terça-feira, 19 de setembro de 2017

O maravilhoso mundo da política

O texto que se segue são retalhos de um outro maior, intitulado "O Retrocesso da Razão", de Alexandre Homem Cristo, no jornal on line Observador, a propósito de uma certa plêiada política qualificar Passos Coelho como xenófobo e Henrique Monteiro como fascista.
Trata-se, evidentemente, de dois insultos proferidos por aqueles que se consideram os arautos da verdade absoluta e cuja noção de democracia é tão básica que só insultando entendem convencer os papalvos. 
O debate político em Portugal está profundamente contaminado e há-de acabar por levar a um completo desinteresse da política e a uma enorme abstenção. Tenho, como devem calcular, uma longa e dolorosa experiência desta matéria no campo familiar...

"Como se reconhece um fascista? A pergunta pesa e, para lhe dar resposta, há que começar pela base: o que define um fascista? Ora, aqui há dois caminhos possíveis. Por um lado, pode entender-se “fascista” através da sua definição literal – alguém que defende um Estado autoritário e repressor das liberdades individuais, que persiga minorias sociais, que abale o Estado de Direito, que suprima os freios e contrapesos das instituições republicanas, que sufoque o pluralismo, que oprima através da violência. Ou, por outro lado, pode optar-se pelo uso popular e entender-se “fascista” como um termo retórico para insultar qualquer indivíduo ou ideia que, independentemente do motivo, nos desagrade. Isto é, como uma muleta de debate que, com o objectivo de desqualificar o adversário (geralmente de direita), descobre nele uma associação (por muito indirecta que seja) ao fascismo – sendo irrelevante a sua plausibilidade. Ora, se o primeiro caminho é o lógico e correcto, o segundo é aquele que se vê ser percorrido a galope no debate público, onde se desvenda um “fascista” em cada canto dos jornais. E se a definição que conta é mesmo a segunda, então o processo de reconhecimento fica simplificado: “fascista” é aquele de quem não se gosta.

... O ponto é que o debate público está inviável. Não se discute, desqualifica-se a posição contrária. Não se olha aos factos, inventam-se associações degradantes. Não se procuram evidências, seguem-se emoções. Não se respeitam os adversários, convertidos em inimigos a abater sem escrúpulos. Não se pensa, insulta-se. Não se cede, impõe-se a força da maioria. E, portanto, geram-se trincheiras em vez de pontes e cisões em vez de consensos. Sim, dito assim parece assunto transitório e sem importância. Mas um regime democrático, que por definição vive de compromissos, não passa por isto sem feridas profundas."

Este texto é o paradigma do que penso, hoje, da política em Portugal. 
Democracia? Onde? Só, como se vê, para alguns. Os outros, são meros proscritos a quem podemos democraticamente insultar!

HSC

3 comentários:

  1. E já agora como é que define um comunista? Será que também não querem um estado totalitário, ateu e massificado, com extermínio de todos aqueles que não se submetem á cartilha ( ver URSS, China, Vietname, Camboja, , Frente Popular em Espanha) Existem francamente bem mais mau exemplos do que no fascismo. Cumprimentos

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  2. Logo a seguir ao 25 de Abril na terra onde residimos
    Alhos Vedros, concelho da Moita, nós que nunca tínhamos
    tido qualquer ligação à política, fomos apelidados de
    fascistas só porque não aderimos ao Partido Comunista
    que em eleições autárquicas ficou logo à frente dos
    órgãos autárquicos, sobretudo Câmara Municipal e
    Assembleia Municipal até hoje.
    Não aderimos ao PCP como muita da população de A.V.
    porque não sentimos "esse chamamento", mas com o
    decorrer do tempo e conforme fomos adquirindo mais
    conhecimentos, fomo-nos percebendo melhor e a entender
    que a nossa opção foi a certa.
    Desde 74/75 éramos para muitos que aderiram ao PCP
    "fascistas", hoje não sei nem me interessa que dirão,
    mas de facto é difícil ser-se democrata em certos momentos.

    Os meus cordiais cumprimentos.
    Irene Alves

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  3. Concordo inteiramente. E´ assustador e triste ao mesmo tempo.
    Junta-se a arrogancia com a ignorancia, fazem-se juizos de valores em funçao de opinioes politicas, e o resultado é uma facada na democracia, a incapacidade de se discutir até os assuntos mais simples.

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