domingo, 1 de fevereiro de 2015

Família e classe média


Se, por um lado, os jovens que não conseguem trabalhar em Portugal emigram, aproveitando as oportunidades que a Europa ainda proporciona, por outro lado, os pais que não sejam desempregados de longa duração, com o brutal aumento verificado nos impostos – a quem é que eu já ouvi isto? – não dispõem de poupanças suficientes que lhes assegurem uma velhice com alguma dignidade.
Por isto, e porque lhes basta olhar para os ascendentes, estes jovens sabem que quando se reformarem, não terão direito a mais do que pensões miseráveis.
Claro que, no meio disto, há “lares” que “parecem” casas, onde os velhos morrem devagar porque são muito bem tratados. Mas esses custam pequenas fortunas e as reformas da maioria de nós raramente cobrem tais despesas.
A verdade é que, na actualidade, as famílias não têm condições para tratar dos seus velhos nem para os colocar neste tipo de instituições. E tudo isto acontece, porque a classe média morreu.
Falta dinheiro e falta tempo disponível. O que provoca na geração mais nova um imenso sentido de culpa por não estar a fazer o que entende deveria ser feito. E, entretanto, a geração dos pais, vai morrendo, martirizada pela impotência e pelo abandono a que se sente votada.
Até há uns anos, quase todos nós sabíamos que, se nos esforçássemos, poderíamos ter um certo tipo de vida e acabar de certa forma. Hoje, já não é assim.
Ninguém tem certezas acerca de coisa nenhuma, seja casar, ter filhos, progredir na carreira ou ajudar os pais, porque tudo é uma utopia.
A família acabou por se ressentir e se degradar. E mantiveram-se casamentos infelizes, porque não havia dinheiro para pagar divórcios ou subsistir com apenas um salário. Dito de outro modo, já ninguém consegue financiar a vida que tinha, não porque gastasse acima das suas posses, mas porque o mundo em que viveu pura e simplesmente ruiu. A crise que atravessamos promoveu o colapso de dois pilares base da sociedade: a família e a classe média. O que resta é, infelizmente, insuficiente para nos resgatar...

HSC

13 comentários:

  1. Julgo que, apesar de tudo, a família consegue aguentar-se melhor que a classe média. Até por extravasá-la. E ser a mais antiga e natural célula de vida comunitária.

    A primeira depende de vários factores que interagem com a sua base de pertença que é de ordem emotiva e sentimental; depende da força dos laços - e nós - que a sustentam.

    A segunda depende de forças apenas exteriores a si, que não comanda de forma alguma. Por mais que tente. E não existe dúvida do colapso.

    Bom Dia:)

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  2. Bom dia

    Srª D. Helena o seu post diz muito do que penso apenas acrescentaria que esta destruição da instituição familia, porque é de destruição que se trata,onde cada geração tem de lutar para sobreviver, sem empo nem disponibilidade para olhar para os ascendentes e/ou descendentes, carregando ainda enorme o peso de uma culpa que não tem, foi e é fomentada por politicos e politicas que ostentam o nome e a filosofia cristã nos seus emblemas, isto choca-me e enjoa-me profundamente...a profunda hipocrisia ....falar para quê, já tanta gente disse e contiuamos todos surdos talvez quando estivermos em silêncio alguem se disponha a ouvir

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  3. Bom dia Helena!
    Essa, é a triste realidade dos nosso país.
    Dá-me, uma certa tristeza ver como são tratados os idosos, nos lares. Os empregados muito deles não tem formação, são frios, brutos.
    Parecem que nem estão a tratar de ser humanos, penso que esquecem que um dia vão chegar aquela idade. Fugi, um pouco ao verdadeiro tema do seu texto, mas sendo sensível, tendo a minha avó num lar, pessoa que tanto amo, vejo ali alguns idosos esquecidos por os familiares...
    Em Portugal não existe o culto de dar o devido valor, aquele que em tempos trabalhou de sol a sol, passando pelos governantes e mais triste ainda, por os filhos, netos, que em tempos fizeram o sacrificio de lhes dar tudo.
    Felizmente a minha avó, está num lar, onde podemos entrar a qualquer hora, a sua reforma nem chega para pagar a mensalidade, fraldas, cremes, gel de banho etc...
    Amealhou algum que vai voando , quando este se acabar, vão ter que ser os filhos, netos a compensar o que falta. Temos que fazer, o que ela sempre nos fez. Tem que ter uma velhice digna, como todos os idosos deviam merecer.

    «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti»

    Carla



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  4. Até há algum tempo, a expectativa era a de que a geração seguinte vivesse melhor que a anterior. Esta é a primeira geração em que essa expectativa se inverteu, onde a proxima geração vai provavelmente viver pior que a anterior. Inevitavelmente acontecem aqui e alí alguns choques.

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  5. Que sociedade é esta que nos torna máquinas, que nos dá tão pouco, que destrói os nossos sonhos e nos torna quase que meros sobreviventes?
    Normalmente não tenho uma visão tão fria do mundo mas hoje estou assim, desanimada e este seu post tocou na ferida, o acompanhamento aos nossos idosos! Muito triste!
    Mais triste é ainda quando esse acompanhamento nem é só por falta de dinheiro mas sim por falta de amor e compreensão.
    Beijinho
    FL

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  6. Ola Bea

    Desculpe comentar o seu comentário mas achando-o com razão não pude deixar de pensar que "quando a fome entre pela porta o amor sai pela janela" e, isso constata-se quotidianamente nos nossos velhos que estão nos lares, nos que morrem sozinhos em casa nos filhos de quem vemos o futuro a fugir e estas cicatrizes que nos impestam impedene-nos de nos olharmos nos olhos com amor, porque familia implica amor sem culpa e hoje sentimos a culpa da miseria que nos impõem

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  7. A ascensão da classe média registou-se após a Revolução Industrial e deu depois origem ao “baby-boom”, ao estado social e à produção em massa. A globalização e a baixa taxa de natalidade e, por conseguinte, a fragilização do estado social são algumas das causas que explicam o declínio da classe média. Estes fatores não surgiram do nada, mas começaram a desenvolver-se há já algumas décadas, formando uma sempre crescente bola de neve. Infelizmente, as entidades decisoras não souberam ou não quiseram inverter estes processos e, agora, estamos perante uma avalanche avassaladora.
    A geração “ensanduichada” (que tem de cuidar dos pais idosos e criar os filhos pequenos) encontra-se numa situação muito delicada, mas vai dando a volta à situação, sabe Deus como, movida pelo amor, pela cumplicidade e pelos laços familiares.
    Quanto ao declínio da classe média, a solução não está à vista. Infelizmente, continua-se a “tapar o sol com a peneira” e não são apresentadas medidas sérias e rigorosas para inverter esta tendência recessiva. Já Albert Einstein dizia que insanidade era repetir sempre o mesmo método e esperar resultados diferentes.

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  8. Miss Smile

    Desculpe, mas não se pode acusar "tout court" a globalização como a responsável pela queda da classe média! Essa é uma visão muito limitada porque se a globalização veio diminuí-la a Ocidente a mesma globalização veio criar uma classe média onde ela não existia, Índia, China, e nos países do Sudoeste Asiático! E Homem é Homem onde quer que esteja e a dita globalização tirou muitos, homens mulheres e crianças da pobreza por esse mundo fora!

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  9. Dalma,

    No meu comentário não acuso a globalização de nada. Limito-me a constatar que o Ocidente não se soube adaptar a essa mesma globalização. Relembro que o post se refere ao mundo ocidental, pelo que não me pronunciei sobre outras partes do mundo, onde se verifica uma tendência contrária.

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  10. Não poderia estar mais de acordo e o certo é que nas últimas décadas, ano após ano os três pilares que sustentam um "país digno que quem governa olha para o seu povo" ruíram: A saúde, a educação e o estado social.

    Os velhos é uma classe a abater, quantos mais morrerem e depressa...melhor para o que se sabe. Quantos velhos foram retirados dos lares para que os descentes pudessem viver com a sua reforma. Podem dizer mal dos lares, porque há "mau" em tudo ou quase "tudo"...mas são às centenas que passam a ser tratados "muito pior"...o que é triste.
    Não é por acaso que a onda de assassínios seguidos de suicídio de idosos está a subir vertiginosamente, assim como a "violência doméstica" e só em Janeiro foram mortas 5 mulheres e 1 homem...e sobre tudo isto só digo a quem governa: saiam das poltronas vermelhas e venham ver o terreno, sem aviso prévio, para que não seja apenas e tão só para televisões mostrarem.

    Se a mentira pagasse imposto, acho que resolveriam de imediato o problema da dívida sem dizimarem, destruírem a vida do povo que os elegeu!

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  11. Resposta ao comentário das 13:13

    não penso isso; Julgo que o amor aguenta bastante e pode mesmo contribuir para a união em ambiente difícil. E há amores que nascem não se sabe para quê nem porque não, em ambiente hostil ou nada dado à idealização que supõe ser propícia. Também ainda não descobri se haver mais divórcios é sinal de menos ou mais amor. Há muitos factores a contar. E talvez a progressão não tenha sempre uma leitura linear.

    Não creio que tenha respondido cabalmente, mas acontece que sou mais de ter dúvidas que certezas.

    Agora o que existe é um mau estar geral sobre o qual a vida portuguesa se desenvolve. E é uma influência, sim.

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  12. Por incrível que possa parecer, vivia, com minha mulher, melhor em 1980/81, ambos com salários de 20 mil escudos, licenciados, do que hoje, com cerca de 1.700 euros líquidos. Pagávamos uma renda de cas, paseávamos pelo país, comiamos fora, etc. Hoje, nada disso é possível. Este governo arruinou por completo a classe média!
    Rui Correia

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  13. Anónimo das 12:50
    É verdade o que diz. Mas, se quisermos ser justos, não foi só este governo que nos conduziu a isto.
    Estou muito à vontade para lhe responder, porque não votei neles. Mas sou economista e sei que estes não são os únicos culpados.
    Faltam uns meses para vermos o Dr António Costa ser PM do país. Conversaremos um ano depois...

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