terça-feira, 16 de abril de 2013

Apelidos...

Sou originária de uma família muito numerosa. Beirões pelo lado paterno, alentejanos pela costela materna. No meio disto, um salpico espanhol e umas gotas francesas descreveriam a árvore familiar a que pertenço, a qual, num dos ramos, remonta a Pedro Alvares Cabral.
Quando pequena estas histórias dos ancestrais encantavam os meus sonos, porque era com elas que adormecia. Depois, na adolescência, o apelido passou a ser um inconveniente. De facto, todos me perguntavam que parentesco tinha ao aviador e eu lá havia de explicar que era o irmão mais velho de meu Pai. O que, em determinada altura, me passou a "encabular", como dizem hoje em dia. Já adulta, a coisa não melhorou muito, mas a frequência da pergunta é que, por razões de educação, não era tão imediata.
Mais tarde, haveria de ter outro karma nominativo, que era o de todos acrescentarem ao meu, um nome que nunca me havia pertencido, mostrando bem, como na minha época, as mulheres casadas pareciam propriedade dos maridos, mesmo que tivessem declarado que não desejavam tal situação. Facto, aliás, muito mal visto e ainda não completamente resolvido dado que a maioria resolve adoptar o nome daquele com quem casa.
Quando, finalmente, o assunto parecia resolvido, seria a descendência que determinaria que me voltassem a identificar não pelo meu nome, mas por aqueles a quem dei origem. 
Tempo houve em que a situação me incomodava. Agora é para o lado em que durmo melhor, porque consegui ser, de novo, eu própria, euzinha, como costumo dizer, e o "resto" é... a descendência.
E, como a idade tende a relativizar as coisas, actualmente, dá-me imensa alegria - a permanência na televisão deve ajudar, creio - ouvir dizer "olha, é a Helena Sacadura Cabral, a mãe dos Portas". Não porque isto represente alguma coisa, mas porque o meu nome de origem voltou ao  seu estado puro. São, de facto, insondáveis os caminhos que temos de percorrer para que a realidade se adapte à legalidade...

HSC


14 comentários:

  1. O curioso é que nos meios mais rurais não havia esse costume das senhoras adotarem o nome dos maridos. Não me lembro de uma familiar adotar o nome do marido, e já tenho 50 anos. Também eu não fiquei com o 'nome de casada'.
    Confesso que achei sempre que essa era uma atitude estranha, era como sem renegássemos o nome da nossa família (sim, se considerarmos que em muitos atos usamos o primeiro e o último nome). Hoje, também os homens podem adotar o nome de família das suas mulheres. Mas devem ser casos raros a faze-lo...

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  2. Ah! Mas há quem junte dois ou mais nomes do marido. Esperança de que esses apelidos são o símbolo da sua felicidade... até ao divórcio.

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  3. Sobrinha de um aviador
    Filha (não sei de quêm? - no sentido de desconhecer se eram conhecidos "do grande público" -)
    Esposa (de um engenheiro de nome)
    Ex-esposa (do mesmo engenheiro renomado)
    Mãe de dois políticos da praça portuguesa

    Ainda por cima mãe do Ministro dos Negócios Estrangeiros...

    não importa...
    tudo isso deixou (ainda mais) de fazer sentido quando tive oportunidade de a encontrar na feira do livro, no Porto, no ano passado.

    Aí sim: a consagração oficial.

    É uma senhora magnífica.
    1000% :) Como dizem no Minho, onde passava férias.

    Um beijinho,
    Vânia

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  4. Agora que li a sua reflexão sobre o seu nome me lembrei que os meus três filhos nasceram na Clínica Cabral Sacadura pela mão de um adorável ginecologista, Dr Sacadura Fonseca do qual tenho as melhores memórias. Provavelmente um ramo da sua árvore genealógica.

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  5. O nome de família tem me seguido, mas é com o nome próprio que me identifico, talvez por ser pouco comum (luzia) e como venho de uma família gramde com 7 irmãs/os e por conseguinte muitos sobrinhos, e sobrinhos netos o nome de família dilui-se...
    Muitos beijinhos,
    lb/zia

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  6. Cara Dalma
    Era um primo muito estimado que me ajudou a pôr neste mundo os meus dois filhos.

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  7. É um prazer enorme lêr estas crónicas !

    Pena não poder ser todos os dias,HSC !

    Um beijo da Invicta.

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  8. Sabia que tb descende do profeta Maome,tal como muitos dos reis europeus?

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  9. Sacadura Cabral era um nome mítico para mim, vinha uma imagem dele no livro da 1ª classe, ao lado de Gago Coutinho, com aqueles óculos levantados para a testa, a bordo do avião. Quando o meu tio me disse que era amigo de um sobrinho de Sacadura Cabral, olhei para ele com o mesmo espanto que teria se ele me dissesse que era amigo de uma prima de D.Afonso Henriques. O meu avô aí interveio, com malícia, dizendo que,ele então,era amigo do marquês de Pombal (o que era verdade, mas não esclareceu que se tratava do descendente) e fiquei ainda mais maravilhado,como se D.João IV ou Pedro Álvares Cabral pudessem também entrar de repente ali pela casa dentro. Quando tive o gosto de conhecer o seu irmão Sérgio (o amigo do meu tio), contei-lhe esta minha história de infância.

    a) Alcipe

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  10. Meu caro Alcipe
    Calculo - embora não o tenha confessado... - a imensa alegria que teve ao conhecer-me!!!
    Velhota descarada em que me tornei, hein?!
    :-))

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  11. Olá D. Helena,

    aproveito e também me apresento:

    Aceitei anexar ao meu nome o apelido paterno do meu marido, no entanto, não o sinto como meu e também, de forma saudável, não o escondo. Desde o início deixei claro que o fazia apenas por respeito. Não o uso e nem me reconheço nele, é um simples atributo legal e nenhum de nós vive traumatizado por isso, o que é bom.

    Quanto à minha ascendência, orgulhosamente descendo, do lado materno, de uma forte costela do Alto Douro vinhateiro cruzada com o Minho e, claro está, de outra bem vincada costela tripeira! Do lado paterno, unica e exclusiva costela gondomarense que não é a mesma coisa que uma costela tripeira, o laço parental é forte por assim dizer, mas há diferenças cruciais :-) os tripeiros são em geral mais hospitaleiros e abertos, por exemplo.

    Do lado materno, venho de uma típica família burguesa e, do lado paterno, descendo essencialmente de uma família com um costume estranho, eles estudavam e assumiam profissões que exigiam estudos e elas trabalhavam desde cedo, recebendo instrução dos irmãos mais velhos, daí que a minha avó tenha dado o meu pai à luz na enfermaria de uma das minas exploradoras de carvão. A dada altura houve um corte entre aqueles que ficaram por Gondomar e os que migraram para o Porto, pelo que creio que este costume se alterou ...

    Não faço parte da primeira geração que chegou aos bancos das universidades, mas enquanto pessoa do sexo feminino, atendendo à família paterna directa, tanto quanto sei, sim.

    E tenho muito orgulho na minha ascendência. De ambos os lados, as mulheres sempre foram batalhadoras e fortes, do lado materno, bastante afectuosas e alegres. Em geral, pessoas trabalhadoras e determinadas, genuinamente portuguesas, mas portuguesas a sério, não aquela versão light com olho no vizinho e suspiro pelo que é estrangeiro é bom, se é que me faço entender.

    E esta é a minha árvore genealógica.

    Com estima,
    Cláudia Moura


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  12. Cara Cláudia
    Bela família, a sua. Só muito recentemente - consequência de ter publicado três livros biográficos e, quem sabe, da idade -, comecei a interessar-me por saber de quem vimos, a quem pertencemos, a quem damos origem.
    Não pelo lado social, elitista, mas porque a nossa identidade também se forja nos antepassados.
    E faz bem em se orgulhar da família que tem. Como eu. É a nossa e isso tem um significado muito próprio.

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  13. Cada vez que venho visitar o seu blog, acabo sempre com uma gargalhada! Gosto muito da forma como olha o mundo! Beijinho

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  14. Helena

    Faleceu há dias a minha prima Gabriela Sacadura Freire Cabral, sobrinha neta do aviador. Era minha prima, porque as nossas mães eram primas.
    Era do BE e pôs a Mãe a votar como ela. Era a pessoa mais desprendida que já conheci na vida. Queria liberdade, direitos, justiça, sol e Africa por onde andou o tio avô e o Pai, muito amigo do meu Pai. Foram 2 génios que se encontraram.
    Usava o nome de Gabi Cabral.
    Um abraço

    Isabel

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