Maior obstáculo à vida de Deus em nós não é a fragilidade mas a rigidez:
Sétima meditação do P. Tolentino Mendonça ao Papa (síntese)
O que mais se opõe à vida de Deus dentro
de nós não é a fragilidade, mas o orgulho, sublinhou na tarde desta
quarta-feira o P. José Tolentino Mendonça, na sétima meditação que propôs ao
papa Francisco e a membros da Cúria Romana que desde domingo participam nos
exercícios espirituais da Quaresma que decorrem em Ariccia, próximo do
Vaticano.
O poeta e biblista português associou a
sede à Paixão de Jesus e recordou que a pobreza de cada ser humano é o lugar
onde Jesus intervém e que o maior obstáculo à vida de Deus é a inflexibilidade
e a presunção. Por isso é preciso aprender a beber da própria sede.
A Igreja, prosseguiu, não pode isolar-se
numa torre de marfim e deve ser discípula, abraçando uma experiência de
nomadismo, afirmou o vice-reitor da Universidade Católica, que mencionou o
risco de impor a outros caminhos exigentes, enquanto que fiéis permanecem
sentados. É preciso que as comunidades cristãs estejam atentas para que o
sedentarismo não se torne também espiritual, como uma atrofia interior.
Depois de realçar que os não crentes podem
olhar com frescura surpreendente para a vida de fé, o P. Tolentino Mendonça
referiu-se ao pensamento do teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, assinalando que
o poço de onde se bebe a água que sacia a sede é a vida espiritual concreta, mesmo
que ferida de contingências e limitações.
«A humanidade que temos dificuldade em
abraçar, a nossa própria e a dos outros, é a humanidade que Jesus abraça
verdadeiramente, dado que Ele se inclina com amor sobre a nossa realidade, e
não sobre a idealização de nós mesmos que construímos. O mistério da incarnação
do Filho de Deus, em suma, comporta para nós uma visão não ideológica da vida»,
destacou.
A sede, em certo sentido, humaniza o ser
humano e constitui uma via de «amadurecimento espiritual». É preciso muito
tempo para perder a mania das coisas perfeitas, para vencer o vício de sobrepor
as falsas imagens à realidade. Como escreve Thomas Merton, Cristo quis
identificar-se com o que não gostamos de nós próprios, dado que tomou sobre si
a nossa miséria e o nosso sofrimento. S. Paulo testemunha a fé com uma hipótese
paradoxal: «Quando sou fraco é então que sou forte».
«O grande obstáculo à vida de Deus dentro
de nós não é a fragilidade ou a fraqueza, mas a dureza e a rigidez. Não é a
vulnerabilidade e a humilhação, mas o seu contrário: o orgulho, a
auto-suficiência, a autojustificação, o isolamento, a violência, o delírio do
poder. A força de que temos verdadeira necessidade, a graça que precisamos, não
é nossa, mas de Cristo», frisou.
«Se nos dispusermos à escuta, a sede pode
ser um mestre precioso da vida interior», assinalou o P. Tolentino Mendonça,
que seguidamente se centrou nas três tentações de Jesus no deserto, antes do
início da vida pública, narrativa proclamada no Evangelho das missas celebradas
no passado domingo, o primeiro da Quaresma.
Sobre a tentação do pão, o biblista
assinalou que Jesus conhece as necessidades materiais humanas, mas recorda que
não só de pão vive o homem; a sua resposta não é para nos fazer evadir desta
realidade, para a fazer considerar como um lugar que deve ser marcado pelo
Espírito.
Acerca da segunda tentação, o sacerdote
evocou a passagem do povo de Israel no deserto, a caminho da Terra Prometida,
quando exigiu a Moisés que lhe desse de beber; para acreditar, queremos ver a
nossa sede satisfeita, mas Jesus «ensina-nos a entregar o silêncio, o abandono
e a sede como oração».
Na última tentação, em que Jesus responde
a Satanás «o Senhor teu Deus adorarás; só a Ele prestarás culto», o P.
Tolentino recordou que a Cristo ressuscitado foi dado todo o poder no Céu e na
Terra.
O diabo quer ser adorado, mas o seu poder
é aparência, enquanto que o do Ressuscitado faz parte do mistério da cruz, da
oferta extrema de si. É um risco enorme quando a tentação do poder, em escala
mais ou menos maior, nos afasta do mistério da cruz, quando nos afasta do
serviço aos irmãos.
Jesus, ao contrário, ensina a não nos
deixarmos escravizar por ninguém e a não fazer de ninguém escravo, mas a
prestar culto só a Deus e a servir: «Nós não somos proprietários, somos
pastores».
Começo a ter saudades dos posts em que a HSC escrevia em nome próprio, agora eles são só longos “copy/past” de assuntos de âmbito muito limitado, no meu entender, claro está! Mas dado que há sete post não tem comentários (ou não os terá publicado?) acredito que há mais leitores que pensam o mesmo!
ResponderEliminarPara quando as suas interessantes reflexões sobre os tão variados temas, a que nos habituou? Olhe que eu passo aqui todos os dias!
Dalma
Cara Dalma
ResponderEliminarAmanhã termino a publicação dos 10 textos sobre a Sede, que o poeta e Padre Tolentino de Mendonça foi fazer ao Papa Francisco.
São dez temas de uma visão muito particular destes 40 Dias da Quaresma que para mim constituem uma vivência muito particular.
Devem ter interessado apenas a católicos e a quem aprecia a oratória de Tolentino de Mendonça.
No fim de semana já aqui me terá a falar de assuntos mais profanos. :-)))
Abraço
Confesso que também gosto mais do outro registo, mais ligado às coisas terrenas e, quanto a mim, à realidade.
ResponderEliminarPedro
🌷
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