Mas hoje abro uma excepção. No programa falou-se de "filhos diferentes". A diferença está habitualmente ligada a uma deficiência e eu tentei explicar que era também importante que a discussão se não cingisse às questões de natureza física. E dei o exemplo de Heidi Klum, modelo, branca e casada com Seal, cantor negro. Heidi tinha já um outro filho duma relação anterior, loiro e de olhos azuis, como a mãe. Os três que teve com o actual marido são café com leite. Mais ou menos escuros. Que terão que conviver, felizes, com essa particularidade.
Aqui está, portanto, um caso em que todas os irmãos devem ser educados para perceber a diferença. Perceber, aceitar e defender.
Infelizmente em Portugal somos educados para tudo... menos para a diferença!
HSC
Qualquer que seja a diferença!
ResponderEliminarBjs
Cara Helena
ResponderEliminarSigo com alguma regularidade os seus comentários no programa da Fátima Lopes, quase sempre em deferido, exactamente por entender que a senhora tem uma visão bastante corajosa além de desprovida de tabus e conceitos bacocos e ainda com uma generosa dose de humor de fino recorte. Acredito que partilhem da mesma opinião, milhares e milhares de outras pessoas e é esse um dos motivos porque a si me dirijo aqui.
Hoje consegui ver em directo a rubrica “Isto anda tudo ligado” - como na musica do Sérgio Godinho e deparei-me com uma expressão que usou e que desde já esclareço que compreendo que tenha sido com o maior “não preconceito” e a melhor das intenções, mas que entendo ser pobre e, desculpe-me desadequada. Trata-se da tão disseminada expressão: “Pessoas de cor”
Impõe-se-me perguntar sempre que ouço esta expressão, seja para se referir a mim ou não: - De que cor?
Será que os caucasianos, não têm cor? Acaso são transparentes?
Embora entenda que não é de “brancos” que se fala nestes casos, quem são exactamente os “de cor”?
Os negros? Os mestiços de negro e branco? Os outros mestiços todos possíveis? Só uns? Só outros? Ou todos?
Por meu turno, se a quantidade de melanina da minha pele, em alguma situação passa a ser um factor de identificação importante, prefiro que digam que sou mestiça, o que não vai definir grande coisa, se não que; não sou nem branca, nem negra, nem vermelha, nem amarela , mas algo aí pelo meio.
Claro que no nosso caso (Portugal) estaremos com muito mais probabilidades de estar a falar de alguém descendente de negro e branco como no caso dos filhos da Heidi Klum, do que de outra mestiçagem qualquer.
A propósito, gostei da doce expressão “Café com Leite” que usou, penso que para definir sem ferir susceptibilidades, os filhos mestiços do casal Heidi & Seal. Contudo, entendo que só precisamos de recorrer a este tipo de estratagemas, exactamente porque apesar de estarmos já no sec 21 e apesar ainda dos descobrimentos e das façanhas deste povo a que também pertenço, pelas sete partidas do mundo, e de “convivermos” há quase seis séculos com outras raças e credos - quase nunca da melhor maneira, é certo, mas isso são contas de outro rosário - ainda não nos deixamos de culpabilizar relativamente às questões da cor da pele e das raças.
Elas existem e nós portugueses desempenhámos no passado um papel preponderante na miscigenação dos povos, contribuição da qual nos deveríamos orgulhar e muito. Estou certa de que não haveria mulata em Ipanema em Copacabana, ou em outro lugar qualquer do planeta, sem o grande contributo e o concurso dos “esforços”, de resto desinteressados, do povo português.
Em minha opinião é o sentimento de culpa, este também atávico, e neste caso descendente directo do colonialismo, que nos sugere que referirmo-nos a alguém como uma “Pessoas de cor” é algo mais correcto e acertivo, do que referirmo-nos a um negro, ou a um mestiço.
Por outro lado, nós os mais interessados, negros e mestiços, também não facilitamos a tarefa aos nossos interlocutores, não nos entendendo quanto às expressões que consideramos mais correctas e não depreciativas. Negros ou pretos? Mulatos ou mestiços?
Conclusão: o tema não é simples, mas nem por isso devemos deixar de encará-lo de frente.
Repito “pessoas de cor” cara Helena, parece-me uma expressão muito pobre, e que proferida pela senhora, de forma alguma faz jus ao seu estatuto de cidadã consciente, lutadora, esclarecida e em evidência na sociedade portuguesa, onde contribui para a formação de opinião em variadíssimas matérias.
Sugiro-lhe um exercício que costumo fazer quando algo não se me apresenta absolutamente linear. Sento-me na cadeira do outro. Instalada? Agora lhe pergunto:
Acharia adequado que, se não fosse caucasiana se referissem a si como aquela senhora “de cor” que aparece na televisão à 2ª f à tarde!
Creia-me com toda a consideração
Aidet Santa-Maria
PARABÉNS!
ResponderEliminarAcredito que ainda vamos a tempo. Se vai custar, vai, mas a luta pelo que julgamos que é justo é sempre digna e "worthdy". Desistir é que não.
Sabe, Helena, o que me fascina mais em si é a franqueza, qualidade que poucos temos hoje em dia (desculpe incluir-me no "temos"), mas, como disse, não sou hipócrita. Não sou nem mais nem menos do que valho, mas admiro sempre quem tem, num país como este, a coragem de se manifestar. Parabéns, mais uma vez, Helena.
Abreijo,
Raúl.
Aidet
ResponderEliminarCreia que compreendo perfeitamente o seu comentário. Para muitos eu sou a "mãe dos Portas". Em África eu sou, hoje, "a branca" do IBO.
Acontece que sou de facto branca e também sou mãe dos Portas. Mas não sou só isso.
Quando falo de "gente de cor" é justamente por diferença em relação à expressão "branca" - apesar da correcta, aqui ser "caucasiana", que é a que vem no meu passaporte.
Acontece que quando exprimo opiniões na televisão, uso os "termos comuns" para me fazer entender, em detrimento dos "termos eruditos" que classificam as pessoas pelas raças e que, muito possivelmente, nem todos compreenderão.
Lembro-me sempre de Senghor, esse homem fantástico que deu ao conceito de "negritude" um valor que muitos dos próprios negros esquecem.
Se eu fosse negra, mulata ou asiática, teria muito orgulho nisso, porque era a cor que os meus pais e avós me tinham dado.
Este foi o sentimento que esteve por detrás da expressão usada.
Verdadeiramente "incómodo" é a expressão "deficiente". Porquê usá-la? Porque os seus portadores não são "eficientes"? Falso. Há muitos que o são.
E que expressão usaria a Aidet para os classificar? Ponha-se na cadeira do outro. Instalada? Agora pergunto: como se sentiria se se referissem a si como aquela senhora deficiente que todos os dias sai numa cadeira de rodas. Ou aquela senhora que parece chinesa? Ou a "mongólica" do prédio da frente?!
Ou, em África,"eu ser aquela senhora, branca, mãe dos políticos, que vai falar na Fátima Lopes"? É que foi assim, de forma parecida, que alguém em Moçambique, muito carinhosamente me tratou. E isso comoveu-me!
E como nos sentimos todos nós que desejamos que a deficiência seja apenas uma "diferença" em relação à maioria do país em que vivemos?
Helena
ResponderEliminarAcredite que a compreendo em numero género e grau, na maior parte dos aspectos que abordou, porém no que diz respeito ao uso de "termos comuns" para só e só nos fazermos entender, em detrimento do aspecto educativo que a televisão deve sempre assumir, não estou de acordo. De resto tenho quase a certeza que concordará comigo, de que é nosso dever sempre elevar o nível da discussão e do discurso.
Estou uma vez mais de acordo consigo quanto ao orgulho nas origens, pois que é minha convicção de que,” quem não tem passado não tem futuro”. No que a mim diz respeito, assumo que sou uma pessoa de origens privilegiadas. Sou fruto de duas culturas, duas raças, dois mundos, e é sempre do cimo desse local e com essas ferramentas, que tento observar o mundo à minha volta. Com essa motivação até, há algumas semanas atrás, resolvi criar o blog “Mestiça Entre dois mundos” do qual aliás, não tenho tido tempo para cuidar.
Um pequeno esclarecimento: passei a minha vida toda, desde que fui pra escola aos meus seis anos, a sentar-me na outra cadeira, porque a descriminação começou aí mesmo, dum lado e doutro, sem nunca ser completamente aceite nem por uns nem por outros. Auto-impus-me portanto desde cedo, o exercício de me pôr no lugar dos outros e respeita-los não obstante as diferenças físicas que possam apresentar. Mas… existem outras diferenças imperceptíveis à vista desarmada e outras descriminações, entre nós, como bem sabemos.
Tenho o mau hábito de tomar tudo mais ou menos à letra, o que me levou a ir verificar o meu passaporte e não encontrei nenhuma referência à raça. Vamos concordar que seria no mínimo perverso!
Aceite um abraço
Aidet
Sorte a minha. O meu tem e foi tirado num consulado...E aqui devo dizer, ainda bem. Porque se eu fosse alguém procurada pela polícia, a mera indicação do país de origem, hoje chegaria para pouco. Basta pensar no que antes foi a Rússia. Ou até África. E conheço quem tenha passaporte desse tempo e nunca tenha querido desfazer-se dele... O meu irmão mais novo ainda hoje conserva a sua dupla nacionalidade: moçambicano e português.
ResponderEliminarHá, de facto, muitas e perversas diferenças. No meu tempo eram as meninas filhas de pais divorciados, que não eram convidadas para as festas de aniversário das amigas de "famílias como deviam ser".
Hoje são os gays e as lésbicas. Amanhã serão outras diferenças.
Mas num ponto discordamos. Na tv não pretendo educar ninguém - não me sinto, sequer, qualificada para tal - pretendo, apenas, fazer-me entender, dizendo o que penso da forma mais acessível ao maior número de pessoas. Que não tem ou não teve as minhas "chances". Ou que até teve. Mas não soube aproveitá-las.
Quando era bem mais nova, julgava, como a Aidet, que "devia" elevar o nível do meu discurso. Hoje, tenho bastantes dúvidas se a minha empregada doméstica, na sua simplicidade, não me dará mais lições de vida do que aquelas que eu lhe dou a ela, com doutoramentos e outras subtis distinções de quem vem duma burguesia intelectual.
A minha avó Joana, quando eu não queria aprender a cozinhar, porque ia ser doutora, dizia-me: "sim filha, está bem. Mas pica lá cebola bem picadinha, que o saber não ocupa lugar".
Tinha toda a razão. Na minha vida sempre cozinhei para os que amo...
Percebo, todavia, a sua posição, que já foi a minha.
Foi justamente em África que mais aprendi sobre as "diferenças". E com Senghor, como lhe disse antes.
O que prova que pesem embora as diferenças o que importa é que tentemos ser iguais nessas diferenças.
Agora fiquei preocupada quanto à questão dos passaportes. Na verdade sempre achei que os documentos são todos iguais e portanto, a não ser que o documento de que me fala seja muito antigo, não compreendo a diferença nos seus elementos de identificação.
ResponderEliminarQuanto à sabedoria das muitas pessoas que nos cercam com menos educação formal do que nós, não podia estar mais de acordo consigo, de tal forma que me fez lembrar duma velha musica do meu (digo meu porque ainda hoje gosto muito dos seus textos e musicas) saudoso Vinicius de Morais, cujo texto aqui reproduzo. Cá vai:
Quote
Você que sabe demais
Meu pai mandou lhe dizer
Que o tempo tudo desfaz
A morte nunca estudou
E a vida não sabe ler
Ô-babá
Não dá pra ninguém saber
Por que é que há
Quem lê e não sabe amar
Quem ama e não sabe ler
Você que sabe demais
Mas que não sabe viver
Responda se for capaz:
Da vida, quem sabe lá?
Da morte, quem quer saber?
Unquote
Os da União Europeia são, hoje, de facto todos iguais. Os outros, antigos, não eram.
ResponderEliminarE os países fora da Comunidade não têm uniformidade. Se fosse para o Leste, ou para outros destinos a coisa era diferente.
Mas aquele que guardo é de facto antigo. E daria uma longa e lindíssima história...que, talvez um dia, eu conte.
Hoje, em quase toda a Europa só precisamos do Bilhete de Identidade. E mesmo este, nalguns países como Inglaterra, nem sequer existia. A identificação era feita, por exemplo, pela carta de condução.
Mas o terrorismo veio fazer com que alguns países estejam a tomar medidas mais precisas na identificação pessoal.
Se isto a admira, pense só na sua reacção perante o scanner corporal nos aeroportos. Ou, até, num passaporte de uma mulher dos países onde elas usam burka...
Quanto a Vinicius, que conheci quando veio a Lisboa, partilhamos o mesmo gosto. E, nesta poética, então, sinto-a como minha!
Não há raças! Há Homens dignos e não dignos. Comoveu-me ver em Cuba as mulheres de branco, umas negras outras brancas, a desfilarem juntas pela liberdade dos familiares presos políticos. Muitas levavam na camisola a imagem de um pobre negro vítima da longa noite castrista.
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