domingo, 6 de julho de 2014

A Alice e os seus dois Mários


Fui muito amiga do Mario Castrim e a ele devo uma parte da coragem que tive de me atirar à escrita. Conhecia a Alice Vieira, mas o elo forte era com o marido, uma pessoa de carácter, um católico praticante e um comunista sério.
Quando o Mario morreu eu recebi uma parte da sua herança: a Alice e a Catarina, filha de ambos, cujos dotes de escrita bem mereciam ser mais conhecidos. E, cofesso, este "lote" que me coube foi o melhor património que ele me podia ter deixado. Foi, então, que "descobri" a AlIce, o seu talento, o seu enorme coração e alegria de viver.
Anos decorridos sobre a sua viuvez, ela havia de encontrar um outro Mário - que, por acaso do destino, havia antes namorado - e apaixonar-se de novo. Os amigos ficaram contentes e, aos poucos. foram-se afeiçoando a ele. Foi o meu caso que gosto de histórias românticas e de segundas oportunidades. 
Sexta feira o seu núcleo de amigos indefectíveis - passávamos de vinte - lá estava com ela, na maior alegria, a festejar os anos do Mário. 
Ambos merecem a felicidade de que disfrutam. E dá gosto ver o prazer com que a sabem partilhar. Eu fui das eleitas. E, posso garantir-vos, muito poucas coisas me dariam tanto gosto como este jantar!

HSC

13 comentários:

  1. Também adoro uma boa história de amor (eu que sou uma romântica incorrigível) e há pessoas com percursos fantásticos.

    Não conheço a Alice pessoalmente, mas se a Helena diz, é porque é; e por isso estou certa de que será um prazer partilhar a felicidade do Mário e da Alice.

    Beijinho

    ResponderEliminar
  2. Querida e fiel Helena
    Um caso para dizer: As voltas que o amor dá!!....
    Parabéns ao Mário, à Alice e também à Helena, por ser que é...
    Beijinho e abraços grandes.

    ResponderEliminar
  3. Recebi um prémio no Diário de Lisboa Juvenil das mãos do Mário Castrim. Confesso que adorava as suas crónicas de TV. Tinha imenso humor.
    O que não compreendo é como é que se pode ser católico praticante e comunista. Então os comunistas não são Marxistas? Para eles não há Deus!!
    Não que me importe com isso, cada um sabe de si...

    ResponderEliminar
  4. Eu par contre, fui "adoptada" pela a Alice. A alice que eu admirava de Chocolate è Chuva e de tantas irmãs chamadas Rosa!!! Cresceu a amizade e fui uma das privilegiadas dessa sexta feira. O Mário I não conheci para além das linhas lidas. o MárioII esse sim .É é lindo, tão lindo quando se ouve uma bela e sentida declaração de amor como a que assistimos na sexta-feira!!! Aos dois as maiores felicidades. Mas que digo eu? as maiores já eles têm. Aos dois mais 120 anos de felicidade!!!
    Manuela Niza

    ResponderEliminar
  5. Não os conheço e como tal respeito e desejo que sejam muito felizes.

    ResponderEliminar
  6. nunca li a alice vieira, mas sempre que vejo algo sobre ela sinto curiosidade em a ler...

    ResponderEliminar
  7. A Virgínia: E se a pergunta fosse, por exemplo: "Como se pode ser fascista, como Pinochet, Franco, Mussolini e muitos outros e ir a missa todos dias ?

    ResponderEliminar
  8. Querida Helenamiga

    A "minha" Alice é tão minha Amiga que até esteve nas nossas Bodas de Oiro (depois, envio-te uma foto). Vem a nossa casa diz ela para comer os picantes da Raquel.

    É uma Jornalista fabulástica, como sabes; e uma Escritora do melhor que temos (ambas com caixa alta). Gosto muitíssimo dela e a Raquel também.

    E a estória dos dois Mários é uma delícia. Mas, vou puxar as orelhas à minha (in)subordinada para a festa de anos do II...

    Qjs

    ResponderEliminar
  9. O título do seu blogue fez-me lembrar uma obra do Jorge Amado. Mas o conteúdo é bem diferente...

    ResponderEliminar
  10. E neste momento estou a vê-la e a escutá-la na RTP 2 no programa - Tanto para conversar.
    Felicidades e longa vida com saúde e amor do seu Mário.
    Bem haja!
    Fátima

    ResponderEliminar
  11. Mágica, a escrita de Alice Vieira.

    Pouco conhecida, creio. infelizmente!

    Permita-me dois exemplos,ao acaso dos meus arquivos, no pc, HSC. Agradecido. Cumprimentos.

    ***


    Pois é. Eu escrevo cartas. À mão. Com caneta. Com tinta. E – o que ainda torna tudo muito pior – gosto muito.

    […]

    O prazer de tocar no papel, de sentir o aparo deslizar, de saborear as palavras que se vão alinhando, o prazer de escrever cartas de amor ridículas, cartas de adeus desesperadas, cartas banais da pequena intriga familiar, cartas enormes como as que escrevíamos na nossa adolescência, quando os amigos nos faziam tanta falta e os dias eram desmesuradamente grandes.

    E olho para as prateleiras da estante, com aqueles volumes de correspondência de escritores, que sabe tão bem ler, e penso que tudo isso vai acabar também, e as cartas, e os selos, e os bilhetes postais, e os marcos-de-correio-de-portinha-ao-centro, e as canetas e os tinteiros vão transformar-se muito rapidamente em peças de museu para mostrarmos aos netos dizendo «a avó ainda usou isto», e eles a olharem para nós e a não acreditar.


    Alice Vieira, “Peças de Museu”

    ResponderEliminar
  12. (por exceder o n.º de caracteres, agora, o Poema. peço perdão, mas não sei fazer a devida formatação.).

    ***

    até pode ser que nem gostes muito destas palavras
    nem de mim agora que os meus gestos
    são tão diferentes
    agora que recordas tanta coisa que eu esqueci
    e ainda bem ninguém pode viver
    com o peso do que ficou para trás
    agora que os livros as canções as laranjeiras
    ficaram para sempre naquele cenário de primavera
    que fazia de nós todos o garantiam
    presas tão fáceis

    pressinto que hás-de culpar-me sempre
    pelos anos que perdemos por becos ruas avenidas
    esquecendo à toa aquilo
    que só um ao outro deveríamos ter ensinado

    talvez até tenhas razão mas eu chegara
    àquele lugar da vida onde só se pode
    amar para sempre e sem remédio
    e de um dia para o outro a minha boca
    desaprendeu disciplinadamente o sabor da tua
    e os teus passos a tua voz o céu de paris
    a janela sobre os telhados os domingos de sol
    atravessaram as mais arrastadas fronteiras
    e estabeleceram os seus limites do lado de lá
    de todas as madrugadas que eram nossas

    houve mesmo um tempo desculpa em que esqueci
    as cartas os cigarros as fugas os recados
    as canções as camélias o jardim
    onde me esperavas às nove da manhã
    a velha que nos olhava abanando a cabeça
    entre estátuas decepadas e gatos vadios

    talvez um dia quem sabe o destino
    volte a ter novos contornos e nos olhe de frente
    e ainda sobre tempo para reaprender a soletrar correctamente
    todas as palavras que admitiam ter nascido
    do teu corpo da tua voz do sabor da tua boca
    tempo para povoar de novos sons os velhos discos de vinil
    e sonhar com mundos à espera de serem salvos
    pelas nossas palavras

    tempo para nos olharmos e encontrarmos
    sem remorsos
    a maneira de nos perdermos de novo nos caminhos
    que levam ao coração absoluto da terra

    talvez um dia quem sabe eu volte
    a faltar às aulas para esperar por ti



    Alice Vieira, “12”, in Dois Corpos Tombando na Água


    ***

    ResponderEliminar
  13. Longa vida a Alice Vieira e ao seu amor, já que a vida precisa tanto de pessoas felizes e pessoas que saibam amar e fazer os outros felizes. E isto já não seria pouco. Mas ainda há os livros e as histórias deliciosas que generosamente nos tem oferecido. Parabéns, Alice!

    ResponderEliminar