quarta-feira, 17 de abril de 2013

Agora, as famílias

A vida vai-nos ensinando muita coisa, como diria o Senhor La Palisse. Uns aprendem com ela e conseguem aproximar-se de um estado de felicidade intermitente. Outros, ao contrário, não aprendem nada e tornam-se azedos. Outros, ainda, são, por natureza, insatisfeitos, o que é um estádio intermédio entre aqueles dois anteriores.
Quando aceitei a encomenda de fazer As Nove Magníficas, debrucei-me sobre a história de Portugal e descobri que sabia muito menos do que pensava. Na versão masculina apaixonei-me por alguns reis e não sou criatura de paixões fáceis. Nas Mulheres que Amaram Demais dei-me conta de que o meio social, a época, o país e o enquadramento familiar nos marcam de forma quase, diria, irreversível.
A partir daí o meu gosto por biografias ou pela história de certas famílias acentuou-se. Como se acentuou o gosto de me conhecer melhor através da análise que, em boa hora, decidi fazer, perante a surpresa de quase toda a família, que não percebia muito bem a decisão. Foi um sacrifício de que me não arrependo, pois creio que hoje me conheço bastante mais. E, sobretudo, aprendi a gostar de mim.
Ter-me debruçado - talvez venha a dar um livro - sobre a vida de alguns dos meus, deu-me um sentimento de pertença muito valioso. Quando olho os meus irmãos, os netos, os sobrinhos e até os primos, reconheço neles uma boa parte dos meus pais e dos meus avôs. Essa consciência é reconfortante, como o é sentir-me portuguesa de gema e olhar a Europa com razoável desconfiança. Sempre preferi o que é nacional e chego mesmo a gostar dos nossos defeitos. É mau? Não sei. Sei, sim, que me revejo neles e que isso me torna feliz!

HSC

14 comentários:

  1. Sim, seria bom que tivessemos um pouco mais de orgulho em sermos portugueses tal como parece orgulhar-se. E há defeitos e defeitos e alguns deles desaparecem de imediato quando vamos lá para fora trabalhar!

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  2. Reconheço que é importante conhecermos as nossas famílias - sobretudo donde viemos e o que somos - mas não devemos minimizar tudo o que conseguimos por nós e à nossa custa, ou por outras palavras, à custa do sacrifício, da ausência de familiares ou até do repúdio de algum paternalismo que nos quisesse atabafar.
    A família - a minha com oito filhos, 21 netos e 29 bisnetos - pode ser extremamente "castradora" da nossa personalidade e até do nosso sucesso porque paradoxalmente, nos protege demais ou porque nos censura todos os devaneios e aspirações.

    Sinto-me muito mais família quando estou com os meus filhos e netos do que em família alargada.

    Os filmes do Woody Allen espelham bem as relações dentro das famílias tradicionais e a libertação é necessária em dada altura da vida. Pode ser pelo casamento ou pelo afastamento voluntário. É a única forma de vencermos na vida.

    Um beijinho

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  3. A Helena acabou por fazer aquilo que a Jane Fonda fez quando chegou aos 60 anos e decidiu escrever a sua biografia "My Life So Far". Fez uma profunda investigaçao sobre a sua família (descobriu que a mãe tinha sido abusada quando jovem e daí ter tido uma vida sem rumo, recorrer à cirurgia plástica - isto nos anos 40! - e que culminou com o seu suicídio) e fez também uma revisão sobre a sua vida e encontrou padrões nas suas relações com os homens.

    É um livro muito interessante e recomendo-o. Recomendo também um livro sobre uma das senhoras que fez parte do grupo das "Mulheres que amaram demais", Jacqueline Kennedy Onassis. O livro chama-se "Reading Jackie - The Literary Life of Jacqueline Kennedy Onassis". É um livro sem grandes intrusões na sua vida pessoal e sem má língua, focando-se apenas nos quase 20 anos que ela dedicou ao trabalho editorial. Através dos quase 100 livros que editou pela Viking Express e Doubleday podemos ter uma ideia do que a interessava e o que queria deixar ficar como legado através dos seus autores e artistas.

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  4. "chego mesmo a gostar dos nossos defeitos. É mau?"

    Perdão, mas enganou-se no verbo.

    Não se gosta (porque gostar é sempre racional) de defeitos porque implica transformar falhas em virtudes.

    A Drª HSC AMA os nossos (e alguns também serão seus) defeitos e isso só pode ser fruto de uma intensa paixão.... Uma intensa paixão pelo país e pelos portugueses, que na minha parte de 1/10000000 (um de dez milhões) desde já, penhorado, agradeço e retribuo.

    O que me leva a um outro comentário: já li, por demasiadas vezes, referir que não é uma mulher de paixões ... ah... quanto errada está!! As suas paixões são tantas que vive apaixonada, ou pensa que os portugueses lhe dariam, como dão, tanto carinho se não lhes transmitisse um pouco dessa paixão??!!

    N371111

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  5. Cada vez que leio os comentários fico assim um bocado arrepiado com esta coisa tão portuguesa e pirosa de chamar Dra a torto e a direito.

    A Helena tem formação académica, é certo... mas pq não chamá-la de Helena, ou D. Helena... esta coisa de "A Dr.ª" pra cima e pra baixo é tão lambe botas.

    Pelo menos os ingleses nisso são mais directos, é Mr. e Ms. e acabou a conversa.

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  6. Meu caro N371111
    De paixões, sou de facto. Mas não de paixões fáceis.
    Tenho atracção pelo que é difícil e tudo o que foi e é importante na minha vida não encaixa na facilidade.
    Tem razão. AMO esta terra, esta gente, estas qualidades e estes defeitos que fizeram dos portugueses aquilo que eles são e que eu também sou. Afinal, isso significa, de algum modo, que também gosto de mim!

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  7. Minha querida,

    Também comecei, talvez demasiado tarde, a debruçar-me sobre a vida "dos meus" e tenho tido algumas surpresas, umas boas outras não. Escrever sobre os nossos antepassados nem sempre é um exercicio facil e muitas das vezes encontramos incompreensão por parte da familia em abordar certos aspectos.
    Gosto muito de a ler quando fala dos seus e de si.

    Parabéns pelo novo livro. Com um pouco de sorte, talvez esteja ainda em Lisboa para o lançamento:)

    Grande abraço
    PS: La estarei no dia 24 de Abril

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  8. Drª. HSC

    Ao ler o seu comentário lembrei-me do poema infra, pode haver quem o ignore e que movido pela curiosidade se deslumbre pela primeira vez (e nesta voz se deslumbre duas vezes)....

    http://www.youtube.com/watch?v=qKyWRJZnu2o

    Também ele não amava o que era fácil.

    N371111




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  9. Caro Anónimo das 13:50
    Na comunicação social onde também trabalho, todos me tratam apenas por Helena.
    No ensino tratam por Professora ou dra.
    Aqui tratam-me como quiserem. Mas sei que tenho bastantes leitores jovens que se podem sentir acanhados de me tratar apenas pelo nome e então usam o título.
    Por mim está tudo bem. Que cada um me trate como se sentir mais à vontade. De uma única expressão não gosto: "dona". Não sou dona de ninguém...

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  10. uma análise é em principio um exercicio interessante de aprofundamento do conhecimento de um mesmo e pode merecer ser narrada, objecto de escrita.
    li há muitos anos umas memórias de uma escritora francesa sobre a sua análise e muito gostei, qualquer coisa como "écrit sur la porte" e já esqueci o nome da escritora, marie algo. nem tenho o livro.
    e é verdade que somos em parte o resultado do que nos dão ou não dão os pais e outros familiares e debruçarmo-nos sobre as suas biografias é justo e util.

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  11. Caro Patricio
    Tenho o livro e li-o há já algum tempo. É muito interessante.
    Ia justamente perguntar-le se não seria esse.
    Les bons esprits se rencontrent toujours...

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  12. Pois, também detesto ser chamada por "dona" o que só aconteceu depois que me reformei! Na minha escola, os funcionários tratavam-me por Drª, os meus alunos, obrigatoriamente e desde o primeiro dia por PROFESSORA com todas estas letras! Ainda hoje quando me encontram é com infinito gosto e orgulho que ouço dirigirem-se a mim como Professora!

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  13. Como sempre um post bem interessante.
    Abraço

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