Quantas vezes não tenho assistido à tolerância
com que se encaram as atitudes dos que são tomados por frágeis e a manifesta intolerância que é usada
nos julgamentos daqueles que são considerados como sendo fortes?
HSC
É natural que assim seja, dirão uns. Mas então
onde é que os fracos terão, alguma vez,
o estímulo para deixarem de o ser, se forem por norma acarinhados e protegidos?
Fui sempre considerada uma mulher forte, vá lá
saber-se porquê. Calculo que o epíteto se terá ficado a dever à circunstância
de eu não ser pessoa de grandes queixumes e de tentar, quase sempre, dar a
volta ao que me corre menos bem.
Por outro lado, conheço muito boa gente que queixando-se amargamente da existência e nada
fazendo para a mudar, goza da compreensão de quase todos à sua volta.
Ainda recentemente assisti a algo que ilustra o
que acabo de dizer. Uma amiga minha enviuvou e a vida dela sofreu um abalo psíquico
e até económico, porque de duas pensões ficou só com uma. Pois bem, quando eu
lamentava o que lhe sucedera, houve logo quem se apressasse a dizer “não te preocupes. Ela é uma mulher muito
forte e por isso vai, seguramente, sair da situação. Pior está a irmã, também
viúva, que é de uma enorme fragilidade e não consegue recuperar”. Na altura
indignei-me com a diferença de tratamento face a uma mesma situação.
Ora agora, pergunto eu, os fortes não terão
também direito, aos seus momentos de fraqueza e à benevolência que se tem para
com os mais fracos?!
ResponderEliminarJá senti isso muitas vezes.
Penso que a nossa forma de lidar com os problemas é que leva as pessoas a pensar que somos fortes e ultrapassamos tudo com uma varinha mágica. Essa capacidade de superação merece louvor, mas não isolamento a que nos votam...
A benevolência não me parece bem se existe em função de se ser fraco ou forte. Existirá sobretudo em função da situação vivida por alguém que conhecemos ou gostamos. As situações penosas são-o para toda a gente. Uma coisa é exteriorizar de forma exuberante, outra, sentir mais profundamente.
ResponderEliminarMas também conheço alguns dos considerados fortes que hostilizam a benevolência. E o mesmo de alguns mais fracos.
Na verdade, se significa condescendência, não
é muito agradável que nos tratem com benevolência, parece antes a admissão de menoridade mental. Neste sentido, surge-me quase ofensiva a atitude benevolente.
Mas, se for atitude de compreensão e bondade para com alguém que a necessita, parece-me humanitário. E até de bem querer.
Não conheço gente que seja feliz com esses paternalismos. Mas vive-se melhor, acredito. Torna-se é um bocadinho aborrecido viver das migalhas de condescendência e à sombra das fraquezas.
Essa mesma pergunta faço-a a mim própria quando em momentos de mais fragilizada me apetece ser mimada e só ouço: Tu és forte vais superar tudo e vencer.
ResponderEliminarO que não deixa de ser verdade, mas tb. sabe tão bem um rebuçado quando a boca amarga.
Claro que sim, claro que sim...e vá-se lá saber a razão porque quem me conhece e sobretudo a nível da família "ser considerada forte". Mas tenho igualmente direito a ter momentos mais fracos e não me venham cá com lições de moral, o tal nham nham porque também não dou nada disso a quem vai mais abaixo do que eu.
ResponderEliminarTenho o exemplo da minha mãe, uma mulher muito religiosa, dona dos seus princípios, imensamente forte com "F" grande e precisamente hoje...está muito frágil, aguarda sempre o telefonema pelo menos dos filhos, mas deixem-na sozinha... porque faz 37 anos que o meu irmão João partiu.
Coincidência das coincidências, também faz 3 anos que a Maria Rosa que foi para Luanda para viver connosco quando eu estava para nascer...e já nos seus 90 anos, foi autónoma até 3 dias antes de morrer.
Dose dupla para todos nós...mas sobretudo para a minha mãe que está no seu pleno direito de estar frágil e que a deixem em sossego!
Aos serões tem sempre a companhia de 3 vizinhas e eu vou lá quase sempre dia sim, dia sim...mas sabemos que neste dia...há que dar espaço.
Tocou num ponto muito delicado e pertinente. Já fiz essa mesma pergunta vezes sem conta.
ResponderEliminarEste ponto:
"Ora agora, pergunto eu, os fortes não terão também direito, aos seus momentos de fraqueza e à benevolência que se tem para com os mais fracos?!
Os fortes têm muitos momentos de fraqueza, acho é que os sabem esconder muito bem, e quando se sabe esconder muito bem os outros tendem a não ver. Já se sabe que o que existe mais é gente que olha e raramente perde tempo a ver. Ver dar trabalho. Ver é coisa de gente forte.
E é assim que se acentuam as desigualdades emocionais: o forte tem de ser cada vez mais forte e o fraco pode continuar cada vez mais fraco. Contudo, nunca esquecer que os sinais exteriores de força devem-se muitas vezes à superação de enormes doses de fragilidade, tal como os sinais exteriores de fraqueza se devem à capacidade de congregar sobre si a benevolência alheia.
ResponderEliminarA força dos timoratos pode ser colossal uma vez que lhe falhem as teias de protecção com que até então se alimentaram. Ou não. Do outro lado, a força dos fortes pode ser meramente aparente, uma outra forma de subsistência, que em qualquer altura pode ruir. Sou benevolente com ambos. E exigente também.
Será que há aqui alguém que seja fraco, ou serão todos fortes? Mas afinal, onde andam os fracos?...
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ResponderEliminarHelena
Claro que sim!
Em tempos ouvi dizer, sou forte como o ferro, mas o ferro também se gasta, numca me esqueci disto.
Por adversidades da vida, também me considero forte, ( antes não o era ), mas como ser humano que sou também preciso de mimo, atenção, aconchego, quem não precisa?
Todos, fracos/fortes somos todos necessitados do mesmo.
Os fortes, por vezes escondem a fraqueza através de uma guarda, uma defesa, mostrar o que se é na realidade não é para todos, só alguns conseguem.
Carla
Não poderia deixar de concordar mais com o seu post.
ResponderEliminarE quando esta situação é vivenciada no local de trabalho? Depressa os ditos fracos (e por norma incompetentes) se tornam o braço direito das chefias e os ditos fortes (por norma competentes) têm de fazer o seu trabalho e o dos ditos fracos, que estão sempre ocupados no seu labirinto de lamentação, com os acólitos ao lado a amparar a situação, dias sem fim.
O que observo é também que a arte de se aprender a ser "fraco", e daí se tirarem dividendos (e muitos), é por si si só todo um manancial de aprendizagem diária para quem tem de assistir.
Cris
Sergio S
ResponderEliminarOs fracos estão aconchegados no algodão que sempre os protege...e, está visto, não andam por aqui.
No meu caso, eu não disse que era forte. Disse que "os outros" me julgam forte.
Há uma grande diferença entre o que nós somos e o que os outros julgam que seremos...
-:))
Paulo
ResponderEliminarVocê é mais benevolente que eu!
:-)))
ResponderEliminarBom dia Helena!
"os outros" me julgam forte.
Há uma grande diferença entre o que nós somos e o que os outros julgam que seremos...
Aí, está uma grande verdade, não tenho dúvidas que é essa a mensagem que passo a algumas pessoas. Já fiz coisas que em anos atrás eram impensáveis, é preciso creer em nós, para nos superarmos, com uma boa auto estima, tudo se consegue.
Vejo, que o Paulo também entende a mente humana, entender o outro, colocar-se no seu lugar, dá-nos um melhor compreensão do seu ser.
É pena existirem tantos Narcisos!
"Dos fracos não reza a história"
Carla