Inveja e misericórdia na sempre atual parábola do filho pródigo: Oitava
meditação do P. Tolentino Mendonça ao Papa (síntese)
Um dos grandes perigos do caminho interior
é o olhar autocentrado, «no qual o eu é o princípio e o fim de todas as
coisas», afirmou na manhã desta quinta-feira o P. Tolentino Mendonça, durante
os exercícios espirituais do papa Francisco e de membros da Cúria Romana.
A oitava meditação do retiro que começou
no domingo e termina esta sexta-feira, em Ariccia, próximo do Vaticano,
centrou-se na parábola do filho pródigo (Lucas 15, 11-32).
A narrativa traz à luz «uma família humana
como aquela de onde vem cada um de nós», e por isso é um espelho, revelando
«uma história que nos agarra por dentro», na qual se vê «problematizada a
relação entre irmãos» que manifesta o «delicado significado do vínculo filial»
da trama «subtil e frágil de afetos que tecemos uns com os outros».
«Dentro de nós, na verdade, não há apenas
coisas belas, harmoniosas, resolvidas. Dentro de nós há sentimentos sufocados,
muitas coisas a aclarar, patologias, inúmeros fios a ligar. Há regiões de
sofrimento, questões a reconciliar, memórias e cesuras para deixar a Deus para
que as cure», afirmou.
O tempo atual, prosseguiu o poeta e
biblista português, é dominado por «um desejo à deriva» favorável ao surgimento
de «filhos pródigos», através de atitudes como o arbítrio fácil, o capricho, o
hedonismo.
Estes modos de estar desenvolvem-se num
«vórtice enganador» ditado pela «sociedade dos consumos», que promete
satisfazer tudo e todos ao identificar «a felicidade com a saciedade». Estamos
assim cheios, plenos, satisfeitos, domesticados». Mas esta saciedade que se
obtém com os consumos é «a prisão do desejo».
À necessidade de liberdade do filho mais
novo, impelido por «fantasias de omnipotência», acrescentam-se «as expetativas
doentias» do filho maior, «as mesmas que com grande facilidade se infiltram em nós».
Trata-se, apontou o P. Tolentino Mendonça,
da «dificuldade de viver a fraternidade, a pretensão de condicionar as decisões
do pai, a recusa de se alegrar com o bem do outro. Tudo isto cria nele um
ressentimento latente e a incapacidade de colher a lógica da misericórdia».
Aos passos falsos do filho menor, animado
por um desejo à deriva, sobrepõe-se um perigo que consome o filho maior: a
inveja, que é uma patologia do desejo, caracterizada pela falta de amor, uma
«reivindicação estéril e infeliz».
O filho maior, que não conseguiu resolver
a relação com o irmão, está ferido pela «agressividade, barreiras e violência».
O contrário da inveja é a gratidão que «constrói e reconstrói o mundo»,
sublinhou o primeiro diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
Ao lado das figuras dos jovens, emerge a
do pai, «ícone da misericórdia»: «Tem dois filhos e compreende que
relacionar-se com eles de maneiras diferentes, reservar a cada qual um olhar
único».
A misericórdia «não é dar ao outro o que
ele merece». A misericórdia é compaixão, bondade, perdão. É «dar a mais, dar
mais além, ir mais longe». É um «excesso de amor» que cura as feridas. A
misericórdia é um dos atributos de Deus. Por isso crer em Deus é crer na
misericórdia. A misericórdia é um Evangelho a descobrir, concluiu o sacerdote.
Amedeo Lomonaco
In Vatican News
Trad.: SNPC
In Vatican News
Trad.: SNPC
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