sábado, 7 de março de 2015

Página de um diário (1)

Paris. 7 de Fevereiro de 2015

Há dois anos morrias nos meus braços, à saída de um hospital em Berlim, do qual te haviam dado alta. Estavas seguro de que a queda que sofreras não teria quaisquer sequelas. Tanto, que aquilo que mais querias - voltar para Paris e sentar-te frente ao Sena, como tantas vezes fizemos -, não podia esperar mais. No  corredor  para a saída quase voaste para o táxi que nos levaria ao aeroporto.
Não consigo ter memória dos dias que se seguiram. Só consigo lembrar-me da tarde em que voltei para nossa casa e, ao abandono, me sentei no teu cadeirão.
Julgo que terão passado horas sem que o meu corpo mexesse um só músculo ou o meu cérebro sofresse qualquer estímulo. Apenas o meu coração terá continuado a trabalhar de motu próprio.
 Dizer que sinto a tua falta é muito pouco. O que eu sinto é uma ausência profunda, uma dor fina mas contínua em cada hora destes 730 dias que passaram sobre mim. Procuro e não encontro essa tua imensa energia, essa ternura com que me amavas, essa força que transmitias aos projectos que comigo fazias.
O que me mantém viva é, afinal, a lembrança do amor que tinhas por mim!

HSC

15 comentários:

  1. Muito bonita esta forma de amar.
    E as palavras comovem!
    Obrigada por nos falar ao coração.

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  2. Um beijinho e um abraço muito apertado :)

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  3. 7 / 02 / 2015 = 8 ... 8 = H

    Bem pode ser uma página de vida de alguma Helena.

    :-)

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  4. Há momentos em que não sabemos que força é essa que nos faz sobreviver a tamanho choque.

    Mas a nossa fibra - a sua, pelo menos - resiste a tudo. Obrigada pela partilha...

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  5. Tocou-me muito esta prosa tão sentida.
    Um abraço apertado

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  6. Lá no céu, alguém vai reconhecer esta maravilhosa carta de amor.
    Beijinho :)

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  7. Este texto podia ser meu!!! Já passaram 12 anos e todos os dias sinto uma Saudade Enorme do meu Marido!

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  8. Uma chaga que não fecha.

    Um enorme abraço!

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  9. Maria (publicamente anónima)
    Drª Helena! Este texto é maravilhoso. Tocou-me. E identifico-me. Esta página podia estar no meu diário.
    Este texto é lindo, uma maravilha!
    Obrigada por partilhar a sua maravilhosa escrita e sentimentos
    Beijinho e um bom dia da mulher.
    Maria M

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  10. ...."dizer que sinto a tua falta é pouco. O que sinto é uma ausência profunda, uma dor fina mas contínua em cada hora".... é exactamente assim, obrigado por partilhar tão bem aquilo que nos vai por dentro.
    Um abraço
    Inês Galvão

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  11. Esta partilha faz-nos bem" a nós" e espero que a si também. Obrigada.

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  12. Helena,
    um diário é algo muito intímo, a partilha dessa página, revela uma grande generosidade.
    Gostei, muito!

    Carla

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  13. Querida D.ra Helena!

    Belo, sem dúvida!

    Um beijinho,
    Vânia Batista

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  14. Tão íntimo e tão doce.
    Obrigado por partilhar.

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