na vida, até se perceber que o prazo de validade também se lhes aplica.
Vim para casa e fiz - como sempre faço - uma matriz das vantagens e dos inconvenientes e, a cada um, dei a minha notação. Resultado, não aceitei. Porque iria perder não a minha privacidade, mas sim, a minha simplicidade. E eu não quero perder nem uma nem outra!

HSC

O leitão, essa iguaria!



Aproveito quase sempre as viagens que faço por esse país fora com vista a sessões de autógrafos,  para ir descobrindo as maravilhas gastronómicas que possuimos e que começam, felizmente,  a ser divulgadas e conhecidas por esse mundo fora.
Há um ano, numa sessão de autógrafos nos CTT de Coimbra - onde acabei por conhecer um blogger de Lisboa de quem vim a tornar-me amiga - havia de ter uma conversa sobre leitões com o Luis Costa dos CTT de Leiria. Ele defendia uma casa e eu defendia outra. Acabámos por aprazar um almoço, para que eu comprovasse que a dele concorria com a minha, que já era conhecida de ambos.
Pois bem, foi ontem a almoçarada que contou, entre outros, com a presença do vice presidente da Junta de Freguesia de Santa Eufémia/Boa-Vista, Paulo Felício, em representação própria e do seu Presidente, ausente no estrangeiro. É uma pessoa encantadora e que me deu a imagem de um poder autárquico próximo das populações.
Começaram por chegar umas batatinhas às rodelas, finíssimas, como aquelas que, antes, fazíamos em casa. E, logo a seguir, um inesquecível leitão, já cortado com sabedoria, em pedaços pequenos que satisfaziam tanto os que gostavam de costela, como os que gostavam da carne mais alta. A pele, em crosta, fazia lembrar o pato lacado. O tempero, esse, era divino. Tudo impróprio para o colesterol e tensão alta. Deitei às urtigas um e outra e servi-me por quatro vezes, sem qualquer cerimónia, tal a iguaria. A acompanhar, um vinho frutado da região, pareceu-me ótimo. 
Calculo que já estejam a querer saber onde se come esta preciosidade. Aqui vai. Foi no Café Centro - a tradição em leitão - na Rua Nossa Senhora das Dores nº120, na Boa-Vista/ Leiria, a cinco quilómetros da cidade e com o telefone 244 724 824. É preciso reservar porque ali não se guarda leitão de um dia para o outro. Quando acaba, não há mais!
Para culminar, Paulo Felício, teve a gentileza de me surpreender com uma embalagem de "letchero" para o jantar, que fez as minhas delicias e deve ter contribuido de modo expressivo para o meu arredondamento.
Moral da história. Estou como o Marco Paulo. Ou seja, fiquei com dois amores, o que, convenhamos, para alguém que que gosta de ser fiel, não dá muito jeito...

HSC

Tanto carinho!


Os CTT são uma empresa que trata os nossos livros como muitas livrarias não fazem. Falo com a experiênvia de quem já neles fez várias sessões de autógrafos por esse país fora, sempre com igual sucesso. E carinho, porque é, sobretudo, de carinho que se trata. Às obras e aos autores.
Ontém a sessão decorreu nos CTT de Leiria e, apesar da verdadeira tormenta de chuva que constituiu a viagem - sobretudo a de regresso -, a forma como fui tratada, compensou amplamente esse contratempo e encheu-me de alegria.
Foram dezenas e dezenas de livros que assinei, conversas que mantive com leitores e comoventes provas de afecto por parte de pessoas que só me conhecendo pelo que escrevo, sei que fazem sacrifício para comprarem um livro meu. Por isso considero tão importantes estes encontros e não me furto a eles mesmo quando, como agora, ando bastante cansada. Por isso não quero deixar de fazer aqui um público agradecimento ao Luis Costa e à sua equipe, que já considero como amigos, por todas as atenções que me foram dis pensadas.

HSC

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

28 minutos e sete segundos de vida


Em Janeiro de 2014, dois homens tiveram uma ideia para um programa de televisão. Foi assim que nasceu o «28 Minutos e 7 Segundos de Vida», uma longa e séria conversa sobre a vida, entre Manuel Forjaz e José Alberto Carvalho. Vida que também era a nossa a dos outros, a do país. 
Ao longo de dez semanas ouvimos falar de assuntos tão diversos como economia, religião, prazer, morte. A forma inquietante como os dois homens discutiram os assuntos trazia consigo uma mensagem: a de nos obrigar a pensar e, sobretudo, a sentir. 
Partindo de uma ideia de dois amigos, criou-se um espaço de discussão na televisão que ficou na memória de quem acompanhou estes dois homens da comunicação. 
No próximo dia 27 de Novembro, pelas 18h30, na Bucholz, o Manuel Luis Goucha irá apresentar o livro "28 minutos e 7 segundos de vida", que é uma forma de fazer perdurar a memória do Manuel Forjaz.
Gosto desta família. Estimo a Helena que conheço há vários anos. Em testemunho do meu apreço pela luta do Manuel, lá estarei nesse dia, com todos os seus amigos, a abraçar a vida!

HSC

Património em risco

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JORNAL DE ANGOLA

Director: José Ribeiro
Director Adjunto:
Filomeno Manaças
Editorial

Património em risco
08 de Fevereiro, 2012

Os ministros da CPLP estiveram reunidos em Lisboa, na nova sede da organização, e em cima da mesa esteve de novo a questão do Acordo Ortográfico que Angola e Moçambique ainda não ratificaram. Peritos dos Estados membros vão continuar a discussão do tema na próxima reunião de Luanda. A Língua Portuguesa é património de todos os povos que a falam e neste ponto estamos todos de acordo. É pertença de angolanos, portugueses, macaenses, goeses ou brasileiros. E nenhum país tem mais direitos ou prerrogativas só porque possui mais falantes ou uma indústria editorial mais pujante.                                        
Uma velha tipografia manual em Goa pode ser tão preciosa para a Língua Portuguesa como a mais importante empresa editorial do Brasil, de Portugal ou de Angola. O importante é que todos respeitem as diferenças e que ninguém ouse impor regras só porque o difícil comércio das palavras assim o exige. Há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios, por mais respeitáveis que sejam, ou às “leis do mercado”. Os afectos não são transaccionáveis. E a língua que veicula esses afectos, muito menos. Provavelmente foi por ter esta consciência que Fernando Pessoa confessou que a sua pátria era a Língua Portuguesa.
Pedro Paixão Franco, José de Fontes Pereira, Silvério Ferreira e outros intelectuais angolenses da última metade do Século XIX também juraram amor eterno à Língua Portuguesa e trataram-na em conformidade com esse sentimento nos seus textos. Os intelectuais que se seguiram, sobretudo os que lançaram o grito “Vamos Descobrir Angola”, deram-lhe uma roupagem belíssima, um ritmo singular, uma dimensão única. Eles promoveram a cultura angolana como ninguém. E o veículo utilizado foi o português. Queremos continuar esse percurso e desejamos que os outros falantes da Língua Portuguesa respeitem as nossas especificidades. Escrevemos à nossa maneira, falamos com o nosso sotaque, desintegramos as regras à medida das nossas vivências, introduzimos no discurso as palavras que bebemos no leite das nossas Línguas Nacionais. Sabemos que somos falantes de uma língua que tem o Latim como matriz. Mas mesmo na origem existiu a via erudita e a via popular. Do “português tabeliónico” aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas. Intelectuais de todas as épocas cuidaram dela com o mesmo desvelo que se tratam as preciosidades.
Queremos a Língua Portuguesa que brota da gramática e da sua matriz latina. Os jornalistas da Imprensa conhecem melhor do que ninguém esta realidade: quem fala, não pensa na gramática nem quer saber de regras ou de matrizes. Quem fala quer ser compreendido. Por isso, quando fazemos uma entrevista, por razões éticas mas também técnicas, somos obrigados a fazer a conversão, o câmbio, da linguagem coloquial para a linguagem jornalística escrita. É certo que muitos se esquecem deste aspecto, mas fazem mal. Numa entrevista até é preciso levar aos destinatários particularidades da linguagem gestual do entrevistado.
Ninguém mais do que os jornalistas gostava que a Língua Portuguesa não tivesse acentos ou consoantes mudas. O nosso trabalho ficava muito facilitado se pudéssemos construir a mensagem informativa com base no português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez isso acontecer, estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem mácula. Nestas coisas não pode haver facilidades e muito menos negócios. E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam correctamente o português. Neste aspecto, como em tudo na vida, os que sabem mais têm o dever sagrado de passar a sua sabedoria para os que sabem menos. Nunca descer ao seu nível. Porque é batota! Na verdade nunca estarão a esse nível e vão sempre aproveitar-se social e economicamente por saberem mais. O Prémio Nobel da Literatura, Dário Fo, tem um texto fabuloso sobre este tema e que representou com a sua trupe em fábricas, escolas, ruas e praças. O que ele defende é muito simples: o patrão é patrão porque sabe mais palavras do que o operário!
Os falantes da Língua Portuguesa que sabem menos, têm de ser ajudados a saber mais. E quando souberem o suficiente vão escrever correctamente em português. Falar é outra coisa. O português falado em Angola tem características específicas e varia de província para província. Tem uma beleza única e uma riqueza inestimável para os angolanos mas também para todos os falantes. Tal como o português que é falado no Alentejo, em Salvador da Baía ou em Inhambane tem características únicas. Todos devemos preservar essas diferenças e dá-las a conhecer no espaço da CPLP. A escrita é “contaminada” pela linguagem coloquial, mas as regras gramaticais, não. Se o étimo latino impõe uma grafia, não é aceitável que através de um qualquer acordo ela seja simplesmente ignorada. Nada o justifica. Se queremos que o português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes do mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras.


Creio que, após a leitura deste artigo, cada um poderá fazer o seu julgamento. Eu já fiz o meu, há muito tempo. Sou contra o AO.

HSC

O passado recente


Não sou saudosista. Também é verdade que até aos 50 anos não havia muito de que ter saudades porque a minha vida, na riqueza de sentido que lhe atribuo, só começou naquela idade. Até lá, andei a aprender. Primeiro a andar e a falar. Depois a estudar. Depois a tomar consciência das ferramentas que possuia. Depois a tratar do marido e dos filhos, quase sem tempo para mim.
Finalmente, pelos 45 anos, sabia muito bem o que não queria, os filhos estavam criados e não precisavam de mim, o marido fora à vida dele que não era a minha e eu principiava a reconhecer-me. Foi o período em que, feita a aprendizagem, a minha bússola interior começava a apontar-me o caminho. A partir daí investi em mim, ousei, arrisquei, enfim, vivi. Sem mágoas nem complexos, escolhendo o meu norte.
Hoje, esse capital acumulado no qual os "outros" estiveram sempre primeiro do que eu, acabou por dar frutos e permitiu-me compatibilizar o passado e o presente, nas devidas proporções. Não renegando nunca o que vivi, deixei contudo, de lhe dar a importância que na altura, creio, deve ter tido. E pude arrumar numa gaveta fechada, com carinho, o que julguei ter sido muito importante e afinal não foi assim tanto. Deste modo posso manter vivo na lembrança e na memória, um outro passado recente - o tal que vivi desde os 45 - esse, sim, imensamente enriquecedor.

HSC 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O Clooney, o café e eu


Já o disse várias vezes. Não gosto do George Clooney. Mas gosto de café. Porém, não aprecio café encapsulado. Gosto de café de balão, aquele cujo aroma se espalha pela casa e nos transmite a sensação de que nela vive gente - quem sabe, uma família - que gosta de café. 
Julgo que foi a falta do aroma e a presença do Clooney que determinaram esta minha rejeição de tudo o que é comprimido numa rodela de plástico que acaba por se abrir nas garras de uma peça metálica entranhada na máquina eléctrica. 
No filme publicitário, o paradoxo é a gota que cai no líquido, subir pela magia do actor. Na vida real esta minha opção traz-me grandes complicações, dada a dificuldade em arranjar filtros ou balões que, na maior parte dos casos, obrigam a deslocação a um número cada vez mais escasso de casas especializadas.
A minha esperança - face a esta crise danada que nos atormenta -, era a de que pudessemos recuperar tradições que se perderam e que, ao nível do vestuário, até já despontam. Com efeito, retornaram as costureiras e os "arranjos" de roupa que elas tão bem realizavam. Daí ser perfeitamente admissível a esperança de que nos voltássemos a reunir no ritual do café com que terminava a refeição há uma dezena de anos.
Não tive sorte nenhuma. O hábito da bica fora de casa entrou dentro desta e as garbosas máquinas eléctricas que até são bem decorativas, tornam pouco provável o retorno deste desidério.
Assim, trato com mil cuidados os balõezinhos de vidro, lavo com amor entranhado os filtrinhos de flanela e, perante o gozo familiar, tomo um café que enche a minha casa de aroma, enquanto o pessoal domesticado pela Nespresso, tira bicas em cascata, sem se dar conta da ausência do senhor Clooney!

HSC

Uma boa acção

Foi apresentada no Supremo Tribunal Administrativo uma acção judicial contra a aplicação do novo Acordo Ortográfico no ensino público. A acção é subscrita por mais de 100 personalidades da cultura.                
Além da acção judicial, foi também interposto um requerimento na Procuradoria-Geral da República (PGR), para o Ministério Público intentar outra acção judicial contra o acordo.
Ivo Miguel Barroso, docente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que espera há três anos por uma resposta do Provedor de Justiça a uma queixa contra o acordo, lembra que este acordo tem mais de 40 anos.
“O Acordo Ortográfico de 1990 é um acordo que está muito desactualizado. É resultado do Acordo Ortográfico de 1986 que, por sua vez, é um resultado do projecto de Acordo Ortográfico de 1975, cujas negociações começaram em 1971. Se nós formos fazer as contas, em rigor, o Acordo Ortográfico tem já, pelo menos, 43 anos”, argumenta o professor.

Tenho muita pena de não ter subscrito esta acção, porque o teria feito com muito prazer. Mas, para se divertirem um pouco com este Acordo, leiam abaixo a notícia da edição digital do Expresso on line, um jornal dito de referência e dos primeiros - senão mesmo o primeiro - a adoptar o AO90, sobre a sonda Philae, que pousou no cometa 67P e atribuída a um dos cientistas da missão:

“Tivemos até de fazer uma rotação para otimizar a recessão de luz sobre os painéis solares”.
Percebe-se. Com o AO90, tudo pode sofrer uma “recessão”. O Expresso dá-nos essa “percessão”…»

HSC