quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O Olhar


Deveria, talvez, ter escrito antes a visão. Mas gosto muito mais da palavra olhar que considero lindíssima. É um dos cinco sentidos e, para a maioria das pessoas, o mais importante. Para mim, já o referi em post anterior, o tato é aquele a que atribuo a primazia. Menos evidente, mas nem por isso mais prescindível, porque constitui uma outra forma de "ver".
E, chegados aqui, tocamos o cerne da questão que é a diferença enorme que existe entre ver e olha, que foi uma das primeiras distinções que terei aprendido, com a minha mãe, a fazer.
Com efeito, e a menos que tenhamos uma qualquer deficiência, todos vemos. O difícil, o que carece de especial aprendizagem, é o olhar, essa visão onde entra o coração, a inteligência e a emoção.
Aprendemos na infãncia a ver com os olhos. Depois, à medida que vamos crescendo, vem a aprendizagem do olhar, que se faz com a nossa família, com os amigos e com aqueles que cruzam a nossa vida. Este olhar formata-se também nas ideologias que professamos - religiosas, sociais ou políticas - e que o irão "condicionar".
Talvez seja esta uma das razões pela qual jamais me veria filiada num partido, já que sendo católica, sei bem o desconforto que me causam algumas divergências que tenho em relação à Igreja dos homens e que nunca escamoteei.
O meu olhar, como o de outros, também se construiu através das artes, dos livros e do silêncio. Não se discute, por norma, a importância dos dois primeiros. Mas da-se menos valor ao silêncio, quando afinal, em muitos casos os ultrapassa. É nesse silêncio que despojamos a vista de tudo o que é secundário e que conseguimos usa-la como se voltassemos a ser crianças. É, sobretudo nela, que tato e olhar se fundem, para perceber quem fomos, somos ou pretendemos ser!

HSC

13 comentários:

  1. Acho que dou a todos os meus sentidos valor igual. O olfacto, por exemplo, viveria tão menos sem o meu olfacto...

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  2. Para mim é um dos principais. Detesto falar com alguém que não me fale olhos-nos-olhos e através deles vemos sentimentos/estados de alma tão bem escondidos num sorriso, numa gargalhada...

    Como sempre gostei de mais esta reflexão!

    Um abraço

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  3. Nisto estou um pouco como a CF, e acho que já o tinha dito noutro dos seus posts sobre os sentidos: não consigo de modo algum atribuir-lhes graus de importância. São-me todos fundamentais.

    Neste caso, gosto particularmente desta distinção entre "olhar" e "ver", que me lembra de imediato um conto de Vergílio Ferreira de que eu gosto muito: "Uma esplanada sobre o mar".

    Beijinho :)

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  4. Logo nas primeiras aulas do Prof. Orlando Ribeiro, na sua maneira muito especial de falar aos caloiros, frisou bem a diferença para quem da Geografia queria fazer profissão, entre VER ( o tal " claramente visto" ) e OLHAR. Muitas vezes insisti também nessa diferença com os meus alunos!

    Nestes, vai para 10 dias de viagem pela Suécia profunda, tenho mesmo que usar o VER, já que não percebo uma palavra de sueco o que muito me frustra e portanto OLHAR, não é de forma alguma suficiente!

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  5. Cara Helena,

    Tenho ultimamente, viso e ouvido com muita admiração, de resto, algumas das suas entrevistas. É uma grande mulher e uma grande mãe. de forma tão real e equilibrada que me arrepia; mais logo depois de a ouvir o meu primeiro impulso e passar esses as filhas, claro :)).
    Fica-me o sentimento estranho e de pena de não a conhecer... diria mais, não fosse a minha mãe a Minha Mãe gostaria que fosse a Helena.
    Não vou pedir-lhe desculpa por dizer-lhe tudo isto que poderá parecer excessivo ou mesmo 'amanteigado', mas a verdade é esta: e transmito-lhe apenas o que me fez sentir através de cada uma das suas palavras.
    Bem Haja
    Clarisse Castro

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  6. Clarice
    As suas palavras enterneceram-me. Sou uma pessoa normal que se esforça por ser melhor. A vida já me pregou algumas partidas mas eu tento ver sempre o lado menos penoso desses acontecimentos. É a única forma de lhes sobreviver,

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  7. Em primeiro lugar as minhas palavras vão para a Clarisse Castro, para lhe dizer que, sendo assim, não me importava também de ser sua irmã. Até porque a minha mãe natural já está no céu.

    Quanto ao olhar, sem pretensões muito ingénuas, é mesmo um dos meus sentidos preferidos, em mim própria e nos outros... Porque considero que os "olhos são, mesmo, o espelho da alma" e, é na alma que se condensa todo o nosso ser.
    Poucas são as probabilidades de existirem enganos, quando nos focamos num olhar.
    Beijinho para a Helena.


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  8. Que bom poder ver para contemplar,ler,e,olhar,para poder sentir a alma...
    Que bom escutar uma voz,uma melodia...
    Que bom sentir o cheiro da terra molhada pela chuva,da maresia,um perfume...
    Que bom sentir um abraço,um toque...
    Que bom apreciar os diferentes sabores,doce,salgado,
    picante...
    Não,não consigo imaginar-me sem um deles!
    Poder usufruir dos cincos faz de mim um milionário.
    Sei que sou um sortudo.

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  9. To you.

    http://youtu.be/bKh28MoTjbc

    A

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  10. Helena,
    Obrigada por perder um pouco do seu tempo para me responder, aquece-me o coração. Mãe já não a tenho fisicamente e fiquei, irremediavelmente só, como a Helena tão bem transmitiu.
    Peço sim desculpa pelo texto atabalhoado, é que o pensamento corre mais rápido que as mãos... :)
    Obrigado Teresa Peralta. A humanidade pode ser uma 'coisa' fantástica...
    Bem Hajam

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  11. Ah, e para não falar só de coisa menos boas, deixe que lhe diga que adoro a sua gargalhada franca. Enche o mundo...
    ;)

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  12. Bom dia Helena!
    Que bonito o que lhe a Clarice, pode pensar que é um cliché, mas pensei o mesmo... como gostaria que a minha mãe me tivesse ensinado só 1/3 do que a sua mãe lhe ensinou. Estou a adorar e acima de tudo a aprender com os seus livros. Já admirava na televisão ,entrar e começar a comentar no seu blog foi um aliviar de sentimentos contraditórios, faz-me tão bem ser sua leitora, a Helena é deveras uma pessoa admirável!
    O olhar demonstra os sentimentos mais profundos que temos, o olhar pode ser doce, ternurento,esse olhar é o que mais admiro...infelizmente nem sempre o vemos.
    Parece que a crise chegou ao cinema, uma sala de cinema sem AC no verão é insuportável... também já chegou aos toldos das praias da Oura, Santa Eulália, outrora estavam cheios este ano com meia duzia de pessoas.

    Boa semana
    Carla

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