Sei alguma coisa do que seja viver com medo. Sobretudo, com o medo
que advém de se ter opinião. Durante anos, estive sob o fogo cruzado da PIDE,
por causa do marido e do filho mais velho. Depois, nos tempos áureos do PREC,
por causa do mais novo e do sogro. Não eram medos mortais, mas era um
sentimento de impunidade e de insegurança que advinha do simples acto de
pensar pela própria cabeça. Vem daí a minha incapacidade de filiação numa
qualquer organização que me obrigue a prescindir de ter pensamento próprio.
Os acontecimentos ocorridos ontem em Paris e os assassinatos de
que antes já havíamos tido conhecimento, voltaram a relembrar-me esses estados
de ansiedade pelos quais passei há já muitos anos e a perguntar a mim própria
como se tornou possível, no século XXI, uma tal ocorrência.
Nunca fui uma apreciadora do estilo corrosivo do Charlie Hebdo,
talvez porque ele atacava, sobretudo, o "modo de olhar o mundo".
Prefiro o humor de tipo britânico, que obriga a pensar antes de rir. Mas
reconhecia-lhes uma criatividade e uma ousadia sem limites. E respeitava-as.
O que ontem se passou visa amedrontar, nomeadamente os mais
frágeis, aqueles que não têm a coragem ou a capacidade de serem livres. E ser
livre não depende só de nós. Depende também daqueles que nos estão próximos e
que podem, directa ou indirectamente, limitar essa liberdade. Quem não tem
dinheiro para dar de comer à família não pode sentir-se livre. Daí que o medo
se revista de múltiplas roupagens. O atentado de Paris obriga-nos, de novo, a
conviver não só com ele, mas também com a angústia que dele resulta. O que,
para além das perdas humanas – essas, irreparáveis - constitui uma das mais
trágicas condicionantes a que podemos ficar sujeitos.
HSC
"Para odiar,as pessoas precisam aprender,e se podem aprender a odiar,podem ser ensinadas a amar."
ResponderEliminarNelson Mandela
A resposta ao atentado de Paris tem sido uma recusa frontal ao medo e ao fanatismo.
ResponderEliminarA falta de moralidade da economia arrasta-se, embora cada vez se acredite menos nos seus conceitos e preceitos.
L.L.
ResponderEliminarBom dia Helena!
Entro para lhe desejar um bom fim de semana.
Desculpe, não comentar o seu texto hoje, gosto de ler com calma e hoje é um dia complicado...
Irei hoje a Beja, não por os melhores motivos, só lhe digo que os hospitais públicos estão cada vez piores, as urgências estão um caus. Condenam pessoas à morte por não fazerem os exames básicos.
Dão-lhe alta, quando devem ficar internados, algo tem que mudar neste país!!!!
Onde está o cumprimento do juramento de Hipócrates?
Juro por Apolo Médico, por Esculápio por Hígia (ou Hygéia, ou ainda Higeia) por Panaceia e por todos os Deuses e Deusas que acato este juramento e que o procurarei cumprir com todas as minhas forças físicas e intelectuais...
Será que esse juramento só em feito em hospitais privados, onde são pagos balúrdios a quem não tem seguro de saúde?
Helena, peço imensa desculpa por desabafar aqui, estou em riscos de perder uma pessoa muito significativa da minha vida.
Um abraço
Carla
ResponderEliminarAté me admira como é que não há mais atentados pelo mundo fora. A Al Qaeda não perdoa e como ratos, escondem-se em tudo o que é cidade europeia, procurando o melhor local e hora para atacar.
Há quem diga que isto vira o feitiço contra o feiticeiro, mas estes terroristas estão formatados para morrer e o facto de não terem medo e nada a perder ( segundo eles) é que nos devia aterrorizar. Não há nada pior do que odiar a própria vida.....
"...e uma ousadia sem limites." HSC
ResponderEliminarSem dúvida - e pagaram caro! Com vidas.
Cada um deve saber o que fazer com a sua ousadia e/ou coragem.
Ás vezes é bom o medo vençer,e outras,vençer o medo.
Tudo depende do que está em causa.
Heróis ou cobardes,mortos ou vivos?!O que é melhor?
TiagoM
Subscrevo totalmente as suas palavras e realço sobretudo o seu último parágrafo porque "o medo tem múltiplas roupagens".
ResponderEliminarBom fim de semana
Bonne nuit chére dra Hélene.
ResponderEliminarHoje não me apetece falar de medo nem de morte mas de felicidade.E vamos continuar a sorrir mesmo quando alguns no mundo queiram o contrário.
Um bem haja a todos os que nos hospitais - super lotados - cuidam incansávelmente dos doentes.
E que dia 12 o rebento de Dona Dolores nos dê uma alegria e traga a bola de ouro.
E que mais cientistas com a sua ousadia descubram a cura do cancro,diabetes,cegueira,etc,etc.
E,que o vento lhe sopre boas energias.
Salut
Jean P
Against fear...hand on hand.
ResponderEliminarA
Um bom domingo estimada Dra HSC.
ResponderEliminar"Para mudar o mundo,é preciso fazer o bem a quem não tem possibilidades de retribuir".
Papa Francisco
Sábias palavras de Sua Eminência.
Maria
Não sei como devemos enfrentar situações como as que ocorreram em Paris, mas que vão ocorrendo, até com um número de vítimas ainda mais expressivo, um pouco por todo o mundo. O que me parece, isso sim, é que a distinção entre «nós» e os «outros» é um mau caminho. Os «perigosos terroristas» que por aí andam são uma parte de nós. Não se trata, por isso, de um «choque de civilizações», mas de algo que nós produzimos e continuamos a produzir – nos guetos das nossas cidades; no sistema económico e financeiro global que assenta em desequilíbrios e exclusões; na convicção arrogante de que, perante o nosso superior modo de vida, só resta aos outros a integração e submissão. De uma certa forma somos ainda os velhos mestres coloniais. A cruz e o gládio que levávamos em cada mão dará lugar hoje a um cartaz e a um lápis. Ainda bem que assim é, mas convém olhar com atenção e ver quantos dos marchantes não ostentam ainda o velho chapéu colonial.
ResponderEliminarJoaquim de freitas
ResponderEliminarTem razão, como já teve no comentário que, sobre o mesmo tema, deixou no blog do Francisco Seixas da Costa, ao analizar de forma muito objectiva os riscos que, de ambos os lados, todos acabamos por correr com o que se passou!
Muito bem Sr.Joaquim de Freitas.
ResponderEliminarAssino por baixo o seu oportuno e pertinente comentário.
Muito obrigado, Cara Doutora e Caro Senhor Correia da Silva pelo apoio que me incita a continuar a exprimir a minha opinião, apesar dos insultos dos retrógrados doutro tempo.
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