Por oposição ao meu último post, neste vou falar da palavra, daquela que é falada. Deixarei para outro post, as outras, aquelas que estão contidas num olhar, numa mão que nos acaricia, numa lágrima que, de modo sorrateiro, alguém nos limpa.
Fui sempre defensora do valor da palavra. Escrita ou falada. Talvez por isso, é dela que vivo. Mas também sei que pode ser através dela que nos escape aquilo que, apesar de pensarmos, não devemos dizer...
Assim, a palavra é uma moeda de duas faces. Se, por um lado, constitui a via, por excelência, de aproximação das pessoas, por outro, pode ser a ferramenta fatal que as dilacera.
Há muitos anos, mesmo muitos, uma amiga minha, grávida do seu primeiro filho, almoçava em minha casa com um grupo de amigos. Todos éramos, à época católicos praticantes. Demasiado praticantes, como na época entendi.
A meio da refeição, um deles pergunta ao marido da futura mãe, quem ele escolheria, no caso do médico vir a pôr a questão. Rápido, tão rápido que quase feriu, ele respondeu que optaria pelo filho, como mandava a Igreja, já que este estava no princípio da sua vida.
Eu fiquei gelada e ainda consegui dizer que ninguém escolhe ou é capaz de escolher desta forma. Para, depois, acrescentar que a mãe era única, eles poderiam ter mais filhos e que não era aquela exactamente a posição da Igreja. Mas, à época, assemelhava-se muito, de facto.
Tantos anos passados, nas arrumações que ando a fazer, peguei na "Escolha de Sofia" - um romance de 1979 de William Styron - e lembrei-me deste episódio e do que, na altura. ele me marcou. Porque se fosse ao contrário, a minha amiga teria, sei, então, escolhido o pai.
Haviam de separar-se depois sem que, alguma vez, o catolicíssimo pai, tivesse tido, felizmente, de optar. Mas a escolha virtual havia sido feita e a palavra proferida... Aqui, sim, é que o silêncio teria sido de ouro!
HSC
HSC
ResponderEliminarA Helena tem razão. Nesse caso, o silencio teria sido de ouro.
Não existe balança nem coração, por muito católico que seja, que possa fazer essa medição.
Beijinho :)
A vida de uma mulher vale muito pouco, ainda, para muitos homens.
ResponderEliminarBom dia Helena!!!
ResponderEliminarQue bom começar o dia, com mais um texto que nos faz pensar... a Helena tinha atributos para ser psicoterapeuta, ensina a pensar, dá-nos respostas a tantas perguntas que nos passam pela cabeça, é empática, sensivel e intuitiva.
Não sabe o que tenho aprendido consigo, por vezes sinto que alguns textos seus me dão respostas no dia e momentos certos...
...que nos escape aquilo que, apesar de pensarmos, não devemos dizer
Já me passei por o mesmo, dizer coisas que não devia, no momento pensei e disse, senti arrependimento já as partilhei com o profissonal, fiquei com menos culpabilidade, cada vez mais sinto que não devemos oprimir os nossos desejos, sejam eles falados ou escritos!
Tirei do seu livro estas frases:
"A vida não se ganha com o medo, ganha-se com a coragem de ser quem realmente somos, ou com o esforço de nos transformarmos em em quem gostariamos de ser!
Não use máscaras goste de si e aceita-se.
A felicidade só pode vir com autencidade.
Ser autentica por vezes têm o lado duro, no caso do seu amigo foi autentico mas infeliz, talvez o amor dele não fosse igual ao que a mulher sentia por ele!
Por isso a separação mais tarde...
"Existem momentos na vida da gente, em que as palavras perdem o sentido ou parecem inúteis, e, por mais que a gente pense numa forma de empregá-las elas parecem não servir. Então a gente não diz, apenas sente.”
Sigmund Freud
Carla
Vamos simplesmente sugerir que o senhor estava profundamente imbuído pelo sermão do padre da última missa...
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