Prefiro a palavra "cheiro" ao politicamente correcto "olfacto". É o meu segundo sentido, depois do tacto, e quase tão importante como ele. Relembro sempre, a este propósito, a alegria com que os meus filhos jogavam, na cama de casal, "à almofadada" e como se digladiavam pela minha, dizendo, com ternura, que "cheirava a mãe".
Mais tarde, seria eu que abraçaria todas as roupas da minha progenitora e pensava, em silêncio, que elas tinham o odor da sua pele e do seu perfume. Ainda hoje, em certas ocasiões, sinto o cheiro do seu corpo bem hidratado, ao sair do banho e parece-me que, por segundos, a tenho, de novo, comigo. Foi uma mulher lindíssima e de uma enorme fidelidade às suas duas águas de colónia favoritas, uma de inverno e outra de verão.
A certos odores associo, também, algumas situações da minha vida. Assim, a alfazema estará sempre ligada à primavera e aos meus avós maternos, ou a limpezas e arrumações de estação, como os primeiros fumos da castanha assada presumem o outono, a minha estação preferida.
Detesto incensos que me recordam perdas e velórios, como me incomodam algumas águas de colónia masculinas, que identifico com certos intelectuais de pacotilha - estou a ser boazinha - que conheci e cujo perfume era uma espécie de imagem de marca.
Gosto do odor de certos corpos lavados mas não perfumados, porque ele identifica o seu proprietário e acredito que pode até constituir "meio caminho andado" para se "olhar melhor" alguém.
Finalmente, não sendo tão fiel como a minha mãe, há muitos anos que tenho dois perfumes de eleição para cada uma das duas principais estações. Todos florais e cítricos já que, tendo a pele muito branca, a tendência natural é para adocicar as essências. E até há quem adivinhe a minha presença num local, justamente por causa dessas fragrâncias!
HSC
Boa tarde DrªHelena.Como sempre um prazer ler as suas palavras,muitas dela me identificam.Adoro o cheiro da alfazema,quanto a perfumes tem que ser os chamados "modestos" e de cheiro a lavanda.Sempre que posso venho ler,não tenho andado muito por aqui por causa dos olhos,alergias de verão,venho ler e gosto.
ResponderEliminarFeliz resto de semana.Bjs
ResponderEliminarAi, Helena do que me foi lembrar...levantei-me e fui à gaveta onde tenho um lenço que era da minha Mãe só para cheirar de novo o seu perfume. Nunca o lavei para não perder o cheiro. É a única coisa pessoal que tenho dela, fora uma gabardina que guardei como relíquia. Já a perdi há 12 anos.
Adoro o cheiro dos meus netos quando vêm da piscina ou da praia ou quando acabaram de tomar banho, só me apetece abraçá-los até sufocar.
Há cheiros que associo à chuva, às plantas aqui do Campo Alegre depois duma noite bem regada, lembram-me a Inglaterra e aqueles campos únicos para mim.
Não sou muito de águas de colónia, mas adoro a água de rosas, que passo nos olhos e na cara de manhã e à noite....e sempre que passo por algumas plantas como as lantans, os jasmins ou a madressilva, tenho de tiar um bocadinho para recordar os cehiros da minha infância no Restelo ( há milhões de anos...)
A alfazema dá-se bem no nosso jardim. É um prazer olhar para a vista que proporciona, temos ainda assim, uma quantidade razoável e pelo tal "perfume" que exalam. Então, à hora do almoço, aos fins de semana, quando estamos ali a desfrutar o jardim e aquele mar e céu azul, é reconfortante. Já um cipreste, vê-se e deseja-se, para vingar. Mas a a alfazema aguenta-se. Vá lá!
ResponderEliminarP.Rufino
Bom dia Drª Helena sou uma leitora silênciosa mas fiel ao Fio de Prumo.
ResponderEliminarEste post tocou-me especialmente pela simplicidade e pelos odores que nos fazem viajar e recordar tanta coisa.A alfazema em particular tem um dom especial na minha vida e também me inspirou no mês de junho.
Um bem haja,
mz
Bom dia Helena!!
ResponderEliminarAdoro o cheirinho a lavanda já a tive no meu jardim, adorava passar as mãos por ela!
Agora disfruto do cheiro da Dama da noite,é impressionte como o seu cheiro fresquinho se invade pelo espaço...compre um vaso vai adorar!
Não gosto de sentir homens demasiados perfumados acho pouco elegante, mas um pouco de perfume com classe desperta outros sentidos...
O que sente em relação à sua mãe, sinto em relação à minha avó, à sua casa, adorava entrar na casa e sentir o cheiro da lareira, da sua comida, da fruta no verão, dos melões e melancias que se espalhavam entre as divisões.
Com o tempo o cheiro foi-se perdendo, a casa já não cheira a nada, está vazia sem a vida de outros tempos, onde todas as tardes nos juntavamos à mesa tias avós, madrinha, netos a familia para lancharmos aquelas coisinhas boas que só uma avó têm, docinho de tomate/abóbora, enchidos, presunto todos feitos por uma avó de 5* que a vida dura que levou durante anos não a deixou amargurada mas sim mais refinada no seu ser.
A minha avó será sempre uma referência para mim, não conheci um ser tão perfeito com tão poucos defeitos. Infelizmente um avc deixou-a com sequelas não fisicas mas mentais,agora pouco fala ,com 86 anos está optima de aparência, tenho uma paixão por ela como a minha filha, foi ela que cuidou da Rita até aos 3 anos.
Quanto ao perfumes existe um que não dispenso no inverno Chanel COCO MADEMOISELLE é divino só se deve colocar um pouco a sua fragância é leve, mas forte se for colocado em demasia, no verão o nº 19 Poudré de Chanel é o meu eleito,o cheirinho a talco é suave,elegante até a minha filha o usa.
Ontem estive a ver o mapa de Vila Viçosa, para meu espanto vi a rua Sacadura Cabral, em Setembro volto à aquela mágnifica terra. Adoro o Alentejo foi aqui que vivi feliz, com a felicidade que só a inocência de uma criança nos dá.
Desejo que o seu familiar esteja melhor...
Carla
Verdade!
ResponderEliminarCheiros e sabores que identificam pessoas e situações, reflectem saudade, nostalgia, tristeza e alegria!
Estados de alma, que nos identificam tal como somos!
Identifico-me com tudo o que disse e ainda mais por aquilo que ficou por dizer, apenas sentido...
Cumprimentos
Os cheiros são, para mim, a mais forte das memórias.
ResponderEliminarJulgo que todos nós associamos determinados cheiros a momentos e/ou pessoas da nossa vida e, tal como a Helena, gosto mais da palavra "cheiro" do que de "olfacto" ou até "odor".
ResponderEliminarMas, contrariamente a si, já não consigo hierarquizar os sentidos, preferindo uns a outros, porque todos me são importantes e não me consigo muito bem imaginar sem nenhum deles. De resto, sou mesmo muito dada a "sinestesias" que sãoa queles momentos e ou situções em que eles se baralham e se fundem (ou confundem...). E a nós também... :))
Um grande beijinho
Isabel
Começei a ler em voz alta para uma amiga, mas rapidamente tive que o ler para dentro porque a voz não se aguentou... o cheiro traz-me saudades, e as saudades tiram-me a voz...
ResponderEliminarObrigado.
Inês Galvão
Quando jovem, nas décadas de 60 e 70, trabalhei numa loja na Baixa de Lisboa, que era frequentada por gente de "posição" daqueles tempos. Muitas vezes, antes de ver as "caras" já sabia quem tinha entrado na loja... era o tal código do olfato...
ResponderEliminarOs meus cumprimentos.
Também não fujo à regra e tenho muitos cheiros da infância que lembram coisas,lugares,pessoas e datas.
ResponderEliminarHá 2 que lembro com muita frequência
O cheiro a roupa lavada no tanque grande lá de casa e depois seca ao sol,bem estendida como mandava a minha avó(uma boa dona de casa,vê-se pela maneira como põe a roupa no estendal). Até estender roupa tinha posição correcta.E o cheiro a Páscoa.A visita pascal era de uma cerimónia tão grande em minha casa.A sala muito bem encerada tinha um cheirinho como não se imagina,a cadeira com a almofada de renda para pousar a cruz era perfumada e depois uma mesa muito bem posta com o cheirinho a amendôas, pão com queijo e fiambre,pão de ló etc acompanhado com chá,café e vinho do porto. Cá fora o cheiro dos verdes no chão junto com uma grande trepadeira de umas flores que chamavamos cachos da índia dava uma mistura ´de cheiros que não se esquece nunca. É bom lembrar cheiros.
Uma delicia de post! Revi-me em muitas coisas.
ResponderEliminarUm dia vejo as minhas duas filhas,quando crianças, cheirarem as almofadas das camas dos dois irmãos e a do pai e ao mesmo tempo faziam caretas enjoativas.Fiquei a observá-las sem que dessem por isso. Quando chegaram à minha faziam um hum de agrado e diziam: cheira a rosas!...Nunca mais esqueci esta cena. Beijinho.