O septeto com que o cineasta se reúne frequentemente para actuar num clube de jazz em Manhattan anda em digressão pela Europa. O Coliseu dos Recreios foi a sua última paragem. E eu lá estava numa espécie de retorno ao Carlyle de Nova Iorque, onde por mais de uma vez o vi.
Não se trata de o considerar um
brilhante clarinetista. Não é. Mas tem aquele quê especial, que, mesmo não
sendo o maior, me arrasta sempre com imenso prazer.
Não creio ter dúvidas de que o seu lugar é detrás das câmaras e que lhe será mais fácil estar atrás delas
do que em cima de um palco, em directo e impossibilitado de poder refazer
cenas. Mas nada disto impediu o público do Coliseu e eu própria de sair
satisfeita com o espectáculo e aprovado a lista de canções escolhidas.
E à hora
quase certa, a banda apareceu e todos os olhos se viraram para o clarinetista
que entrava no palco com a banda. Sentado numa ponta, Woody Allen cruzou as
pernas e deu os primeiros sopros, lembrando um clube de jazz modesto, e disse-nos: "Tocamos para nós e para nos
divertirmos e ficamos surpreendidos por nos quererem ver. Adoramos voltar a
Lisboa, onde já tivemos alguns momentos muito simpáticos."
Era o seu
agradecimento à importância dada a uma banda de cabeças brancas, mas cujos
sopros, viu-se, ainda estavam ali para as curvas num desafio claro aos pianista,
contrabaixista e baterista.
Quando voltaram para o encore, Woody Allen perguntou
à banda se ainda havia tempo para mais uma. Todos concordaram e foi uma bela
despedida para um público ávido de Nova Orleães, com gente que não
precisava de pautas para tocar mais três músicas antes da partida e uma última
à When the saints go marching in.
O grupo teve, além de Woody, Eddy Davis no banjo,
Conal Fowkes no piano, Simon Wettenhall no trompete, Jerry Zigmont no trombone,
John Gill na bateria e Greg Cohen no baixo.
Na biografia oficial de Alen, no site da internet alguém
escreveu: "É um dos grandes entertainers da era moderna. A par dos filmes
e da comédia, é um músico empenhado, que tocou clarinete a vida toda." Foi exactamente isto que alguns puderam testemunhar ontem.
Eu, pessoalmente, testemunhei muito mais do que isso. Voltei 50 anos atrás, a um período em que pensava não saber, afinal, o que já sabia. Apesar de não sentir saudades foi, no entanto grato, confesso, poder repetir um prazer de há quatro décadas. E... senti-lo de uma outra forma, talvez, quem sabe, mais intensa!
HSC
FANTÁSTICO E CADA VEZ MAIS RARO: GENTE QUE VALE APENAS PELO SEU TRABALHO E VALOR. SE ME PERMITEM: TEMOS UM NO NOSSO MUNDO ARTÍSTICO... O FERNANDO MENDES.
ResponderEliminarAniceto Carvalho
Ainda bem!
ResponderEliminarTinha pensado ir, mas tive medo que aquela sala, tão grande, estragasse a magia. Fiz mal