Ponto Um: O relatórioo Rethinking The State - Selected Expenditure Reform Options foi pedido pelo governo ao FMI por razões que só ele saberá explicar. A mim parece me que elas podem ser tomadas como as mais convenientes para a política governamental usando um organismo internacional do qual fazemos parte. Claro que fazemos parte de outros que, julgo, poderiam também ter sido consultados. Mas a escolha recaiu neste.
Ponto Dois: O estudo baseia-se em elementos fornecidos pelos ministros que foram ouvidos e pelas estatísticas disponíveis. Apesar de ter como objectivo repensar Portugal, uma parcela dele ficou de fora. Parece assim que não se pretendeu obter uma radiografia global do país, das suas doenças, dos seus comportamentos, mas sim uma micro que constituísse a base para o tratamento que o governo pretende impor à doença que julga que o país tem. E o pedido deve ter sido bem explícito, dado que não foram feitas naquele documento outras análises que muitos considerariam indispensáveis não só para diagnosticar a doença, como para não confundir esta com sintomas.
Assim, não descortinei tratamento específico para a doença das parcerias. Admito que tendo lido uma versão inglesa que, espero, seja a oficial, o lapso seja meu que não domino o inglês tão bem como o português...
A propósito desta originalidade de nunca haver uma versão bilingue de algo que nos diz respeito, o blogue Aventar está, uma vez mais, a prestar serviço público, com a tradução do dito texto, no qual, aliás, participou um português que, julgo, é filho do meu estimado Dr. Silva Lopes.
Assim, não descortinei tratamento específico para a doença das parcerias. Admito que tendo lido uma versão inglesa que, espero, seja a oficial, o lapso seja meu que não domino o inglês tão bem como o português...
A propósito desta originalidade de nunca haver uma versão bilingue de algo que nos diz respeito, o blogue Aventar está, uma vez mais, a prestar serviço público, com a tradução do dito texto, no qual, aliás, participou um português que, julgo, é filho do meu estimado Dr. Silva Lopes.
Ponto Três: Como decorre do que atrás refiro, o estudo tem a qualificação de técnico porque, de facto, faz análise estatística, documental e previsional. Mas não abarca o que se poderia esperar do seu título. O estudo cinge-se a domínios que terão sido as baias daquilo que se pediu. E o que se pediu, pelo que pude discorrer da leitura feita, incide só sobre determinados aspectos do país. Assim sendo, parece-me mais adequado chama-lo de "propostas políticas" para que Portugal venha a atingir certas e determinadas metas. Concretas, mas discutíveis.
É verdade que nele se oferecem opções. Mas essas opções estão inscritas no fim a atingir. E esse fim, todos nós adivinhamos qual seja. Trata-se de descobrir - dentro daquelas áreas - qual a via para obter o dinheiro de que o governo ainda vai necessitar.*
Ponto Quatro: Acontece, porém, que alguns números trabalhados não estão correctos, o que afecta naturalmente a qualidade das propostas que neles assentam. Teria e terá muito interesse discutir tais propostas. Mas eu ainda estou na fase de discutir o modelo em que as mesmas assentam...
Ponto Cinco: A meu ver existem em Portugal economistas a quem aquele empreendimento poderia ter sido entregue. Não o fariam com menor qualidade. O que talvez lhe não dessem, era o salvo conduto que este poderá vir a constituir.
HSC
* No mínimo - veremos se chega - quatro mil milhões...
É verdade que nele se oferecem opções. Mas essas opções estão inscritas no fim a atingir. E esse fim, todos nós adivinhamos qual seja. Trata-se de descobrir - dentro daquelas áreas - qual a via para obter o dinheiro de que o governo ainda vai necessitar.*
Ponto Quatro: Acontece, porém, que alguns números trabalhados não estão correctos, o que afecta naturalmente a qualidade das propostas que neles assentam. Teria e terá muito interesse discutir tais propostas. Mas eu ainda estou na fase de discutir o modelo em que as mesmas assentam...
Ponto Cinco: A meu ver existem em Portugal economistas a quem aquele empreendimento poderia ter sido entregue. Não o fariam com menor qualidade. O que talvez lhe não dessem, era o salvo conduto que este poderá vir a constituir.
HSC
* No mínimo - veremos se chega - quatro mil milhões...
Muito bem!
ResponderEliminarQuerida amiga Helena,
ResponderEliminarJá cá andamos há alguns anos. Não seremos velhos, dizemos nós, mas temos experiência de algumas dezenas de anos, antes e depois da "jovem democracia". Um estudo "encomendado" vale o que vale... Tal como os pareceres de peritos... Eu estarei na situação de alguns membros do Governo que também dizem que ainda não leram o tal relatório... mas que é muito bom, dizem eles! Assim seja, Deo gratia!!! Tal como dizes, em Portugal, juntava meia dúzia de colegas nossos, mesmo mais novos, de tendências várias, e estou certo (para não dizer seguro...) de que sairia algo de mais correcto e sensato. Assim, tal como este aparece, tenho algumas reservas... Deu jeito... Resta saber o que vai acontecer no fim. Pode ser que tenha tanta exactidão como algumas previsões e estimativas de técnicos ou políticos estimáveis que acertam tanto como eu no totomilhões...e jogo de vez em quando...
José Honorato Ferreira
Consigo entender perfeitamente o que explica, apesar de não perceber nada de economia. Já não acontece o mesmo quando ouço o ministro das finanças e o PM.
ResponderEliminarResumindo, continuamos a ver tudo escuro.
Abraço
Inteligente q/b.
ResponderEliminarExcelente análise no seu todo. Mas o Ponto Cinco diz tudo. O Governo não queria um estudo sério, apenas um frete. E, apesar de tudo, nem todos estão disponíveis para o fazer.
ResponderEliminarO que me surpreende mais é que gente, que julgo (ou julgava?) séria, continue no Governo a pactuar com as malfeitorias de Gaspar e de Coelho.
Cara Helena:
ResponderEliminarObrigado pela análise que esperava com ansiedade, como eu disse em comentário anterior. Creio ter percebido muito bem todos os pontos, que explicou com muita clareza porque faz parte da clareza também escrever nas entrelinhas.
Se fosse crente, rezava por Portugal. Creio ter dito tudo.
Raúl.
Meu querido Zé
ResponderEliminarO problema é que eles jogam sempre e não acertam. Nós só jogamos de vez em quando. E, algumas vezes, temos a terminação!
linda doutora helena muito obrigada! análise simples e concisa!
ResponderEliminarpõem o dedo nas feridas, o governo pede o que necessita para justificar o que quer implementar, mas uma vez mais quem provocou o deficit fica de fora...
e é a tal história vai-se fora buscar o que na terrinha até se faria melhor, nada de levantar ondas na terrinha!
um abraço.
zia/lb
Cara Helena,
ResponderEliminarAlgumas medidas a serem cumpridas aumentarão o nível de pobreza dos portugueses exponencialmente. Alguns dados em que se basearam não são actuais, o que invalida as medidas propostas porque a realidade hoje é diferente. A classe média, especialmente, a trabalhar por conta de outrem, está praticamente dizimada com tantos impostos. Quanto aos pensionistas,caso fosse aplicado o que é proposto seria uma autêntica tragédia. Finalmente em relação à Educação, a receita é demolidora e os despedimentos propostos a juntar a todos os que têm sido feitos, ao longo dos anos, são a todos os títulos abomináveis. Quanto à saúde, prefiro nem opinar. É não conhecer a realidade portuguesa. Plenamente de acordo que este documento poderia ser elaborado por economistas portugueses de diferentes quadrantes políticos.
Obrigada HSC, pela excelente síntese de um documento muito difícil de “digerir”.
Sempre com amizade.
Pedro Magalhães:
ResponderEliminaro FMI cumpre aqui a função de batedor. Faz barulho, levanta a caça, não paga preços eleitorais e ajuda a gerar informação preciosa para o governo sobre que medidas deverão ser, à partida, completamente inaceitáveis e inaplicáveis do ponto de vista político. Como o governo não está em rigor obrigado a tomar essas medidas e como quem fica com a responsabilidade das ideias mais politicamente mirabolantes é o FMI, esta é a maneira certa de levantar a caça. Murmurar frases mutuamente contraditórias sobre o financiamento do ensino obrigatório em entrevistas televisivas e nos dias seguintes é a maneira errada.
3. Finalmente, este relatório e a discussão que está a ocorrer deixa o país a marinar num conjunto de hipóteses aterrorizadoras de corte de despesa que o governo se encarregará de rejeitar ou mitigar quando chegar a altura certa. "Afinal", dir-se-á, não foi tão mau como se pensava. As piores expectativas não serão cumpridas. Vai-se cortar, vai doer, mas claro que não se vai cortar 4.000 milhões. Mas como os credores já explicaram, o que conta não é tanto a meta mas sim a direcção da corrida, e os esforços do país serão elogiados, e Portugal não é a Grécia, e enfim, mais 1% menos 1%, estabilizadores e multiplicadores e tal.
(do blog margensdeerro.blogspot.com)
Felizmente, meu caro Alcipe, há muita gente que não é cega. Só não volto a este assunto - já disse claramente o que pensava - porque é isso justamente o que "eles" pretendem. Não lhes faço esse favor!
ResponderEliminarA mim irrita-me a eterna subservivência que nos auto-impomos ao "Estrangeiro", como se em Portugal não houvesse técnicos suficientemente capacitados para fazerem este tipo de diagnóstico.
ResponderEliminarAinda bem que conseguiu ler com olhos de economista porque as criticas mais exaltadas e emocionais - mesmo quando tocam na verdade- entram-lhes por um ouvido e saiem-lhes por outro.
ResponderEliminarAgradeço a recensão, ao documento/relatório, que já está a causar tão marcada polémica... Através da sua apreciação posso, assim, concluir, certo juízo acerca do mesmo. Pelo que percebi, o estado da questão está sobremaneira abreviado, na medida em que, as micro premissas são demasiadamente particulares. Cortar, é, agora, sinónimo de “sacar” depois de, “repensar”... Já não conhecem a palavra “construir”?!.. Nesta actuação está sempre implícita, a falta de consideração por outras realidades, que o país atravessa (como se pode pensar o Estado português sem se resolver a “doença das parcerias”), e que necessitam de enorme visão e sensibilidade. E, se é necessário tomar atitudes, em relação às despesas de funcionamento do Estado porque não o fizeram logo, em vez de acabarem com a Economia e com as PME? Quanto aos despedimentos, podiam ter tentado, por exemplo, aquilo que já alguns países ensaiaram, ao colocarem, o numero necessário de funcionários a meio tempo/horário, de maneira a que, não fossem necessários sacrifícios tão radicais.
ResponderEliminarCertas estratégias, com aquilo que têm de eficazes, são absorvidas, e quase que destruídas, pela falta de coordenação das restantes... Esta metodologia, aplicada à vida, em geral, resulta, sempre, quer, em injustiça, quer, na forma de nunca encontrar uma decisão de êxito, viável, para qualquer assunto. Veremos, como absorvem este relatório e, o que pensam aproveitar, do mesmo.... Eu, teria pedido um contributo para relançar a tão deficitária economia, a nível de pequenas e médias empresas, pois, considero, na minha modesta opinião, que são elas a verdadeira chave do tema “Repensar Portugal”, e que, de dia para dia, se torna mais longínqua a “luz ao fundo do túnel”. Vamos ver, também, o que conseguiremos recolher do estatuto de “cumpridores”!.. Para além, da enorme satisfação nacional e governamental....
Um grande abraço
O que me espanta é que tanta gente a analisar o dito documento (uns sabedores, e outros que nada sabem) e ninguém a dizer: "em vez disto e para atingir aquilo devíamos fazer deste modo" Sou pragmática por natureza e por isso não me deixo impressionar por tantas opiniões, algumas delas verdadeiros "juízos de intenção" e muita verborreia!
ResponderEliminarNão julguem que não me importa que me vão cortar, 10% na minha reforma, me aumentassem o IMI etc. claro que me importa, mas o que eu queria é que me dissessem quais as verdadeiras alternativas a estas medidas, alternativas matemáticas para diminuir aquilo que está em questão, o dito défice!
Como sempre, brilhante análise sobre a encomenda do governo e eventual tramitação seguinte.
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